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quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

NASCEU HOJE, IRMÃOS, O NOSSO SALVADOR! – Dom Ceslau Stanula II

26/12/2017
S. Agostinho (+430) na sua homilia natalina fala:

«Hoje nasceu para nós o Salvador.
 Nasceu, portanto, para todo o mundo o verdadeiro sol.
Deus Fez-se homem para que o homem se fizesse Deus.
Para que o escravo se tornasse senhor, Deus assumiu a condição de servo.
Habitou na terra o morador do céu para que o homem, habitante da terra, pudesse encontrar morada nos céus».

Com a minha benção e oração. Boa Noite, Feliz Natal.
Dom Ceslau
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27/12/2017
S. Inácio, bispo e mártir de Antioquia, (+ 100), contemplando o mistério do Natal, expressa, figuradamente, a alegria até dos astros  no céus quando a  Estrela Guia  aparece:

“Mistérios clamorosos que se realizaram no silêncio de Deus”.

«No firmamento brilhou uma estrela maior do que todas as outras!
A sua luz era indescritível.
A sua novidade causou estranheza.
Mas todos os demais astros, incluindo o Sol e a Lua, fizeram coro à Estrela.
Esta, porém, ia arremessando a sua luz por sobre todos os demais.
Houve, por isso, agitação.
Donde lhes viria tão estranha novidade?
Desde então, desfez-se toda a magia; suprimiram-se todas as algemas do mal.
Dissipou-se toda a ignorância; o primitivo reino corrompeu-se, quando Deus se manifestou humanamente (no presépio) para a novidade de uma vida eterna».

Com a minha benção e oração.
Feliz Natal e o Ano Novo cheio de realizações com constante presença de Deus.
Dom Ceslau

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Dom Ceslau Stanula – Bispo Emérito da Diocese de  Itabuna, escritor, membro da Academia Grapiúna de Letras-AGRAL.

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NEM TÃO SIMPLES - Ana Maria Machado

Nem tão simples

"Simples assim. Entendeu ou quer que eu desenhe?”

A toda hora estamos esbarrando em variantes dessa atitude arrogante, seja em comentários na internet ou em palpites que surgem em conversas ao vivo, com a pretensão de calar o outro. Por vezes, vem revestida de um tom teórico peremptório, cheio de ecos intelectuais, a insinuar que qualquer discordância é estúpida. Nem por isso deixa de ser uma forma de ofensa, a chamar o outro de burro.

No entanto, o que a história do pensamento nos mostra é bem diferente. Sempre foi um trajeto calcado em dúvidas e hesitações, por mais que o processo da busca do conhecimento se faça com certa teimosia e algumas raras certezas muito bem focadas — de que Galileo é um bom exemplo. Mas a honestidade que marca a ânsia de saber convive com a admissão das inseguranças que abrem portas, desde o axioma socrático do “só sei que nada sei”, passando pela dúvida metódica cartesiana, até os princípios da complexidade que Edgar Morin aponta ao sublinhar as incertezas que caracterizam nosso tempo.

Neste momento em que os eleitores brasileiros sentem a necessidade de analisar a nossa atual crise com algum exame que vá além da superfície imediata, pode valer a pena lembrar que nada é “simples assim”. Não dá para resumir num mero desenho. Mas convém admitir que grande parte do retrocesso que aí está a nos assombrar é fruto de uma complexa conivência da nossa sociedade. A tal omissão dos bons que permite a expansão do crime e da injustiça. Às vezes por comodismo, às vezes por simplismo, às vezes por recusa a admitir o próprio engano. E como fomos enganados...

Votando em Lula, Dilma, Aécio, Cabral, Cunha ou Renan, e tantos outros, fomos engambelados por belas palavras, fartas promessas e bom mocismo. Como se tudo fosse simples assim. Só que não é. Convém não esquecer. É preciso admitir que fomos traídos. Transformar o arrependimento em alguma sabedoria. Aprender com os erros, para não repeti-los. Ao menos, tentando escolher melhor o futuro Congresso.

Não que a sociedade tenha ficado apática e de braços cruzados. Movimentos sociais se organizaram e reivindicaram. Manifestos e abaixo-assinados se espalharam pela internet. Conseguiram gerar fatos concretos e positivos, como a Lei da Ficha Limpa. Ou sugerir as Dez Medidas contra a Corrupção.

Mas agora se assiste a um retrocesso que tem como objetivo atrapalhar toda e qualquer melhoria nessa área. E em outras.

