Total de visualizações de página

domingo, 5 de março de 2017

FILHOS DE ITABUNA: Hélio Pólvora

Hélio Pólvora


Hélio Pólvora de Almeida nasceu no município de Itabuna, Bahia, numa fazenda de Cacau, em 2 de outubro de 1928.

Sua formação intelectual está dividida entre Ilhéus, Salvador e Rio de Janeiro. Na primeira cidade, fez o curso primário; em Salvador, o secundário. Em janeiro de 1953 fixou-se no Rio de Janeiro, para curso universitário de Direito.

Iniciou, então, carreira como jornalista profissional, paralelamente à atividade de escritor. Atuou em vários veículos importantes de comunicação, entre eles, Jornal do Brasil, Diário de Notícias, Correio Braziliense e revista Veja.

Contista, crítico literário, cronista e tradutor.

Sua primeira obra literária, Os Galos da Aurora, foi publicada em 1958, com o selo da Civilização Brasileira. Seguiram-se cerca de 30 títulos.

Como tradutor, estreou em 1963, pelo livro de Allen Sievers, Revolução, Evolução e Ordem Econômica (Zahar Editores, Rio de Janeiro). Hélio Pólvora  verteu cerca de oitenta livros para o português. Traduziu do inglês e do francês, e entre os autores que traduziu se destacam William Faulkner – o seu favorito – e Ernest Hemingway. Além de ficção, traduziu obras de Economia, Sociologia, História e Filosofia.

Fez parte da Academia de Letras do Brasil, com sede em Brasília, onde ocupou a cadeira 13, que tem como patrono Graciliano Ramos. Também pertence às Academias de Letras da Bahia, de Ilhéus e de Itabuna.

Conquistou importantes prêmios literários, entre os quais os da Bienal Nestlé de Literatura, anos 1982 e 1986, gênero conto, e mais os prêmios da Fundação Castro Maya, para o livro Estranhos e Assustados, e Jornal do Comércio, para Os Galos da Aurora. Visitou a Colômbia e Alemanha, a convite oficial, também os Estados Unidos a convite do Presidente Gerald Ford, para contatos em universidades americanas que incluíram Nova York, Memphis, Mississipi e Berkeley.

Hélio Pólvora tem contos e ensaios de literatura publicados no exterior.
A novela juvenil  ”O Menino do Cacau” é uma parceria com o jornalista e Poeta Telmo Padilha, também filho de Itabuna.

Faleceu em Salvador, no dia 26 de março de 2015.

--------------

ITABUNA CENTENÁRIA-ICAL publica a seguir trecho da obra de Hélio Pólvora “O Menino do Cacau”:

O MENINO DO CACAU

A mãe entrega a encomenda, faz as últimas recomendações. E no instante da despedida escorrega em sua mão algumas moedas de prata. O frio do metal tanto tempo guardado na gaveta se espalha sobre a polpa dos dedos.

- Vá de ônibus, ouviu?

O menino sorri secretamente. E quando o morro, na curva da estrada, o esconde da mãe, ele deixa de fazer sinal para o ônibus amarelo. O ônibus passa, ele segue a pé pela valeta. São duas léguas até Itabuna. Assim economiza dinheiro para comprar livros.

Afinal, a cidade espalhada no vale, o casario branco, a Caixa d’Água, sons de alto-falante escapam da praça. E o rio Cachoeira, visto do alto, é um espelho partido em muitos fragmentos, manchado de ilhotas sujas e baronesas verdes e gordas, encalhadas no leito pedregoso.

Com a mão o menino limpa o suor do rosto. Agora não sente mais a dor nos pés. Desce ao encontro da cidade. Itabuna está à sua espera e quer mostrar-lhe alguns segredos. Cheiros de pão cozido, de carne assada. Choque de bolas de bilhar. Carroças, automóveis, bicicletas. Homens gordos e corados à porta de armazéns secos e molhados, bares cheios. Moças, muitas moças às janelas.

Enquanto o farmacêutico prepara a receita para a mãe, o menino vai espiar o rio que se quebra em cristais sob o sol, o rio lanhado pelas lavadeiras que batem as roupas nas pedras lisas. E vai ver também a estação de ônibus. O cine Odeon anunciando o último filme de faroeste. Parecia bom, devia ter muito sopapo. Bill Elliot, com dois revólveres no cinto e mãos enluvadas, socava o bandido bem no queixo. Por fim, a livraria, o namoro comprido com os títulos expostos na vitrine. Livro era mais caro que cinema. Em compensação a gente só via o filme uma vez. Livro podia ser lido até soltar as páginas, até o tempo amarelecer as folhas e apagar as letras.

