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sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

 


Ao Ano Novo



Ano Novo, nova lida,
Novos sonhos e ilusões,
Nova esperança na vida,
Da vida novas lições...

Uma ternura incontida
Faça partirem os grilhões,
E cresça bela e florida
Ao pulsar das emoções...

Que um amor sem medida,
Por suas ternas razões,
Expulse a mágoa dorida,
Abra um elenco de opções!

Que uma fé desmedida
Nas suas variações,
Tenha a aura enriquecida
De anseios e sensações...

Enfim, que o bem progrida
Nas suas nobres missões,
E a PAZ encontre guarida
No fundo dos corações!...


Eglê S. Machado


FELIZ ANO NOVO 2022

* * *

quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

TERRAS DE SALAMANCA – Cyro de Mattos



Terras de Salamanca

 Cyro de Mattos

 

          Em outubro de 2013, participei do XVI Encuentro de Poetas Iberoamericanos em Salamanca, Cidade de Cultura e Saberes. Na oportunidade fiz lançamento de meu livro Onde estou e sou/Donde Estoy y soy e dei depoimento na universidade sobre minhas atividades literárias ao longo dos anos. Recitei poemas de minha autoria no Liceu de Salamanca. Doei livros de minha autoria ao Centro de Estudos Brasileiros, em ato que constou da programação do XVI Encuentro de Poetas Iberoamericanos.

          Amizade que ficaria selada para sempre foi a que fiz com o poeta peruano-espanhol Alfredo Pérez Alencart, o coordenador dos Encuentros, figura rara como construtor de pontes entre os poetas ibero-americanos que comparecem ao evento, de repercussão internacional. Professor da Universidade, esse incansável disseminador de poesia é poeta de alto nível, traduzido e publicado em mais de vinte idiomas. Um ser humano que veio a esse mundo para iluminar com a poesia a parte noturna de que somos feitos. Tinha em Jaqueline, sua princesa, a mulher ideal para acompanhar-lhe na aventura das letras.

          Durante o Encontro tive a oportunidade de saber que Salamanca foi no início uma aldeia na colina, séculos sobre o rio Tormes inclinaram-se à arte e à sabedoria. Testemunharam a passagem do tempo, na formação da paisagem lendária, váceos, vetões, romanos, visigodos e muçulmanos. Uma vocação universitária ressoou na maior tradição de esplendor monumental. Por sua beleza antiga e riqueza histórica, o tempo foi justo ao fazer com que Salamanca ficasse conhecida como a Cidade de Cultura e Saberes.

          Ocorrem na Plaza Mayor falares decorrentes de frequente convivência entre o alegre e o triste, nisso que é esperança e incerteza em nossa caminhada na vida. Capítulos assim ali escorrem da vida cidadã, muitas vozes de mim e de outros fazendo o intercâmbio da natureza humana nesse antigo teatro da vida. Nas ruas iluminadas pelo ouro da cultura e do saber não se pode deixar de pensar que nelas andaram Fray Luiz de Léon, Unamuno, Francisco de Vitoria, Francisco de Salinas, Cervantes, São João de La Cruz, Luís de Gôngora, Santa Teresa de Jesus, Lope de Vega, Mateo Alemán, Vicente Espinel, Quevedo e Calderón de la Barca.

          Essas ruas cunhadas pelos gestos da sabedoria e santidade humanas. Refletidas por duas extraordinárias catedrais. Antes que adentre na cidade, recebe ao visitante a alma gêmea. Numa casa de guardiã memória, conchas representam a cidade por vários rumos, decoram o mundo que estaciona para vê-la. Nas dobras do tempo, Salamanca oferta encantos, inventa-se nessa crença de pedra, história e vasta fé. Apresenta-se sempre como um desafio, um mito, uma abertura, um enigma. De sentidos múltiplos, memórias que nela achamos.

            Na fachada de casas e igrejas e edifícios basta para entender que estamos na história. Caminhar é a forma de descobrir segredos de quem também sabe ser contemporânea e jovem com estudantes de tantos lugares misturados na face agitada. Quando a noite cai, luzes enchem a parte noturna, lugares em que o coração aprende que o amor se faz amando o mito, que se apodera da alma.

Ó Salamanca, aqui o que vejo na fachada faz-nos ser da história. Essa luz que de ti se espraia a todo instante vem de teu chão para erguer os saberes seculares nos beirais floridos. 

 

Cyro de Mattos - escritor e poeta. Primeiro Doutor Honoris Causa pela Universidade Estadual de Santa Cruz. Membro efetivo da Academia de Letras da Bahia, Pen Clube do Brasil, Academia de Letras de Ilhéus e Academia de Letras de Itabuna. Autor premiado no Brasil, Portugal, Itália e México.

