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terça-feira, 20 de novembro de 2018

A ARTE DA DELEGAÇÃO por Joaci Góes


A arte da delegação

 Ao advogado e querido amigo Rubens Pessoa.

Pela qualidade da equipe que vem escalando, pode-se afirmar, sem risco de contestação, que o Presidente Jair Bolsonaro é um discípulo exemplar do megaempresário norte-americano, nascido na Escócia, Andrew Carnegie (1835-1919), considerado o expoente das boas técnicas de delegação que o levaram de rapaz pobre a um dos homens mais ricos do mundo, liderando em campos vitais como a exploração de petróleo e produção de aço. 

O epitáfio por ele escrito, para encimar o seu túmulo, reza: “Aqui jaz um homem que soube se cercar de pessoas melhores do que ele próprio”. Ao dividir o exercício do poder com gente do calibre de Sérgio Moro e Paulo Guedes, Bolsonaro segue, também, a avaliação de Carnegie, segundo quem “Não será líder quem quiser fazer tudo solitariamente, ou ganhar todos os créditos pelas conquistas alcançadas”.

No processo em curso da formação do Ministério, a cada dia enriquecido com nomes acima de qualquer suspeita, o Presidente eleito vai batendo novos recordes, que se somam aos já conquistados. Com efeito, não se conhece precedente, na história da humanidade de quem tenha chegado ao poder, por via democrática, de modo tão solitário, sem qualquer dos componentes reputados indispensáveis à realização desse difícil e ambicionado mister, como dinheiro, apoio político, apoio da mídia, tempo de televisão. 

A candidatura Bolsonaro, a exemplo do processo de formação dos grandes rios  - que se iniciam por pequenos regatos que se vão acrescendo de novos afluentes -, começou com encontros com pequenos grupos que, convertidos em apóstolos da causa, incorporaram multidões crescentes, que desembocaram com força indomável no largo oceano da adolescente, mas sólida, democracia brasileira. Albert Einstein cunhou uma reflexão que explica o fenômeno Bolsonaro: “Há uma força motriz mais poderosa do que o vapor, a eletricidade e a energia atômica; é a força da vontade”.

Não se conhece, igualmente, na história brasileira, na linha dos ensinamentos de Andrew Carnegie, precedente de quem haja, tão voluntariamente, fracionado o próprio poder, atraindo para sua equipe, sem medo de sombras, nomes que usufruem do mais alto prestígio dentro e fora do País. Até então, quem mais havia realizado, no particular, foi o Presidente Rodrigues Alves que só aceitava, para compor o seu ministério, quem, segundo seu juízo, dispusesse de atributos para exercer a Presidência da República.

No plano estadual, o saudoso governador de São Paulo, Franco Montoro, valeu-se desse saudável princípio, só convidando para compor o seu secretariado quem tivesse atributos para governar o seu grande Estado. Sinal, indisfarçável, de confiança e vocação para a grandeza. O resto é preconceito ou despeito dos que querem o aumento das agruras do povo brasileiro, desde que isso os conduza de volta ao poder de que foram defenestrados por excessos de descompostura na gestão do interesse público.

Os brasileiros, em geral, sobretudo os que integram o partido do quanto pior melhor, também, deveriam seguir o sábio e definitivo conselho de Andrew Carnegie: “À proporção que amadureço, presto menos atenção no que as pessoas dizem, e passo a atentar no que fazem”.

É mais do que hora de reconhecermos o excelente começo do novo Presidente, deixando de enfatizar o que de impróprio ele haja dito e focar no que ele está fazendo. Desejar-lhe boa sorte é o mesmo que desejar boa sorte ao Brasil. Torcer contra o novo governo é torcer, sobretudo, contra as populações mais carentes do nosso desditoso País!

Sobre a discutida decisão do juiz Sérgio Moro ao aceitar ser Ministro da Justiça, ficamos com a conclusão expressa em vídeo que circula mundo afora: - Sérgio Moro não deixou a Justiça para ingressar na política (com minúscula); ele ingressou na Política (com maiúscula) para fazer JUSTIÇA.


Joaci Góes

15/11/2018, no jornal A Tribuna da Bahia.

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ABL: MARIO GUERREIRO, PROFESSOR E FILÓSOFO, FAZ NA ABL A SEGUNDA PALESTRA DO CICLO ‘O BARROQUISMO BRASILEIRO’



A Academia Brasileira de Letras dá continuidade a seu ciclo de conferências do mês de novembro de 2018, intitulado O barroquismo brasileiro, com palestra do professor, filósofo, escritor e pesquisador Mario Guerreiro. O tema escolhido para sua palestra será Persuasão ou convencimento? O evento foi realizado na quinta-feira, dia 8 de novembro, no Teatro R. Magalhães Jr., Avenida Presidente Wilson 203, Castelo, Rio de Janeiro.

Foram fornecidos certificados de frequência.

A Acadêmica Ana Maria Machado é a Coordenadora-Geral dos ciclos de conferências de 2018.

