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domingo, 10 de dezembro de 2017

JUNTOS - Marco Lucchesi

Uma parte do país respira com escassa quantidade de oxigênio. Outra, só não foi desenganada pelas virtudes heroicas de nosso povo, na obstinação dos democratas, os que defendem a Constituição. Ou talvez, e mais simplesmente, porque os astros do zodíaco se apiedaram de tantas e seguidas desventuras.

A sociedade civil, a despeito da crise, e por ela instigada, amplia laços de cooperação no trabalho, nas escolas, na internet, como teoriza Richard Sennett, para enfrentar o vazio de poder e a ausência do Estado. As iniciativas contam com um largo espectro de ação e diversidade. Não aparecem na mídia, mas nem por isso perdem brilho e rigor.

Imagine-se uma escola no meio do deserto, quase esquecida, dotada de escassos recursos, a que se contrapõe um ousado corpo docente. Passadas dezesseis portas de ferro, segue um caminho cercado de estreitos e compridos pavilhões, onde ressoam “gritos, preces, maldições”.

Um verdadeiro oásis emerge das vísceras do presídio de Bangu 3, cujas penas ultrapassam duzentos anos.

Preservo o nome da escola e exalto o trabalho dos professores, dentro e fora da sala, na biblioteca, o laboratório de computadores off-line e o surpreendente ateliê. As pinturas são fortes, dotadas de um acento expressionista, na paisagem da terra ancestral, na ambiência de um mundo pobre e reinventado. Nas cores intensas como as de um velho calendário, cujos dias passam entre morte e renascimento. Vi no ateliê um Manet selvagem, um Degas rude e naïf, uma pequena história da “arte bruta” e seus derivados. Não fui até lá para apreciar os quadros, mas para alcançar, através deles, uma biografia, uma atmosfera de quando eram meninos sem casa, sem escola ou quintal.  Recuperar as biografias anônimas de nossos irmãos torna-se urgente. Compreender o passado para fundar novos tempos verbais.

Dois jovens, voz e violão, cantam Toquinho. Os livros e um conjunto de origamis. A leitura nas escolas carcerárias ultrapassa a média nacional. Muitos vieram das ruas e só na prisão descobriram sabão, mesa e talheres. “Quando sair daqui, vou ser jornalista” diz Jorge.  “Prefiro matemática”, confessa Antônio, “ajudo os colegas a calcularem o tempo que falta para o fim da pena”.

Tantas gerações condenadas ao crime, dotadas de talento, habilidade e inteligência. Quem pagará a conta de tal desperdício? Quando foi que perdemos a potência criadora desses jovens, marcados pela fome e o abandono, atraídos pela vida curta e rentável do tráfico de drogas, exilados, quem sabe, do futuro?

A reposta é demasiado complexa e nela estamos implicados até o coração. Admitida a hipótese, devemos ampliar a matrícula das escolas prisionais, dobrar o número de professores, construir salas de aula. Não podemos condenar duas vezes. O drama social não se resolve na masmorra.

Juntos, lado a lado, numa dinâmica de cooperação, com a reconquista do território, boa parte do Brasil pode ensaiar novas bases democráticas.
     
O Globo, 06/12/2017
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Marco Lucchesi - Sétimo ocupante da cadeira nº 15 da ABL, eleito em 3 de março de 2011, na sucessão de Pe. Fernando Bastos de Ávila, foi recebido em 20 de maio de 2011 pelo Acadêmico Tarcísio Padilha.

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ITABUNA CENTENÁRIA PELA SUA SAÚDE: Auto defesa - Auto proteção

Como se proteger das energias negativas


“Todos nós sabemos que as energias negativas são uma das maiores preocupações do ser humano”. Procurar fugir delas é besteira. Ela nos alcança em qualquer lugar do planeta. Mas, podemos nos defender, começando a tomar uma série de atitudes e providências. Conheça diversas dicas para começar a combatê-las.