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NOME DE MULHER - Gerana Damulakis

 


Antologia do melhor do conto

sobre a mulher tem histórias

de dois escritores grapiúnas

 

 A Editus, editora da Universidade Estadual de Santa Cruz, acaba de publicar a antologia Nome de Mulher, organizada por Gerana Damulakis, reunindo dezessete contistas baianos, dos mais expressivos e, entre eles, os escritores Cyro de Mattos, que participa do volume com a história “Laura Palmer”, e Hélio Pólvora com “Afonsina Desaparecida”. Os outros contistas da antologia são estes:  Mayrant Gallo, Marcus Vinicius Rodrigues, Aleilton Fonseca, Maria da Conceição Paranhos, Carlos Barbosa, Adelice Souza, Ruy Espinheira Filho, Allex Leila, Aramis Ribeiro Costa, Gláucia Lemos, Carlos Ribeiro, Myriam Fraga, Ricardo Cruz, Flamarion Silva e Lima trindade.

Segundo Gerana Damulakis, “para organizar uma antologia que cumpra meu desejo de reunir texto com títulos que trouxessem um nome de mulher, tais textos devem ser contos. Aqui estão eles, arrumados por ordem alfabética dos títulos com nomes femininos e consequentemente trazendo personagens criadas de acordo com o imaginário de cada escritor, pois, é óbvio, as histórias evidenciam vertentes diversas e abordagens várias em relação às mulheres que as protagonizam.”

Além de ensaísta, com vários títulos no gênero ensaio, Gerana Damulakis é membro da Academia de Letras da Bahia.

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PELO CHILE PAÍS IRMÃO: LUTO, LUTA E ORAÇÃO – Paulo Roberto Campos



Foi um dia muito triste para o Chile e para todos nós. O candidato de extrema-esquerda, Gabriel Boric, venceu as eleições presidenciais. Meus pêsames aos chilenos que ainda prezam os valores da civilização.

Essa vitória comunista se deveu tanto à moleza dos chilenos centristas, que não quiseram votar no candidato de direita, José Antonio Kast, quanto ao clero progressista, velho companheiro de viagem do comunismo. Agora, aguentem as consequências… 

Esse triunfo esquerdista nos remete à vitória do marxista Salvador Allende em 1970 com o apoio da URSS, quando o Chile viveu os três piores anos de sua história, afundado na mais tenebrosa miséria moral e material. 

Remete-nos também a uma memorável campanha da TFP brasileira e de outros países. Em 50 cidades do Brasil o público viu erguerem-se seus estandartes rubros com o leão dourado, e ouviu os slogans de sua campanha: “Leiam nosso manifesto: Pastores entregaram o Chile ao lobo vermelho!” — “Plinio Corrêa de Oliveira denuncia trama progressista no Chile!”

Em Belo Horizonte, então a terceira cidade mais populosa do Brasil, sócios e militantes da TFP organizaram um desfile encabeçado por um estandarte enlutado, de 12 metros de altura, e por uma grande faixa com os seguintes dizeres: “Pelo Chile, país irmão, luto, luta e oração” [foto]

Que o atual desastre chileno sirva de alerta a nós brasileiros, para agirmos enquanto é tempo a fim de evitar que nas eleições presidenciais de outubro de 2022 os propugnadores das velhas ideias comunistas prevaleçam como no Chile, conduzindo-nos à trágica situação de Cuba e da Venezuela.

https://www.abim.inf.br/pelo-chile-pais-irmao-luto-luta-e-oracao/

 

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quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

4 COMENTÁRIOS SOBRE UM DOS DISCURSOS DE NATAL MAIS COMOVENTES DA RAINHA ELIZABETH


Victoria Jones / POOL / AFP

Cerith Gardiner 

Este ano, o discurso da soberana britânica foi a mais doce declaração de amor por seu falecido marido

Muitos britânicos pararam para assistir ao discurso anual de Natal da rainha Elizabeth 2ª. Estavam curiosos para saber como ela se dirigiria aos súditos no ano em que ela enfrentou a morte de seu amado marido Philip por Covid-19.

Apesar do ano difícil, a soberana britânica apareceu em um vermelho festivo e com o broche de safira que ela costumava usar nos momentos-chave de sua vida com o príncipe Philip. No entanto, embora certamente estivesse vestida para a ocasião, parecia um pouco abatida e mais vulnerável.

No discurso, Elizabeth 2ª revelou um lado dela que muitos não conheciam. Além disso, recorreu à sua fé e usou suas experiências recentes para tentar inspirar outras pessoas neste novo ano.

Uma esposa orgulhosa e amorosa

De fato, o discurso de Natal deste ano foi uma declaração pessoal de amor da rainha por seu falecido marido. Elizabeth abordou sua própria dor de perder seu “amado Philip”, destacando como é difícil enfrentar o Natal depois de perder um ente querido.

Ela também falou sobre algumas das coisas que ela mais apreciava em seu marido: “seu senso de dever, sua curiosidade intelectual e a capacidade de tirar graça de qualquer situação eram irreprimíveis”, disse.

A soberana ainda acrescentou: “Aquele travesso e questionador brilho era tão forte no final e no primeiro dia que eu olhei para ele”.


ALBANI | ALBANI

O conforto da família

No entanto, apesar de sua perda dolorosa, a rainha falou das pequenas alegrias que o período de Natal traz. Ela lembrou daquelas tradições familiares que trazem grande conforto: “um cântico de Natal, desde que a melodia seja conhecida” e “um filme preferido que já sabemos o final”.