Sobre a conferência, Mario Guerreiro adiantou: “Está em jogo a Teoria da Argumentação no contexto da Filosofia de Platão em que os conceitos de persuasão e de convencimento desempenham um papel crucial. Procuramos compreender a natureza da polêmica entre Sócrates e os sofistas considerada paradigmática de todos os desempenhos argumentativos em que é o caso da conquista do assentimento do interlocutor, quer se trate do discurso da Filosofia, do Direito, da Política ou em qualquer outro lugar em que haja diálogo e argumentação”.

O ciclo terá mais duas palestras nas quintas-feiras de novembro, no mesmo local e horário, com os seguintes dias, conferencistas e temas, respectivamente: dia 22, Nelson Jobim, O juridiquês como legado barroquista; e 29, Denise Maurano, A arte e a alma barroca brasileira.


O CONFERENCISTA

Mario Antonio de Lacerda Guerreiro nasceu no Rio de Janeiro em 1944. Doutorou-se em Filosofia pela UFRJ em 1983. Foi professor do Departamento de Filosofia da UFRJ. Ex-pesquisador do CNPq; ex-membro do ILTC [Instituto de Lógica, Filosofia e Teoria da Ciência], da SBEC [Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos]; e membro fundador da Sociedade Brasileira de Análise Filosófica.

Autor de Problemas de Filosofia da Linguagem (EDUFF, Niterói, 1985); O Dizível e O Indizível (Papirus, Campinas, 1989); Ética Mínima Para Homens Práticos (Instituto Liberal, Rio de Janeiro, 1995). O Problema da Ficção na Filosofia Analítica (Editora UEL, Londrina, 1999). Ceticismo ou Senso Comum? (EDIPUCRS, Porto Alegre, 1999). Deus Existe? Uma Investigação Filosófica (Editora UEL, Londrina, 2000). Liberdade ou Igualdade? (EDIPUCRS, Porto Alegre, 2002) Apresentou 78 comunicações em encontros acadêmicos e publicou 49 artigos.

01/11/2018

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POEMAS DO NEGRO Por Cyro de Mattos (DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA)

Poemas do Negro
Cyro de Mattos

Abolição

Na zoeira do terreiro
Batucam que batucam
Tambores sem cambão.

Trepidam nesses punhos
O suor, a lágrima, o sangue
Nos rastros do negro fujão.

Todos batem nesse tambor,
Pode até não ser de fato
A tão esperada abolição.

Mas é o começo duma hora
Que se faz tão grandiosa
Como o verde na amplidão.

 África agora é uma só voz
Na esperança das manhãs
Sem o ferro do vilão.

..........

Canga

Não se logra extrair
Os ossos dessa massa,
Os músculos mutilados
No esforço dos anos.
Tuas mãos, escravas,
Alimentadas na turva
Ferida, dor sem cura.

A atrocidade no ferro
Que furou o coração,
 A enchente na vala
Que transbordou de mágoa,
Nuvens não tocadas. 
Nunca será paga a conta
Na mancha que envergonha.

Como herança os rastros
Dessa noite escura na pele
Que te lança nos muros,
Agarra-te  nas  manhãs
Com sua claridade vista
Apenas pelos não pretos.
Até quando barreiras
De tua  cor opaca farão
Da vida  uma coisa qualquer, 
Desigual, desvão sem canto?

................

Pelourinho

Como suportar?
Treze... trinta... cinquenta...
Até o último gemido.

Os outros olhando
Cada chibatada. Tristes,
Sem nada fazer.    

Ladeiras gastas.
E esse vento que recusa  
Ao largo a desgraça.

..........

Escravo

Uma mão
Feito casca
Não lava
A outra
Feito lixa.

Ásperas
As duas
Feito bucha
Limpam
As duas
No esmero
Do senhor.

Limpam
As sobras
Ou  largura
Depois de lá
De dó em dó.

Perto
De o dia
Clarear
Até o sol 
Morrer.

...............
Zumbi

Falo Zumbi,
Digo Palmares,
Ritmo da liberdade.
Falo Zumbi,
Digo Palmares,
Batuque da igualdade.
Falo Zumbi,
Digo Palmares,
Manual da fraternidade.
Falo Zumbi,
Digo Palmares
Sem o açúcar insaciável.
Falo Zumbi,
Digo Palmares,
Gente em grito, indignada.
Falo Zumbi,
Digo Palmares,
No abismo a África salta.

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Cyro de Mattos é jornalista, cronista, contista, romancista, poeta e autor de livros para crianças. Publicado em Portugal, Itália, França, Espanha, Alemanha, Rússia, Dinamarca, México e Estados Unidos. Premiado no Brasil, Portugal, Itália e México. Membro efetivo da Academia de Letras da Bahia, Academia de Letras de Ilhéus e Academia de Letras de Itabuna. Doutor Honoris Causa pela Universidade Estadual de Santa Cruz.

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