Não temer ninguém: Uma das armas mais eficazes na subjugação de um ser é impingir-lhe o medo. Sentimento capaz de uma profunda perturbação interior, vindo até a provocar verdadeiros rombos na aura, deixando o indivíduo vulnerável a todos os ataques. Temer alguém significa colocar-se em posição inferior, temer significa não acreditar em si mesmo e em seus potenciais. Temer significa falta de fé. O medo faz com que baixemos o nosso campo vibracional, tornando-nos assim vulneráveis às forças externas. Sentir medo de alguém é dar um atestado de que ele é mais forte e poderoso. Quanto mais você der força ao opressor, mais ele se fortalecerá.

Não sinta culpa: Assim como o medo, a culpa é um dos piores estados de espírito que existem. Ela altera nosso campo vibracional, deixando nossa aura (campo de força) vulnerável ao agressor. A culpa enfraquece nosso sistema imunológico e fecha os caminhos para a prosperidade. Um dos maiores recursos utilizados pelos invejosos é fazer com que nos sintamos culpados pelas nossas conquistas. Não faça o jogo deles e saiba que o seu sucesso é merecido. Sustente as suas vitórias sempre!

Adote uma postura ativa
: Nem sempre adotar uma postura defensiva é o melhor negócio. Enfrente a situação. Lembre-se sempre do exemplo na natureza: quem tem medo de algum animal e sai correndo, fatalmente será perseguido e mordido. Já quem mantém a calma e contorna a situação pode sair ileso. Ao invés de pensar que alguém pode influenciá-lo negativamente, por que não se adiantar e influenciá-lo beneficamente? Ou será que o mal dele é mais forte que o seu bem? Por que será que nós sempre nos colocamos numa atitude passiva de vítimas? Antes que o outro o alcance com sua maldade, atinja-o antecipadamente com muita luz e pensamentos de paz, compaixão e amor.

Fique sempre do seu lado: A maior causa dos problemas de relacionamentos humanos é a "Auto-Obsessão". A influência negativa de uma pessoa sobre outra sempre existirá enquanto houver uma ideia de dominação, de desigualdade humana, enquanto um se achar mais e outro menos, enquanto nossas relações não forem pautadas pelo respeito mútuo. Mas grande parte dos problemas existe porque  não nos relacionamos bem com nós mesmos. 'Auto-Obsessão' significa não se gostar, não se apoiar, se auto-boicotar, se desvalorizar, não satisfazer suas necessidades pessoais e dar força ao outro, permitindo que ele influencie sua vida, achar que os outros  merecem mais do que nós. Auto-obsediar-se é não ouvir a voz da nossa alma, é dar mais valor à opinião dos outros. Os que enveredam por esse caminho acabam perdendo sua força pessoal e abrem as portas para toda sorte de pessoas dominadoras e energias de baixo nível. A força interior é nossa maior defesa.

Suba para posições elevadas: As flechas não alcançam o céu. Coloque-se sempre em posições elevadas com bons pensamentos, palavras, ações e sentimentos nobres e maduros. Uma atmosfera de pensamentos e sentimentos de alto nível faz com que as baixas energias que têm pequeno alcance, não o atinjam.

Feche-se às influências negativas: As vias de acesso pelas quais as influências negativas podem entrar em nosso campo são as portas que levam à nossa alma, ou seja, a Mente e o Coração. Além de manter o coração e mente sempre resguardados das energias dos maus pensamentos e sentimentos, fuja das conversas negativas, maldosas e depressivas.  Evite lugares densos e de baixo nível. Quando não  puder ajudar, afasta-se de pessoas que não lhe acrescentam nada e só o puxam para o lado negativo da vida. O mesmo vale para as leituras, programas de televisão, filmes, músicas e passatempos de baixo nível.

Para ser feliz você não precise de emoções extremas.
VOCÊ É FILHO DE DEUS. O QUE MAIS VOCÊ PRECISA?