De fato, é exatamente essa sensação de familiaridade que traz tanta segurança em um mundo que parece incerto. O Natal pode fornecer um pouco de descanso para nos concentrarmos no que realmente importa.

Esperança

Boa parte do discurso da rainha foi dedicada ao tema “esperança” – algo que não tem sido tão fácil com a pandemia e as dificuldades financeiras, práticas e emocionais que se seguiram para muitas famílias.

Como ela afirma, seu falecido marido estava interessado em “passar o bastão”, criando oportunidades para os mais jovens através do programa de desenvolvimento que ele criou.

O Natal conversa com a criança dentro de todos nós

Por fim, a rainha falou sobre o significado do Natal e, embora seja uma celebração tantas vezes dedicada às crianças, é importante lembrar que a data pode “falar à criança dentro de todos nós”.

Como a rainha Elizabeth destacou: “Mesmo com uma risada familiar faltando este ano, haverá alegria no Natal, pois teremos a chance de relembrar e ver novamente a maravilha da época festiva através dos olhos de nossos filhos pequenos.”

E é olhando para outra criança, o Menino Jesus, que podemos ter entusiasmo pelo que está por vir:

“Que no nascimento de uma criança haja um novo amanhecer com potencial infinito(…) Acontecimentos simples que constituem o ponto de partida da vida de Jesus, um homem cujos ensinamentos foram transmitidos de geração em geração e têm sido o alicerce da minha fé. Seu nascimento marcou um novo começo. Como diz a canção de Natal: ‘As esperanças e medos de todos os anos se encontraram em ti nesta noite.’”

Portanto, à medida que o tempo do Natal continua, esperemos ansiosamente por este “potencial infinito” que nos foi dado com o nascimento de Cristo.

 

Ligue o vídeo abaixo:



https://pt.aleteia.org/2021/12/28/4-comentarios-sobre-um-dos-discursos-de-natal-mais-comoventes-da-rainha-elizabeth/?utm_campaign=EM-PT-Newsletter-Daily-&utm_content=Newsletter&utm_medium=email&utm_source=sendinblue&utm_term=20211229


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terça-feira, 28 de dezembro de 2021

SEISCENTOS E SESSENTA E SEIS - Mário Quintana



Seiscentos e Sessenta e Seis

Mário Quintana

 

A vida é uns deveres que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são 6 horas: há tempo…
Quando se vê, já é 6ª-feira…
Quando se vê, passaram 60 anos…
Agora, é tarde demais para ser reprovado…
E se me dessem – um dia – uma outra oportunidade,
eu nem olhava o relógio
seguia sempre, sempre em frente…

E iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas.

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Mário Quintana

Poeta

Mário de Miranda Quintana foi um poeta, tradutor e jornalista brasileiro. Mário Quintana fez as primeiras letras em sua cidade natal, mudando-se em 1919 para Porto Alegre, onde estudou no Colégio Militar, publicando ali suas primeiras produções literárias. Trabalhou para a Editora Globo e depois na farmácia paterna. Wikipédia

Nascimento: 30 de julho de 1906, 

Falecimento: 5 de maio de 1994

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segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

CRÔNICA DE SÔNIA MARON – Cyro de Mattos

 


Crônica de Sônia Maron 

Cyro de Mattos

 

Nunca vou dedicar um texto ou livro meu a quem andou comigo na jornada da vida. Não vou dedicar à Sônia Maron, inserindo abaixo do título o registro “de saudosa memória”. Recuso-me à submissão da homenagem com essa feição de saudade e afeto, memória e luto.  Simplesmente prefiro fazer assim: dedico à amiga Sônia, que sempre estará comigo. Fazendo parte de mim, não se desligará até quando chegar minha hora nessa verdade que pesa em cada um de nós. 

O que tenho a dizer diante do inexorável, nessa hora que fere, dói, como dói? Viver é morrer o presente, houve quem dissesse. Lembro que ela brincava na matiné do carnaval infantil, animada no clube social.  Dava voltas no salão, cantando:

 

Chiquita bacana

Lá da Martinica

Se veste de uma casca

De banana nanica.

Não usa vestido,

Não usa maiô,

Inverno pra ela

É pleno verão,

Existencialista

Só faz o que manda

O seu coração.

 

Jogava confete, serpentina, cantava, não parava, seguia alegre dando volta no salão.

Era nossa infância como parte do encanto, igual à liberdade caminhava de mãos dadas com a inocência, a ternura e a esperança. Em noite clara, as meninas brincavam de ciranda na rua. Os meninos escutavam no passeio.

 

Ciranda, cirandinha

Vamos todos cirandar,

Vamos dar a meia volta,

A meia volta vamos dar

 

Prefiro lembrar a garota mais bonita de nossa juventude. Foi rainha dos estudantes, da primavera, da cidade. Foi rainha de tudo. Quando passava, arrancava suspiros dos rapazes com a pose de galã fatal. Já moça, nos bailes noturnos esbanjava alegria no carnaval do Grapiúna Tênis Clube. Às vezes romântica, no salão triste seguia, triste cantava.

 

Eu perguntei ao malmequer

Se meu bem ainda me quer

Ele então me respondeu que não.

 Chorei, sofri, por saber que ele

Feriu o meu pobre coração.

