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quarta-feira, 13 de setembro de 2017

FLOR DE LIS – Oscar Benício dos Santos

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Flor-de-lis
Para Eglê Machado


Vês, aquela flor-de-lis,
que você pensou colhê-la,
depois desistiu não quis
conformou-se só em vê-la? 

Não é uma, são flores sutis,
que luzem como uma estrela
num céu triste quase gris,
que não tem como contê-la! 

Roseiras já criam buquê,
que colho para você
prendê-lo no cabelo. 

Não precisa a flor-de-lis
só, pra fazê-la feliz,
basta a Eros – meu apelo. 


Oscar Benício Dos Santos
Bahia


* * *

A ACADEMIA DOS REBELDES - Jorge Amado


A Academia dos Rebeldes


Procuro num milagre de imaginação, reviver no dia de hoje o  adolescente magro, membro da Academia dos Rebeldes, na Bahia, nos anos de 1928 a 1930. Pequeno aprendiz de escritor em cerrada fita com outros de sua idade e condição, levantava-me em imprecações contra a Academia Brasileira e toda a literatura de então, disposto a arrasar quanto existia, convencido de que a literatura começava com a minha incipiente geração, nada devendo-se fizera antes do nosso aparecimento, nenhuma beleza fora criada,  nenhum resultado obtido. Que diria o jovem de dezesseis anos, assombrado ante a vida e o mundo, solto ao mistério da Bahia, ao ver o quase cinquentão de hoje, envergando fardão, espadim e colar acadêmico. Dentro de mim, senhores, neste coração que resiste a envelhecer, ouço o riso moleque do rebelde um busca de caminho. Rio-me com ele, não há entre nós oposição, não existem divergências fundamentais entre o menino de ontem e o homem de hoje, apenas um tempo intensamente vivido. São muitos homens em diversas idades a encontrarem-se nessa tribuna somados num homem maduro, mas ainda de experiência e vida vivida que de idade.

Posso assim rir um riso bom com aquele velho companheiro o adolescente que eu fui nas ruas e ladeiras da Bahia plenamente jovem e plenamente rebelde. Rebelde e não ainda revolucionário resulta do conhecimento e da consciência.

Aproveito este momento para falar-vos do perigo a pesar sobre esta Academia e vossa glória pelos idos de 1929. Perigo grave e sério não sei se esta instituição chegou a se dar conta de como esteve de morte ameaçada. Porque naquele ano num primeiro andar do Largo do Terreiro de Jesus, na cidade de Salvador, alguns jovens se reuniram e fundavam a Academia dos Rebeldes. Alguns desses moços são hoje nomes conhecidos e admirados: o poeta Sosígenes Costa, o contista Dias da Costa, mestre Edison Carneiro. Outros não puderam completar sua cara vocação de escritor, levados uns pela morte, como o romancista João Cordeiro, outros pela vida, como o poeta Alves Ribeiro ou o romancista Clóvis Amorim.

Acolhera rebelde Academia num gesto talvez impensado, uma sala destinada a sessões espíritas, atmosfera mística e misteriosa, com um retrato de Alan Kardec e um obsessionante desenho de almas transmigradas a impressionar nossas desabrochadas imaginações. Nosso programa era simples, efetivo e imenso: arrasar definitiva e completamente o já existente e construir o monumento de nossa literatura. Meta primeira alcançar a Academia Brasileira, substituí-la por nossa Academia de Rebeldes. Saímos de nossa primeira reunião eufóricos e convencidos: seria assunto de pouco tempo o fim da Academia inimigo e a pujança de literatura que transpirava por todos os poros.


(TRECHO DO DISCURSO DE POSSE NA ABL)
 Jorge Amado

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Jorge Amado - Quinto ocupante da Cadeira 23 da ABL, eleito em 6 de abril de 1961, na sucessão de Otávio Mangabeira e recebido pelo Acadêmico Raimundo Magalhães Júnior em 17 de julho de 1961. Recebeu os Acadêmicos Adonias Filho e Dias Gomes.

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DEZ ANOS APÓS TUA PARTIDA – Geraldo Maia

Dez anos após tua partida

Já terás esquecido as palavras duras que te

Disse pela internet quando me abandonaste de súbito
E me excluístes definitivamente de tua vida
E já terás casado com teu amante e juntos contemplam
os filhos que tanto quiseste ter comigo antes
De me traíres com todo o teu poder de aço
Teus filhos nunca saberão daquele dia em que
Foste fazer uma inocente visita de alguns dias
à tua amiga de infância que na verdade era
apenas uma cafetina para te agenciar na nova 
profissão que escolhestes e que nada
te cobrou pelo parente que agenciou para ti
Teus filhos nunca saberão que em tua nova casa
Fizeste sexo com gosto de culpa e gelo
Logo após gozares o teu falso amor comigo
Teus filhos nunca saberão que teu
amante te anestesiou com cédulas de 
sedução assim que o beijastes com um gosto 
de restos de passado e covardia
E então fostes a mais feliz das mulheres
Aquela que nunca conseguistes ser comigo
A não ser quando mentias em nossa cama
Apenas pelo prazer com que a mentira fere
Eu sei que meu nome nunca será
Pronunciado em tuas noites de solidão
e remorso nem teu sorriso iluminará o abismo
onde jogastes teu coração para bem longe do meu 
que cuidava das feridas em teus olhos 
fatigados de trevas e violências
Mas agora todas as instâncias de ser
feliz te contemplam na sala de jantar
onde serves o alimento de tua felicidade
e recebes o pagamento que nunca te cabe
a não ser quando cospes enojada o que
restou de mim em tua memória aturdida
por ter sido eu tão cruel com tua frágil
canção de mentiras que ainda pesa em tua 
alma a dureza da sentença com 
que me executastes 
E nessa altura teus filhos já devem
estar bem crescidos e lindos como são
os filhos do nosso cansaço e medo
Não te culpo por fugires das ameaças
da noite em que estavas enterrada desde
que te acostumaste com os látegos
que te oprimiam o voo para o infinito
Agora são teus filhos que te devolvem a
Infância nas brincadeiras de viver
e nas cantigas de tecer o sonho
Teus filhos se tornaram os personagens
principais de tuas histórias de esquecer
Posso até sentir daqui de bem longe
o ritmo de suas asas ensaiado o tempo
E o calor de tua carícia embalando as
primeiras sílabas da manhã
E quando o teu amante chega do 
trabalho estás com tua nudez requentada
e logo servida com respingos de razão
Nesses momentos dirás para ti mesma
que valeu a pena a dor inevitável do abandono
Afinal alguém teria que sofrer e portanto 
soaria como uma dádiva ou o álibi perfeito
que tua vitória crava em teu sorriso 
e quanto mais o teu amante te penetre 
o pântano de tuas certezas mais feliz te sentes
sem o meu pranto explodindo tuas defesas
e reduzindo a razão a um monte de 
consciência estragada e retorcida
Depois de dez anos está já bem
consolidada a tua feliz farsa e 
podes olhar para teus filhos por trás
dessa fortaleza de indiferença que te
sustenta como se fossem pedaços
de mentiras recém nascidas
com um leve sabor de saudade.


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Geraldo Maia, poeta
Estudou Jornalismo na instituição de ensino PUC-RIO (incompleto)
Estudou na instituição de ensino ESCOLA DE TEATRO DA UFBA
Coordenou Livro, Leitura e literatura na empresa Fundação Pedro Calmon
Trabalha na empresa Folha Notícias.

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