Total de visualizações de página

segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

GENERAL ESCREVE MENSAGEM EM HOMENAGEM A MORO E TEXTO VIRALIZA


"Um brilhante Juiz de Direito que transformou-se no brasileiro mais admirado deste planeta!"

09/12/2019

Caros amigos

Hoje, 09 de Dezembro, Dia Internacional do Combate à Corrupção, compareci à sessão solene da Câmara dos Deputados na qual foi mui justamente homenageado o Ministro Sérgio Moro.

Foi um bálsamo à alma de todos os patriotas presentes ao Plenário Ulisses Guimarães para assisti-lo, impávido e sereno, receber as homenagens dos que discursaram e as ovações dos que os aplaudiram em concordância plena com os louvores e com os agradecimentos que lhe eram dirigidos.

A placidez da sua feição retratava o desapego à soberba, ao aplauso e à aclamação popular para cumprir o seu dever e fazer cumprir a lei.

Sérgio Moro era a visão clara do estadista que se tornou conhecido e admirado por sua coragem física e moral, pela determinação com que estudou suas missões e pela competência com que as tem executado.

Um homem que faz acontecer e que encara a realidade e os riscos sem jactância ou fanfarronices.

Um Ministro de Estado comedido, lógico e racional, avesso ao populismo, à demagogia e à ostentação dos seus próprios feitos e méritos.

Um jurista que se doou à Pátria e que se fez homem público pelo resultado natural do seu trabalho, sem atalhos ou subterfúgios que retratassem qualquer arrependimento ou desajuste profissional.
Um brilhante Juiz de Direito que, ao abrir mão da carreira para desbravar caminhos para os que pretendessem segui-lo, transformou-se no brasileiro mais conhecido e admirado deste planeta.

Pela prática honesta do conhecimento e pela coerência moral das suas atitudes, no dia reservado a lembrar a ação de combate que ele personifica na sua melhor versão, Sérgio Moro apresenta-se como o modelo a ser seguido por todos os brasileiros honestos e como a antítese da maioria dos servidores eleitos que transitam e que já transitaram por aquela Casa, dita do Povo, em busca de fama e de fortuna pessoal!

Cumprimento a Deputada Carla Zambelli pela feliz e oportuna iniciativa de louvar e enaltecer as virtudes e a obra do Juiz e do Ministro Sérgio Moro, mormente em momento tão sensível da conjuntura nacional, quando, por atitude imprudente e irresponsável de um grupo de juristas da Suprema Corte, vemos circular entre nós corruptos já condenados, bandidos da pior espécie que se têm valido da liberdade provisória para, mesmo que em vão, ameaçar a tranquilidade e a estabilidade da Nação.

Gen Paulo Chagas

..........
Ligue o vídeo abaixo:



https://www.jornaldacidadeonline.com.br/noticias/17691/general-escreve-mensagem-em-homenagem-a-moro-e-texto-viraliza

* * *

A VIDA É UM ETERNO AMANHÃ – João Ubaldo Ribeiro


As traduções são muito mais complexas do que se imagina. Não me refiro a locuções, expressões idiomáticas, palavras de gíria, flexões verbais, declinações e coisas assim. Isto dá para ser resolvido de uma maneira ou de outra, se bem que, muitas vezes, à custa de intenso sofrimento por parte do tradutor. Refiro-me à impossibilidade de encontrar equivalências entre palavras aparentemente sinônimas, unívocas e univalentes. Por exemplo, um alemão que saiba português responderá sem hesitação que a palavra portuguesa "amanhã" quer dizer "morgen". Mas coitado do alemão que vá para o Brasil acreditando que, quando um brasileiro diz "amanhã", está realmente querendo dizer "morgen". Raramente está. "Amanhã" é uma palavra riquíssima e tenho certeza de que, se o Grande Duden fosse brasileiro, pelo menos um volume teria de ser dedicado a ela e outras, que partilham da mesma condição.

"Amanhã" significa, entre outras coisas, "nunca", "talvez", "vou pensar", "vou desaparecer", "procure outro", "não quero", "no próximo ano", "assim que eu precisar", "um dia destes", "vamos mudar de assunto", etc. e, em casos excepcionalíssimos, "amanhã" mesmo. Qualquer estrangeiro que tenha vivido no Brasil sabe que são necessários vários anos de treinamento para distinguir qual o sentido pretendido pelo interlocutor brasileiro, quando ele responde, com a habitual cordialidade nonchalante, que fará tal ou qual coisa amanhã. O caso dos alemães é, seguramente, o mais grave. Não disponho de estatísticas confiáveis, mas tenho certeza de que nove em cada dez alemães que procuram ajuda médica no Brasil o fazem por causa de "amanhãs" casuais que os levam, no mínimo, a um colapso nervoso, para grande espanto de seus amigos brasileiros - esses alemães são uns loucos, é o que qualquer um dirá.