 

Foi madrinha do time de futebol do Itabuna quando o Vasco da Gama do Rio veio jogar no Campo da Desportiva. Entregou um buquê de flores ao chefe da delegação dos visitantes. Uma flâmula da cidade ao capitão Belini do Vasco, que há pouco tempo tinha se sagrado campeão mundial de futebol pelo Brasil, nos campos da Suécia, ao lado de Garrincha, Didi, Vavá, Zagalo, Nilton Santos e outros craques. Fez um discurso improvisado, as palavras incandescentes, as imagens certeiras. Arrancou palmas de todos.

Um dia aconteceu como Juíza de Direito. Ficou assim para sempre no exercício eficaz da função. Atuava na Justiça criminal, gostava de presidir as sessões do Tribunal do Júri. Dizia: façam silêncio, se não vão sair do recinto. Estamos julgando duas paixões numa tragédia, a dos familiares do réu e a dos parentes da vítima, que teve a vida ceifada por motivo doloso.

Por mais que queira explicar o inexorável, nessa hora sob o peso do mistério, não consigo chegar perto, cambaleio.  Oi, Sônia, minha conterrânea, como eu e outros abnegados, gente sonhadora desta terra, foste fundadora da Academia de Letras de Itabuna. Com esforço, alma e vida fizemos o parto. Tenha cuidado agora, não se perca. Embora seja a hora escura, calada e fria, haverá na estrada a mão de Deus que guia.

 

Cyro de Mattos - escritor e poeta. Primeiro Doutor Honoris Causa pela Universidade Estadual de Santa Cruz. Membro efetivo da Academia de Letras da Bahia, Pen Clube do Brasil, Academia de Letras de Ilhéus e Academia de Letras de Itabuna. Autor premiado no Brasil, Portugal, Itália e México.

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domingo, 26 de dezembro de 2021

BOA PAZ COM BOA GUERRA, QUANDO NECESSÁRIA



A verdadeira paz não é a paz que reina nos cemitérios, onde não há vida. Só há boa paz em função de Deus e para tal é preciso estar preparado para a boa guerra, que consiste na batalha em Sua defesa; é preciso lutar pela paz. Nesse sentido seguem alguns pensamentos para refletirmos neste final de ano.

 


“QUERER PAZ SEM DEUS É ABSURDO. ONDE NÃO HÁ DEUS, NÃO HÁ JUSTIÇA. ONDE NÃO HÁ JUSTIÇA, EM VÃO NUTRE-SE A ESPERANÇA DE PAZ.” 
(São Pio X) 


“LEMBRA-TE QUE NESTE MUNDO NÃO TEMOS TEMPO DE PAZ, MAS DE CONTÍNUA GUERRA. TEREMOS UM DIA A VERDADEIRA PAZ, SE COMBATERMOS NA TERRA.” 
(São João Bosco) 


“A PAZ DE NOSSO SENHOR SÓ SE CONQUISTA NA GUERRA.” 
(Santa Joana D’arc) 


“NÃO HÁ PAZ PARA OS MAUS.” 
(Isaías 48, 22) 


“DEIXO-VOS A PAZ, DOU-VOS A MINHA PAZ. NÃO VO-LA DOU COMO O MUNDO A DÁ. NÃO SE PERTURBE O VOSSO CORAÇÃO, NEM SE ATEMORIZE.” 

(São João, 14, 27) 


“ESTAR PREPARADO PARA A GUERRA É UM DOS MEIOS MAIS EFICAZES DE PRESERVAR A PAZ.” 
(George Washington) 


“EM ÉPOCA DE PAZ OS FILHOS ENTERRAM OS PAIS, ENQUANTO EM ÉPOCAS DE GUERRA SÃO OS PAIS QUE ENTERRAM OS FILHOS.” 
(Heródoto) 


“O PRINCIPAL OBJETIVO DA GUERRA É A PAZ.” 
(Sun Tzu)

 

https://www.abim.inf.br/boa-paz-com-boa-guerra-quando-necessaria/

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quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

MISSÃO DE ENSINAR, GUIAR E SANTIFICAR – Pe. David Francisquini


“Jesus Cristo entrega as chaves dos Céus a Pedro”, Perugino (1450-1523).

Padre David Francisquini*

 

Nada mais consentâneo com a condição sacerdotal do que fazer uso da autoridade divina das verdades reveladas para cumprir a missão de ensinar, guiar e santificar as almas neste vale de lágrimas.

Com efeito, a crise espiritual que assola o homem pós-moderno — qualificativo utilizado para causar expectativa de “bons fluidos” — é a fonte de tantos males. O ensinamento dos santos ao longo dos séculos consistiu em advertir e instruir os fiéis a propósito da falta de vida interior e de ocupação com tudo aquilo que norteia as almas, a fim de conduzi-las ao seu fim último, que é Deus.

A disposição dos evangelhos, abrindo e fechando o ano litúrgico, nos mostra a importância desses ensinamentos: “Vigiai e orai para não cairdes em tentação” (Mt 26, 41), para o qual as pessoas devem se ater sempre, já que a insistência do inimigo infernal é contínua e implacável contra uma pessoa e mesmo povos inteiros.