- Aquele ali.

-Tem dinheiro?

- Sim, senhor.

Na volta, a estrada está varrida pelos faróis dos carros. Ele caminha pela valeta, tem medo que a noite lhe pegue no meio do caminho.

A mãe prepara o remédio. O menino descansa para a tarefa de cortar as páginas fechadas do livro que lhe promete outros mundos, outras viagens. Antes de começar a ler, cheira o papel, se deixa penetrar pelo odor da tinta de impressão que parece fresca. Quase duzentas páginas.

E ele dorme ali, no banco, com o livro a cair da mão, e sonha com a expedição que naufragou no rio Amazonas e agora está ilhada num igapó.



Hélio Pólvora (de parceria com Telmo Padilha)


Fontes: Wikipédia e outros sites na Internet

* * *

OS "DEMÔNIOS" INTERIORES – Pe. Adroaldo Palaoro

Clique sobre a foto, para vê-la no tamanho original
Os "demônios" interiores


“Naquele tempo, o Espírito conduziu Jesus ao deserto, para ser tentado pelo diabo” (Mt 4,1)


O deserto é um lugar instigante na vida humana. Apresenta-se como o lugar da tentação e também como o lugar onde o Senhor nos fala ao coração. O interior não se expande sem períodos de deserto. Há desertos que são buscados, e há também desertos que a vida nos traz, surpreendendo-nos. Sempre aprofundam e alargam em nós uma dimensão do amor que nosso ego fechado quer roubar-nos.

Os evangelhos sinóticos (Marcos, Mateus e Lucas) colocam o relato das tentações de Jesus no início de sua atividade pública. Talvez com isso eles estão querendo dizer que, antes de começar uma missão libertadora, é necessário enfrentar-se com os próprios “demônios interiores”.

“Demônios interiores” é tudo aquilo que nos divide (“dia-bolum” – o que divide), que alimentam nosso ego-centrismo, rompendo a comunhão com os outros, com Deus e com suas criaturas; são forças que permanecem ocultas, mas bem ativas em nós, conduzindo-nos aonde não queríamos ir.

O “dia-bolum” não quer que reconheçamos o Criador, e muito menos que lhe honremos  nos outros. Ele gosta dos verbos que afirmam o ego: possuir, conquistar, adular, mandar, competir, destacar, impor... E lhe causa repugnância aqueles verbos que nos fazem sintonizar com outros: doar, servir, colaborar, agradecer, suscitar, partilhar...

Os “demônios”, dos quais os relatos sinóticos nos falam, são três e caracterizam bem o nosso ego: o ter, o poder e a aparência (vaidade). É neles onde o ego se entrincheira e onde se apega para sentir-se que é “algo”. Bens materiais, poder e influência, imagem e prestígio: eis aí os interesses do ego.

Em outras palavras, o que o ego busca nesses apegos é uma só coisa: segurança. Precisamente por isso, a maneira de “lidar” com esses demônios interiores é reconhecer e des-velar (tirar o véu) as carências pen-dentes em nossas vidas e descobrir a falsidade de suas promessas. Fica claro que são “tendências narci-sistas”, próprias de um ego imaturo, que buscam um lugar ao sol e que desencadeiam um processo de auto-centramento e ruptura de aliança com tudo e todos.

Des-velar as “vozes dia-bólicas” de nosso interior pode nos ajudar a compreender que a segurança que elas prometem são vazias: todo o dinheiro do mundo, todo o poder e toda a fama são incapazes de conferir segurança e plenitude. Não só isso: aquelas vozes nos confundem e nos fazem distanciar de nossa verdadeira identidade. Cedo ou tarde reconheceremos que o futuro do ego não tem fundamento e que, como dizia Jesus, viver para ele é “perder a vida”.

A segurança não se encontra ao alcance do ego. Por isso, ele se desespera ao perceber que, por mais esforço que faça, não pode tê-la sob seu controle. Tampouco se encontra fora de nós, em outro lugar ou no futuro; nem sequer podemos situá-la em nossas ideias ou crenças.

Porque, o que ardentemente aspiramos não é “algo” que imediatamente nos complete. Aspiramos nada menos que o Absoluto (“adorarás ao Senhor, teu Deus, e somente a Ele prestarás culto”), mas não como “algo” ou “alguém” separado, mas essa Presença intima e amorosa que nos habita. Essa Presença é segurança e constitui o núcleo de quem somos; ela é o “objeto” de nossa sede e de nossa busca porque é reveladora de nossa verdadeira identidade. Onde a estávamos buscando?

