O mundo assistiu estupefato no dia 15 pp. aos vídeos do
trágico incêndio do mais icônico edifício do mundo, a catedral de Notre Dame de
Paris.
“Como ocorreu essa catástrofe?” É a pergunta que se impõe
quando se trata de um monumento como Notre Dame. E ela se impõe porque esse
incêndio se produziu em meio a uma onda de ataques vandálicos cristianofóbicos
contra igrejas na França.
Apenas um mês antes, em 17 de março, por exemplo, havia
ardido a histórica igreja de SaintSulpice, uma das mais importante de
Paris, construída em 1646, num criminoso ataque presumivelmente de um ou vários
anticatólicos. Além dela, em apenas uma semana, 12 outras igrejas foram
queimadas ou profanadas, com imagens da Santíssima Virgem destroçadas, e de
Jesus Cristo decapitados.
A par disso, a descristianização da “Filha Primogênita da
Igreja” é das mais elevadas no mundo, onde infelizmente as blasfêmias mais
soezes estão na ordem do dia em meios de comunicação, e não se poupando mais
nem a Nosso Senhor Jesus Cristo e à sua Mãe Santíssima.
Foi nesse contexto que ocorreu o incêndio em Notre Dame,
catedral histórica que não é somente símbolo de Paris nem sequer da França, mas
de toda a cristandade. Foi por isso que a notícia de seu incêndio percorreu o
mundo e provocou consternação em todas as pessoas bem formadas.
A construção dessa emblemática joia do gótico medieval foi
iniciada no ano de 1160 pelo bispo Maurício de Sully, demorando 100 anos para
ser praticamente completada. Durante os séculos seguintes foram sendo
acrescentados aperfeiçoamentos, até chegar a dar-lhe a feição atual.
Entre suas paredes ocorreram fatos importantes da vida
religiosa da cidade de Paris e da França. Mas ela também enfrentou profanações,
como por exemplo durante o período da Revolução Francesa, quando foi
satanicamente dessacralizada com muitas de suas imagens danificadas ou
destruídas.
Depois de voltar ao culto durante a Restauração, Notre Dame
continuou a marcar a vida de Paris, tornando-se um dos monumentos mais
visitados do mundo, com cerca de 12 a 13 milhões de visitantes por ano.
Esse cântico de louvor à Santíssima Virgem em pedra e
cristal continha em seu seio imensos e inapreciáveis tesouros. Mas sobretudo
conservava entre em suas paredes históricas o Rei dos Reis e o Senhor dos
Senhores no Santíssimo Sacramento do altar e a relíquia da Coroa de Espinhos de
Nosso Senhor Jesus Cristo.
Uma pergunta que sempre nos fazemos e, seguramente, todos
acham que estão completamente certos!
Essa é uma reação automática de todas pessoas, pois,
obviamente, sempre seguem os seus pensamentos, sem analisar, que todos os
nossos atos são decorrentes da nossa educação doméstica, cultural, costumes e
exemplos familiares!
Não é raro você agir de uma forma grosseira e malcriada,
quando não é atendido no que deseja. Mas, deveria imediatamente refletir,
analisar, voltar os pensamentos para trás e perceber que, nem sempre, temos o
direito de agir com arrogância e falta de humildade. Lembre-se, se não foi
atendido, a outra pessoa também deve ter as suas razões para que desta feita,
não favoreça o seu pedido, ou favor!
Que tal se lembrar que já foi agraciado muitas vezes, sem
que fosse obrigação da outra pessoa?
Que ela sempre está querendo lhe beneficiar por lhe ter
bastante amizade e consideração?
Infelizmente, a grande maioria das pessoas, são “queixos
duros” e teimosas, e não entendem que uma ação desagradável, desencadeia uma
reação mais desagradável ainda. Pois o outro percebe que está sendo injustiçado
sem nenhuma razão!
Devemos ser mais tolerantes, deixar as arrogância de lado,
saber dar a “César o que é de César”, ou seja não querer tirar os direitos
alheios, simplesmente porque acham que suas maneiras ou manias estão mais do
que certas. Não existe manias, existem modos e esse devem ser cautelosos!
Assim sendo, nunca se dê razões sem pensar, querendo tirar
as razões dos outros. Uma vez que, deve-se ver o momento certo para solicitar,
como também uma maneira sutil e educada!
É bastante perigoso, e podem esses grandes e pequenos
exemplos, romperem boas e futuras amizades que, simplesmente, poderia ser
evitado através de pequenos detalhes e compreensão!
Por
influência do poeta inglês Byron e de outros poetas e filósofos, o mundo das
artes e das ideias foi invadido pelo pessimismo, pelo tédio, pela ideia da
morte. Na Europa, o suicídio matava quase tanto quanto a tuberculose – o “mal
do século”. Por este motivo, o pessimismo, a mórbida obsessão pela morte também
recebeu o nome de “mal do século”. É a fase do ultrarromantismo.
Observe:
Se eu morresse amanhã!
Se eu morresse amanhã, viria ao menos
Fechar meus olhos minha triste irmã;
Minha mãe de saudades morreria
Se eu morresse amanhã!
Quanta glória pressinto em meu futuro!
Que aurora de porvir e que manhã!
Eu perdera chorando essas coroas
Se eu morresse amanhã!
Que sol! Que céu azul! Que doce n’alva
Acorda a natureza mais louçã!
Não me batera tanto amor no peito
Se eu morresse amanhã!
AZEVEDO, Álvares de – em ANTOLOGIA
ESCOLAR BRASILEIRA, de Marques Rebelo –
MEC, RJ 1967.
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ÁLVARES DE AZEVEDO
Manuel
Antonio Álvares de Azevedo nasceu em 1831 e, antes de completar 21 anos, morreu
de tuberculose.