Não é bem isto que vem acontecendo hoje, em todos os ambientes frequentados por nós? Não é verdade que com suas artimanhas envolventes os asseclas infernais dispersos pela Terra procuram levar-nos para o abismo, ora por meio de ideologias, ora por manobras políticas ou falsas religiosidades? Fica, portanto, a advertência: “Vigiai e orai”!

Eis as maravilhosas afirmações da Escritura, sustentáculo da nossa fé, a nos asseverar com as palavras de São Paulo: “Toda Escritura divinamente inspirada é útil para ensinar, repreender, corrigir, formar na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito, apto para toda boa obra” (II Tim. 3, 16-17).

Ademais, é-nos imensamente vantajoso deixar-nos conduzir por Aquele que é o caminho, a verdade e a vida: “[…] andai enquanto tendes luz, para que não vos surpreendam as trevas; quem caminha nas trevas não sabe aonde vai. Enquanto tendes luz, crede na luz para que sejais filhos da luz” (Jo 12. 35-36).

Reflita, caro leitor(a), quão benfazejas são essas palavras nesses dias de tanta perplexidade diante das crises que nos assolam, a fim de estabelecermos as balizas do pensamento e o critério de nosso peregrinar pela terra. Podemos ver, tanto no evangelho de São Mateus, quanto no de São Lucas, a narração do último domingo do ano litúrgico, dos acontecimentos que se abateram sobre Jerusalém, como prefigura de todas as épocas de crise.

Pode-se constatar que, de crise em crise, a Igreja instituída por Cristo Nosso Senhor chegou aos tempos atuais. Foram muitas e clamorosas tentativas de subverter sua ordem e ensinamentos no decorrer das centúrias, mas a Santa Igreja preservou e ensinou seus filhos, ministrando-lhes os sacramentos e mostrando-lhes os caminhos da salvação eterna. 

No Ofício Divino, São Jerônimo comenta as palavras do evangelho, dizendo: “Quando virdes a abominação da desolação no lugar santo predita pelo profeta Daniel, quem ler entenda. ”Estas palavras se referem ao transtorno da fé que abalou os fundamentos do povo judeu, abolindo o sacrifício e a oblação, deixando o templo desolado por ter perdido a sua função.

Compreende-se, portanto, por que Pilatos colocou no Templo as estátuas de César e de Adriano. Segundo a Escritura, a abominação é chamada de ídolo, e a desolação é por ele ter sido posto no templo desolado e deserto.

Alguém ousaria contestar a semelhança com fatos do nosso cotidiano? Não é bem verdade que assistimos hoje à introdução de ídolos e a realização de cultos idolátricos no interior das nossas igrejas? 

A história recente nos traz à memória, por exemplo, o encontro interreligioso em Assis (1986), acontecimento-símbolo da mentalidade nova que revolucionou o conceito infalível da existência de uma só religião revelada, fora da qual não há salvação. É dogma de fé!

Tem-se, então, um pecado contra a fé, com uma agravante: a introdução de ídolos pagãos, algo abominável diante de Deus, escândalo para incontáveis almas, transtorno da ordem natural e divina que proclama o culto do verdadeiro Deus. Tais acontecimentos, que significam um largo passo rumo à panreligião, constituem uma ameaça cada vez maior para inúmeros fiéis.

Essas considerações devem nos fazer temer as consequências da vida desregrada de nossos dias, que abrange todos os campos da ação humana. Em todos eles os critérios divinos são sistematicamente rejeitados.

Meditemos, por exemplo, nesta advertência de Nosso Senhor, referindo-se aos tempos do anticristo ou prefiguras dele que agem contra Deus, promovendo a desolação em toda a terra: “Quando virdes estabelecida no lugar santo a abominação da desolação” (Mt. 24, 15).

Ao ler comentários feitos pelos Padres da Igreja, podemos adiantar-nos em outras considerações que se aplicam bem aos dias atuais, como a introdução da Pachamama no templo de Deus. São Luís Grignion de Montfort já predissera profeticamente: “Vossa divina fé é transgredida, vosso evangelho desprezado; abandonada vossa religião; torrentes de iniquidade inundam toda a terra, e arrastam até os vossos servos; a terra toda está desolada; a impiedade está sobre um trono; vosso santuário é profanado, e a abominação entrou até no lugar santo.

Aqueles que buscam viver segundo a sã Doutrina de Nosso Senhor não devem descer às coisas mais baixas pelo desejo mundano. “O que está no campo, não volte atrás para tomar o seu manto”, isto é, não volte às preocupações antigas, tornando a conviver no meio dos pecados passados, que manchavam seu corpo e perdiam sua alma.

Daí a importância da verdadeira fé, da boa orientação católica e da aquisição do senso do discernimento a fim de conhecer o momento de fugir da abominação e se proteger dos perigos de condenação eterna — “Então os habitantes da Judéia fujam para os montes” (Mt 24, 16).

Cumpre salientar que ouvimos com frequência interpretações protestantes de textos bíblicos atribuindo aos fatos trágicos, mas naturais, ou ainda da inter-relação humana, como sinais da segunda vinda do Messias, muito embora se trate de algo que sempre aconteceu na história do mundo. Estas são interpretações subjetivas.