Jesus, também tentado, nos ajuda quando tentados. Ele também “foi provado em tudo como nós” (Heb. 4,15). Ele precisou superar a “divisão interna”, própria do ser humano, para poder viver a densidade humana, aberta e oblativa. No tempo do deserto viveu um processo de humanização profundíssimo, deixando-se pacificar e conduzir pelo Espírito, reencontrando, na própria história, pontos de referência fundamentais que vão situá-lo na condição de Filho de Deus. As tentações não foram um momento da vida de Jesus, mas uma “sombra escura” que o acompanhou ao longo de toda sua vida. Frente ao ídolo do poder e do ter, Ele se mantém de pé, despojado; frente ao desejo de utilizar sua condição de Filho em seu próprio benefício, elege o caminho da obediência sintonizada no Pai; frente ao discurso do êxito e da fama, Ele elege o do serviço.

As tentações são expressão do conflito permanente de sua vida e de sua obra. No deserto, Jesus tomou uma consciência tão plena de sua condição de Filho, a Palavra do Pai lhe deu tanta segurança e iluminou de tal maneira sua vida, que já se torna impossível confundir Deus com os falsos ídolos que o tentador lhe apresenta: um “deus” contaminado pelas piores pretensões da condição humana: possuir, fazer ostentação de prestígio, exercer domínio.

Jesus não veio para que os anjos esvoaçantes o carregassem, mas para carregar sobre seus ombros a ovelha perdida; não veio para converter as pedras em pães, mas para entregar-se Ele mesmo como Pão de vida; suas mãos não se fecham possessivas sobre as riquezas porque Ele precisa delas  livres para levantar caídos, sarar feridos ou lavar os pés cansados do caminho; não veio para trocar a pérola preciosa do Reino que o Pai lhe confiou por outros reinos que o tentador lhe mostrou a partir do monte.

Neste tempo quaresmal, identificados com Jesus na estadia do deserto, vamos “des-velando” nossos dinamismos “dia-bólicos”  que se instalam em nosso interior, atrofiam nossas forças criativas e nos dis-tanciam da comunhão com tudo e com todos.

O mundo em que vivemos nos condiciona a viver em torno do ter, do poder, da ambição do prestígio, da idolatria... Jesus nos ensina a pedirmos ao Pai que não nos deixe cair nessas tentações que destroem o projeto de um mundo fraterno e igualitário.

A tentação é a que promete o bem e nos conduz ao mal; aquilo que parece atrativo e inclusive bom, mas nos afasta de Deus e dos outros; aquilo que parece algo evidente, inevitável em nossa vida quando na realidade não é; aquilo que, com enganos, nos mata aos poucos.

Do nosso interior, esta força do mal se encarna nas nossas atividades, instituições, estruturas (externalizado), provocando violência, gerando tensões, injustiças...  e criando uma sociedade opressiva, dividida, conflituosa, preconceituosa... Esta situação, com suas seduções e ilusões se constitui em permanente tentação coletiva para o egoísmo, a insensibilidade e a ruptura da fraternidade.

Viver humanamente consistirá em deixar o Espírito circular livremente por todos os cômodos de nossa morada, arejando-os, ventilando-os, religando-os, dando-lhes vida, reorientando-os. A missão do Espírito é ajudar-nos a fazer a travessia do deserto interior, tanto nas sombras como nas zonas de luz, até ao centro de nós mesmos. O Espírito procura entrar para fecundar, recolocar em ordem, restaurar, unificar.

Precisamos nos abrir para uma verdade maior quanto à nossa humanidade, ou seja, que todos os nossos recantos merecem ser visitados, olhados, ouvidos e abraçados; que cada aspecto de nossa vida contém uma dádiva maior do que podemos enxergar e cada sentimento merece uma expressão saudável.

Texto bíblico:  Mt 4,1-11

Na oração: A oração sobre as “tentações de Jesus” nos ajuda a tomar consciência das alianças e cumplicidades nas quais podemos cair em nossas relações com o mundo e com aqueles elementos que de modo mais decisivo põe em perigo nossa liberdade: as riquezas, o poder, o prestígio. Nessa "embriaguez existencial"  a alteridade desaparece, a abertura a Deus se atrofia e a gratidão frente aos bens se esvazia.
- Dar nomes aos “demônios interiores” que desumanizam.


Pe. Adroaldo Palaoro sj
Itaici-SP


* * *

RECORDAÇÕES – Por Ruth Caldas

Recordações

Parece mentira que tu já não estás
Presente em nossas vidas,
Mas, mesmo assim sinto 
a tua presença viva
No meio de nós.
E como,
já não te encontras mais,
No nosso convívio,
Mesmo assim permaneces vivo
No seio da nossa família.
Saudades!...