Enviado por:  “Gotas de Crystal” gotasdecrystal@gmail.com

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ISRAEL, JERUSALÉM E TRUMP: A ESPANTOSA IGNORÂNCIA (OU MÁ-FÉ) DA MÍDIA MAINSTREAM

8 de dezembro de 2017

O texto abaixo anda circulando pelas redes sociais, mas infelizmente não sei quem é o autor. Compartilho com o meu leitor pois ele traz bons argumentos e questionamentos, que não veremos na grande imprensa, quase toda ela dominada pelo viés esquerdista anti-Israel, antiamericano e, acima de tudo, anti-Trump.

Vendo as notícias desesperadas da mídia sobre o reconhecimento de Jerusalém como capital de Israel e os comentários dos “especialistas”, só há uma palavra para definir: PATÉTICO.

Pelo tom, pelas falas, pelas caras, parece que teremos o apocalipse. Uma bomba atômica no Irã não causa tal preocupação. Idem, os mísseis da Coreia do Norte. As lideranças mundiais pareciam recém desembarcadas de Marte, porque as suas declarações não tinham a mínima base na realidade e denotavam uma surpresa e temor completamente infundados.

O presidente da Turquia (que não faz fronteira com Israel) e que é furiosamente antissemita, protestou. Disse que a decisão vai beneficiar grupos terroristas (que ele, aliás, apoia, como o Hamas)…. alguma surpresa? esperavam que ele gostasse? para completar o ridículo, ele ameaçou cortar relações com Israel (e não com os EUA….)

O papa, um total desastrado em política externa, que chamou Mahmoud Abbas de “homem de paz”, disse que os direitos de todos deveriam ser respeitados. Desde quando os direitos de todos são respeitados nos locais sob soberania islâmica? Desde quando os árabes reconhecem o direito dos judeus de ter seu Estado?

Os líderes europeus falaram em “prejuízo às negociações de paz”…. como assim, há negociações ocorrendo ou mesmo marcadas? Há anos ninguém senta na mesa para discutir nada. O que eles não têm coragem de dizer é uma única coisa: têm medo que os árabes fiquem furiosos e cometam mais atentados do que já cometem. Só não dizem para não serem politicamente incorretos e acusados de islamofóbicos. Eles sabem que os países árabes não vão romper tratados nem declarar guerra; sabem que não haverá boicote petrolífero; então têm medo mesmo é do terrorismo islâmico, que ganharia mais um pretexto (como se precisassem de algum).

Theresa May e o Secretário-Geral da ONU disseram que o futuro de Jerusalém deveria ser decidido pelos dois lados (judeus e palestinos). Alguém pode avisá-los que os palestinos não aceitam negociar a paz e nem reconhecer Israel, e que há 70 anos, ou seja, independente da decisão americana de hoje, os árabes estão decididos a destruir Israel?

A Liga Árabe protestou também. Mas não é esta entidade que desde 1967 segue a política dos Três Nãos (Não à paz com Israel , Não ao reconhecimento de Israel, Não a negociações com Israel)? Curiosamente, os países árabes mais importantes em relação ao problema (Arábia Saudita, Jordânia e Egito) deram declarações protocolares, sinalizando que está-se fazendo muito barulho por nada…

O Irã protestou… mas esse país já não planeja destruir Israel, independente de qualquer coisa?

O Hamas disse que a decisão de Trump sepulta a solução de dois Estados… desde quando o Hamas defendia isso, dois Estados???? Até hoje, defendia a destruição de Israel e continua defendendo. O que fará o Hamas? Jogará foguetes e praticará atentados? Por favor, me contem uma novidade…

Uns dizem que os EUA perderão a capacidade de serem mediadores do processo de paz porque tomaram partido de um dos lados. Até onde eu sei, os EUA já eram aliados de Israel. Além disso, quem vai substituir os EUA? E se aparecer alguém para esse papel, que ótimo! A paz é o maior sonho de Israel, desde que foi criado.

