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segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

SÃO FRANCISCO DE ASSIS – Padre José de Castro

Francisco de Assis

            Foi até no meio de atrozes dores e angústias cruéis,  quando a luz lhe fugia dos olhos e um ferro em brasa lhe queimou, por medicina, a fronte espaçosa, que ao canto pediu consolo e foi nestes minutos de maravilha que soltou o Cantico de frate sole, a primeira flor da poesia italiana. Quando a carne rechinava sob o fogo, dos lábios do trovador saía o:

Laudato sii, mio Signore; com tutte le tu especialmente messer lo frate sole [creature lo qual giorna e allumini per lui.

            Canta-se quando a alegria corre como doida pela alma da gente; canta-se quando a vida irradia alvoradas e esperanças. Mas o coração canta melhor quando há névoas nos olhos, quando as dores da despedida e da saudade torturam o coração alanceado. Nas vésperas de morrer, quer ainda uma vez abençoar a terra bem amada e ordena que o coloquem em frente  do hospital dos leprosos que fica a meio caminho entre Assis e a igreja da Porciúncula. Volta-se para a cidade, diz-lhe adeus e desenha sobre ela a bênção e, com as minguadas forças que lhe restam, canta:

Laudato sii, mio Signore
per quelli che perdonano per lo tuo amore.

          Ao aproximar-se-lhe a morte,  não lhe confessa medo. Os frades em redor choram o próximo trespasse. E São Francisco, que cantara e amara o irmão lobo com o mesmo enternecimento com que cantara e amara as irmãs aves e a irmã ovelha, que havia englobado no mesmo amor o irmão sol e o irmão fogo, quer saudar a irmã morte, pede que lhe ergam a cabeça e, baixinho, em surdina, canta quem lhe vai cortar o último fio que o prende à vida:

Laudato sii, mio Signore
per sora mostra morte.

          O trovador de Assis e de Perusa, o cantor de Dona Pobreza, o maior amigo de Deus no século XIII vai soltar o canto do cisne. É o canto de quem pede a esmola do auxílio na hora derradeira de vida. E em voz quase sumida, entoa:

Alzo la mia voce al Signore (Signore.
alzo la mia voce per chiedere soccorso al

            Como o rouxinol de Bernardim Ribeiro que viveu e morreu esfalfado de cantar, São Francisco, o maior cantor de Cristo,  o grande trovador da Umbria,  viveu cantando e a cantar morreu.

Padre José de Castro
................

(LÍNGUA PORTUGUESA  Luso=Brasileira
ANTOLOGIA F. T. D. – livro de leitura
Organizado por Mário Bachelet)

LIVRARIA FRANCISCO ALVES
1944
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ROMANCE HISTÓRICO ‘LA CASA AMARILLA’ BUSCA INTERAÇÃO CRÍTICA DO LEITOR

Por Shirley M. Cavalcante (SMC)

Iara Ladvig Budelon nasceu em 1965 em Porto Alegre (RS). Aos 16 anos escreveu o primeiro romance “Areias Escaldantes”, não publicado. Na escola de Ensino Fundamental Visconde de Pelotas participou de concursos literários promovidos pelo Grêmio Estudantil, onde foi incentivada pela orientadora educacional Vânia Mendes e a professora de língua portuguesa Maria Teresinha Sentinger.

Em 1982, participou de concurso literário promovido pela LBA/Sul Brasileiro, no Ano Nacional do Idoso na categoria conto, obtendo menção honrosa. Graduada em Serviço Social (1994), com extensão em Gestão do Desenvolvimento Humano pela ULBRA-RS, trabalhou na Gestão de projetos governamentais em prefeituras do interior. Graduanda em Direito, blogueira e escritora freelance, Iara escreve em todos os gêneros: poesia, crônica, contos, romance e artigos de opinião. É autora do livro “Nós Desfeitos de Nós – Desafios”, no gênero autoajuda, em 2011 pela Editora Alcance.

“Por se tratar de um romance histórico, equilibrar na ficção a verossimilhança com a historiografia, criando um espaço de diálogo coeso entre realidade ficcional e empírica, buscando e despertando a interação crítica do leitor.”
Boa Leitura!

Escritora Iara Ladvig Budelon, é um prazer contarmos com a sua participação na Revista Divulga Escritor. Conte-nos, o que a inspirou a escrever o romance “La Casa Amarilla”?

Iara Budelon - Primeiramente, agradeço a oportunidade de participação e divulgação do meu livro. A inspiração para escrever o romance “La Casa Amarilla” se deve a sonhos recorrentes entre a fase da adolescência e a idade adulta. Costumava sonhar com uma casa amarela, me sentindo íntima daquele ambiente, como se realmente morasse ali. O sonho gerava um déjà vu. Um dia, ouvindo a trilha sonora de Gypsy King, tive vontade de escrever um romance, e a casa amarela seria o cenário perfeito, envolvendo descendentes de espanhóis, um amor quase impossível pelos ditames morais impostos à época, uma mulher forte e destemida lutando para sobreviver em tempos difíceis marcados pelo jugo do coronelismo, a cultura machista segregadora de direitos, ganância e preconceitos de gênero, raça e social, revelando aspectos desumanos da história da humanidade;aspectos esses, que se prolongam no tempo, com uma acuidade deficitária da percepção do outro. Iniciei a escrever o romance em 2010, e terminei em 2011, quando fiz o registro da obra no Escritório de Direitos Autorais – EDA. Na época, encaminhei em arquivo Word para algumas editoras em São Paulo, para fins de avaliação da obra. Somente esse ano foi possível a publicação.

