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quinta-feira, 9 de novembro de 2017

ENEM, ALICE E MANDELA - Zuenir Ventura

Enem, Alice e Mandela  


A prova de redação é considerada o bicho-papão pela maioria dos inscritos no Enem (uma candidata classificou de “um horror”). O motivo é que não se aprende a escrever de um dia para o outro, é preciso treinamento e leitura. Ler talvez seja o melhor exercício para se escrever bem. Mas como fazer isso se as crianças e os jovens não estão mais lendo livros, preferem o iPad e também videogames e jogos no celular? Baseado numa experiência que acompanhei de perto, acho que a solução reside no lar e na escola.

Desde muito cedo, meus dois netos — Alice, de 8 anos, e Eric, de 5 — foram acostumados a dormir embalados por histórias que a mãe lê para eles. Com o tempo, o costume de ouvir transformou-se para ela no hábito de ler e, pelo jeito, o irmão vai pelo mesmo caminho, sem abandonarem o tablet. Alice lê um livro atrás do outro. Quando lhe perguntei quantos havia lido este ano, não sabia, perdera a conta.

E não é só. Além de leitora, está se tornando também “escritora”, pois teve a sorte de encontrar a professora Claudia, cuja pedagogia é fazer da leitura um prazer, não um dever. Conclusão: Alice tem pressa em terminar de escrever um livro com uma tia para se candidatar à Academia Brasileira de Letras. Para isso, conta com Marcos Vilaça, ele mesmo, o grande acadêmico a quem chama de “meu admirador”. Além do voto, ela acha que ele alimentará sua fantasia conseguindo uma brecha no regimento interno para lhe garantir o ingresso, apesar da idade.

Um recente episódio ocorrido no seu colégio me remeteu a uma das maiores emoções de minha vida profissional. Em 1994, participando de um seminário na Cidade do Cabo, minha mulher e eu tivemos o privilégio não só de conhecer Nelson Mandela como de visitar na Ilha Robben a prisão onde ele passou 18 dos 27 anos em que esteve encarcerado em condições aviltantes. A cela, de onde saía apenas para o trabalho forçado numa pedreira, tinha quatro metros quadrados. Ao ser libertado em 1990, em consequência de uma forte pressão internacional, não quis vingança nem demonstrou rancor. Militou pela reconciliação do país, o que lhe valeu, em 93, o Prêmio Nobel da Paz.

Pois bem, vocês podem imaginar o que senti quando soube que Alice e um colega deram uma aula para a turma sobre ninguém menos que o líder sul-africano que acabou com o apartheid e, ao morrer, com 95 anos, foi considerado talvez o maior estadista de um século que deu Churchill, Roosevelt e De Gaulle. Em outra ocasião, Alice falou sobre “O gato e o escuro”, de Mia Couto, e agora, para ministrar a próxima aula, está devorando “Malala, a menina que queria ir para a escola”, de Adriana Carranca.

Do que é capaz uma grande mestra.
O Globo, 08/11/2017


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Zuenir Ventura - Sétimo ocupante da Cadeira n.º 32 da ABL, eleito no dia 30 de outubro de 2014, na sucessão do Acadêmico Ariano Suassuna, e recebido no dia 6 de março de 2015, pela Acadêmica Cleonice Berardinelli.

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ITABUNA CENTENÁRIA UM POEMA: Geraldo Maia – Espagheti ao sangue

ESPAGHETI AO SANGUE

Hoje comi espagheti ao sugo

era o único prato que cabia
no bolso e no estômago
Mas esse de hoje tem a diferença 
do gosto amargo de tua partida
Hoje lembrei do gosto que tinha esse prato
quando o comi em tua companhia
naqueles dias felizes do início do nosso amor
onde o apetite maior de nossas bocas era
por beijos e sorrisos e por palavras mal começadas
por carícias em lentidão de parto
hoje senti o quanto ainda estás presente no 
sabor daquele espagheti que comi
em tua companhia naqueles dias em que o amor era
um exercício constante de mãos e de almas
não se pensava em nada só em praticar a cada momento
o amor que nos unia e nos construía passo a passo
Hoje comi espagheti ao sugo mas só havia
o sabor de tua ausência, o sabor de sangue que 
brota devagar da lágrima e vaza pelos
gemidos que explodem em trovoada de dor
e desespero da dor desse punhal cravado nas costas
e que não conseguiu matar esse amor descuidado
confiante em teu cuidado e proteção
esse amor ferido no coração que grita feito criança
no meio da rua a chorar e a correr para lugar algum
que não seja a ternura decepada de teu colo.


Geraldo Maia

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Geraldo Maia Santos (Geraldo Maia) - Nasceu em Itabuna (Ba), no dia sete de outubro de 1951. Começou a escrever aos seis anos e ainda se considera um aprendiz repetente da escrita numa sociedade ágrafa com forte ascendência oral. Tem nove livros publicados, seis de poesia Triste Cantiga de Alguma Terra (esgotado) é seu livro de estréia, em 1978, Kanto de Rua (esgotado) (1986), Em Cantar a Mulher (esgotado) (1996), Sangue e palavra (1998), O chão do meu destino (2000), ÁGUA (2004) (esgotado) e dois de ficção Atol ou o mar que se perdeu de amor  por um farol (esgotado) (1991) e PUNHAL, prosa de cangaceiro (esgotado) (1992). Todos os livros editados de forma independente, exceto Sangue e Palavra, editado pelo Selo Bahia. E um de cordel: "CORDEL DO MENSALÃO".

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BIBLIOTECA DO CONGRESSO DOS EEUU SOLICITA EXEMPLARES DE LIVROS DE CYRO DE MATTOS

A Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos, com escritório no Rio de Janeiro,  enviou ofício ao escritor e poeta baiano (de Itabuna) Cyro de Mattos solicitando a doação de um exemplar de seu livro A Casa Verde e Outros Poemas e de outras publicações recentes do autor  para constar do acervo da Biblioteca do  Congresso, sediada em Washington, D.C.



Ofício enviado pela Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos a Cyro de Mattos