Outros dizem que vai aumentar a instabilidade no Oriente Médio? Como assim? Vai surgir uma outra guerra para rivalizar com a da Síria? Ou com a guerra do Iêmen? Outro grupo surgirá para ocupar o espaço do Estado Islâmico? O Hezbollah vai, finalmente, assassinar o primeiro-ministro do Líbano? O que isso tem a ver com Jerusalém?

Há os que dizem que pode despertar a fúria palestina e levar até mesmo a uma nova intifada. Já não houve duas, sem o reconhecimento de Jerusalém como capital? Ou seja, não é preciso nada disso para fazerem uma intifada. Terrorismo? Israel já convive com isso desde antes da sua criação…

Demétrio Magnoli superou-se: disse que o reconhecimento é uma vitória de Netanyahu, mas não de Israel, como se o governo israelense não tivesse legitimidade ou os cidadãos de Israel, em geral, não apoiassem a decisão de Trump….desde a eleição de Trump, desconfio que ele está tendo alucinações.

Nenhum desses atores reclamou ou protestou quando a Unesco adotou decisões malucas contra Israel, reconhecendo a suposta ligação de Jerusalém com o Islã e negando a ligação entre os judeus e a cidade conquistada pelo Rei Davi há 3000 anos, 14 séculos antes do surgimento do islamismo…

Não é demais lembrar que, embora haja uma ligação religiosa entre muçulmanos e Jerusalém, a cidade é citada no Velho Testamento 619 vezes e NENHUMA no Corão. A parte leste, onde estão os monumentos religiosos, esteve sob soberania árabe por 19 anos (entre 1948 e 1967). Era um centro de peregrinação muçulmana? Não. Foi alvo de cuidados, com restauração dos monumentos? Não, ao contrário, muitos foram vilipendiados. Havia liberdade de culto para todas as religiões? Não. Na verdade, toda a pressão árabe em cima do tema tem apenas um objetivo: chantagear Israel, em razão da importância espiritual da cidade para os judeus. É, simplesmente, para “criar caso”, porque nunca deram efetiva importância à cidade como centro religioso. Na verdade, é um empecilho para a paz. Sem esse trunfo, talvez eles passem a negociar seriamente, porque perdem o instrumento de chantagem.

Também é importante lembrar que o desejo dos judeus de ter um Estado era tão grande que aceitaram a partilha da ONU, mesmo sem Jerusalém. Os árabes é que não aceitaram a criação do Estado judeu, ainda que esse Estado não tivesse a cidade sagrada. Portanto, o problema dos árabes não é Jerusalém, pouco importa em qual mão ela esteja. É a existência de Israel, que se recusam a aceitar. Jerusalém é só o assunto do dia.

Aliás, em 1947 os árabes também protestaram. Ben Gurion não deveria ter declarado a independência?



Economista pela PUC com MBA de Finanças pelo IBMEC, trabalhou por vários anos no mercado financeiro. É autor de vários livros, entre eles o best-seller “Esquerda Caviar” e a coletânea “Contra a maré vermelha”. Contribuiu para veículos como Veja.com, jornal O Globo e Gazeta do Povo. Preside o Conselho Deliberativo do Instituto Liberal.

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PALAVRA DA SALVAÇÃO (56)

2º Domingo do Advento - 10 de Dezembro de 2017

Evangelho - Mc 1,1-8
Endireitai as estradas do Senhor.
+ Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos 1,1-8

Início do Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus.
Está escrito no livro do profeta Isaías: “Eis que envio meu mensageiro à tua frente, para preparar o teu caminho.
Esta é a voz daquele que grita no deserto: 'Preparai o caminho do Senhor, endireitai suas estradas!’''
Foi assim que João Batista apareceu no deserto, pregando um batismo de conversão para o perdão dos pecados.
Toda a região da Judéia e todos os moradores de Jerusalém iam ao seu encontro. Confessavam os seus pecados e João os batizava no rio Jordão.
João se vestia com uma pele de camelo e comia gafanhotos e mel do campo. E pregava, dizendo:
'Depois de mim virá alguém mais forte do que eu. Eu nem sou digno de me abaixar para desamarrar suas sandálias. Eu vos batizei com água,
mas ele vos batizará com o Espírito Santo.'