O fato de não se fazer uma reforma eleitoral tem muito a ver com isso. Continua havendo uma proliferação de partidos que seria cômica se não fosse trágica — mas que é muito eficiente em atrapalhar a governabilidade e estimular esse abominável balcão de negócios no Congresso. Os exemplos se multiplicam.

A análise racional mostra que é indispensável para as futuras gerações que se faça já a reforma da Previdência, cujo desequilíbrio paralisa investimentos em saúde, educação, saneamento. No entanto, aí estão os políticos barganhando e impedindo que ela se faça, mesmo reduzida, desvirtuada e insuficiente.

Em outro âmbito, a recusa em fazer a reforma eleitoral (tanto no Legislativo quanto no Judiciário) prorroga a existência desordenada de partidos e ameaça recuos na Lei da Ficha Limpa ou na determinação do STF de que a pena comece a ser cumprida após decisão em segunda instância. E continuamos sujeitos a esse Congresso tecido de políticos corruptos, incapaz de dar um mínimo passinho à frente que faça avançar alguns milímetros.

A isenção fiscal para igrejas resulta em bancadas religiosas retrógradas que esgrimem argumentos autoritários para impor à nação atitudes e comportamentos medievais. A degradação pública e o opróbrio são amplamente utilizados nos linchamentos morais a que assistimos a todo momento. Já chegamos ao ponto de literalmente queimar bruxas — ainda que por enquanto nos limitando ao simbolismo de bonecos que as representem, como se viu no caso da filósofa Judith Butler. Mas nem sempre é só simbólico: a dona de casa Fabiane Maria de Jesus foi linchada até a morte no Guarujá a partir de uma falsa acusação, na internet, de sequestrar crianças para magia negra. Uniu-se a reles mentira com a sanha de condenar sem apurar. Males atuais.

Tudo isso desvia da justiça necessária. Vemos todo dia as tentativas de retrocesso que impedem a punição de culpados de corrupção, na Lava-Jato ou fora dela. Vale tudo, a começar pela manutenção do foro privilegiado para milhares de políticos — e agora se fala em estendê-lo a ex-presidentes.

O discurso para a aparente justificativa é sedutor: alardeia a garantia de direitos dos investigados e acusados (que têm mesmo de ser garantidos). Mas esquece a garantia do direito da sociedade, de não ver perpetuada a impunidade de criminosos por meio de manobras e chicanas.

Esses diversos fios se tecem em tramas e tramoias. Pelo menos, fiquemos atentos para perceber a complexidade do mecanismo. Há que abrir os olhos para votar melhor no futuro. Nada se resume a um “simples assim”.

O Globo, 09/12/2017


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Ana Maria Machado - Sexta ocupante da Cadeira nº 1 da ABL, eleita em 24 de abril de 2003, na sucessão de Evandro Lins e Silva e recebida em 29 de agosto de 2003 pelo acadêmico Tarcísio Padilha. Presidiu a Academia Brasileira de Letras em 2012 e 2013.

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CENÁRIOS DE CERA – Wagner Albertsson

Clique sobre a foto, para vê-la no tamanho original
CENÁRIOS DE CERA 


DIANTE DA VIDA QUE PASSA,
EMBALADA PELOS SABORES DOS DIAS,
ROMPEM-SE PARA ALGUNS, TRISTEZAS;
LUZEM PARA OUTROS, ALEGRIAS.
POIS VIVER É INCORPORAR PERSONAGENS,
É VESTIR TOSCAS FANTASIAS,
PORQUE A VIDA É UM PALCO DE MOMENTOS
DE CENÁRIOS DE CERA E SOFRIMENTOS
ONDE A FELICIDADE É O TEMA PRINCIPAL.

NESTA BUSCA DESENFREADA DE EMOÇÃO,
A CORTINA DA MORTE É REAL,
O TEATRO DA VIDA É ILUSÃO,
E SÓ DEUS É O ATOR PRINCIPAL.

WAGNER ALBERTSSON

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A MULTIFORME INSPIRAÇÃO DO ESPÍRITO SANTO NOS PANETONES E BOLOS DE NATAL

27 de dezembro de 2017
Santiago Fernandez

Nos países católicos há uma imensa variedade de pratos e bolos que se preparam somente para o Natal. Nesse ponto os italianos acabaram passando na frente de todos os outros ao criarem o universalmente conhecido e cobiçado “panettone”.

De onde ele vem?

Discute-se fortemente na Itália sobre a sua origem. Todos concordam que nasceu na região de Milão.

