Em sua coluna de hoje, Merval Pereira fala sobre corrupção e
democracia, mostrando como a crença popular no sistema democrático tem sido
abalada pelos constantes casos de corrupção.
Eis um trecho:
A conclusão é que a democracia latino-americana está em
crise, e uma das principais razões é o descrédito dos sistemas políticos, dos
partidos, das lideranças. O Latinobarômetro mostra que 70% dos cidadãos da
região criticaram seus governos por pensarem apenas em seus interesses
individuais e não no bem comum, sendo que no Brasil, esse percentual alcançou
97%.
Não é por acaso, portanto, que a questão da corrupção, a
partir do caso brasileiro, tenha se espraiado pela América Latina, já que o
esquema montado pelo PT nos governos Lula e Dilma exportou para diversos países
chamados “bolivarianos” o mesmo sistema de compra de apoio político com o apoio
da empreiteira Odebrecht.
Esse sistema de corrupção que agora está sendo desvelado,
corroeu os frágeis sistemas democráticos em diversos países da região e fez com
que a descrença na democracia representativa aumentasse nos últimos anos.
Após falar do “capitalismo de estado”, a simbiose nefasta
entre governo e grandes grupos, Merval conclui: “Crise econômica,
desmoralização da classe política pela prática sistemática da corrupção, e
violência urbana são ingredientes que se misturam para desacreditar a
democracia representativa”.
Em sua coluna na Gazeta do Povo, Alexandre Borges, que esteve
recentemente em seminário sobre a operação Mãos Limpas na Itália, fala que mais
leis e prisões não bastam, que é preciso um resgate de valores éticos, e também
a redução do estado, principal causa da corrupção:
A lição mais importante que se pode tirar do alegado
fracasso da megaoperação italiana é que o combate ao crime não pode e não deve
ser baseado apenas em ações penais mas numa mudança estrutural das relações
entre estado e sociedade em que o judiciário é uma parte de um esforço muito
maior de refundação do país em bases mais morais e éticas. Sem o envolvimento e
o apoio direto da população, o remédio não só não vai curar o paciente como ele
acabará pior do que antes do tratamento.
[…]
O combate da corrupção sistêmica, que envolve os principais
escalões do governo e estatais, passa necessariamente por uma diminuição das
garras do estado, a descentralização da administração pública e a devolução do
poder aos estados e municípios. No lugar dos corruptos atuais, não basta
“profissionalizar” o estado, como imaginam certos liberais iludidos e inocentes
que compram a ideia positivista de uma burocracia científica em substituição
aos cleptocratas atuais. Sempre que houver alguém com poder para criar
dificuldades, haverá venda de facilidades. Não adianta trocar a CUT por
ex-alunos de Harvard, é preciso menos estado.
O descrédito com a democracia foi também o tema do nosso
podcast Ideias esta semana. Eu, Borges e Narloch trouxemos pensadores diferentes
para mostrar que o excesso de confiança no estado pode estar por trás dessa
decepção. É preciso ser mais cético, acreditar menos no governo, e reduzir a
esfera da política em nossas vidas, diminuir o escopo do estado:
Debater os limites da própria democracia é uma forma de
salvá-la, não de ser antidemocrático. Falta um debate sério sobre isso em nosso
país.
Economista pela PUC com MBA de Finanças pelo IBMEC,
trabalhou por vários anos no mercado financeiro. É autor de vários livros,
entre eles o best-seller “Esquerda Caviar” e a coletânea “Contra a maré
vermelha”. Contribuiu para veículos como Veja.com, jornal O Globo e Gazeta do
Povo. Preside o Conselho Deliberativo do Instituto Liberal.
A propósito do centenário da Revolução Comunista, seguem algumas frases selecionadas para nelas refletirmos neste fim de semana:
“Não te preocupes em fazer propaganda anti-religiosa;
utiliza os cristãos na luta de classes e verás como, por si sós, perderão a fé”
(Lênin)
“Fala-se em cortesia francesa, pontualidade britânica,
cavalheirismo espanhol, etc. Dia virá em que se falará também em cinismo
soviético. Cinismo pasmoso do comunismo soviético, que só teve um símile no
mundo: o cinismo nazista”
(Plinio Corrêa de Oliveira)
“O comunismo é a filosofia do fracasso, o credo da
ignorância e o evangelho da inveja. Sua virtude inerente é a distribuição
equitativa da miséria”
(Churchill)
“O Comunismo não é a fraternidade: é a invasão do ódio
entre as classes. Não é a reconciliação dos homens: é a sua exterminação mútua.
