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sábado, 13 de abril de 2019

"A BAHIA NÃO É RESISTÊNCIA; A BAHIA É SÍMBOLO DO ATRASO, Por Bernardo Guimarães Ribeiro



O filósofo da baianidade, o grande governador Otávio Mangabeira, gostava de dizer que “a Bahia está tão atrasada que, quando o mundo se acabar, os baianos só vão saber cinco anos depois”.
Mangabeira estava correto, só errou no cálculo. A Bahia está muito mais que cinco anos atrasada. A explicação? A expressiva votação com mais de 75% no atual governador e de mais de 60% no candidato derrotado à Presidência da República, ambos do Partido dos Trabalhadores, dá conta de que os influxos da ruptura ainda não nos atingiram. Expliquemo-nos:

No plano nacional, a Bahia, juntamente com o Piauí e Maranhão, foram os Estados que registraram maior percentual de votos em Haddad, todos com percentual acima de 60%.

Bastou esse fato para que esquerdistas, em geral, e petistas entoassem o mantra da resistência. A retórica não poderia ser mais tola – são simplesmente três dos Estados mais pobres da Federação, ocupando, os três, as seis últimas posições do índice de desenvolvimento humano – IDH.

Ademais, Maranhão e Piauí são também as unidades onde a relação entre pessoas que dependem do bolsa-família em comparação à população total é maior, respectivamente 48 e 39% , enquanto a Bahia, por seu turno, é o Estado com o maior número de beneficiários e maior aporte de recursos em termos absolutos.

Retomando o foco no Estado da Bahia, um erro de avaliação muito frequente no mundo das estatísticas é tomar o efeito pela causa. Enquanto a ampliação de programas de transferência de renda deveria ser interpretada como sintoma de atraso e subdesenvolvimento, curiosamente, em terrae brasilis, é compreendido como o contrário. Logo, a maior dependência de uma população a benefícios governamentais, ao reverso do que propõe a esquerda, apenas expõe a incompetência dos gestores em modificar o panorama socioeconômico.

No caso da Bahia, em especial, a contradição ganha contornos de esquizofrenia na medida em que diversos outros dados logram demonstrar a queda vertiginosa do Estado em índices oficiais comparativos. Em relação à Segurança Pública, temos nada menos que cinco das dez cidades mais violentas do País; na Educação, outro importante parâmetro de IDH, estamos na rabeira, tendo alcançado o inacreditável penúltimo lugar na última avaliação do MEC; no Turismo, histórico setor produtivo e arrecadador, nosso desempenho vem minguando ano a ano a olhos vistos, com o fechamento de um sem-número de hotéis tradicionais, diminuição de voos, culminando com a ruína do único centro de convenções do Estado no ano de 2016. A situação é tão vexatória, que se registrou em 2018 a Bahia como o Estado de pior desempenho no setor no Brasil; e, por fim, a saúde está na UTI. Dos 28 estados, segundo a análise de alguns dados, a Bahia ocupa a 22ª posição, sendo sucedida por nada menos que Piauí (24º) e Maranhão (28º). Há quem veja mera coincidência, mas não é.

Comecei com ele e terminarei rememorando o saudoso Otávio Mangabeira em mais uma passagem: “pense num absurdo: na Bahia tem precedentes”! Pessoas letradas e bem formadas fazem desse cenário tenebroso a construção de um arquétipo completamente irreal e delirante, tratando a Bahia como um modelo de resistência frente ao novo Brasil que desponta. Não há resistência, mas teimosia e histeria, reflexo de personalidades mimadas, que apenas aceitam as regras do jogo quando estão vencendo, além de manipuladoras, por proclamarem uma autoridade moral pela visão de mundo que defendem.

Infelizmente, 12 anos de petismo na Bahia conduziram as pessoas à completa perda do referencial. Doze anos formaram uma geração inteira de jovens percebendo o caos social como algo natural e trivial. E, diante de tantas incertezas, o bolsa-família é a única certeza de muitos de que algo pior não irá acontecer. A quem interessa a mudança quando a “resistência” escolhe um lado? A Bahia não é resistência; a Bahia é símbolo do atraso."

Texto de Bernardo Guimarães Ribeiro
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CINEASTA CARLOS (CACÁ) DIEGUES TOMA POSSE NA CADEIRA 7 DA ABL E AFIRMA, EM SEU DISCURSO, SOBRE O BRASIL DE HOJE: ‘HÁ UM DESEJO LATENTE DE VALORIZAR A VULGARIDADE’



O cineasta Carlos (Cacá) Diegues tomou posse nesta sexta-feira, dia 12 de abril, na Cadeira 7 da Academia Brasileira de Letras, em solenidade no Salão Nobre do Petit Trianon, na sucessão do Acadêmico e cineasta Nelson Pereira dos Santos (falecido no dia 21 de abril do ano passado). O novo Acadêmico foi eleito no dia 30 de agosto do ano passado.

Cacá Diegues foi recebido, em nome da ABL, pelo Acadêmico, poeta e tradutor Geraldo Carneiro, que destacou: “Carlos José Fontes Diegues – o nosso Cacá – já nasceu assinalado pela brasilidade. Tudo o que faz, como artista e intelectual, traz a marca do Brasil. Em resposta aos tempos negros da ditadura militar, Cacá Diegues fez de seu cinema um lugar de celebração da vida e da cultura brasileira. Desde os anos 60, Carlos Diegues se distingue também como jornalista, intelectual e pensador. Mas parece que seu destino é mesmo o de fundir o cinema e a poesia. Por mais que a realidade seja sua parceira, seu tempo é sempre o tempo da utopia”.

