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A invisibilidade dos grupos sociais
Muito já se escreveu e pesquisou, em todos os níveis da educação, sobre
a invisibilidade de alguns grupos sociais, como os garis, por exemplo. Um
mestrando da USP, de Psicologia, Fernando Braga da Costa, vestiu-se de varredor
por oito anos e foi fazer sua pesquisa de campo, constatando o quanto esses
profissionais são incógnitos e desprestigiados pela população em geral. O que
poucas pessoas imaginavam é que, com o advento da web, a prática fosse se
repetir. Ao mesmo tempo em que deu cara e voz a uma legião (segundo o finado
Umberto Eco, de imbecis, idiotas!) de anônimos, fez com que muitos deles
sumissem ou criassem uma espécie de despercebimento, em um espaço tão
democrático e de fácil acesso como é, hodiernamente, a internet – rede mundial
interligada e instantânea. O homem é um ser gregário desde os primórdios, nas
cavernas primitivas, a bem da sobrevivência da espécie! Vivia-se em bando,
caçava-se idem, morria-se também.
No entanto, éramos viventes de uma sociedade bairrista, fechada e xenofóbica de
carteirinha, justamente para conseguir sobreviver bem! Atualmente, somos
moradores de uma aldeia global. Não faz o menor sentido aquele pensamento
egoico primevo! Aliás, faz, se levarmos em consideração que a comunidade agora
é o todo, o organismo por completo! Dessa forma, nos tempos coetâneos, fazer
parte de círculos de amizade nas mídias eletrônicas dá sinal de pertencimento,
inclusão e status. Todos querem fazer parte dos grupos sociais, seja do que for
- das associações de condomínio, de escola, de trabalho, de academia, de farra,
de amigos da infância, de todos os tipos imagináveis -, e que agregue, sempre.
Entre eles, os mais comuns, hoje, são os agrupamentos do aplicativo Whatsapp e
congêneres.
Nos dias correntes, o que se almeja não é mais ler o último best-seller,
assistir ao recém-lançado filme de Hollywood, namorar a badalada modelo ou
atriz do momento ou comprar o carro do ano! Sem hipérbole, parece que o desejo
de consumo das massas é fazer parte dos grupos, como se mais nada no mundo
importasse... Se engajar no badalado convescote digital, elevando a sua estima,
o seu poder e o seu carisma frente aos demais! O grande problema nasce aí. Em
se participando de tais turmas, verifica- se o quanto insignificante se é ou
nada se vale. Um choque real, de um mundo irreal: mensagens sem respostas,
vídeos sem comentários, fotos sem repercussões, fofocas sem respaldo, debates
unilaterais e toda uma sorte de perguntas sem feedbacks que fazem muitos desses
agrupados se desvincularem das mesmas panelinhas que outrora sonhou em
participar! Aí, baixa aquela coisa fria, chamada noite, como poetizou Drummond.
Acontece que todos têm a sua própria vida, sua dinâmica, o seu próprio tempo.
Muitos trabalham enquanto acessam suas redes sociais. Outros visualizam, mas
não se jactam em comentar. Alguns não querem mesmo, discordam de tudo e
reclamam de todos. Existem aqueles que devem ser espiões, porque nunca se
manifestam. Também os que participam por participar. Enfim, um turbilhão de
complexidade que a cada um governa e impõe suas idiossincrasias ou verdades
relativas! Mas é de chamar atenção que muitos anseiam ser vistos.
Querem ser admirados. Frequentam essas salas virtuais para serem olhados,
percebidos, degustados, acarinhados. E não se dão por satisfeitos quando isso não
ocorre. Bufam, esperneiam, entram e saem sistematicamente dos grupos, porque
querem participar, ao tempo em que não concordam com opiniões e posturas
alheias. São mais orgulhosos e vaidosos do que qualquer outra coisa. Então,
quando percebem essa invisibilidade digital desconcertante, não se fazem de
rogados e pulam fora! O que acaba gerando outro pensamento: se quero ser
comentado, devo comentar; se desejo ser admirado, tenho que admirar; se busco
ser visto, tenho que ver; se preciso ser curtido, tenho que curtir... numa
escala infinita elevada a décima potência! Afinal de contas, fazer ao outro o
que gostaria que o outro te fizesse serve igualmente para todos os campos do
conhecimento e das ações humanas, ou não?
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Gustavo Atallah Haun - Graduando em Letras pela UESC,
ex-coordenador de Imprensa do Centro Acadêmico de Letras/UESC, professor das
redes particular e pública de Itabuna.
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