A Fazenda Boa Vista
Uma velha
barcaça perdida no meio do mato, e algumas casinhas feitas de sopapo. Era tudo
o que havia na Fazenda Boa Vista, hoje Salobrinho. Nos idos de 1952 era quase
que impossível notar-se a existência de casas naquela localidade, até que a “descoberta”
de uma suposta jazida veio despertá-la de um sono letárgico, porque com aquele evento outras casas foram surgindo e espalhando-se em meio ao matagal.
Tal
episódio contribuiu efetivamente para atrair centenas de retirantes que, ao
tomarem conhecimento do “minério”, passaram a procurar aquela fazenda em
busca de trabalho.
Trataremos
inicialmente de JOÃO FRANCISCO DE CARVALHO, ele que fora o proprietário daquela
fazenda. Dele, sabemos muito pouco,
porque quando ali chegamos, já o encontramos velho e debilitado, morando
inclusive numa casinha singela, localizada à margem da rodagem. Lembro-me que,
certo dia, fomos informados de que ele se encontrava enfermo. Fomos visitá-lo,
e lá o encontramos cercado de amigos e parentes. Naquela época, eu devia contar
apenas com seis anos de idade, mas não esqueci um só detalhe da visita, e
confesso que aquela foi a única, e a derradeira vez que tive a oportunidade de
vê-lo, porque logo depois ele viria a falecer, deixando órfãos seis filhos.
Não
chegamos a conhecer a sua esposa,
sabemos apenas que se chamava Sabina, e que era uma cabocla de coração
generoso. Como legítimos herdeiros do espólio, ficaram os filhos que se
dividiam entre três homens e três
mulheres: Antônio, Domingos, Firmino,
Maria, Albertina e Vitória.
Antônio,
por ser o mais velho passou a gerir os destinos da Fazenda Boa Vista.
Ressalte-se que, Salobrinho mesmo, era a fazenda de Manoel Félix Cardoso, cuja
propriedade divisava com terras de João Francisco de Carvalho.
(Salobrinho - ENCANTOS E DESENCANTOS DE UM POVOADO)
Sherney Pereira
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PREFÁCIO
Sherney de
Souza Pereira é hoje conhecido em toda a Região Cacaueira em consequência de
várias obras publicadas ligadas à literatura de Cordel. É trovador que pertence
àquela plêiade dos chamados repentistas que recebem inspiração das musas e não
está entre aqueles poetas que “vivem beliscando no tinteiro para um soneto
compor”, como diria Catulo da Paixão Cearense.
Sherney é
homem simples e pai de família extremoso. Nasceu à sombra dos cacaueiros,
ouvindo o crepitar das águas do Rio Cachoeira no contato constante com as
pedras existentes no seu leito. Ali, na periferia do Salobrinho, ele aprendeu a
cantar, na sua lira, o amor, a ternura e as belezas naturais.
“SALOBRINHO – ENCANTOS E DESENCANTOS DE UM POVOADO” é livro que se lê
com agrado pela simplicidade do estilo e com grande proveito pelas qualidades
de excelente narrador que o escritor ostenta. Narrações repletas de
sentimentalismo telúrico que resplende aquela visão amorosa do mundo, típica
dos pequenos núcleos comunitários.
O trabalho
de Sherney não é simplesmente obra de improvisação; é trabalho de pesquisa, de
diálogo constante com antigos habitantes daquela parte do Chão de Cacau. É a
primeira obra específica sobre Salobrinho, recanto pitoresco que abriga,
atualmente a Universidade de Santa Cruz. Naquele lugar, a Região erigiu o farol
da sabedoria, fadado a iluminar a grande cultura que se forja no Sul da Bahia.
O autor é
autodidata. Não teve a oportunidade de
frequentar a Universidade que ele assistiu germinar na terra onde sempre
viveu. Ele é, antes de tudo, povo. A sua obra reflete o pensamento e a vivência
popular. Os diversos acontecimentos descritos falam da vida da comunidade
ribeirinha, dos seus encantos, das suas
tragédias e da pureza dos seus filhos.
Trata-se,
de fato, de um Trabalho fascinante.
Prof. Arléo Barbosa
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