A culpa é um pouco dos alemães, que, vamos admitir, alimentam um número excessivo de certezas sobre esta vida incerta, número quase tão grande como a quantidade exasperante de preposições que frequentam sua língua (estou estudando "auf" e "au" no momento, e não estou entendendo nada). São o contrário dos brasileiros, a maior parte dos quais não tem a menor ideia do que estará fazendo na próxima meia hora, quanto mais amanhã.

Talvez tudo se reduza a uma questão filosófica sobre a imanência do ser, o devenir, o princípio de identidade e outros assuntos do quais fingimos entender, em coquetéis desagradáveis onde mentimos a respeito de nossas leituras e nossos tempos na Faculdade. No plano prático, contudo, a coisa fica gravíssima. Se o Brasil tivesse fronteiras com a Alemanha, não digo uma guerra, mas algumas escaramuças já teriam eclodido, com toda a certeza - e a Alemanha perderia, notadamente porque o Brasil não compareceria às batalhas nos horários previstos, confundiria terça-feira com sexta-feira, deixaria tudo para amanhã, falsificaria a assinatura oficial no documento de rendição, receberia a Wehrmacht com batucadas nos momento, mais inadequados e estragaria tudo organizando almoços às seis horas da tarde.

Falo por experiência própria. When in Rome do as the Romans do ditado que deve ter uma versão latina muito mais chique, mas, infelizmente, não disponho aqui de meus livros de citações, para dar a impressão aos leitores de que leio Ovídio e Horácio no original. Mas, em inglês ou em latim, acho esse um pensamento de grande sabedoria e procuro segui-lo à risca, na minha atual condição de berlinense, tanto assim que, não fora minha tez trigueira e meu alemão abestalhado, ninguém me distinguiria, fosse por traje ou maneiras, dos outros berlinenses bebericando uma cervejinha ali na Adenauerplatz.

Fica tudo, porém, muito difícil em certas ocasiões, como hoje mesmo. O telefone tocou, atendi, falou um alemão simpático e cerimonioso do outro lado, querendo saber se eu estaria livre para uma palestra no dia 16 de novembro, quarta-feira, às 20:30h. Sei que é difícil para um alemão compreender que esse tipo de pergunta é ininteligível para um brasileiro. Como alguém pode marcar alguma coisa com tanta precisão e antecedência, esses alemães são uns loucos. Mas não quis ser indelicado e, como sempre, recorri a minha mulher.

- Mulher - disse eu, depois de pedir que o telefonador esperasse um bocadinho. - Eu tenho algum compromisso para o dia 16 de novembro, quarta-feira, às 20:30h?

- Você está maluco? - disse ela. - Quem é que pode responder a esse tipo de pergunta?

- Eu sei, mas tem um alemão aqui querendo uma resposta.

- Diga a ele que você responde amanhã.

- E quando ele telefonar amanha? Ele é alemão, ele vai telefonar amanhã, ele não sabe o que quer dizer amanhã.

- Ah, esses alemães são uns loucos. Você é escritor, invente uma resposta poética, diz a ele que a vida é um eterno amanhã.

Achei uma ideia interessante, mas não a usei, apenas disse que ele telefonasse amanhã. Mas claro que não sei o que dizer amanhã e fui dormir preocupado, tanto assim que ainda incomodei minha mulher com uma cotovelada. Afinal, os alemães são organizados, é uma vergonha a gente não poder planejar as coisas tão bem quanto eles. Que é que eu faço?

- Ora - respondeu ela, retribuindo já cotovelada -, pergunte a ele se os alemães planejaram a reunificação para agora. E, se ele for berlinense, pergunte se ele não preferia deixá-la para amanhã.

- Touché - disse eu, puxando o cobertor para cobrir a cabeça e resolvendo que amanhã pensaria no assunto.

(Um brasileiro em Berlim, 1993.)
............

João Ubaldo Ribeiro
Sétimo ocupante da Cadeira nº 34 da ABL, eleito em 7 de outubro de 1993, na sucessão de Carlos Castello Branco e recebido em 8 de junho de 1994 pelo Acadêmico Eduardo Portella. Faleceu no dia 18 de julho de 2014, no Rio de Janeiro, aos 73 anos.


* * *