Na realidade, quando Cristo diz que haverá sinais no sol, na lua, nas estrelas e que as virtudes dos céus serão abaladas, a interpretação mais lógica e prudente está em aplicar essas predições à própria Igreja, com o efeito benéfico de não nos expormos ao debique dos inimigos a propósito de considerações sobre calamidades tantas vezes ocorridas no mundo.

Afinal, a Igreja se assemelha ao sol, à lua e às estrelas. Seu brilho poderá fenecer um tanto, em decorrência da violência inaudita de seus perseguidores e do apodrecimento moral no campo religioso e civil, mas as portas do inferno não prevalecerão contra Ela.

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*Sacerdote da Igreja do Imaculado Coração de Maria – Cardoso Moreira (RJ).

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quarta-feira, 22 de dezembro de 2021

DOIDOS, MAS NEM TANTO - José Sarney


Algumas figuras populares são adeptas à política. O nosso Sócrates era um dos que sonhava ser eleito para qualquer coisa. Outro, na década de 1950, aqui no Maranhão, era o Paletó.

Ele dizia sempre: 'Sou o número um das Oposições Coligadas.' Eu ainda o conheci: ele não faltava a nenhuma das reuniões dos nossos partidos políticos.

O Deputado Clodomir Millet foi, durante algum tempo, o chefe da oposição. Uma hora resolveu dar uma missão ao Paletó: ir todo dia ao TRE assistir às sessões e trazer de volta o relatório do que tinha sido votado e de como havia votado cada um dos juízes.

Um dia, Paletó entrou, meio cansado e revoltado, na redação do jornal O Povo - que pertencia a Neiva Moreira, um dos nossos líderes -, onde nos reuníamos todas as tardes, e foi logo dizendo:

- Dr. Millet, não volto mais ao Tribunal. Está tudo perdido: um juiz da Oposição - como é o Desembargador Eugênio Piva - votou com o juiz do Governo!

Naquela época a política muitas vezes se tornava violenta. Quando organizamos uma passeata para protestar contra o Governo, que tinha sido acusado de estar queimando as casas dos pobres, das palafitas, cobertas de palhas, o Paletó também quis participar dela.

Neiva lhe deu uma bandeira, dizendo:

- Paletó, leve esta bandeira.

Então, o Paletó, 'membro número um da Oposição', enrolou a bandeira no pescoço, deixando uma parte caída nas costas, e foi, exaltado, à passeata, gritando palavras de protesto. Até que, chegando perto do Palácio, onde havia uma fila de soldados com metralhadoras apontando para a passeata, ele parou e disse:

- Seu Neiva Moreira, está aqui a sua bandeira. Arrume um mais doido do que eu que, daqui, não passo!

No Recife havia outro popular meio doido. Ele andava com um capote pesado, absolutamente inadequado para o clima da região. Com a barba grande, entre profeta e andarilho, acompanhava todos os movimentos da Esquerda pernambucana e gostava, para gozação da cidade, de dar conselhos ao Governador. Deram-lhe o apelido de Malenkov, o efêmero sucessor de Stalin.

Certa vez, encontrou Miguel Arraes num comício, aproximou-se dele e denunciou:

- Dr. Arraes, isso não é possível, o Delegado de Polícia de Caruaru não sabe nada de marxismo. É preciso zelar pela doutrina.

Em 1964 ele foi detido. Na prisão o inquisidor, um capitão revolucionário, ao olhá-lo, foi direto:

- Seu comunista miserável, enfim o pegamos!

olhou de lado, sacudiu a cabeça e retrucou:

- Capitão, não venha me furar. Eu sou kardecista, da linha 2 - porque existiram dois

. Comunista, jamais! Sou espiritualista.

Malenkov e Paletó não eram tão doidos quanto todos pensavam.

Os Divergentes, 19/12/2021

 

https://www.academia.org.br/artigos/doidos-mas-nem-tanto

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 José Sarney - Sexto ocupante da Cadeira nº 38 da ABL, eleito em 17 de julho de 1980, na sucessão de José Américo de Almeida e recebido em 6 de novembro de 1980 pelo Acadêmico Josué Montello. Recebeu os Acadêmicos Marcos Vinicios Vilaça e Affonso Arinos de Mello Franco.

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PESARES DE SÔNIA MARON – Cyro de Mattos

            Imagem: DiarioBahia


Pesares de Sônia Maron

Cyro de Mattos

 

Quem entende esse gesto?

O passado não tem volta.

Não se esvaem as dores

Prisioneiras do presente.

 

O vento que se aloja

nessas asas fabrica

vozes em rito de pesares,

que não se decifram.

 

Ó tempo rigoroso

no musgo desse muro,

sinto frieza no meu peito,

como fere nesse inverno.

 

Até no encanto assustas,

a flor que aparece

é a mesma que breve

no pó desaparece.

 

Imutável nesse estar

que ceifa a inocência,

a solidão de anoitecer

teu enigma que ofertas.

 

Hora que não tem cura,

Vez que não tem volta

Enquanto a noite chega

Para soterrar o dia.