Adolescente dilacerado por seus conflitos íntimos, representa a
experiência humana e literária mais dramática do nosso Romantismo. Sua obra
poética gira em torno de morte, do amor impotente do tédio. Ensaiou também a
prosa com os contos de “NOITE NA TAVERNA”, onde mostra sofrer forte influência
de Byron, romântico inglês, e de Musset, romântico francês. São contos de uma
imaginação exaltada e perversa, povoada de bêbados, prostitutas, jogadores e
viciados, a viverem uma noite na taverna, não como figuras reais, e sim, como
figuras de um opressivo pesadelo.
Em “Lira
dos Vinte Anos”, o problema da morte se apresenta com frequência. O poeta
antevê sua própria morte e diante dela experimenta uma dupla emoção – a emoção
de perder as coisas queridas e a emoção de ganhar uma tranquilidade que a
existência não lhe proporciona.
(NOVO HORIZONTE – Português Vol. II Literatura – Linguagem –
Redação.
Na
Alemanha serpenteia uma guerra traiçoeira contra tudo o que simboliza o
Cristianismo: ataques às cruzes, estátuas, igrejas e até cemitérios, de acordo
com relato de PI-News, daquele país. Em março passado foram atacadas
quatro igrejas. A informação foi divulgada pelo boletim do Instituto
Gatestone em meados de abril, em matéria assinada por Raymond Ibrahim.
De acordo
com essa fonte, a mídia e as autoridades ofuscam a identidade dos vândalos. Em
algumas ocasiões fica claro que os depredadores são muçulmanos, cuja identidade
e intenções são geralmente ofuscadas por eufemismos que ocultam suas
verdadeiras intenções anticristãs. Assim, nunca se diz maometanos, mas migrantes
ou imigrantes. E quando não há como esconder a procedência dos autores dos
ataques, apresentam-nos como pobres débeis mentais… Em sentido contrário, quem
associa o ódio anticristão com o fanatismo muçulmano é acusado de racista:
“Dificilmente
alguém escreve ou fala a respeito do crescimento de ataques contra os símbolos
cristãos”, lê-se na fonte citada. Há um silêncio eloquente na França e na
Alemanha a respeito do escândalo dos ataques a templos sagrados e da origem dos
seus autores. […] Nem uma só palavra, nem sequer a mais leve insinuação que
possa levar à suspeita dos migrantes… Não são os autores dos ataques que são
vítimas do ostracismo, mas aqueles que ousam associar a dessacralização dos
símbolos cristãos com as importações dos imigrantes. Eles são acusados de
rancor, de linguagem odienta e racismo” (cf. PI News, 24-3-2019).
Curiosamente essa inversão de valores e de princípios não é observada apenas em
um país de maioria protestante como a Alemanha, mas, poderia dizer-se,
sobretudo nos países católicos, com base na teologia ecumênica do Concílio
Vaticano II. É triste…
Neste dia 28 de abril, festividade de São Luís Maria
Grignion de Montfort (1673-1716) — grande missionário francês, o doutor marial
por excelência que explicitou magnificamente a doutrina sobre a Sagrada
Escravidão a Nossa Senhora —, rezando a “Oração Abrasada” de repente fui
assaltado pela lembrança do fogo devorador de Notre Dame de Paris.
E, na mesma oração composta por São Luís Grignion (no trecho
que abaixo transcrevo) é impossível não nos recordarmos de um outro “incêndio”,
denominado “auto-demolição”, que vem se alastrando dentro da Santa
Igreja: “a fumaça de Satanás no templo de Deus”… E, novamente, ser
assaltado pela imagem do incêndio que atingiu o coração da Cristandade.
Ainda não se tem certeza se o incêndio em Notre Dame foi
acidental ou criminoso, mas alguns líderes muçulmanos comemoram a desfiguração
de Notre Dame. Por exemplo, os jihadistas do “Estado Islâmico”
celebraram o incêndio da Catedral. O portal Site (que monitora
atividades extremistas na internet) publicou que eles “se divertiram” com a
tragédia e a classificaram como sendo “um golpe no coração dos líderes
cruzados”. (Cfr. “VEJA”, 24-4-19).
Aqui seguem os trechos da parte final da “Oração abrasada”,
que se encontra nas últimas páginas do célebre e extraordinário “Tratado da
Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem”:
“E nós, grande Deus! embora haja tanta glória e tanto
lucro, tanta doçura e vantagem em servir-vos, quase ninguém tomará vosso
partido? Quase nenhum soldado se alistará em vossas fileiras? Quase nenhum São
Miguel clamará, no meio de seus irmãos, cheio de zelo pela vossa glória: Quis
ut Deus?
Ah! permiti que brade por toda parte: Fogo! fogo! fogo!
socorro! socorro! socorro! Fogo na casa de Deus! fogo nas almas! fogo até no
santuário! Socorro, que assassinam nosso irmão! socorro, que degolam nossos
filhos! socorro, que apunhalam nosso bom Pai!
Si quis est Domini, iungatur mihi. Venham todos os bons
sacerdotes que estão espalhados pelo mundo cristão, os que estão atualmente na
peleja, e os que se retiraram do combate para se embrenharem pelos desertos e
ermos, venham todos esses bons sacerdotes e se unam a nós. Vis unita fit
fortior, para que formemos, sob o estandarte da cruz, um exército em boa
ordem de batalha e bem disciplinado, para de concerto atacar os inimigos de
Deus que já tocaram a rebate: Sonuerunt, frenduerunt, fremuerunt,
multiplicati sunt. Dirumpamus vincula eorum et projiciamus a nobis jugum
ipsorum. Qui habitat in caelis irridebit eos. Exsurgat Deus, et dissipentur
inimici ejus. Exsurge, Domine, quare abdormis? Exsurge.
Erguei-vos, Senhor: por que pareceis dormir? Erguei-vos em
todo o vosso poder, em toda a vossa misericórdia e justiça, para formar-vos uma
companhia seleta de guardas que velem a vossa casa, defendam vossa glória e
salvem tantas almas que custam todo o vosso sangue, para que só haja um aprisco
e um pastor, e que todos vos rendam glória em vosso santo templo: Et in
templo ejus omnes dicent gloriam. Amém.
- Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo + de acordo com
São João.
Glória a você, Senhor.
Na noite daquele dia, sendo a primeira da semana fechada por
medo dos judeus, as portas do lugar onde estavam os discípulos, Jesus apareceu
no meio deles e disse-lhes: Paz seja convosco. Dito isto,
mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos ficaram felizes em ver o
Senhor.
Jesus disse novamente: "A paz esteja convosco. Como o Pai me
enviou, eu também te mando".
Depois de dizer
isso, ele soprou sobre eles e disse: "Receber o Espírito Santo. A
quem perdoais os pecados, eles são perdoados; a quem você os retém, eles
são retidos. ” Tomé, um dos Doze, chamado de Gêmeo, não estava com
eles quando Jesus veio. Os outros discípulos disseram-lhe: "Nós vimos
o Senhor".
Mas ele respondeu: "Sim. Eu vejo em suas
mãos a impressão das unhas, e colocar o dedo na marca dos pregos, e
coloquei minha mão no seu lado, I vai não acredito". Oito dias
depois, eles foram novamente seus discípulos dentro e Tomé com
eles. Jesus se apresentou no meio das portas fechadas e disse: "A paz
esteja convosco". Então ele disse a Tomé: "Põe o dedo aqui
e olha para as minhas mãos; traz a tua mão e põe-na ao meu lado, e não
sejas incrédulo, mas crente. Respondeu-lhe Tomé: Senhor meu e Deus
meu.
Disse-lhe Jesus: Porque me vistes e
creste. Bem-aventurados os que não viram e creram. "
Jesus realizou muitos outros sinais na presença dos discípulos que não
estão escritos neste livro.
Estes foram escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de
Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome.
Ligue o vídeo abaixo a acompanhe a reflexão do Frei Alvaci Mendes da Luz:
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Experiência
de Ressurreição: tocar as chagas da humanidade
Hendrick Jansz ter Brugghen (1622)
“...mostrou-lhes as mãos e o lado” (Jo 20,20)
Os relatos das Aparições nos advertem de que não se trata de
uma crônica de acontecimentos. O que João quer nos comunicar são vivências
internas dos discípulos reunidos; o que ele quer nos transmitir está mais além
daquilo que entra pelos sentidos ou podemos imaginar.
Destacamos algumas das expressões do relato de João para
formular a fé no Crucificado/Ressuscitado.
O relato deste domingo se revela como uma catequese muito
rica em conteúdo. Por uma parte, vincula a ressurreição com a paz, o dom do
Espírito, o perdão, a fé, a missão... Por outra, parece querer responder
aos cristãos da “segunda geração”, que já não haviam conhecido o Jesus
histórico, nem haviam participado daquela primeira experiência “fundante”. É a
eles, representados na figura de Tomé, que lhes é dito:
“Bem-aventurados aqueles que creram sem terem visto!”
São muitos os que se sentem escandalizados com o Evangelho
deste 2º. Dom. de Páscoa. Não é possível que Jesus Ressuscitado conserve as
chagas no seu corpo! Pode-se tocá-lo como se tocam as feridas sangrentas de um
torturado, as mãos frias de um moribundo, os pés feridos de um imigrante?
Frente aos riscos de um falso espiritualismo que quer
esquecer-se da “carne”, frente a todas as tentativas de entender a Páscoa como
pura mudança de consciência, o Evangelho de João quis ressaltar a corporalidade
do Cristo Ressuscitado e o faz desta forma, ou seja, dando um destaque especial
às chagas das mãos e do lado aberto; o mesmo corpo do amor vivido e da entrega,
o corpo ferido com cravos e lança, se converte assim em um sinal visível de
Ressurreição, sinal que continua presente na realidade das pessoas.
A morte de Jesus não foi um acidente de percurso, não é algo
que se esquece, sinal de sua condição humana; o Senhor ressuscitado continua
sendo Aquele que leva em suas mãos e em seu lado as feridas de sua entrega, os
sinais de seu amor crucificado em favor da humanidade. O Senhor ressuscitado
continua sendo Aquele que sofre em todos os que sofrem no mundo. Como cristãos,
professamos: “o Ressuscitado é o Crucificado”; por isso é necessário “tocar
suas feridas”, ali onde Ele sofre naqueles que sofrem. Portanto, contemplar o
Ressuscitado chagado impulsiona a continuar encontrando o mesmo Jesus nas
chagas de todos os sofredores da história.
É surpreendente que o evangelho de João tenha conservado o
registro da experiência de Madalena; mas, mais surpreendente ainda é o fato de
que tenha recolhido a experiência de Tomé, para assim revelar-nos que a Páscoa
significa tocar com mais força, de um modo mais profundo, as chagas de Jesus
ressuscitado.
Maria Madalena havia “tocado em Jesus” no horto pascal,
porque o amava e pela alegria de saber que Ele estava vivo. Mas, depois teve
que deixar de tocá-lo fisicamente (“não me toques”), a fim de tocá-lo e
conhecê-lo de um modo diferente, levando a mensagem da Vida de Jesus aos
discípulos, fechados numa casa. Ela que o tocou com amor, foi a primeira das
ressuscitadas com Jesus no jardim de Vida da Páscoa.
À diferença de Madalena, Tomé precisou aprender a ativar os
sentidos: olhar, escutar, tocar...; precisou descer do pedestal dos
seus dogmas, das ideias separadas, para retomar a experiência concreta do amor
de Jesus, que é a vida entregue pelos outros, amor chagado. Não basta crer em
Jesus, separado de sua vida de compromisso em favor da vida; para crer nele é
preciso querer tocar suas chagas, que são as chagas do mundo ferido por falta
de amor.