Palavra da Salvação.
- Glória a Vós, Senhor!

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Ligue o vídeo abaixo e acompanhe a reflexão do Pe. Paulo Ricardo:
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Advento: as vozes que fazem a diferença

“Esta é a voz daquele que grita no deserto” (Mc 1,3)


Advento é um tempo que se revela como uma espécie de respiro, um tempo para distanciar-nos do conflito de ideias, interesses e especulações que acabam por alterar a tranquilidade e a paz de nosso interior. Este é um tempo sagrado e um tempo de silêncio, muito necessários para o momento em que vivemos. Um silêncio que não é isolamento, mas capacidade de escuta; algo assim como desconectar o auricular, no qual permanentemente soam as músicas “interesseiras”, para escutar as músicas ambientais; um silêncio que não é só ausência de palavras, mas ocasião para dar a possibilidade a palavras diferentes e novas; um silêncio que é superação do palavreado crônico que nos esvazia por dentro.

A “voz que grita no deserto” é a do profeta vestido pobremente, que nos prepara um coração compassivo e reconciliado. Aquele que saltou de alegria no ventre de sua mãe diante da voz da jovem de Nazaré, nos rompe, com sua voz, a surdez do coração e nos força a abrir os olhos para ver, de maneira nova e diferente, Aquele que sempre se aproxima.

O Batista é só uma voz; não é a Palavra. Mas não é uma voz qualquer, não é mais uma voz entre tantas outras; é a voz que faz a diferença: ela des-vela e re-vela. Des-vela a dureza do coração daqueles que não se abrem à novidade do Deus que “continuamente vem em sua direção”; revela a presença d’Aquele que com sua Palavra destrava a voz dos sem voz, ativando e despertando a dignidade escondida sob o peso das “vozes que desumanizam”, sejam elas políticas ou religiosas.

O tempo litúrgico do Advento nos possibilita renovar uma atitude tão escassa e tão necessária em nossa cultura: escuta das vozes frágeis do nosso entorno; são as vozes dos tristes, dos deprimidos, dos cansados e tantas outras vozes que se encontram nas margens sociais e religiosas. Essa escuta nos conduz à voz frágil d’Aquele menino Deus que sempre quer nascer onde há necessidade de mudança, de busca, de melhora, de um novo começo.

Mas o Advento também nos faz mais sensíveis para captar as vozes frágeis de nossa interioridade; elas querem se expressar, mas não encontram ambiente favorável, devido aos ruídos e sons estridentes que nos ensurdecem. Dentro de nós há muitos sentimentos reprimidos, experiências bloqueadas, vivências rejeitadas, pensamentos atrofiados... buscando uma oportunidade para se fazerem ouvir; são “vozes caladas”, “vozes que gritam no deserto interior”, procurando encontrar gretas de nossa existência por onde respirar. É preciso criar silêncio para ouvi-las, dialogar com elas e assim poder restabelecer um equilíbrio ecobiológico interior.

Há um rumor em nossa interioridade, e disso temos medo, pois desvelam nossa real identidade. O pensador Pascal dizia que “a infelicidade do ser humano vem de uma só coisa, que é não saber permanecer quieto em seu quarto”. Verdadeiramente há um rumor de vigor e de vida no coração, como a melodia da fonte na aridez do deserto, que é capaz de pacificar nosso espaço interior. Há um momento em que uma frágil voz sem palavras nos alcança no ponto mais vivo e original de nossa existência.