Ruth Caldas


“De Ruth Caldas
Para Raul Otávio N. Caldas Cortes
Inspirado pela pessoa que muito te amou:
TUA MÃE.”
 Vem aí “A História de Rute”.

--------

RAUL OTÁVIO
(Acróstico da solidão)


Rute/Mulher/Mãe
Alma transcendente
Ultrapassa limites,
Lágrima incandescente!

Oblação em estribilho
Trinta e quatro anos de vida,
Aniversário e soledade!
Valorizando a lembrança
Investe na oração
Ouvindo o  silêncio do filho!...


         Eglê S Machado



* * *

NEM SEMPRE O SILÊNCIO É ESQUECIMENTO - Por Marcel Camargo


O silêncio pode ser revolta, reflexão, solidão, desistência, desapego, ressentimento, ou até mesmo convicção. E quando o silêncio guarda o que temos de mais precioso, estamos então caminhando rumo ao alcance de nossos sonhos, para que possamos dividi-los com quem compartilhamos amor de verdade, e com ninguém mais.

Ao contrário do que possa aparentar, muitas vezes o silêncio tem muito a dizer, carregando em seu aparente vazio uma intensidade tamanha de sentimentos e de carga emocional muito mais significativa do que enxurradas de palavras ou gestos exacerbados. O silêncio pode acalmar, ferir, amparar ou até mesmo violentar, às vezes trazendo paz, outras vezes incitando tempestades - nem sempre o silêncio é pacífico.

O silêncio pode ser revolta, rebeldia, contrariedade contida. Nem sempre estamos prontos para expressar nossos pontos de vista, no sentido de verbalizar o que queremos, o que temos aqui dentro. Assim, mesmo que estejamos discordando de algo, silenciamos, pois nos falta a coragem necessária para que nos libertemos dessa prisão que nós próprios criamos, ou mesmo porque sabemos que qualquer tentativa de diálogo será inútil e cansativa naquele momento.

O silêncio também pode corresponder à reflexão, a um turbilhão de pensamentos pulsando dentro de nós. O pensamento e a fala devem conviver harmonicamente, de forma que um não atropele o outro, colocando-nos em situações constrangedoras. Palavras, após proferidas, não voltam mais, deixando suas marcas, muitas vezes negativas, nas nossas vidas e nas dos ouvintes. Pensar sobre o que se diz é necessário, pois, caso possamos machucar alguém ou a nós mesmos, sem razão, é preferível emudecer.

Às vezes, o silêncio é solidão, é vazio, solitude doída e emudecida. Mesmo acompanhados, ainda que em meio a muitas pessoas, podemos estar solitários, sentindo-nos sem acolhida, sem partilha, sem pertencimento. Como se não fizéssemos parte da vida do outro, como se fôssemos desimportantes, dispensáveis. Perdidos nessa irrelevância emocional, ruímos por dentro, minando nossa autoestima e nossa capacidade de ser feliz.

Outras vezes, o silêncio é desistência. Há momentos em que o mais prudente a se fazer é desistir de algo, de alguém, de tentar convencer, de querer amar, de clamar por atenção e reciprocidade. Certas situações nos pedem que partamos para outra, que canalizemos nossas forças e energias em direção ao que nos trará contrapartida, retirando-nos dos apelos vazios, da mendicância afetiva, pelo bem de nossa saúde física e de nosso equilíbrio emocional.

Silêncio, da mesma forma, pode significar desapego, libertação, livramento de amarras que nos impedem o caminhar tranquilo de nossa jornada. Precisamos nos despedir de tudo aquilo que pesa em nossos ombros, emperrando a visualização serena das possibilidades que nos aguarda o futuro. Temos que serenar a celeridade que intranquiliza os nossos corações, jogando fora bagagens sem as quais conseguiremos viver melhor.

O silêncio muitas vezes é mágoa, ressentimento, lamentação acumulada. Na impossibilidade de encontrarmos coragem de vivermos nossas verdades por inteiro, de refutarmos o que não nos completa, tampouco nos define, de impormos aquilo em que acreditamos, sufocamos nossos sentimentos mais íntimos sob a infelicidade de aparências condizentes com o que todo mundo espera - exceto nós próprios. Nesses casos, o calar-se equivale ao crepúsculo moroso de nossa existência.