Como foi a escolha do título?

Iara Budelon - O título surgiu em decorrência do sonho com a casa amarela, ambientando o enredo em torno dela.

Apresente-nos a obra.

Iara Budelon - O romance histórico é ambientado em 1927, na cidade fictícia de Pinedos. Uma família de descendentes espanhóis, os Saavedra, é dizimada por doenças mortais, restando apenas mãe e filho, Teresa e Alejandro.Com pouco dinheiro e muitos hectares de terras férteis, recomeçam praticamente do zero. Com a escassez de recursos, reconstroem o casario amarelo, bastante desgastado pelas ações do tempo, e investem na cultura do café.

Em um passeio pela cidade, Teresa conheceu o vizinho lindeiro. E após anos de viuvez, entregou-se a uma paixão, entre uma série de encontros e desencontros amorosos. O bucólico se manifesta em cenas inquietantes, ou mesmo mornas, instigando o leitor a um quebra-cabeça de indagações.
Teresa, soberana em suas decisões, tornou-se a própria vilã ao entregar-se ao claustro dos ditames morais da época.

Quais os principais personagens que compõem a trama?

Iara Budelon -Teresa, protagonista; Esteban, fazendeiro de origem hispânica e lindeiro de Teresa; e Antônio, administrador da Fazenda Saavedra.

Quais os principais desafios para escrita do romance?

Iara Budelon - Por se tratar de um romance histórico, equilibrar na ficção a verossimilhança com a historiografia, criando um espaço de diálogo coeso entre realidade ficcional e empírica, buscando e despertando a interação crítica do leitor.

Qual o momento que mais a marcou enquanto escrevia “La Casa Amarilla”?

Iara Budelon - O final da história foi um momento, especialmente, emocionante. Faz pensar que vale a pena lutar pelo que acreditamos, sejam crenças, valores e cultura,quando alguns personagens tinham “insight”, contornando situações adversas por meiode uma atitude significativa.

O que mais a encanta nesta obra literária?

Iara Budelon - O contraste de força e doçura da mulher, em uma quebra de braço com as chagas da alma pelas desumanidades, as quais ganham espaço nas mídias cotidianas.
 A proposta de vislumbre crítico, sempre atual, da incansável batalha da mulher pelo espaço na sociedade, conquistando respeito e reconhecimento no desempenho de seus diversos papéis.A imposição, ferrenha e atemporal, das questões sociais, de gênero e racial, abraçadas culturalmente por ideias errôneas.

Onde podemos comprar seu livro?


Quais os seus principais objetivos como escritora?

Iara Budelon - Continuamente, aprimorar a qualidade da escrita; transpor para a ficção fatos reais, instigando o leitor a repensar as questões sociais ligadas ao preconceito social, gênero e raça, oportunizando um espaço à construção crítica da realidade com vistas a mudanças; e desconstruir a imagem de subalternidade relegada à mulher em relação ao homem, desfazendo o conceito cultural démodé para um “novo pensar”.

Você pensa em publicar novos livros?

Iara Budelon - Sim. Os stand by engavetados, registrados no EDA.E aqueles que futuramente pretendo escrever.

Pois bem, estamos chegando ao fim da entrevista. Muito bom conhecer melhor a escritora Iara Ladvig Budelon. Agradecemos sua participação na Revista Internacional Divulga Escritor. Que mensagem você deixa para nossos leitores?

Iara Budelon - Sempre é tempo de recomeçar. Fazer algo por si e pelos outros, construindo pontes para dias melhores por meio das atitudes. Isso depende, unicamente, de cada um de nós.Faz-se o tempo.

Blog da autora:

Divulga Escritor, unindo você ao mundo através da Literatura


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BOFF: “SÉRGIO MORO É PAU-MANDADO” – Péricles Capanema

19 de Janeiro de 2018     

                                                                 
         Péricles Capanema   


O Brasil assiste atônito à inusitada tentativa de acovardar o Judiciário. Fervilham as redes sociais. Os morubixabas e corifeus da esquerda berram a todos os ventos enodoando os juízes. O manifesto “Eleição sem Lula é fraude” é disso claro exemplo.

Tuíte do ex-frei Leonardo Boff [foto acima]: “Não há nenhuma escritura que mostra Lula ser dono do tríplex de Guarujá. Nunca morou lá. Nunca dormiu lá. É condenado por ilações. Moro peca contra a virtude principal de todo juiz: a imparcialidade. Ele só persegue e quer acabar com ele. As ordens vêm de cima. Ele é pau mandado”.

