9 de abril de 2020
Plinio Corrêa de Oliveira
Neste célebre quadro, Giotto* pintou Judas no ato de oscular
Nosso Senhor Jesus Cristo. Era o ósculo da traição, no momento em que Nosso
Senhor, pouco antes de ser preso e levado para ser julgado e crucificado,
acabava de dizer aquelas tremendas palavras: “Judas, com um beijo trais o
Filho do Homem!” (Lc 22, 48).
Com toda a sua sublimidade, Nosso Senhor olha para Judas e o
analisa até o fundo da alma. Nesse olhar Ele recusa categoricamente a ação
infame de Judas; mas, apesar da recusa à infâmia, olha como quem ainda procura
algum resto de boas qualidades em Judas. Procura comovê-lo, numa tentativa de
ainda obter sua conversão. É um contraste prodigioso!
Judas é baixo, vil, ganancioso, materialista; com seus
lábios grossos e indefinidos, que vão se abrindo para o beijo da infâmia, ele
procura com o olhar turvo sorrir para mentir. Tem-se a impressão (desculpem-me
o prosaísmo) de sentir até o seu mau hálito, na hora do beijo da traição. Eles
se olham, e nisso se nota o supremo contraste entre a completa infâmia e a suma
perfeição.
A alma do católico verdadeiramente sério vive desse
contraste: a tendência contínua para ver o mais sublime, juntamente com a
compreensão de que no fundo de qualquer coisa censurável está palpitando a
infâmia, pronta para saltar e tomar conta do ambiente. Ver o mundo através de
contrastes assim é agir com seriedade.
___________
* Afresco pintado pelo célebre artista italiano da época
medieval, Giotto di Bondone (1267-1337), na Capela degli Scrovegni, Pádua
(Itália), entre 1302 e 1306.
_____________________________________________
Excertos da conferência proferida pelo Prof. Plinio Corrêa
de Oliveira em 20 de setembro de 1979. Esta transcrição não passou pela revisão
do autor. Fonte: Revista Catolicismo, Nº 832, Abril/2020.
* * *