27 de Maio de 2018
Péricles Capanema
Foram divulgados os números finais da pantomina eleitoral da
Venezuela, reeleito o boçal ditador Nicolás Maduro [na foto ao lado, votando em
si mesmo] com quase 70% dos votos válidos, participação de 46% do
eleitorado, fraude e intimidação generalizadas. Na tragédia, tem culpa o
governo brasileiro. O chavismo medrou no país vizinho com dinheiro da Odebrecht
(de fato, propina decorrente de contratos superfaturados), marqueteiros ligados
ao PT e patrocínio de Lula e Dilma.
Estivesse o PT ainda no poder, Brasília seria um dos apoios
vergonhosos da situação venezuelana. Com efeito, a reeleição vem sendo
celebrada pelas linhas auxiliares do PT, como PC do B, entre os partidos, e
Guilherme Boulos, entre os políticos. O PC do B em nota intitulada “Vitória
retumbante do povo venezuelano” trombeteou: “O Partido Comunista do
Brasil regozija-se com o povo venezuelano, o Partido Socialista Unido da
Venezuela (PSUV), o Partido Comunista da Venezuela (PCV) e demais forças
políticas que comandaram a batalha”. Boulos, o candidato do PSOL à Presidência,
apoiado entre outros por frei Beto, declarou: “Maduro foi eleito
democraticamente, Cuba não é ditadura e impeachment foi golpe”.
Além da satisfação da esquerda brasileira, por vezes
evidenciada em silêncio revelador, em outras ocasiões com desfaçatez ruidosa,
na América Latina não faltou a Maduro o esperado endosso enfático de Cuba e
Bolívia. Em resumo, Maduro tem esteios fortes na América Latina. Na cena
internacional, o Irã, a China e a Rússia defenderam a farsa venezuelana.
Interessam especialmente Rússia e China. São os dois grandes
apoios à tirania chavista. Sem eles, dificilmente Maduro se manteria no poder.
O governo de Vladimir Putin atacou a oposição proveniente do exterior: “Lamentamos
que nessas eleições, além dos dois tradicionais participantes — o povo e os
candidatos — existiu também um terceiro participante: os governos que
abertamente pediram boicote ao voto”, declarou Alexander Schetinin, diretor do
Departamento de América Latina da chancelaria russa. Com descaramento
completou: “As eleições foram realizadas e o resultado tem caráter
irreversível: dois terços dos votos foram para Nicolás Maduro”. Esconde
escandalosamente a fraude, a pressão do aparato chavista, o garrote aos
opositores.
A China foi na mesma direção: “As partes envolvidas
devem respeitar a decisão do povo venezuelano”, disse o porta-voz da
chancelaria chinesa, Lu Kang. Para Pequim, disputas sobre o resultado devem ser
resolvidas nos tribunais. Deixa de lado o fato óbvio: os tribunais foram
transformados em marionetes do chavismo.
É um passo a mais da descarada e inescrupulosa ingerência
russa e chinesa nos negócios da América Latina. Daqui a algum tempo vai ficar
patente a ainda agora secreta contrapartida recebida — nesses meses de
isolamento venezuelano —, por russos e chineses em troca de tal apoio. Com toda
probabilidade, lastreadas em contratos, promessas de gigantescas vantagens
relacionadas com a exploração do petróleo. A Venezuela detém as maiores
reservas provadas do mundo. Para comparação, segundo dados recentes, tem 297
bilhões de barris, a Rússia, 60 bilhões, a China, 16 bilhões. O Brasil, 25
bilhões. (1 barril equivale a 159 litros). A aliança disfarçada, mas efetiva,
com Rússia e China dá sobrevida a um governo cujo coletivismo delirante [o
chamado socialismo do século XXI] destruiu o país. É rota de maus auspícios, no
fim dela a Venezuela despencará para a condição de protetorado inconfessado.
Médicos venezuelanos protestando, pois os pacientes morrem
em hospitais por falta de medicamentos
Generalizada e enérgica tem sido a reação oficial ao regime
venezuelano. Foi tão ampla a repulsa aos métodos chavistas, que a oposição
inclui importantes políticos socialistas, como Felipe González e Ricardo Lagos,
cuja inércia escandalizaria seguidores seus. Por exemplo, em documento também
firmado pelos dois, 23 ex-presidentes e ex-primeiros-ministros ibero-americanos
apelam à comunidade internacional para que não reconheça a “farsa eleitoral” na
Venezuela. Pedem ainda que os países chamem seus embaixadores, aumentem
sanções, congelem ativos provenientes do crime e da corrupção do governo.
Reclamam a seguir a suspensão da Venezuela da OEA, sugerem que Estados membros
do Estatuto de Roma levem à Corte Penal Internacional o relatório sobre os
crimes de lesa-humanidade da ditadura de Nicolás Maduro preparado pela
Secretaria Geral da OEA. Denunciam ainda “sequelas de mortos pela
violência criminosa desbordada, fome, migração maciça, endividamento ilimitado,
falência, hiperinflação, fatos sem paralelos e sem precedentes na história do
mundo”.
Lech Walesa, ex-presidente da Polônia foi mais duro: “A
Venezuela está sequestrada por um grupo de neotraficantes e terroristas. Mais
cedo ou mais tarde será preciso uma intervenção de forças coligadas para
preservar a paz na região”.
Estados Unidos, União Europeia, países da América Latina
tomaram medidas severas contra o governo venezuelano. Mike Pence,
vice-presidente dos Estados Unidos, em nota oficial afirmou: “A eleição na
Venezuela foi uma impostura. O resultado ilegítimo deste processo fraudulento é
um novo golpe contra a altiva tradição democrática da Venezuela. Todos os dias
milhares de venezuelanos fogem da opressão brutal e da torturante pobreza”.
14000% é a inflação estimada em 2018. Queda estimada do PIB
em 2018, 15%, quinto ano de recessão. Por que não cai o regime? Deixo de lado a
reação internacional, poderia ser mais efetiva.
Lembro outros fatores, a brutal
repressão interna inspirada por agentes do serviço secreto cubano, vantagens
escandalosas conferidas ao alto oficialato das Forças Armadas (forma de compra
e chantagem) e o apoio da China e da Rússia. Importa sobretudo agora ter em
vista o último ponto, atalho para a servidão. Antecipa situações que outros
países da América Latina poderão viver. O Brasil também poderá passar por um
martírio prolongado, caminhamos na beira do abismo.
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