É o rumor que brota da provocação de uma palavra escutada como aquela de João Batista: “preparai o caminho do Senhor, endireitai suas estradas!” É a estrada mesma da vida que passa pelos meandros do coração. Por ali transita o Espírito de Deus, que ora grita, ora sussurra, dependendo da nossa sintonia ou não com sua presença.

Sentados às margens das estradas ou de um riacho silencioso de nossas vidas, podemos atingir experiências imprevistas e surpreendentes, ou reconhecer, através do murmúrio das águas, “vozes novas” que nos incitam a peregrinar em direção às regiões desconhecidas do nosso próprio interior. Só assim, poderemos vislumbrar o outro lado e tocar as raízes mais profundas que dão sentido e consistência ao nosso viver.
Estamos mergulhados num mundo de vozes; um “vozerio” nos cerca: vozes que nos levam à morte, vozes que nos chamam à vida; vozes contaminadas pelo egoísmo, adulteradas pelo medo, deturpadas pela impureza, e vozes que são o eco do paraíso convidando para a festa, comunicando paz, convocando à comunhão... É possível que as vozes do egoísmo, do orgulho e da ambição tentem se disfarçar em voz do Batista, a fim de arrastar-nos para o vazio e a ruína.

Mas o Espírito não fala por ruídos, e sim pelo silêncio; não fala pela força dos pulmões, e sim pelo vento suave de sua voz inconfundível. Para escutá-la, requer-se interioridade e atenção aos sinais de sua presença: pode ser a voz de um irmão pedindo socorro; pode ser a linguagem de um acontecimento alegre ou triste; pode ser uma palavra lida ou proclamada; pode ser uma inspiração misteriosa captada no silêncio...

Sentimos a ressonância da voz do Espírito na oração, na atividade, ao ver um noticiário, ao dar um abraço, ao ler um livro, ao ouvir uma canção, ao contemplar um quadro, fazendo um passeio, escutando alguém que nos fala de sua vida...; sua presença ressoa na história e na imaginação convidando-nos a sonhar um futuro melhor; sua atuação ressoa nos encontros humanos, reconstruindo os laços rompidos; sob seu impulso ganham consistência, em cada um de nós, as atitudes que nos levam a viver com mais plenitude: compaixão, justiça, verdade, amor... No silencioso sussurro de Sua voz toda realidade interior fica abençoada: os sentimentos contraditórios, os dinamismos opostos... Ele “desce” para encontrar-nos e despertar nossa vida atrofiada. Com seu toque, uma identidade nova ressurge: não seremos mais estrangeiros, nem inimigos de nós mesmos. Sua presença dá calor e sabor à nossa existência.

Na arte do discernimento das vozes, o importante é, através da escuta interior, perceber de onde vem e para onde nos conduz cada voz que ressoa em nós. Se ela nos conduz para o outro, para o serviço, para o Reino...é clara manifestação da voz do Mestre. Isto dá uma profundidade especial ao nosso caminhar, nos desvela uma riqueza humana escondida em nosso interior, nos dá uma alma de poetas, capazes de dar nome ao mistério. “Endireitar as estradas interiores” é apaixonante, pois no situa no caminho de uma humanização mais verdadeira e profunda e dilata nosso coração. Somos advento; cuidemos, pois, de nossa vida interior!

Texto bíblico:  Mc 1,1-8

Na oração: Espirituais somos todos, se deixarmos que, dentro de nós, o Espírito de Deus encontre espaço livre para mover-se, sussurrar e suscitar inquietações. Ao habitar-nos, o Espírito não nos invade, nem se impõe.
Se abrirmos espaço à sua presença, brota uma sadia convivência que potência o melhor em nós mesmos, sensibiliza nosso coração e abre os sentidos para que fiquem mais alertas e sintonizados com as surpresas que brotam da vida.
- Recordar (lembrar com o coração) dimensões da vida que precisam ser ampliadas a partir da vivência do Advento.

Pe. Adroaldo Palaoro sj

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