Em seu discurso de posse, o novo Acadêmico afirmou: “O Cinema Novo brasileiro não foi, senão, a chegada tardia do modernismo ao nosso cinema. Era preciso produzir um cinema para a nação, mas também inventar uma nação no cinema. Nossas melhores cabeças do século XX sonharam com esse projeto de Brasil. Agora, os tempos são outros. Temos sofrido um vendaval de paixões polarizadas e histéricas. Há um desejo latente de valorizar a vulgaridade e o homem dito “normal”, aquele que só reproduz os piores valores de nossa ignorância, sem sonhos nem fantasias, num horizonte sombrio e sem surpresas. A criação, hoje, corre o risco de se tornar prisioneira dessa consagração da platitude, onde o único valor reconhecido e respeitado é o da morte elevada a uma desimportância consagradora”.

Após o discurso, o Presidente da ABL convidou o Acadêmico Merval Pereira para fazer a aposição do colar; o Acadêmico Arnaldo Niskier (decano presente) para entregar a espada; e o Acadêmico Zuenir Ventura para entregar o diploma. O Presidente, então, declarou empossado o novo Acadêmico. Os ocupantes anteriores da cadeira 7, além de Nelson Pereira dos Santos, foram: Valentim Magalhães (fundador) – que escolheu como patrono Castro Alves –, Euclides da Cunha, Afrânio Peixoto, Afonso Pena Júnior, Hermes Lima, Pontes de Miranda, Dinah Silveira de Queiroz e Sergio Corrêa da Costa.

 
O NOVO ACADÊMICO

Cacá nasceu em Maceió, Alagoas, no dia 19 de maio de 1940, filho do antropólogo Manuel Diegues Jr. e de Zaira Fontes Diegues. Cinéfilo desde a adolescência, também era poeta e trabalhava como jornalista. Foi eleito para a Cadeira 7 da ABL, no dia 30 de agosto deste ano, na sucessão do Acadêmico e cineasta Nelson Pereira dos Santos.

Em 1958, aos 18 nos de idade, teve seus poemas publicados no Jornal do Brasil pelo ensaísta e crítico Mario Faustino, que o apresentou como uma revelação na poesia brasileira. Por essa mesma época, participou ativamente do movimento cineclubista no Rio de Janeiro, quando se integrou à nova geração de cineastas que buscava registrar a verdadeira imagem do Brasil, num movimento que seria conhecido como Cinema Novo, sob a liderança de Nelson Pereira dos Santos.

Depois de realizar alguns curta metragens, Cacá estreou profissionalmente em 1962, dirigindo um dos episódios do filme “Cinco vezes Favela”, produzido pelo Centro Popular de Cultura (CPC) da UNE – um filme que se tornaria uma das obras inaugurais do Cinema Novo.

Ao longo de sua carreira de cineasta, realizou mais de 20 filmes de longa-metragem, entre os quais “Ganga Zumba” (1964), “Os herdeiros” (1969), “Joanna Francesa” (1973), “Xica da Silva” (1976), “Chuvas de verão” (1978), “Bye Bye Brasil” (1980), “Quilombo” (1984), “Um trem para as estrelas” (1987), “Tieta do Agreste” (1995), “Orfeu” (1999), “Deus é brasileiro” (2003), “O maior amor do mundo” (2005) e agora “O grande circo místico” (2018), inspirado na obra do poeta Jorge de Lima. Todos esses filmes foram lançados comercialmente em diferentes países do mundo, nas salas de cinema e na televisão, além de sua presença e de prêmios nos festivais internacionais mais importantes, como Cannes, Veneza, Berlim, San Sebastian, Toronto, Nova York, Mar del Plata e outros.

O novo Acadêmico publicou alguns livros, nem sempre sobre cinema, tendo começado com “Ideias e Imagens”, de 1988. Seus livros mais recentes são "Vida de Cinema”, mais de 600 páginas sobre o Cinema Novo, e “Todo Domingo”, uma coletânea de seus textos publicados semanalmente no jornal Globo. Recebeu homenagens de diversas naturezas, no Brasil e no mundo, entre as quais o titulo de Officier de l’Ordre des Arts et des Lettres, do governo francês; o Prix de la Célebration du Centenaire du Cinématographe, do Instituto Lumière de Lyon; o Golden Reel Award, do Grupo HBO; o Lifetime Achievement Award, concedido pela cidade de Chicago; o Prêmio Roberto Rosselini, pelo conjunto de sua obra, dado pela Associação Nacional dos Críticos de Cinema da Itália; eleito Personalidade do Cinema Latino-Americano, pela Associação Internacional de Críticos (Fipresci); Ordem do Mérito Cultural de Portugal; Comendador da Ordem de Rio Branco, do governo brasileiro; Comendador da Ordem do Mérito Cultural do Brasil; e outros. Casado com a produtora de cinema Renata Magalhães, Cacá tem um filho e três filhas.

12/04/2019


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