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quarta-feira, 22 de agosto de 2018

QUERO VOLTAR A CONFIAR! - Arnaldo Jabor


Quero voltar a confiar!

Ligue o vídeo abaixo:

Fui criado com princípios morais comuns: Quando eu era pequeno, mães, pais, professores, avós, tios, vizinhos, eram autoridades dignas de respeito e consideração. Quanto mais próximos ou mais velhos, mais afeto. Inimaginável responder de forma mal educada aos mais velhos, professores ou autoridades…

Confiávamos nos adultos porque todos eram pais, mães ou familiares das crianças da nossa rua, do bairro, ou da cidade… Tínhamos medo apenas do escuro, dos sapos, dos filmes de terror…

Hoje me deu uma tristeza infinita por tudo aquilo que perdemos.

Por tudo o que meus netos um dia enfrentarão. Pelo medo no olhar das crianças, dos jovens, dos velhos e dos adultos.

Direitos humanos para criminosos, deveres ilimitados para cidadãos honestos. Não levar vantagem em tudo significa ser idiota. Pagar dívidas em dia é ser tonto… Anistia para corruptos e sonegadores…

O que aconteceu conosco? Professores maltratados nas salas de aula, comerciantes ameaçados por traficantes, grades em nossas janelas e portas.

Que valores são esses?

Automóveis que valem mais que abraços, filhas querendo uma cirurgia como presente por passar de ano. Celulares nas mochilas de crianças.

O que vais querer em troca de um abraço?

 A diversão vale mais que um diploma. Uma tela gigante vale mais que uma boa conversa. Mais vale uma maquiagem que um sorvete. Mais vale parecer do que ser…

Quando foi que tudo desapareceu ou se tornou ridículo?

Quero arrancar as grades da minha janela para poder tocar as flores!

Quero me sentar na varanda e dormir com a porta aberta nas noites de verão!

Quero a honestidade como motivo de orgulho. Quero a vergonha na cara e a solidariedade. Quero a retidão de caráter, a cara limpa e o olhar olho-no-olho. Quero a esperança, a alegria, a confiança!

Quero calar a boca de quem diz: “temos que estar ao nível de…”, ao falar de uma pessoa. Abaixo o “TER”, viva o “SER”. E viva o retorno da verdadeira vida, simples como a chuva, limpa como um céu de primavera, leve como a brisa da manhã! E definitivamente bela, como cada amanhecer.

Quero ter de volta o meu mundo simples e comum. Onde exista amor, solidariedade e fraternidade como bases. Vamos voltar a ser “gente”. Construir um mundo melhor, mais justo, mais humano, onde as pessoas respeitem as pessoas.

Utopia? Quem sabe?...

Precisamos tentar…

Quem sabe comecemos a caminhar transmitindo essa mensagem…

Nossos filhos merecem e nossos netos certamente nos agradecerão!


Arnaldo Jabor


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RELATO DE EXPERIÊNCIA, BIENAL DO LIVRO 2018, por Heloísa Prazeres


Desde sempre prestigiei a Bienal do livro, como visitante — este evento cinquentenário, que a cidade de São Paulo promove. Neste ano, de 03 a 12 de agosto, presenciei o encontro das principais editoras, livrarias e distribuidoras do país por um lado novo e diferenciado, ou seja, lá estive como autora, credenciada, levando na lapela um botão de prestígio. Passei de uma para outra margem.

Assisti à adesão de muitos, que me cercam, e apoiam a atividade em torno do livro e da poesia.

O Casa onde habitamos, SP: Scortecci, 2016, publicado em janeiro de 2017, e agora relançado na Bienal, aborda a incomunicabilidade, o luto moral e as relações possíveis no mundo contemporâneo. Seu conteúdo resulta de vivências sociais e intelectuais, e a metáfora ‘casa’ surge como imagem feminina, da qual me aproprio, ampliando-a para o elemento Terra. O livro destina-se a público cuja insatisfação com a realidade leve a buscas complementares. Creio que leitoras, principalmente, se beneficiarão, pois há um forte apelo a imagens femininas.

Outro livro, do qual participei, como coautora, também veio a público durante a Bienal; trata-se do sugestivo título O silêncio das palavras. SP, Scortecci, 2018, uma Antologia que reúne vozes de todas as regiões do país. Sei que me encontro naturalmente ligada à área de Letras e lido profissionalmente com a literatura. Aliás, sempre privilegiei a leitura e a escrita como meios complementares de aperfeiçoamento; a escrita me completa e traduz anseios de comunicação subjetiva e intelectual. Defendo que quem lê, gosta de si, e privilegia o tempo dedicado ao desejável objeto livro. Acredito, por isso mesmo, no trabalho contínuo de conquista de leitores, acolhendo a poesia com amorosidade e esperança.

O livro que me levou à Bienal é a minha segunda coletânea de poesia. A primeira, ensaios, data do início dos anos 2000; o segundo, poemas, Pequena história (PRAZERES, 2014), o mais recente Arcos de sentidos, literatura, tradução e memória cultural (2018), venho, pois, lidando com temas como solidão/comunhão/tempo e espaço, que resultam de experiências subjetivas e profissionais.

Faço este relato por sugestão da cara amiga, Eglê Machado, porque, ao ocupar, como disse, um novo lugar, no imenso pavilhão que abrigou expositores, levei comigo a multidão que me traduz; além de que, essa vivência iniciou-se a 03/8, dia dos anos do meu pai, a quem homenageio e reverencio sua memória. Vida e poesia.

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Heloísa Prazeres é natural de Itabuna, BA. Citada no Dicionário de autores baianos. Salvador: Secult, 2006, e no Dicionário de escritores contemporâneos da Bahia, Cepa, 2015. Medalha de Bronze do I Concurso Literário da AECALB, Rio de Janeiro, 2016. Publicou, em livro, Temas e teimas em narrativas baianas do Centro-Sul. Fcja; Unifacs; Secult, 2000; Pequena história, poemas selecionados. Salvador: Quarteto, 2014; Casa onde habitamos. Poesia. SP: Scortecci, 2016. Arcos de sentidos, literatura, tradução e memória cultural. Itabuna: Mondrongo, 2018. Participou das Antologias Outros riscos do Prêmio Damário DaCruz de Poesia. Salvador: FPC/ Secult, BA e Quarteto, 2013; Poetas da Bahia, III. Salvador: Expogeo, 2015, Antologia 5º Prêmio Literário de Poesia, Portal Amigos do Livro, São Paulo: Scortecci, 2015, O silêncio das palavras, São Paulo: Scortecci, 2018. 
Bacharel e Mestre em Letras pela UFBA. Cumpriu doutorado em Literatura na University of Cincinnati, Oh. EUA. Professora adjunta, aposentada do IL da UFBA. Foi titular na Universidade Salvador, Unifacs. Coordenou o Núcleo de Referência Cultural da Fundação Cultural do Estado da Bahia.

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