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terça-feira, 27 de junho de 2017

CAOS: O AIDS PSICOSSOCIAL DE NOSSOS DIAS?

26 de junho de 2017
Leo Daniele

Já dizia Camões, “do velho caos a tão confusa face”. Mas, afinal, o que é o caos?

Escolha o leitor um sinônimo para esse terrível mal, onipresente em nossos dias:

Desordem, babel, balbúrdia, barafunda, confusão, atrapalhada, charivari, embaralhação, escangalho, forrobodó, fuzarca, pandemônio, algaravia, atarantação, bagunça, cipoal etc.

Esses sinônimos são uma expressão do caos, o qual é assim resumido por Plinio Corrêa de Oliveira: “Um catastrófico auge de todas as desordens e desgraças.”

“Acovardado diante da multiplicação das catástrofes e ruínas morais e materiais, o homem de hoje se acocora lamentando: ‘A quebradeira é a regra da vida, e a ela todos têm de se sujeitar. Tudo quebra e nada tem significado. As coisas não significam mais nada!’”

“Em nossa época, vai crescendo dia a dia o número, não dos que acertam ou dos que erram, mas dos que simplesmente não pensam. O homem de hoje pensa cada vez menos e, em seu espírito, o vazio deixado pelo pensamento vai sendo substituído por não sei que despóticas e sutis psico-alavancas manuseadas por não sei que dedos”. (Plinio Corrêa de Oliveira, em 2-12-80).

O caos, portanto, é o contrário da ordem. E o que é a ordem? Ensina Santo Tomás de Aquino: “A ordem se encontra primariamente nas próprias coisas e delas é que passa para o nosso conhecimento [...]. Fala-se de ordem sempre com relação a algum princípio. A ordem sempre implica anterioridade e posterioridade”.

Por sua vez, o Apóstolo São Paulo afirma que “o que procede de Deus é ordenado. E a ordem das coisas consiste em que algumas sejam por outras reconduzidas a Deus” (Rom 13, 1).



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DE QUERER E PODER... – Eglê S Machado

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De querer e poder...


Quero festa em minha vida
A encher meu ser de encanto,
Trazendo-me paz na lida
E enxugando meu pranto!


Eglê S Machado
Academia Grapiúna de Letras - AGRAL

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O JARDIM – Helena Borborema

O Jardim


           O seu começo foi modesto. Apenas alguns canteiros de flores o enfeitavam. No centro, um coreto para a Filarmônica tocar aos domingos, e um parque infantil onde bandos de crianças se divertiam em gangorras e balanços, após as aulas da tarde. Como uma criança minguada de recursos, o jardim nasceu pobre, sem luxos, mas com um prognóstico de se tornar um dia apresentável e bem sucedido.
  
            Foi batizado com o nome de Jardim da Praça Dr. Olinto Leone, em homenagem ao primeiro Intendente de Itabuna. Com o tempo ele foi adquirindo aspecto melhor. Árvores começaram a embelezá-lo. Flamboyants floridos e amendoeiras copadas estendiam seus ramos, fornecendo sombra e frescor a todos os que sob eles se abrigavam nas manhãs ou tardes ensolaradas.

            Mais tarde, no sentido de melhorar o seu visual, foi demolido o coreto, e em seu lugar levantou-se uma pérgula ornamentada com dois bonitos pés de bougainville, um roxo e outro brique. Bancos foram distribuídos ao seu redor para descanso dos visitantes, e bonitos postes de ferro completavam a sua ornamentação. O jardim da Praça Olinto Leone passou a ser a sala de visitas de Itabuna, local de encontro de amigos, de espairecer, de amenizar tristezas e solidão. O seu parque infantil foi desativado, mas as suas árvores cada vez mais crescidas e frondosas, e os seus canteiros multicoloridos, continuaram a esparzir sombra e alegre colorido.

            À noite e aos domingos, era ele o ponto de encontro dos jovens da cidade, uma juventude alegre e sadia, dos namorados, dos visitantes que aqui aportavam. Quantos namoros começaram, quantos beijos foram trocados, quantas juras de amor se fizeram no clima romântico do jardim da praça, sob a proteção dos frondosos flamboyants, amigos discretos e complacentes!

            A cidade cresceu, administrações se sucederam e o jardim continuava alegre na sua missão de ornamentar a praça, de dar sombra e descanso aos que o procurassem. Enfrentou grandes enchentes do rio Cachoeira, foi testemunha de atos cívicos e religiosos.

            Parte integrante da vida da cidade, o jardim acompanhou o crescimento dos filhos de Itabuna, que na infância brincaram sob as suas árvores, na adolescência o procuraram como ponto de namoro, e ainda o buscam como companheiro na solidão da velhice.

            Mas o homem, aquele mesmo que tem alma e sensibilidade para criar o belo, mas tem também o poder de destruição, um dia, voltou as suas vistas para as belas e copadas árvores do jardim, e como que guiado por um gênio maléfico, passou a atacar os belos e inofensivos flamboyants inertes nos seus canteiros. Impiedosamente, com suas tesouras criminosas, com suas mãos profanadoras, passou a decepar os belos ramos, deixando as pobres árvores semimortas, vazias de galhos, sem flores, sem sombra mais a oferecer. Das copadas amendoeiras, restaram quase que somente os troncos nus, eretos como postes sem nenhum atrativo. As bonitas luminárias de ferro que clarearam as noites de itabunenses nos seus passeios pelo jardim, foram arrancadas e banidas da cidade como imprestável ferro-velho, sem o menor amor e consideração pelo passado. Os bancos foram despedaçados num vandalismo impiedoso, e os seus passeios arrebentados.

            Viver é conhecer os altos e baixos inerentes à própria existência. E o jardim da Praça Olinto Leone, tal qual um ser humano, conheceu alegria e tristeza, bonança e decadência. Tendo começado modesto, melhorou, teve épocas alegres, foi procurado por muitos, querido, depois desprezado e quase vilipendiado. Foi arrebentado, humilhado, transformado em estacionamento de carros, foi tão menosprezado que os passantes o evitavam. Só a vendedora de acarajé o procurava com o seu fogareiro de brasas. 

            Era triste para quem, como ele, viu a princípio o colorido alegre dos seus canteiros, onde até roseiras foram cultivados, o verde brilhante das folhagens, as suas luminárias de ferro iluminando o caminho dos passantes e velando as carícias dos namorados, viu bandos de andorinhas chilreando na copa de suas árvores cantando o amor e a alegria, para depois viver a dor do abandono. Desamparado, viu as tesouras agressivas mutilarem, sem piedade, as suas árvores em esplendor de floração, deixando apenas galhos desnudos.

            Mas a vida é feita de esperanças, pois apesar dos percalços, há sempre o amanhã. Para o jardim da praça, certamente ainda virá muito verdor, porque afinal o amanhã é sempre outro dia, e para o próprio homem, que criou com a sua ideia, haverá sempre um renascer ou suceder de ideias e sentimentos capazes de protegê-lo para as gerações futuras. Cada povo tem a sua história que deve ser preservada, e o jardim da Praça Olinto Leone faz parte da história de Itabuna.


(RETALHOS)
Helena Borborema
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HELENA BORBOREMA -  Nasceu em Itabuna. Professora de Geografia lecionou muitos anos no Colégio Divina Providência, na Ação Fraternal e no Colégio Estadual de Itabuna. Formada em Pedagogia pela Faculdade de Filosofia de Itabuna. Exerceu o cargo de Secretária de Educação e Cultura do Município.

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