Tomé começou sendo o apóstolo de uma espiritualidade sem
compromisso social, sem entrega profética, sem solidariedade com os pobres e
excluídos. Não era um apóstolo “cristão” de Jesus crucificado, mas um
praticante da religião desencarnada que alguns, ainda hoje, continuam
defendendo.
“Tocar” em Jesus, colocar o dedo em suas chagas e a mão no
seu lado aberto, é descobrir a ferida sangrenta da história humana, vinculando
assim a ressurreição com a dor dos homens e mulheres oprimidos(as), torturados,
enfermos, assassinados... Jesus Ressuscitado continua levando em suas mãos e em
seu peito a ferida da história, não só as chagas dos cravos e o corte da lança
em seu próprio corpo, mas a chaga dos enfermos e expulsos, dos famintos e
oprimidos e a infinidade de pessoas que continuam sofrendo ao nosso lado.
O Ressuscitado se faz reconhecível, é o mesmo Jesus, é o
crucificado, é seu corpo chagado. Trata-se de crer no Crucificado. Suas feridas
são inseparáveis da morte e da entrega a uma causa: o Reino. Não é a passagem a
uma condição superior à do ser humano, mas a mesma condição humana levada a seu
cume, assumindo sua história anterior. As chagas, sinal de seu amor extremo,
evidenciam que é o mesmo que morreu na cruz. Já não há lugar para o medo da
morte. Ninguém poderá tirar de Jesus a verdadeira Vida, nem tirá-la dos seus
discípulos. A permanência dos sinais de sua morte indica a permanência de amor;
elas são as cicatrizes de um compromisso com a vida. Além disso, elas garantem
a identificação do Ressuscitado com o Jesus Crucificado.
Concluindo, podemos dizer que a experiência de Tomé, que é
também a nossa, tem um valor importante para nós, seguidores(as) do
Ressuscitado. Hoje, ressuscitado, Jesus continua expondo-se, deixando-se tocar
sem resistências, mostrando suas feridas, permitindo que, como Tomé,
“coloquemos o dedo na ferida”. Quê paradoxo! Os sinais da Ressurreição se
encontram aí onde antes se encontravam os sinais de dor e morte. Só quando assumimos
esta realidade, poderemos testemunhar, como os primeiros discípulos, que o
“Crucificado ressuscitou!”.
São estas suas feridas e chagas nas mãos e no lado aberto os
sinais que o Ressuscitado nos mostra para que possamos reconhecer as cicatrizes
que também nós carregamos em nossos corpos. São estes os sinais que Ele nos
mostra para que possamos pôr também nossas mãos nas feridas que continuam
abertas em nosso mundo, nas mãos e lados de tantas irmãs e irmãos, de tantos
povos, de nós mesmos. O Ressuscitado continua carregando todas as chagas e
convida-nos a tocá-las, a acariciá-las, a acolhê-las, a reconciliar-nos com
aquelas que ainda não foram integradas e pacificadas, a empenhar-nos na
transformação daquelas que são fruto da injustiça e do mal.
Páscoa é tocar e acompanhar Jesus nos chagados da vida.
Páscoa é também (ao mesmo tempo) sentir nas mãos e nos dedos, no coração e no
olhar, o abraço de amor de todas as pessoas. Não há Páscoa de Jesus sem
corpo-a-corpo de intimidade e proximidade, de homens e mulheres, de crianças e
idosos, nos diversos tipos de encontro e comunhão, não para possuir mas para
compartilhar, não para impor-se, mas para juntos abrir caminhos sempre novos de
respeito e admiração. Assim nos toca Jesus, assim se deixa tocar por nós.
Texto bíblico: Jo 20,19-31
Na oração: Trazemos gravadas em nossa geografia
corporal infinitas pequenas mortes e feridas; às vezes tão pequenas que não
deixam cicatrizes visíveis, mas estão aí, cravadas em nosso corpo.
Contemplando as chagas do Ressuscitado, seremos capazes de
reconhecer que fomos criados para ressuscitar, com as nossas feridas
integradas, pacificadas, iluminadas...; nossa sensibilidade será ativada o
suficiente para poder reconhecer esses mesmos sinais de dor em outros corpos e
rostos.
- “Fazer memória” das cicatrizes na sua história corporal,
unindo-as às “feridas do Ressuscitado”.
Isso já é ressurreição, plenitude do mistério da comunhão
através dos gestos, da proximidade, do abraço...
A cada abraço sentido, uma ressurreição também vivida!
O Dia Mundial do Livro, é a ocasião perfeita para fazermos
uma reflexão sobre a sua importância, sobre os desafios do setor, e também para
celebrarmos as conquistas.
Antes de qualquer coisa, precisamos ter claro que o livro é
um objeto de democratização e cidadania. Por isso, é fundamental que a leitura
seja encarada com seriedade e responsabilidade.
O livro e a leitura se tornam fortes e permanentes em um
ambiente economicamente saudável, de segurança jurídica e de liberdade de
pensamento. Por isso, devemos aproveitar o momento para rever modelos, pensar
em alternativas e fortalecer toda cadeia produtiva e criativa do livro.
Todos os setores da economia vivem um momento de
transformação. Neste cenário, a atualização de modelos de negócios, em especial
do livro, é urgente. O fato é que os diversos produtos da indústria criativa
disputam o tempo das pessoas. Na última edição da pesquisa Retratos da Leitura
(2016), o hábito da leitura fica em 10º lugar quando o assunto é o que gosta de
fazer no tempo livre, atrás de assistir TV, ouvir música, acessar a Internet,
entre outros.
O livro é, em sua essência, um objeto de várias
possibilidades, ele pode chegar ao leitor em diversos formatos: no tradicional
formato impresso, já tão querido e aceito pelos leitores; no formato digital,
que facilita a portabilidade, ou em audiolivro, que permite o acesso ao
conteúdo do livro durante outras atividades. As possibilidades estão aí, mas é
necessário entender o desejo do leitor e oferecer o livro da forma esperada.