Não arvora a bandeira do Evangelho: bane Deus das almas e das reivindicações
populares. Não dá tréguas à ordem. Não conhece a liberdade cristã. Dissolveria
a sociedade. Extinguiria a religião. Desumanizaria a humanidade. Everteria,
subverteria, inverteria a obra do Criador”
30º Domingo do Tempo Comum - 29 de Outubro de 2017
Amarás o Senhor teu Deus, e ao
teu próximo como a ti mesmo.
+ Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus
22,34-40
Naquele tempo:
Os fariseus ouviram dizer que Jesus
tinha feito calar os saduceus.
Então eles se reuniram em grupo, e um deles perguntou a Jesus, para experimentá-lo:
'Mestre, qual é o maior mandamento da Lei?'
Jesus respondeu: '`Amarás o Senhor teu Deus
de todo o teu coração, de toda a tua alma,
e de todo o teu entendimento!'
Esse é o maior e o primeiro mandamento.
O segundo é semelhante a esse:
`Amarás ao teu próximo como a ti mesmo'.
Toda a Lei e os profetas dependem desses dois mandamentos.
Ligue o vídeo abaixo a acompanhe a reflexão de Dom Pedro Carlos Cipolini, bispo da diocese de Amparo - SP.:
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Um coração cheio de Deus e de nomes
“Toda a Lei e os Profetas dependem desses dois
mandamentos: amor a Deus e amor ao próximo”
Jesus, no seu ministério em favor da vida, se depara com
inúmeras perguntas; muitas delas escondiam uma pretensão de colocá-lo à prova e
desmoralizá-lo diante dos outros. Desta vez aparece uma pergunta fundamental e
radical: “qual é o primeiro de todos os mandamentos da Lei”?
Jesus, em primeiro lugar, responde à pergunta tal e como lhe
fazem. De sua boca, o mandamento bíblico do amor recebe toda sua profundidade,
não somente como compêndio da lei, mas como síntese da vida: “Amarás o Senhor,
teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todas as tuas forças
e com todo o teu entendimento”. Trata-se de amar com tudo o que existe em nosso
ser, em termos de capacidade de decisão (coração), de alento vital (alma), de
consciência (mente) e de força vital (forças).
Amar a Deus com todo o coração é amá-lo com o que há nele:
com seu lado de luz e de sombra, com seu trigo e sua cizânia, com sua terra boa
e sua terra baldia...; podemos amá-lo sem medo, podemos amá-lo sem ter que
esconder nossas fragilidades, podemos amá-lo a partir de qualquer situação de
nossa vida, pois nada do que é humano fica fora, tudo se converte em motivo
para deixar-nos habitar por sua ternura amorosa.
Isso significa que não teremos que esperar chegar à
perfeição para poder amá-lo com todas as nossas forças, que não precisamos ter
tudo resolvido dentro de nós, que não temos que ter a casa de nossa vida
ordenada... mas que é Ele quem, ao entrar em nosso interior e habitá-lo, vai
ordenando tudo à sua maneira e nos faz capazes de acolher e de amar os outros.
Mas, Jesus aproveita também para responder à pergunta que não lhe fora feita,
mais profunda e reveladora. Jesus é mestre em fazer nova pergunta em cima de
outra pergunta; Ele não perde a ocasião e aproveita das perguntas para chamar a
atenção para algo mais importante. Jesus responde, em primeiro lugar, aquilo
que todos já conheciam; mas, para que não ficassem acomodados com o primeiro
mandamento, acrescenta-lhes o segundo: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”.
No fundo, Jesus veio lhes dizer que sim, que o principal é o
amor a Deus, mas que o amor a Deus não era verdadeiro se não era acompanhado do
amor ao próximo. Mais ainda, Jesus quis indicar que o mandamento do amor ao
próximo é de igual valor e de igual importância que o mandamento do amor a
Deus.
Além disso, Jesus simplificou as coisas, porque frente aos
248 preceitos e as 365 proibições reduziu tudo a dois. E com isso era
suficiente: “ama a Deus e ama o teu próximo”. Por esta resposta eles não
esperavam, mesmo dizendo-lhes que estes dois mandamentos são toda a Lei. E que
com estes dois mandamentos todas as demais normas e leis são secundárias.