O velho demagogo começa assim o ataque boçal: “Não há nenhuma escritura”. Bem, escritura sem registro não garante a propriedade perante terceiros. A propriedade se prova pela matrícula (registro). Boff tem o vezo de escrever taxativamente do que não entende e sempre em mau português.

Aqui repete o costume. Põe de lado um expediente antigo de malandros brasileiros: o laranja. Umas das possibilidades, o tríplex da propina (é o que dizem o chefe da OAS e outros) poderia até ficar em mãos de laranjas, nunca seria formalmente de Lula, mas o processo foi truncado.

Desce mais: “Nunca morou lá”. Existem milhares de donos de apartamentos que nunca moraram nos imóveis. “Nunca dormiu lá”. Dormir num imóvel é prova de propriedade? “É condenado por ilações. Moro só persegue [a ele]”. Mentira alvar.

O magistrado condenou políticos de outros partidos, doleiros, empresários. O inescrupuloso demagogo não se detém diante da mentira descarada. As ordens vem [sic!] de cima. De fato, o português do enfurecido aldabrão tem o mesmo nível da argumentação, vale nada.

Ele tem alguma prova, ou o mais leve indício, de que Sérgio Moro recebe ordens de pessoas bem situadas? É calúnia [imputação falsa de fato definido como crime]. “Ele é pau mandado”. A objurgatória suprime a decência do magistrado, reduzido a condição infame de pau-mandado.

No caso, Leonardo Boff condena arrogantemente Sérgio Moro ao pelourinho da opinião pública com base em ilações delirantes. Ele pode caluniar por ilação.

A lógica impõe, as acusações valerão para os três desembargadores que julgarão o recurso em 24 de janeiro próximo, caso decidam, com base nos autos, pela condenação de Lula.

Ponderei sobre a campanha de intimidação. Outro tuíte na mesma direção, agora de Emir Sader, professor aposentado da USP (é o nível a que despencou parte da intelectualidade):

“Sim, Moro, o Lula tem 9 dedos (nine, como vc gosta de falar, no seu idioma preferido). Mas tem caráter integral [quis dizer íntegro, provavelmente], ao contrário de vc, juizeco a serviço da elite corrupta do Brasil”.

Pelas redes, João Pedro Stédile, líder do MST, divulgou vídeo amedrontante. Falando no plural, citou como determinação conjunta de 88 partidos e movimentos populares irem a Porto Alegre de 22 a 24 de janeiro para deixar claro ao Poder Judiciário que “eleição sem Lula é fraude e [que] impediremos qualquer retrocesso democrático [quis dizer antidemocrático]”. O aqui soturno “impediremos” abre a porta para todo tipo de conjeturas sinistras.

São exemplos de lideranças atiçando nas bases o ódio contra o Judiciário. Ou cede ou haverá consequências graves. Estamos diante de apocalíptico movimento de aterrorização do Poder Judiciário, nunca havido no País.

Parece claro, seus mentores têm esperança de êxito, ainda que parcial. E também é claro, os juízes estão pensando no que poderão sofrer não apenas eles, mas os filhos, esposas, pais, parentes, amigos. Não será a primeira vez, é o que sucede ao lado, na Venezuela, aconteceu em Cuba, existe na China e na Coreia do Norte, onde governam irmãos ideológicos do PT.

Roberto Veloso, presidente da AJUFE (Associação dos Juízes Federais do Brasil) manifestou temor generalizado na classe quanto à segurança pessoal e quanto à segurança dos prédios públicos: “As ameaças estão sendo públicas, não estão sendo veladas. Temos assistido a vídeos com ameaças públicas”.

A esperança do PT e da frente totalitária em que se integra é, repito, pela intimidação acovardar o Judiciário. Conseguirão? Da resposta a esta questão pode depender o futuro do Brasil. Acarneirado, com a maioria do povo padecendo exclusão e preconceito ou altivo e independente.

Lembro a altanaria tranquila do Judiciário, mesmo nos tempos do absolutismo real. Anos atrás escrevi artigo, “A escabrosa desapropriação da Fazenda Limeira”, do qual pinço: “No século 18, um simples moleiro, diante da pressão de Frederico da Prússia, rei absoluto e grande guerreiro, de expropriar sua propriedade para ali fazer uma extensão do jardim do palácio de ‘Sans Souci’, negou argumentando que naquela terra seu pai havia falecido e seus filhos haveriam de nascer.

O monarca absoluto insistiu, afirmando que poderia lhe tomar a propriedade. O moleiro respondeu tranquilo com palavras singelas, cujos ecos todos os séculos recolhem emocionados: ‘Ainda existem juízes em Berlim’. O rei desistiu, o moinho ficou no meio dos jardins, atestando o império da lei”.

Para que a lei impere é indispensável juízes imparciais, refratários a qualquer tipo de pressão, mesmo as mais violentas. Esperemos que, passada a presente tormenta das pressões à moda da KGB ou Gestapo, possamos constatar o caminho da liberdade ainda aberto. Vamos torcer e rezar.


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