O momento é instigante: ao passo que devemos superar
obstáculos, o terreno é fértil para criar novas oportunidades. Rever modelos
tradicionais que temos praticado há muito tempo, repensar a consignação,
ampliar os canais de distribuição, incentivar a criação de novos pontos de
vendas e atualizar a experiência de compra nas livrarias é tarefa fundamental
agora.
A situação pela qual o setor livreiro passa me faz lembrar
uma antiga campanha das padarias de São Paulo: "Pão se compra na
padaria". Claro que o comportamento do consumidor não é estabelecido por
uma simples frase, acontece que juntamente com a frase quebraram-se vários
paradigmas. A padaria passou a ser um local de convivência, com mais
possibilidades e mais atenta às necessidades de seus clientes. Todo o varejo,
em seus diversos segmentos tem buscado uma fórmula parecida, na qual o ponto de
venda não fique restrito à venda do produto, mas se torne um ponto de contato
com as pessoas, com atendimento ágil e qualificado, transformando-se em um
amplificador de vendas. Para isso, é importante que o relacionamento entre loja
e público se dê de forma rápida e sem ruídos. Na experiência da loja, seja ela
virtual ou presencial é que o cliente se tornará sua melhor propaganda ou seu
pesadelo.
Temos uma grande missão: tornar o mercado forte e exigir do
poder público a priorização da educação e a formação de leitores para quem
sabe, no futuro, possamos ter um país que ofereça oportunidades para todos,
repleto de profissionais preparados para o seu desenvolvimento.
Que o livro, instrumento para transformação de pessoas, nos
inspire a transformar o mercado.
*VITOR TAVARES é o presidente da Câmara Brasileira do Livro
Que você encontre o amor mais lindo dentro do seu próprio
coração. Que você veja seus filhos como presentes do Eterno. Que você
ainda se encante com as coisas mais simples da vida. Que você não se iluda
com as luzes temporárias do mundo. Que você saiba tirar sábias lições de vida
dos reveses.
Que você perdoe, mesmo que ninguém entenda. Que você
veja cada dia como uma benção de luz e recomeço... Que nada possa
afastá-lo de seus melhores propósitos. Que você escute música e se sinta
agradecido. Que você não se esqueça de seus pais e honre-os com sua
atenção. Que você seja justo, sem jamais perder seu coração e sua canção. Que
você não se apegue ao passado; há tanta coisa para aprender...
Que você não se esqueça de quem lhe ajudou; gratidão é
sabedoria. Que você conserve seus amigos verdadeiros; eles são joias de
sua vida. Que você segure seus filhos no colo, como o Eterno segura as
estrelas. Que você veja seu parceiro (a) como um presente da vida. Que
você chore, se for preciso, mas que suas lágrimas sejam lindas. Que
você ria, principalmente de si mesmo; alegria é fundamental! Que você
não tenha ódio em seu coração, pois isso empobrecerá sua canção. Que
você supere suas provas, com coragem e inteligência.
Que você abra seu coração para o amor, como a flor se abre
para o sol. Que você beije alguém amado como os raios solares beijam as
flores. Que você faça amor com luz nos olhos e gratidão pelo presente. Que
você não prenda quem quer ir embora. Amor
não é gaiola! Que você se atreva ser você mesmo, mas, sem arrogância! Que
você jamais se esqueça de que há um Poder Maior em todas as coisas. Que você
ore, em espírito e verdade, sem medo de se abrir para o Céu. Que você
converse com o Eterno, de coração a coração, sem dramas.
Que você olhe para a lua cheia, extasiado, como uma
criança. Que você sinta o cheiro do café e se sinta cada vez mais vivo. Que
você tome um chá de olhos fechados e pense em algo bom. Que você se
recicle, se areje, para não criar teias de aranha em sua vida. Que você
tenha a idade que seu espírito lhe disser, sem medo de rugas. Que você não
envelheça sem amadurecer; jamais deixe de rir de uma piada!
Que você sempre trate bem a sua criança interior; criança é
vida! Que você sempre desconfie quando a música não o encantar mais. Que
você perceba o perigo de ser tomado pela irritação descabida. Que você não
perca tempo com fofocas e nem se exaspere com tolices. Que você saiba
valorizar pessoas de energia limpa e toques legais. Que você se
atreva a andar com um sol na cara e um grande amor no peito. Que você não
se engane com as aparências; há muita gente boa neste mundo. Que você não
olhe raça, religião, sexo ou cultura; veja o Eterno em cada ser.
Que você jamais ache que perdeu algo ou alguém; o Todo
está em tudo! Que você veja luz nessas linhas; a mesma luz que está em seu
coração. Que você escute alguma canção querida e se sinta muito bem. Que
você seja feliz, mesmo que ninguém entenda. Então, que sua luz silenciosa
siga... para abrir outras flores por esse mundão de Deus, como deve ser.
Os meus cumprimentos nesse princípio de outono, sob uma luz
intensa e nítida, que é como devem começar as cartas nipônicas, marcadas pela
estação do ano.
Minha relação com o Japão começou na meninice, com um manual
de conversação e uma pequena gramática. Se a pronuncia me faltava, a memória de
uma trintena de kanjis abria-me as portas para os desenhos da língua. Ainda
jovem, capturava em ondas curtas a Radio Tokyo Internacional. Sucedeu-se depois
a incurável paixão da síntese, despertada pelos haicais e as tankas, tesouros
de toda a poesia. As páginas de Lafcadio Hearn e Fosco Maraini chegaram
tardias; ao contrário da ópera de Puccini, do teatro No e Kabuki, das
considerações da filosofia zen, essas que invocam imagens de alto impacto,
entre Kurosawa e Hokusai.