Felizmente, no entanto, o silêncio também pode - e sempre o deveria - implicar felicidade, certezas, convicção e força. Sabermos os momentos certos para calarmos e guardarmos para nós aquilo que pensamos nos salva de problemas dispensáveis com gente que não significa nada na nossa vida. Quando estamos seguros quanto ao que somos, quanto aos nossos sonhos e planos de vida, nenhum barulho é capaz de abalar as nossas verdades, minimamente que seja. Quando o silêncio guarda o que temos de mais precioso, estamos então caminhando rumo ao alcance de nossos sonhos, para que possamos dividi-los com quem compartilhamos amor de verdade, e com ninguém mais.


"Escrever é como compartilhar olhares, tão vital quanto respirar".
Saiba como escrever na obvious.



http://obviousmag.org/pensando_nessa_gente_da_vida/2015/nem-sempre-o-silencio-e-esquecimento.html?utm_source=obvious&utm_medium=Article_Column&utm_campaign=Popular_Articles

* * *

PALAVRA DA SALVAÇÃO (16)

1º Domingo da Quaresma - 05/03/2017


Anúncio do Evangelho (Mt 4,1-11)

— O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós.
— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus Cristo + segundo Mateus.
— Glória a vós, Senhor.

Naquele tempo, o Espírito conduziu Jesus ao deserto, para ser tentado pelo diabo. Jesus jejuou durante quarenta dias e quarenta noites, e, depois disso, teve fome. Então, o tentador aproximou-se e disse a Jesus: “Se és Filho de Deus, manda que estas pedras se transformem em pães!” Mas Jesus respondeu: “Está escrito: ‘Não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus’”.

Então o diabo levou Jesus à Cidade Santa, colocou-o sobre a parte mais alta do Templo, e lhe disse: “Se és Filho de Deus, lança-te daqui abaixo! Porque está escrito: ‘Deus dará ordens aos seus anjos a teu respeito, e eles te levarão nas mãos, para que não tropeces em alguma pedra’”. Jesus lhe respondeu:
“Também está escrito: ‘Não tentarás o Senhor teu Deus!’”

Novamente, o diabo levou Jesus para um monte muito alto.
Mostrou-lhe todos os reinos do mundo e sua glória, e lhe disse: “Eu te darei tudo isso, se te ajoelhares diante de mim, para me adorar”. Jesus lhe disse: “Vai-te embora, Satanás, porque está escrito: ‘Adorarás ao Senhor, teu Deus, e somente a ele prestarás culto’”. Então o diabo o deixou. E os anjos se aproximaram e serviram a Jesus.


— Palavra da Salvação.
— Glória a vós, Senhor.


---
Ligue o vídeo abaixo e acompanhe a reflexão do Pe. Roger Araújo:

---

SUPERANDO AS TENTAÇÕES


Antes de iniciar a sua pregação na Galileia, Jesus é conduzido pelo Espírito ao deserto, onde será tentado por quarenta dias. São dias de provação e superação, que recordam os quarenta anos de caminhada do povo hebreu rumo à Terra Prometida.

Jesus venceu a tentação de ter comida e vida fáceis, recusando-se a transformar pedras em pães. Venceu a tentação de ter poder e prestígio, negando-se a se submeter ao que é satânico, ou seja, contrário ao projeto de Deus. Venceu a tentação de tentar o próprio Deus, recusando ações e atitudes que deixariam Deus e seu projeto em segundo plano.

Ao superar as tentações, Jesus mostra que está completamente comprometido com a missão que o Pai lhe confiou. Além disso, as tentações vencidas indicam qual é a missão de Jesus e, consequentemente, a missão dos seus seguidores. Missão de trabalhar incansavelmente pelo pão para todos, no caminho da palavra de Deus, a qual não ilude com soluções mágicas e fáceis. Missão de adorar somente a Deus, único absoluto, relativizando ideologias e extremismos para buscar a raiz do evangelho, em valores como a compaixão, a solidariedade, a fraternidade e o amor. Missão de dar sentido à própria vida e ajudar os outros a fazê-lo também, não se submetendo a nenhuma lógica diabólica que divide as pessoas.

Iniciando a Quaresma, somos como que convidados a ir com Jesus ao deserto do silêncio interior, para ouvir de verdade sua Palavra e deixar que aí ela ecoe. A Quaresma, tempo de preparação para a Páscoa, seja de fato ocasião para fortalecermos a fé e refletirmos sobre o nosso compromisso com Jesus. O mesmo Espírito que guiou Jesus continua nos guiando. Obedientes à palavra de Deus, confiamos que o Mestre está conosco, ajudando-nos a superar as dificuldades e as tentações.

Pe. Paulo Bazaglia, ssp


* * *