As Pombas
Raimundo Correia
Vai-se a primeira pomba despertada,
Vai-se outra mais... mais outra... enfim dezenas
De pombas vão-se dos pombais, apenas
Raia sanguínea e fresca a madrugada.
E à tarde, quando a rígida nortada
Sopra, aos pombais de novo elas, serenas,
Ruflando as asas, sacudindo as penas,
Voltam todas em bando e em revoada.
Também os corações onde abotoam,
Os sonhos, um por um, céleres voam,
Como voam as pombas dos pombais;
No azul da adolescência as asas soltam,
Fogem... Mas aos pombais as pombas voltam,
E eles aos corações não voltam mais!
------------
Raimundo da Mota Azevedo Correia, o mais célebre dos
parnasianos brasileiros, foi autor de famosos sonetos e de famosas poesias que
podem ser consideradas das melhores da língua. Nasceu a bordo de um navio surto
num porto do Maranhão em 13/05/1860 e faleceu em Paris em 13/09/1911. Na vida
civil foi professor de Direito, magistrado e diplomata. Publicou: “Primeiros
Sonhos” (1879), “Sinfonias” (1882), “Versos e Versões” (1886), “Aleluias”
(1890). Em 1898 coligiu suas principais produções poéticas num volume a que deu
o título “Poesias”; 2ª Edição1906; 3ª Edição 1910; 4ª Edição 1922. Foi um dos
fundadores da Academia Brasileira de Letras, onde ocupou a cadeira nº 5, que
tem por patrono Bernardo Guimarães e onde teve por sucessores Osvaldo Cruz e
Aloísio de Castro. Suas “Poesias Completas”, a cargo de Múcio Leão, foram
editadas em dois volumes em São Paulo em 1948.
* * *