Segundo uma versão, o panettone apareceu pelo fim do século XV num banquete oferecido pelo tempestuoso duque Ludovico Sforza, dito “o Mouro”. O ajudante de cozinha, de nome Toni, encarregado de vigiar o forno durante a preparação da sobremesa, teria dormido. E quando acordou ela estava queimada!

Para se salvar da ira do colérico duque, ele apanhou então tudo o que sobrara na cozinha e misturou, para produzir um pão “enriquecido” que fez as delícias de todos. Essa obra-prima passou para a posteridade como o “pão de Toni”, que acabou dando em “panettone”.

Mas há outra versão: o jovem nobre Ughetto degli Atellani, que desejava casar-se com Algisa, filha do padeiro Toni, teria conseguido ser contratado pela padaria, onde concebeu o famoso pão de Natal para conquistar a moça.

Outra versão ainda é aquela segundo a qual Sóror Ughetta — cujo nome significa passa — teria comprado com suas últimas moedas algumas passas e frutas cristalizadas para acrescentar a seu pão de Natal, levando assim um sorriso às irmãs de seu convento.

O fato histórico incontestável é que, entre outras coisas, na Idade Média nasceu o costume de comemorar o Natal com um pão que fosse melhor do que o quotidiano. Até 1395 os fornos de Milão só podiam assar esse pão no período natalino, e ele era marcado com frequência com uma cruz.

“Pandoro” de Verona
 Mas há o “panettone” glacê e com amêndoas de Turim. E também o “pandoro”, de Verona, que é muito alto, pesa cerca de um quilo, tem sabor de baunilha, uma miga muito leve e é servido num pacote feito com açúcar cristalizado que também se come.

“Panforte” de Siena

Em Veneza, o “panettone” vem acompanhado de um creme de frutas cristalizadas. Há ainda o “pandolce” de Gênova, um pouco mais compacto, bem como o “panforte” de Siena, feito com especiarias e sem farinha, com a massa consolidada com mel, pimenta e canela.

O sul da Itália aplicou sua inspiração ao “panettone”, que vinha do Norte, acrescentando-lhe delícias que são inéditas nas regiões frias: laranja, limão, pistache, bergamota e o licor limoncello.

O “panettone” de Nápoles é feito com laranjas cristalizadas de Amalfi e limoncello. Em Siracusa, ele vem com chocolate, pistaches, laranjas cristalizadas da Sicília e passas de Pantelleria. Todos eles em geral têm preços acessíveis.

“Christmas pudding” inglês

Deixando agora a Itália e passando a outros países, os britânicos preparam o tradicional “pudding”, oriundo da Idade Média. Segundo instrução da Igreja Católica, ele “deve ser feito no domingo após a festa da Santíssima Trindade, que neste ano de 2017 foi celebrado em 18 de junho. É preparado com 13 ingredientes para representar Cristo e os 12 Apóstolos, e todos os membros da família devem dar uma mexida em sua massa durante a preparação, um de cada vez, de leste a oeste, a fim de homenagear os Reis Magos e sua suposta jornada nessa direção”.

Por sua vez, os belgas degustam os chamados “cougnoles” ou “cougnous”, pães do tipo brioche cujo tamanho varia entre 15 e 80 cm, com a forma de um presépio que acolhe uma imagenzinha do Menino Jesus.

“Christstollen” alemão

Os alemães preparam o “Christstollen”, bolo muito denso perfumado com especiarias e recheado com frutos cristalizados e passas, assado numa forma especial.

Os espanhóis no Natal preferem o “turrón”, uma massa feita com amêndoas e mel. Ele tem muitas variantes: com chocolate, nozes, frutas secas etc.

Os franceses comemoram com a “bûche”, literalmente pedaço de lenha, que suscita todo ano um verdadeiro concurso para ver quem é o “pâtissier” que concebe a variante mais criativa.

“Büche de Noël”

Durante séculos, as famílias francesas acendiam na noite de Natal um pedaço de lenha de árvores frutíferas como cerejeira, ameixeira, macieira ou oliveira, ou de madeiras nobres ou comuns. Ficou conhecida como a “bûche de Noël”.

A família aquecida por esse fogo se reunia para a Ceia de Natal entoando canções. Com o tempo entraram novos sistemas de aquecimento e as velhas lareiras foram se apagando.

Mas eis que a “bûche de Noël” se transformou em uma obra-prima da pâtisserie francesa, a sobremesa indispensável nos lares da França nos dias abençoados do Natal. É difícil conhecer o autor do prodígio, embora talvez tenham sido muitos, guiados em diversas partes pelo instinto católico, pela tradição e pelo bom gosto.