Preparei um número especial da revista Poesia Sempre
dedicada ao Japão, enquanto me perdia nas páginas irredutíveis de Mishima, e
Tanikawa, Yoshimasu e Tanizaki. Meu japonês é apenas rudimentar, intermitente,
com idas bissextas a Kenneth Henshall, espécie de botânica para memorizar
kanjis.
Passei do plano das ideias ao real, quando fui convidado a
proferir palestra nos cem anos da cátedra de português na Tokyo University of
Foreign Studies. Guardo paisagens duradouras e uma visita memorável à casa do poeta
Tanikawa Shuntaro, que me dedicou um livro e um chá, cujo sabor não se perdeu,
em companhia da professora Donatella Natili, o meu Virgílio nas bandas do sol
nascente. Tratamos do Brasil, quando o poeta esteve, aqui no Rio, na década de
sessenta. Magro, mal se alimenta. Vive apenas de meditação. Disse-lhe de minha
viagem à Índia. E umas flores imensas, uma chuva botticelliana de flores em
milhares de santuários. Leite e manteiga. Falamos de Shiva, de Prajna. Esteve
no Rio, carnaval dos anos de 1960.
Não falei da Butterfly, de Puccini, nem da Íris, de
Mascagni. Um Japão sequestrado pelo Ocidente. Um sequestro musical sublime. E
ao deixar a sua casa, em verso de seu livro Coca Cola Lesson: “Um menino chegou
de manhã para aprender palavras”.
Essa é uma parte, caro amigo, da minha secreta história com
o Japão.
Marco Lucchesi - Sétimo ocupante da cadeira nº 15 da ABL,
eleito em 3 de março de 2011, na sucessão de Pe. Fernando Bastos de Ávila, foi
recebido em 20 de maio de 2011 pelo Acadêmico Tarcísio Padilha. Foi eleito
Presidente da ABL para o exercício de 2018.
Ficcionista e editor da LetraSelvagem, o escritor Nicodemos
Sena surpreende com mais uma atitude de seu talento literário, dessa vez faz
sua estreia como poeta.Ladrões nos
Celeiros: Avante, Companheiros! é o longo poema,de 72 páginas,que o autor paraense lança na linhagem para a
crítica de Um Navio Negreiro, de Castro Alves, ou dos poemas políticos de
Bertolt Brecht e Maiakovski.
O livro foi lançadoem 25 de março
deste ano,a partir das 19h00, na Livraria
Zaccara, Rua Cardoso de Almeida, 1356 - Perdizes - São Paulo-SP , e, na
abertura do evento, o jornalista, historiador e escritor
Leandro Carlos Esteves, autor do prefácio, falousobre o tema:
“Ética e estética: o papel da arte em face da injustiça social”. Trechos do
livro foram dramatizados pela atriz Denise Andere.
A OBRA:
“Ladrões nos Celeiros: Avante, Companheiros!” foi escrita entre dezembro
de 2017 e maio de 2018, sob o impacto da condenação e prisão do líder
proletário Luiz Inácio Lula da Silva. Na linhagem de um “Navio Negreiro”(Castro
Alves) ou dos “poemas políticos” de Beltolt Brecht e Vladimir Maiakovski.
Nesse longo poema de 72 páginas, obra de arte e de combate, Nicodemos
Sena expõe as vísceras de um sistema político-social em franca decomposição, e
reconstrói a esperança na sociedade por vir, libertada do medo, da
intolerância e da fome.
O AUTOR:
Nicodemos Sena nasceu no município de Santarém do Pará, em 08.07.1958, e passou
a infância entre índios e caboclos do Rio Maró, região de fronteira entre os
estados do Pará e Amazonas (Amazônia brasileira).
Formado em jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) e em direito
pela Universidade de São Paulo (USP). Fez sua estreia literária em 1999, com o
romance “A Espera do Nunca Mais - Uma Saga Amazônica” (Prêmio Lima
Barreto-Brasil 500 Anos, da União Brasileira de Escritores, RJ).
Em São Paulo, escreveu o jornalista, professor e crítico Oscar D’Ambrosio:
“A Espera do Nunca Mais desafia e devora o leitor desde o início.
Feito sucuriju, abre sua bocarra e obriga a penetrar num universo denso.
Não adianta resistir. Uma vez dentro da boca deste livro-serpente, o destino é
conhecer os seus interstícios plenos de um fazer artístico solidamente urdido,
elaborado com mãos de mestre.” (“Uma extensa e densa aula de Amazônia”. JORNAL
DA TARDE, Caderno de Sábado, São Paulo, SP, 20.05.2000)
No Rio de Janeiro escreveu o escritor e crítico Antonio Olinto, da Academia
Brasileira de Letras:
“Eis um romance que invade a literatura brasileira com a força de um fenômeno
da natureza.
Trata-se de uma saga amazônica chamada A Espera do
Nunca Mais. Seu autor, Nicodemos Sena, tem o domínio da narrativa de ação e o
talento de criar gente. Seus personagens representam a Amazônia com sua
largueza e sua mistura, caboclo e floresta unidos num ecossistema
geográfico-humano que retrata a nossa mais desconhecidamente forte região em
que o Brasil se firma e se revela. É romance que deve ser lido. Nele, realidade
e lenda se juntam com naturalidade. As palavras formam um estilo ínsito à
grandeza das paisagens que descreve.” (JORNAL DE LETRAS n.29, 2000, RJ).
É, ainda, autor dos romances: “A Noite é dos Pássaros” (Prêmio Lúcio
Cardoso, da Academia Mineira de Letras, e Menção Honrosa no Prêmio José Lins do
Rego, da União Brasileira de Escritores, 2004, RJ); “A Mulher, o Homem e o
Cão” (2009), incluído entre as “78 DICAS” do Guia da FOLHA, suplemento
cultural do jornal “Folha de São Paulo” (29.05.2009), e “Choro por ti,
Belterra!” (2017).
