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quinta-feira, 22 de setembro de 2016

CYRO DE MATTOS JÁ É O PRIMEIRO DOUTOR HONORIS CAUSA PELA UESC


Momento da outorga: Cyro de Mattos e a reitora Adélia Pinheiro, ladeados pelos professores Reniglei Rehem e Aurélio Macedo

 Por Celina Santos

            O vasto repertório com mais de 50 livros publicados – e traduzidos em diversos países do mundo –, assim como a defesa veemente de valores típicos da cultura sul-baiana. Estes e muitos outros elementos justificam a outorga do primeiro título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc). A honraria, aprovada pelo CONSU (Conselho Superior Universitário), foi concedida ao escritor itabunense Cyro de Mattos, em solenidade na noite de quinta-feira (15), no auditório daquela instituição.
            O evento reuniu professores e estudantes da Uesc; a presidente da Academia de Letras de Itabuna (Alita), Sônia Maron; o presidente da Academia de Letras de Ilhéus, Josevandro Nascimento, imortais das duas instituições, conselheiros da Uesc, devidamente paramentados, entre outras autoridades e demais representantes da sociedade organizada no eixo Itabuna-Ilhéus.
           A madrinha do escritor na entrega do título, professora-doutora Reniglei Rehem, fez um relato emocionado que exaltou a importância de Cyro de Mattos para a literatura regional. Ela lembrou ter todos os livros por ele publicados e, mais do que leitora e admiradora da obra do autor, demonstrou orgulho da amizade que construíram ao longo dos anos.
            Cyro de Mattos, por sua vez, recordou o tempo em que precisou sair de Itabuna para estudar em Salvador, porque à época a região não dispunha de faculdades nem colégios que preparassem para o nível superior. O preâmbulo serviu para evidenciar a importância da Uesc no contexto regional. Para ele, a universidade é um “tesouro que brilha nos olhos de todos por ela atendidos”.
            A reitora Adélia Pinheiro destacou o valor do homenageado que inaugura a outorga de títulos de “Doutor Honoris Causa” e adiantou que os próximos doutores também deverão ter um perfil de defesa da educação e da cultura regionais.

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A verdadeira MUÇARELA, por Sérgio Nogueira

21/03/2016

Já faz um bom tempo que me fizeram uma curiosa consulta: “Professor, é verdade que muçarela se escreve com cê-cedilha?”

Diante da minha resposta afirmativa, a pergunta seguinte foi: “Então, eu devo escrever muçarela com cê-cedilha”?

É claro que sim. Se tive a oportunidade de aprender que é assim que se escreve muçarela, não entendo por que continuar escrevendo “errado”.

Sei muito bem que a maioria escreve “mussarela”, com dois esses. É assim que vemos a palavra escrita em pizzarias, supermercados, cardápios...

Importante, porém, é que você saiba que a grafia oficial é MUÇARELA, pois essa é a forma registrada no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP), publicado pela Academia Brasileira de Letras.

Importante também é você saber por quê.

O Português é uma língua neolatina. Tem sua origem no Latim, assim como o Espanhol, o Francês, o Italiano, o Romeno...

O Português é “a última flor do Lácio”, como escreveu um dia o poeta Olavo Bilac. O Latim era a língua oficial da Roma antiga. Os romanos impuseram sua língua a todos os povos dominados. E isso demorou séculos.

Com a queda e consequente fragmentação do Império Romano, o Latim também se dividiu nas várias línguas neolatinas.

Como bem sabemos, a língua portuguesa chegou ao Brasil em 1.500 com as naus de Pedro Álvares Cabral.

Para nossa surpresa, entretanto, o sistema gráfico só foi oficialmente criado em 1943. Antes disso, várias palavras admitiam dupla grafia: farmácia e pharmacia; Brasil e Brazil, aderir e adherir...

Esse acordo é válido até hoje. Sofreu apenas duas pequenas reformas: uma em 1971 e essa última mais recente. Bem ou mal, é esse o sistema ortográfico vigente, hoje, para a nossa língua portuguesa.


E a muçarela? Que tem a ver com tudo isso?

Simples. O nosso sistema ortográfico estabeleceu que, nas palavras estrangeiras aportuguesadas, o fonema /ce/, diante das vogais “a”, “o” e “u”, deveria ser grafado com cê-cedilha: “ça”, “ço” e “çu”. Em razão disso, é que escrevemos: açaí, miçanga, paçoca (palavras vindas de línguas indígenas e africanas), açúcar (do árabe), praça (do espanhol), palhaço (do italiano)...


Muçarela vem do italiano mozzarella. Os dicionários, num primeiro momento, só registraram mozarela, mas essa forma gráfica nunca se consagrou, provavelmente porque a pronúncia no Brasil não é /mozarela/.

A forma “mussarela”, sem dúvida, é a mais usada e já aparece registrada em alguns dicionários, mas contraria o nosso sistema ortográfico vigente e não está registrada no Vocabulário Ortográfico da ABL.

Assim sendo, oficialmente, gostando ou não, devemos escrever MUÇARELA.

Certa vez, fiz uma pesquisa na internet para ver quantas vezes as palavras muçarela e “mussarela” foram utilizadas. “Mussarela” ganhou de goleada. Isso é representativo e justificaria a dupla grafia.

Num concurso, porém, o que vale mesmo é a MUÇARELA.

Cuidado para não cair em armadilhas!

1ª) Não estrupe a nossa língua.
         O verbo é ESTUPRAR. ESTUPRADOR é quem comete ESTUPRO.

2ª) Não depedre a sala de aula.
         O verbo é DEPREDAR. Quem destrói comete DEPREDAÇÃO. Nada tem a ver com pedras. Jogar pedras é APEDREJAR.

3ª) Não seje infeliz.
         Não seje, nem esteje, muito menos teje. Os verbos SER, ESTAR e TER, no presente do subjuntivo, são: SEJA, ESTEJA e TENHA.

4º) Houveram muitos problemas.
         Pelo visto, mais problemas que se imaginava. O verbo HAVER, com o sentido de “existir ou acontecer”, é impessoal (sem sujeito), por isso só pode ser usado no singular. O certo é “HOUVE muitos problemas”.

5º) Já fazem dez anos que eles viajaram.
         O verbo FAZER, quando se refere a “tempo decorrido”, é impessoal (sem sujeito), por isso só pode ser usado no singular. O certo é “Já FAZ dez anos que...”

6º) Tivemos menas chances.
         Pelo visto, MENOS chances do que se imaginava. A forma menas simplesmente não existe.

7º) Cuidado com os degrais.
         Assim todos caem. O plural de degrau é DEGRAUS, assim como graus, saraus, bacalhaus... A terminação “-ais” é para as palavras terminadas em “-al”: canais, iguais, animais, anuais...

8º) Ele não recebeu os troféis.
         Troféis ninguém merece. O correto é TROFÉUS, assim como chapéus, réus, céus... A terminação “-éis” é para as palavras terminadas em “-el”: papéis, pastéis, quartéis, coronéis, tonéis...

9º) Deixou tudo para mim fazer.
         MIM não faz nada. Antes de verbo, na função de sujeito, devemos o pronome pessoal do caso reto: “...para EU fazer”.

10º) Terá de dividir entre eu e você.
         Assim eu fico sem nada. Não verbo após os pronomes, portanto não exercem a função de sujeito. Em razão disso, devemos usar o pronome pessoal oblíquo: “...entre MIM e você”.



Sérgio Nogueira é professor de língua portuguesa formado em letras pela UFRGS com mestrado pela PUC-Rio. É consultor de português do Grupo Globo.

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