25/maio/18
No espaço de poucos dias tivemos três grandes perdas. No dia
14, morreu o escritor Tom Wolfe. Seu refinamento, visão conservadora e
elegância, além da forma como retratava a hipocrisia e vaidade das elites
“progressistas”, deixarão saudades. Seu “radical chic” foi influência direta em
meu Esquerda Caviar, enquanto seus divertidos ataques aos modismos da “arte”
contemporânea me renderam boas risadas.
Um de seus últimos livros, Sangue nas Veias fala do
caldeirão étnico e cultural repleto de latino-americanos e com poucos
americanos “legítimos” em Miami. Morando há três anos nesse ambiente, tenho que
constatar que Tom Wolfe é cruel na medida certa com nossas elites vaidosas e
abobalhadas. Mesmo com todas as suas qualidades, de “América Latina que deu
certo”, convenhamos: Miami, com uma das maiores quantidades de “breguice” por
metro quadrado, é um prato cheio para o autor tripudiar dessa classe de nouveau
riche, não é mesmo?
A segunda grande perda foi do historiador Richard Pipes, que
faleceu no dia 17. Sua especialidade era a história russa, e isso lhe deu uma
visão privilegiada do comunismo. Em Propriedade e Liberdade, Pipes resume bem o
problema: “A história da Rússia oferece um excelente exemplo do papel que a
propriedade desempenha no desenvolvimento dos direitos civis e políticos,
demonstrando como a sua ausência torna possível a manutenção de um governo
arbitrário e despótico”. Abolir a propriedade privada? Eis o caminho do
inferno!
Richard Pipes conclui que “a experiência da Rússia indica
que a liberdade não pode ser legislada; ela precisa crescer gradualmente, em
forte associação com a propriedade e a lei”. Infelizmente para os russos, a
propriedade privada nunca fincou suas raízes por lá, onde o poder sempre esteve
arbitrariamente concentrado no Estado. Parece um país que conhecemos bem.
Por fim, morreu no dia 23 o escritor Philip Roth. Gosto
muito de seu estilo, da força de suas palavras, sempre econômicas. Também sou
atravessado pelo tema recorrente de seus livros: o poder de estrago do
imprevisível, a mudança repentina na vida das pessoas por acontecimentos
inesperados, o encontro com o “real”, como diria um psicanalista, as
contingências do destino. Tudo parece certinho, ordenado, bem ao gosto de um
típico obsessivo, quando de repente o mundo desaba, o chão desaparece, tudo
fica nebuloso. É angustiante. Mas é realista. É a vida.
E por isso mesmo temos que valorizar a nossa, reconhecendo,
com humildade, que não estamos em seu total controle, e que a precariedade de
nossa existência é a norma, o que nos demanda coragem e fé. A morte, afinal,
chega para todos, e quase sempre sem aviso. Importa, porém, aquilo que fica. No
caso desses três gigantes, uma incrível obra como legado.
* * *
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