Nicodemos Sena é nome reconhecido dentro e fora da Amazônia, tornando-se
verbete na “Enciclopédia de Literatura Brasileira”, direção de Afrânio Coutinho
e J. Galante de Sousa (edição conjunta da Global Editora, Fundação Biblioteca
Nacional, DNL, Academia Brasileira de Letras, 2ª edição, 2001). Carlos Nejar,
da Academia Brasileira de Letras, incluiu Nicodemos Sena em sua “História da
Literatura Brasileira - da Carta de Caminha aos Contemporâneos”, entre os
“grandes nomes na ficção surgidos no Brasil após a década de 1970” (Cap. 35,
pág. 900, Fundação Biblioteca Nacional, RJ). É um dos 81 escritores analisados
pela professora Nelly Novaes Coelho, titular de Literatura da Universidade de
São Paulo (USP), no livro “Escritores Brasileiros do Século XX - Um Testamento
Crítico” (2013).
Pelo estilo vigoroso e temática inspirada na vida das populações marginalizadas
da Amazônia (indígenas e caboclos), Nicodemos Sena já foi comparado a grandes
ficcionistas brasileiros, como Graciliano Ramos, João Ubaldo Ribeiro, Mário de
Andrade e Érico Veríssimo, e a importantes ficcionistas latino-americanos, como
o paraguaio Augusto Roa Bastos (“Eu, o Supremo”) e o peruano José María
Arguedas (“Os Rios Profundos”).
Como diretor da União Brasileira de Escritores (UBE/SP) participa, em 2011, da
organização do Congresso Brasileiro de Escritores realizado em Ribeirão Preto
(SP).
“Esse amor, essa generosidade, essa crença no futuro e na cultura é pouco
encontrável, salvo entre os que têm a fala da terra, a memória misteriosa da
selva, o espírito das fábulas e ousam povoar coletivamente os sonhos.” (Carlos
Nejar, da Academia Brasileira de Letras, “A Tribuna”, Vitória, ES)
A disputa aberta de poder em que o vice-presidente Hamilton
Mourão está envolvido, não por acaso, não tem paralelos históricos pela
violência das palavras empregadas por Olavo de Carvalho e seus pupilos, entre
eles Huguinho, Zezinho e Luisinho, como passaram a ser conhecidos no meio
político os filhos de Bolsonaro, que ele denomina carinhosamente como 01, 02 e
03, como se recrutas fossem.
São os seus recrutas, “sangue do meu sangue”, e nada também
acontece ali por acaso. Bolsonaro fala através de seu filho Carlos, o 02,
especialista nas mídias sociais a quem Bolsonaro atribui grande parte de sua
vitória. Quando Bolsonaro estava internado, depois da tentativa de assassinato
que sofreu ainda na campanha eleitoral, Carlos já evidenciou o que achava de
Mourão.
Tuitou afirmando que a morte do pai interessava não apenas
aos inimigos declarados, mas a quem está por perto, principalmente após a
posse. De lá para cá a disputa só fez escalar, inclusive porque Mourão assumiu
o papel de moderador de um governo que vive de intrigas e embates permanentes
como estilo de fazer política.
A paranoia familiar é alimentada pela história, pois nada
menos que oito presidentes foram substituídos por seus vices desde o início da
República, por motivos variados, desde a morte do titular até o afastamento por
impeachment.
Desde o primeiro presidente, Deodoro da Fonseca, cujo vice
Floriano Peixoto assumiu com sua renúncia e, em vez de convocar eleições,
governou sob estado de sítio, até Temer, que, recusando o papel de “vice
decorativo”, comandou uma conspirata política para assumir o lugar de Dilma,
quando esta se enfraqueceu pelo fracasso econômico e se expôs ao cometer crimes
de responsabilidade fiscal, a escolha dos vices sempre foi problemática.
Uma disputa aberta como a atual, mas não tão pouco sutil,
aconteceu quando o general Figueiredo teve que viajar para a Clínica Cleveland
para colocar pontes de safena. O político mineiro Aureliano Chaves assumiu o
governo e fez o mesmo contraponto de Mourão em relação a Bolsonaro. Chegava
cedo ao Palácio do Planalto, e saía altas horas da noite, a salientar a fama de
preguiçoso de Figueiredo. O entorno do ditador não escondia a irritação, e
acusava Aureliano de deixar a luz acessa no gabinete presidencial para dar a
impressão de que trabalhava.
A eleição presidencial deste ano teve uma característica
especial: o protagonismo de candidatos a vice. Os dois primeiros colocados nas
pesquisas ficaram fora da campanha, um definitivamente, outro temporariamente.
Lula por estar condenado em segunda instância por corrupção e lavagem de
dinheiro, tornando-se inelegível pela Lei da Ficha Limpa. Bolsonaro por ter
sofrido um atentado a faca que quase o matou.
Muitos consideravam alguns candidatos a vice melhores que os
titulares, como era o caso de Mourão, que já chamava a atenção por declarações
polêmicas, mas com a fala mansa e o jeito de quem desejava a pacificação
política.
Admitiu intervenção militar mesmo fora da Constituição,
falou até em autogolpe. Curioso é que sua escolha foi comemorada por Eduardo
Bolsonaro, o 03, que disse que foi bom ter escolhido um candidato “faca na
caveira” - referindo-se ao símbolo do Bope - para não valer a pena pensar em
impeachment.
No discurso pouco antes de ir para a reserva, que lhe valeu
uma advertência do comandante do Exército, general Villas Bôas, que ele chama
de VB, seu amigo de infância, disse sobre o governo petista: “Os Poderes terão
que buscar uma solução. Se não conseguirem, chegará a hora que nós teremos que
impor uma solução”.