Fala-se que um aprendiz de Paris, que trabalhava numa chocolataria do aristocrático bairro de Saint Germain des Prés, teria sido o autor da ideia. Os palacetes do bairro eram habitados por nobres ligados a seus castelos, erigidos muitas vezes em bosques e em contínuo contato com a agricultura e as tradições locais.

Como esses nobres não encontravam suas rústicas, mas abençoadas “bûches de Noël” na refinada Paris, então o aprendiz concebeu um doce em forma de lenha para lhes aplacar a saudade inspirada pela fé.

Segundo outros, o famoso bolo foi inventado em Lyon por volta de 1860. Há os que defendem que Pierre Lacam, pasteleiro e sorveteiro do príncipe Carlos III de Mônaco, teria concebido a primeira requintada “bûche” em 1898.

Quem quer que seja o seu inventor, nas proximidades do Natal a “bûche de Noël” aparece nas pâtisseries da França em forma de sorvete ou bolo, sendo avidamente procurada pelos espíritos amantes da família, da tradição e da Cristandade.

Na Córsega ela é forçosamente feita à base de castanhas, embora as fórmulas e apresentações sejam inumeráveis, de acordo com a preferência das famílias, dos padeiros, dos confeiteiros de cada região, cidade, rua ou loja.

“Galettes des rois” da França

Já no início de janeiro as vitrines das pâtisseriesde Paris se enchem de “galettes de rois”, conta “Le Petit Journal”. O nome — como o de tantos produtos culinários franceses — não tem tradução, mas alguns tentaram “bolo dos reis”. Ele é vendido com uma coroa especial. Em 2014, entre 85% e 97% dos franceses diziam comê-lo na festa da Epifania, ou Reis. As receitas, acompanhamentos e formas são incontáveis, em geral redondas. Quando o “bolo dos reis” contém o apreciado marzipã, é chamado de “parisiense”; com frutas abrilhantadas é o bordalês.

 “Bolo rei” de Portugal

Em Portugal, ele é feito de um modo especial e recebe o nome de “Bolo Rei”, designação que sublevou sem sucesso muitos revolucionários igualitários e republicanos. Existem receitas semelhantes na cidade norte-americana de Nova Orleans, na Bélgica, no México (“rosca”), na Grécia (“vassilopita”) e na Bulgária (“pitka”), para só citar algumas. 
Voltando à França, o mais típico é que a criança mais nova sentada à mesa se encarregue de cortar a “galette des rois” e distribua um pedaço para cada um. Em alguma parte do bolo há uma fava, também chamada “rei”, que faz a alegria da mesa.

A fava respeita a forma de sua humilde semente original, mas depois passa a ser substituída por pequenos objetos simbólicos imaginosos, como lâmpadas douradas e outros. O fato é que quem recebe o pedaço com a “fava” é chamado de “rei”, ganha a coroa que veio com o bolo e deve beber em uma taça especial, enquanto os demais cantam “o rei bebe, o rei bebe”, em meio ao gáudio geral.

Aliás, nos bons tempos partia-se a “galette” de acordo com o número dos presentes mais um. Esse pedaço excedente era chamado “a parte do Bom Deus”, ou “a parte da Virgem”, ou “a parte do pobre”, e era destinado ao primeiro pobre que fosse bater à porta do lar.

O costume comemora a festa da Adoração do Menino Jesus pelos Reis Magos, ou Epifania, celebrada em 6 de janeiro. A Epifania comemora precisamente a chegada de Melchior, Gaspar e Balthazar, conduzidos pela milagrosa estrela.

Na Espanha, os Reis Magos são muito mais importantes para as crianças do que Papai Noel. São eles que trazem os presentes na noite de 5 para 6 do janeiro, depositando-os sobre os sapatinhos infantis deixados na sacada ou na lareira.


“Roscón de Reyes” da Espanha

É normal que o fato seja comemorado com um bolo. É o denominado “Roscón de Reyes” em forma de coroa, o qual introduz uma variedade grande em relação à “galette des rois” francesa.

Foi só no mundo católico que a ação multiforme da graça do Espírito Santo inspirou uma tão larga variedade de pães simples, mas deliciosos, próprios a elevar os espíritos e a fortalecer o corpo nos gaudiosos dias do nascimento do Redentor.

Procure-se entre os protestantes ou nos decaídos países pagãos e veja se eles criaram uma variedade análoga de uma iguaria saborosa e inocente, tão de acordo com o espírito sobrenatural do Natal católico.


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