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terça-feira, 13 de julho de 2021

ELEVAÇÃO A CIDADE – Carlos Pereira Filho


Elevação a cidade

 

          Comércio, lavoura, desdobravam-se numa progressão vertiginosa, fazendo convergir para o município as atividades produtoras da vizinhança pois já naquele tempo, a cidade itabunense se esboçava como o centro do movimento da região cacaueira.

          Uma festa extraordinária se realizou com a elevação de Itabuna à categoria de cidade. Deixou de ser Tabocas para ser vila de Itabuna e passava de vila para cidade pela Lei número 807, de 28 de julho de 1910, graças à iniciativa dos senadores Arlindo Leone, Batista de Oliveira e da assinatura do Governador João Ferreira de Araújo Pinho.

          Rezam as crônicas que a sessão do conselho municipal para instalação se efetuou no dia 21 de agosto de 1910, com a presença dos conselheiros Tertuliano Guedes de Pinho, Antonio Gonçalves Brandão, Adolfo Maron e Américo Primitivo dos Santos. Falaram muitos oradores, depois que o presidente do conselho leu a lei e deu por instalada a cidade. Discursaram José Veríssimo da Silva Júnior, Filadelfo Almeida, Artur Nilo de Santana e dr. João Batista Soares Lopes.

          Mais de uma dezena de senhoras assistiu ao ato solene da instalação. Na rua, o povo vibrava, bebia e gritava, tendo um cidadão, de apelido “Cambucá”, cantando o Hino Nacional e dançando quadrilha à frente das filarmônicas. As filarmônicas tocaram seus dobrados e andaram em tréguas, em homenagem à grande data municipal.

          Os jornais “Correio de Itabuna”,  “A Brasa”, “O Itabuna” comemoraram o feito com artigos de fundo.

          “A Brasa”, de Genolino Amado, aproveitou a oportunidade para dizer que “aquela obra não era dos trânsfugas, dos traidores, dos hereges, dos ingratos. Aquela obra pertencia aos homens esclarecidos, que pensavam no bem público, na grandeza da terra, na independência de Itabuna”.

          O pior sucedeu lá para os lados das “Bananeiras”, rio acima. Um protegido da situação provocou um barulho e matou um empregado do Coronel Henrique Félix. Matou-o estupidamente com um tiro na cabeça e deu um viva a Itabuna.

          Dentro da vida acidentada, de intranquilidade pública, da falta de meios de comunicações, dentro de todas essas dificuldades, o município desenvolveu-se, levado, ajudado pelos seus trabalhadores, que eram os proprietários das suas terras plantadas de cacau.

          Não há na história do Estado o exemplo de um povo mais afeiçoado ao progresso. Para o itabunense não existia o perigo das doenças, dos homicídios, dos assaltos, das feras, das serpentes. Para ele só havia um objetivo: o trabalho criador da riqueza, as matas que derrubava e plantava cacau, os terrenos que coivarava e semeava o cereal, a execução, enfim, de um plano elaborado, riscado na consciência de cada cidadão que transformava a floresta infernal do cacau no paraíso das suas ambições. Assim é que o itabunense fez a riqueza da sua terra, a grandeza do seu município, lutando, desbravando, resistindo e insistindo até a vitória final. Quantos deles não morreram nessa imensa empreitada, quantos deles não sucumbiram nessa tarefa ciclópica de criar e organizar um dos mais importantes núcleos de produção e de renda do País?

          Firmino Alves estava pensando justamente no heroísmo da sua terra e do seu povo, quando recebeu de Ilhéus uma carta de Rodolfo de Melo Vieira, na qual avisava que havia chegado uma leva de sergipanos, e que, no dia seguinte a embarcaria para Itabuna. Rodolfo de Melo Vieira, comerciante conceituado no município ilheuense, era o agente consignatário de Firmino Alves na importação que fazia de sergipanos. Acabou de ler a carta e sorriu. Diante de si passavam muitos cavaleiros, montados em bons e tratados cavalos esquipando rio abaixo e rio acima, em comemoração àquele dia festivo.

          Olhou e sorriu. Entre os cavaleiros estavam Ramiro, João e Antonio, sergipanos que tinham chegado com os sacos às costas em 1904, para Tabocas. Para entrarem nas matas ele os havia suprido de carne, farinha, feijão, um machado, e um facão.

          Estavam agora afazendados, possuíam cavalos, corriam para baixo e para cima, com pose de coronéis fazendeiros, diferentes daquelas pálidas criaturas que saltaram dos barcos, amarelos e enjoados, com olhares humildes e interrogativos, em busca de trabalho e de pão, numa terra desconhecida.

 

 (TERRAS DE ITABUNA Capítulo XII)

Carlos Pereira Filho

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