De lá para cá, Mourão vem afinando o tom, se aproximando do
pensamento médio do cidadão de classe média, condenando a censura à imprensa,
por exemplo, ou avaliando que a saída do ex-deputado Jean Wyllys era ruim
para a democracia, com bom-senso e sem a visão tosca do grupo bolsonarista
comandado por Olavo de Carvalho, que chamou Mourão de “moleque analfabeto” ao
ser definido pelo vice como “astrólogo”.
Perguntado recentemente sobre as razões dessa mudança,
Mourão disse que se devia à compreensão do papel institucional do cargo para o
qual foi eleito. Estar na vice-presidência pelo voto, aliás, foi citado por ele
como uma diferença fundamental com os militares do período ditatorial.
Que, aliás ele não renega, dizendo que era um momento de
guerra. E também, assim como Bolsonaro, considera o torturador Brilhante Ulstra
“um herói”, embora tenha se abstido de falar no assunto ultimamente.
Merval Pereira – Oitavo ocupante da cadeira nº 31 da ABL,
eleito em 2 de junho de 2011, na sucessão de Moacyr Scliar, falecido em 27 de
fevereiro de 2011, foi recebido em 23 de setembro de 2011, pelo Acadêmico Eduardo
Portella.
Era pouco antes das sete da noite, segunda-feira pacata de
abril, e de repente em Paris o fogo, parecendo vomitado do inferno, estralejou
violento no madeirame da catedral de Notre-Dame de Paris. Subia, ardia,
baixava, lambia e devorava o que encontrava, diante de espectadores aterrados.
O mundo, estarrecido e aturdido, julgava ter diante dos olhos o que não podia
acontecer. Continuou por horas o espetáculo dantesco.
Pouco a pouco, na capital francesa, depois do choque
inicial, pairou o silêncio, a dor, aqui e ali magotes rezavam e entoavam
cânticos. Houve também silêncio, dor, desnorteamento, orações no mundo inteiro.
Perplexidade. Por fim, cintilou uma nota de alívio. As duas torres estavam
salvas. Aos poucos, foi sendo divulgado que muita coisa não tinha sido
consumida pelas labaredas. Acidente? Atentado? Por enquanto é prematuro
concluir.
Perdoem o chavão, tentei ouvir o silêncio, explicitar o
imponderável. Pus atenção nas reações do povo de Paris e do mundo inteiro. De
forma particular, nos magotes em torno da catedral crucificada pelas chamas.
Havia um denominador comum, a compunção, muito relevante na multidão que rezava
e cantava hinos religiosos.
Não pretendo aqui repetir o que outros já comentaram com
talento, em especial, valor simbólico, perda, prognósticos. Foco em outro
ponto, tem relação próxima com a compunção que, esperançado, observei surpreso.
Imaginei situações diversas, comparações, sempre admitindo a
origem acidental do incêndio. Tudo muda, existindo mão criminosa. Se o fogo
tomasse a catedral da Milão, também joia da arquitetura gótica, que reações
desencadearia entre os milaneses? Na Itália? No mundo? E se o incêndio fosse na
catedral de Colônia? Em Chartres? Em Reims? Catedral de Sevilha? Basílica de
São Marcos? Na própria catedral de São Pedro? Como reagiriam os nacionais? Como
reagiria o mundo?
Ampliei a figuração. Fogo na abadia de Westminster? No
Kremlin? Na estátua da Liberdade? No Taj Mahal? Na Esfinge ou nas pirâmides? De
que forma reagiria o mundo?
Lembrei-me do horror mundial quando o Estado Islâmico — no
caso, de forma criminosa estruiu dezenas de sítios arqueológicos no Iraque e na
Síria.
Entre nós, se o fogo acabasse com o Cristo Redentor? A
imagem da Aparecida?
Existe, parece-me certo, em muitos aspectos, traços mais
fortes, uma comoção maior, por ter sido Notre-Dame de Paris. Tem relação com o
templo, extraordinária expressão da alma medieval, com a ordem temporal cristã,
com a França. E com seus reflexos na cultura ocidental.
Por associação, lembrei-me de discurso pronunciado pelo
cardeal Eugênio Pacelli, futuro Pio XII, na ocasião legado pontifício, na
catedral de Notre-Dame de Paris — 13 de julho de 1937. Foi leitura minha anos
atrás, na ocasião fiquei impressionado.
Recolhi alguns pequenos extratos: “Como exprimir, meus
irmãos, tudo o que evoca no meu espírito, na minha alma, igual na alma e no
espírito de todo católico, até direi, em toda alma reta e em todo espírito
culto, o nome de Notre-Dame de Paris! Porque aqui é a própria alma da França, a
alma da filha primogênita da Igreja”.
O Purpurado diz que ali ecoam as vozes de Clóvis, de santa
Clotilde, de Carlos Magno, sobretudo a voz de São Luís IX. Ele parece
escutá-las. E se pergunta a causa de tanto simbolismo em Notre-Dame. O futuro
Pio XII pôs de lado raça e determinismos como causas: “É inútil invocar
fatalismo ou determinismo racial. À França de hoje que lhe pergunta, a França
de outrora responderá dando a tal herança seu nome verdadeiro: vocação”.
Vocação, chamado providencial, realidade superior,
imponderável por vários lados, evocada de forma incomparável por Notre-Dame de
Paris. Na compunção pela agressão ao símbolo, ainda que de forma germinativa,
havia abertura para o simbolizado, a vocação da França.
O impulso extraordinário para reconstruir a catedral,
expresso em doações gigantescas (família Pinault, grupo LVMH, família Arnault,
família Bettencourt-Meyers, grupo L’Oréal, Apple, para citar alguns grandes
doadores) é sintoma do horror que causou na opinião francesa e mundial a
devastação do incêndio. Tem importância ímpar.
Traz, porém, no bojo uma ameaça: tornar fashion,
prestigioso, o movimento pela reconstrução. Com isso, facilmente poderá sair do
foco a compunção. Iria minguando, chegaria até ao esquecimento. Semente de
restauração, a compunção vale mais que qualquer riqueza.