 

Ó tempo quão amargo

É teu rigor nesse gesto

Que só a ti pertence,

Sufoca no meu peito. 

 

De ti em dó e lágrima,

o que dói não é o calor

que aqueceu o coração,

mas as coisas que não virão.

 


Cyro de Mattos
é escritor de contos, crônicas, romance, poemas, literatura infantojuvenil, ensaio e memorialista. Membro efetivo da Academia de Letras da Bahia. Doutor Honoris Causa da Universidade Estadual de Santa Cruz. Possui prêmios literários importantes. Também é editado no exterior.

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segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

A HISTÓRIA DO NATAL - Eglê S. Machado

 


A História do Natal

Eglê S. Machado


E Deus sorriu lá do céu,

Pois veio ao mundo em seu Filho:

Chegou pobre, sem escarcéu,

Enchendo a terra de brilho!

 

Removeu o escuro véu,

Pôs setas marcando o trilho;

"Glória in Excelsis Deo"

Anjos cantaram em estribilho!

 

E chegou trazendo a Paz,

Incrementando a bonança,

Tornando o homem capaz

De confiar na Esperança!

 

Com amor que não se esvai,

Com perfeição sem igual,

Compôs o Divino Pai

A poesia do Natal!

 

E da treva Deus fez Luz,

Que transfigura e extasia,

Com a Brandura de Jesus

E o Sorriso de Maria!

 

Eglê S. Machado

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sábado, 18 de dezembro de 2021

NATAL E O BOM COMBATE COMO CONDIÇÃO PARA UMA AUTÊNTICA PAZ NA TERRA


A guerra contra o demônio e seus sequazes daqueles que desejam o estabelecimento da autêntica paz entre os homens

Fonte: Editorial da Revista Catolicismo, Nº 852, Dezembro/2022

É uma tradição da revista Catolicismo publicar na sua edição de dezembro matérias concernentes ao Santo Natal do Menino Jesus, que constitui com a Páscoa as duas maiores festas da Cristandade.

Neste ano reproduzimos um artigo do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, publicado no mensário em dezembro 1963, no qual ele chama a atenção para o fato de que a imensa maioria das pessoas não atenta para o verdadeiro sentido da expressão “Paz na Terra”, contida na citação de São Lucas “Glória a Deus nas alturas e paz na Terra aos homens de boa vontade”.

Dr. Plinio mostra que não pode haver “Paz na Terra aos homens de boa vontade” (nem aos de má vontade…) se a humanidade não estiver voltada para a “Glória de Deus”. Como nos ensinou o Divino Mestre, “buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça e todas estas coisas vos serão dadas em acréscimo” (Mt 6, 33). Só assim teremos a “Paz na Terra”; se esquecermo-nos de Deus, não teremos o seu Reino e nem o acréscimo. Não teremos a verdadeira paz!

Em nossa época narcotizada pelo desejo de paz a qualquer preço — mesmo à custa da renúncia aos ideais católicos —, convém ter bem presente o que disse Santo Agostinho: “A paz é a tranquilidade da ordem de todas as coisas”. Segundo esta definição, paz não é apenas um período de tranquilidade, mas de “ordem de todas as coisas”; e tudo estará desordenado se os mandamentos de Deus forem transgredidos.

Outro aspecto importante dessa temática é que a “Paz na Terra — como consta no artigo em pauta — inclui a cessação de todas as lutas, exceto a incessante e gloriosa guerra contra o demônio e seus aliados, isto é, o mundo e a carne”. Aliados que atuam para tentar apagar da memória a lembrança de Deus. Daí os Natais secularizados de nosso século, parecidos com festas do comércio. Não se conseguiu eliminar inteiramente a lembrança do Natal, mas se conspira para que um dia isso aconteça.


Além do artigo de Plinio Corrêa de Oliveira, duas outras matérias o complementam. Seus autores, Luís Dufaur e Paulo Américo de Araújo, acrescentam fatos e comentários evocativos do Santo Natal, quando há 2021 anos nascia em Belém o Príncipe da Paz, o Deus que faz guerra aos sequazes de Lúcifer e apresenta a única solução para as desordens que abalam o mundo e geram conflitos.

Um Santo e Feliz Natal a todos os diletos leitores de Catolicismo, com os nossos melhores votos de um Ano Novo repleto das mais seletas graças e bênçãos do Menino Jesus e de sua Mãe Santíssima.

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https://www.abim.inf.br/natal-e-o-bom-combate-como-condicao-para-uma-autentica-paz-na-terra/

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sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

ORLANDO GOMES: UM JURISTA CRONISTA – Cyro de Mattos

 


Orlando Gomes: um jurista cronista

Cyro de Mattos

 

         Os alunos gostavam de dizer de boca cheia, a expressão feliz no rosto, que aquela era a gloriosa Faculdade de Direito da Universidade Federal da Bahia. O prédio ficava na Rua Direita da Piedade, em frente, no diminuto largo, o gesto em bronze do jurista Teixeira de Freitas, a observar os alunos que entravam para a aula na manhã. Os professores eram senhores de vasto saber jurídico. Uns faziam que os alunos respeitassem aquela faculdade de tradição valorosa, outros com a sua maneira de dizer o direito que a amassem. Entre eles, havia Orlando Gomes, professor de Direito Civil. Era um autor respeitável no circuito nacional, à época publicara obras de Direito Civil, que sobressaíam de sua vocação entre os talentosos juristas baianos.      