Nós, certamente, não temos a pretensão de tentar e nem de
colocar Jesus à prova. Mas é possível que tenhamos medo de lhe fazer a mesma
pergunta dos fariseus, pois temos uma infinidade de leis, a maioria inúteis e
sem sentido. Encantam-nos a floresta de leis; basta olhar o Código de Direito
Canônico e nos encontramos com 1752 leis e vários Apêndices; cada Diocese e
paróquia tem suas normas e leis; e se levarmos em consideração o Código Civil,
o Código Penal e demais códigos... Jesus é muito mais simples e direto; para
Ele dois mandamentos são suficientes.
Nós também temos medo de lhe perguntar pelo essencial, pois
temos medo de lhe perguntar sobre o amor; até nos atreveríamos perguntar pelo
amor a Deus, mas que não diga que temos de amar o próximo “como a nós mesmos”.
No entanto, no seguimento e identificação com Jesus, precisamos de dois remos:
o amor a Deus e o amor ao próximo. Se nos falta um deles, nossa fé não caminha.
Não caminha se não amamos a Deus com todo nosso coração; tampouco caminha se
não amamos os outros “como a nós mesmos”.
Temos inventado mil e uma devoções e nos sentimos bons;
criamos uma infinidade de orações e de ritos, e nos sentimos merecedores do
prêmio celeste; cumprimos uma infinidade de ritos para pacificar nossa relação
com Deus. E, no entanto, sabemos que de nada vale todo este arsenal de coisas
piedosas e rituais, se não somos capazes de amar. O coração que não ama é um
coração de casca, estéril, seco... O coração que não ama é um coração vazio de
Deus e dos seres humanos.
“No final do meu caminho me dirão: - E tu, viveste? Amaste?
E eu, sem dizer nada, abrirei o coração cheio de nomes” (D. Pedro Casaldáliga).
O coração humano deveria ser também uma espécie de agenda
onde, como diz Casaldáliga, no final da vida, quando seremos perguntados sobre
o amor, nos bastará abrir o coração para que Deus o veja cheio de nomes. E isso
será um dos sinais de que temos vivido e amado.
Quando amamos, escrevemos o nome das pessoas em nossos
corações. Por isso, podemos imaginar o coração de Deus cheio de nomes: o teu, o
meu e o de todos. Também os daqueles a quem ninguém chama e a quem ninguém os
leva em seu coração.
Quando quero saber se de verdade amo a Deus, olho se levo
seu Nome em meu coração. Quando quero saber se de verdade amor o meu próximo,
me pergunto quantos nomes carrego escritos no coração. Quando quero saber a
quantos não amo, olho o meu coração e vejo quantos nomes apaguei ou quanto
nunca escrevi nele ou quantos faltam.
Ser seguidor(a) de Jesus é encher o coração de nomes, muitos
deles nunca temos escutado e até é possível que nem saibamos pronunciá-los.
O(a) seguido(a), que entrega sua vida pela causa do
Evangelho e por amor à humanidade, tem o coração cheio de nomes, inclusive
aqueles que nem conhece e nem conhecerá nunca, mas que ele(ela) continua amando
e continua investindo sua vida para que algum dia também eles entrem no fluxo
do amor divino.
Esta é a razão pela qual o “segundo mandamento” – “amarás o
teu próximo como a ti mesmo” – é “semelhante ao primeiro”. Não amamos por
imposição, mas porque somos amor. No amor, nada é obrigação, tudo é dom! É
certo que podemos viver na superfície mais egocêntrica, ignorando e bloqueando
nossa realidade mais profunda. Mas, na medida em que vivemos a partir dessa
realidade profunda, tudo aparece unificado e harmonioso; tudo fica
admiravelmente integrado: uma existência sem costuras, sem emendas, tecida e mantida
no Amor fontal de Deus.
O amor unifica tudo a partir do mais profundo. Ele dá
unidade a toda a nossa atividade, por mais dispersa que ela possa parecer. O
amor é a força que pode dinamizar e unificar nossa existência. Podemos fazer
muitas coisas, comprometer-nos com mil atividades, todos os dias; no entanto, o
mais importante é fazê-lo sempre da mesma maneira: com amor.
O amor estimula o que há de melhor em nós. Ele ilumina nossa
mente proporcionando clareza de pensamento e criatividade; dinamiza toda nossa
pessoa; faz crescer nossas energias; desperta nossa capacidade para a busca do
que é melhor; dá um novo colorido à nossa vida cotidiana; capacita-nos a
realizar nossas atividades com mais inspiração; enraíza-nos no mais profundo da
vida, nessa corrente vital que flui de um Deus, que é mistério de amor. É por
isso que o amor cura e salva.
Texto bíblico: Mt 22,34-40
Na oração: Faça uma leitura das “marcas” do Amor de Deus em
sua vida; crie um clima de ação de graças.