          O curso de Direito Civil durava quatro anos.  Para cada ano era estudada uma das ramificações desse direito. Não havia aluno que não quisesse estudar Direito Civil com o professor Orlando Gomes durante os quatro anos. Era uma dádiva ser aluno daquele professor elegante, dicção objetiva, poder de síntese e densidade atraentes. Fazia sem esforço que as aulas se tornassem sedutoras, durante o ano ninguém pensava em faltar a uma delas, lamentando quando isso acontecia por motivo alheio à vontade.   

          A razão do moço que veio do interior logo tomou conhecimento que o Direito é uma das maiores conquistas do ser humano. Sem essa hora não existe de fato gente humanizada, o cidadão condigno, mas o regresso na escala biológica onde prevalece o instinto animal na prática invariável dos atos com base na lei do mais forte.

          Havia chegado a hora do professor de Direito Civil se aposentar, guardar suas ferramentas de ensino na gloriosa faculdade. E assim, no veraneio imposto pela passagem da vida, viria acontecer o cronista. De crônica em crônica, publicada no “Jornal da Bahia”, nos anos 1960 e 1970, o estilo não jurídico do autor foi revelando um baiano bom cronista. O autor no final da sua atividade como cronista alcançava a marca de quem havia escrito 140 textos do gênero.

         Crônicas sobre o seu amor à Bahia, a sua história, os seus velhos mestres, o Carnaval ontem e hoje, o racismo, o futebol, a oratória decadente do bolodório, os advogados, a Justiça e o Direito, entre tantas que fluem no estilo sóbrio.  Em algumas fica claro que os homens da geração do cronista tinham dificuldades de entender o mundo, que passava ligeiro, por mais aberto que seja o espírito, mais ansiosa a vontade de compreendê-lo, como pasmo se dizia. 

          Essas crônicas foram reunidas agora no alentado volume Orlando Gomes, o cronista. Percebe-se em algumas que o tempo passageiro é flagrado na Bahia com seu direito de sambar, caminhar por novas ruas do mundo onde foi introduzido o homem audiovisual modelado pela telecomunicação, formatado em seu psiquismo, educação e relações sociais. O cronista com conhecimento de causa toca as faces nostálgicas da velha Salvador, exibe a cidade que não mais existia com a pura alegria de viver de sua boa gente. Ninguém mais queria conhecer o outro por prazer.

          Em “Papo de Folião Aposentado”, no tom consolador, conclui que o carnaval de ontem já era, o corso de automóveis com famílias aplaudindo nas calçadas não passava de evocação de cafonices. Estava convencido de que não foi mesmo o folião aposentado que mudou ao correr da vida. O babado, em seu cometa ululante e feérico, “atrás do qual centenas de foliões pulam por pular e arrastam o que encontram pela frente”, é que era outro.

          Lírico, observador, reflexivo, opinativo. Cronista que recolhe os estados emotivos da vida em sociedade, extraindo das cenas cotidianas o pretexto que resulta no texto informativo com equilíbrio e devaneio.  Cultiva a crônica com o engenho de ensaísta, que inspirado fere com humor a mudança dos costumes, expede juízo acerca de temas como o amor, a idade avançada como virtude acumulada de saber, o preconceito contra as mulheres, a euforia das domésticas, a utilidade das novelas de televisão, as drogas e a violência. Crônicas para todos os gostos como resultado de uma experiência de vida bem vivida. 

          À sombra das lembranças que acendem o pensamento emotivo, às vezes revelam   a maneira apropriada para se regressar ao passado, reconstruindo-o com pedaços felizes, momentos generosos da cidade de beleza antiga na canção da vida. Com uma conversa simples, pedem atenção para o perene das coisas, pessoas, costumes, situações, logrando trazer para as páginas do livro agora a notícia efêmera que pertence ao jornal. 

          O cronista tem uma visão tranquila de ver o mundo. Distingue-se na escritura que prefere recriar com emoção e razão situações ao invés de recorrer à mera transcrição dos fatos. Assim, ainda que tardio, fez descansar o jurista de saber e ensino notáveis.  Gosta de se apresentar com humor, diverge quando a cena se lhe mostra inconsequente, mas sempre querendo conversar com o mundo, de maneira lúcida, serena, numa condição que lhe é necessária, faz parte de seu caráter revestido das essências da vida. Isso certamente fará com que o leitor comente que em bom momento não ficou o veranista esquecido dentro do jurista.

 

*Orlando Gomes, o cronista, 140 crônicas de Orlando Gomes, prefácio por Otávio Luiz Rodrigues Jr., organizador Rodrigo Moraes, EDUFBA, editora da Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2021.

 

**Cyro de Mattos é ficcionista, poeta, ensaísta, cronista, autor de literatura infantojuvenil. Editado e premiado também no exterior. Autor de 55 livros pessoais. Membro da Academia de Letras da Bahia, foi aluno do professor Orlando Gomes, que ocupou a cadeira 16 da instituição.

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