Estamos beirando os grandes e maravilhosos eventos de
dezembro e, ao mesmo tempo, na véspera de dar posse a um novo presidente da
República!
Fatos esses que, mais uma vez, dá ao último mês do ano
corrente, grandes valores em termos de pré novidades e pós novidades. Para
nossa alegria, devemos esperar que tudo corra bem dentro dos conformes, nos
dando satisfações, divertimentos e na hipótese do início do ano seguinte
tenhamos as maiores esperanças possíveis, para que a metade e mais um pouco da
população brasileira tenha acertado em suas escolhas políticas!
Para reforçar as nossas esperanças, podemos e temos o
direito de pedir a Deus que o trenó do velhinho Papai Noel venha abarrotado de
boas expectativas de um recebimento de tratamentos melhores na nova
administração, bom festejo com alegria na passagem do Ano Novo e, logicamente
nos recebimentos de presentes, quer sejam materiais ou afetivos!
Sem sombras de dúvidas, fui pegado de surpresa e, quando
menos espero, vejo-me bastante nostálgico, expressando sempre sobre as belezas
pouco valorizadas pelo povo, em função dos seus sofrimentos constantes nos mais
básicos dos investimentos públicos!
Não esqueçam que tudo isso é lindo e maravilhoso, porém o
principal é comemorar com religiosidade o “nascimento de Jesus”!
Mais uma vez, que todos tenham um feliz dezembro,
desfrutando com alegria e felicidade o que esse mês nos oferece, findando mais
um ano percorrido em nossas vidas!
— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus Cristo + segundo
Lucas.
— Glória a vós, Senhor.
No décimo quinto ano do império de Tibério César, quando
Pôncio Pilatos era governador da Judeia, Herodes administrava a Galileia, seu
irmão Filipe, as regiões da Ituréia e Traconítide, e Lisânias a
Abilene; quando Anás e Caifás eram sumos sacerdotes, foi então que a
palavra de Deus foi dirigida a João, o filho de Zacarias, no deserto.
E ele percorreu toda a região do Jordão, pregando um batismo
de conversão para o perdão dos pecados, como está escrito no Livro das
palavras do profeta Isaías: “Esta é a voz daquele que grita no deserto:
‘preparai o caminho do Senhor, endireitai suas veredas. Todo vale será
aterrado, toda montanha e colina serão rebaixadas; as passagens tortuosas
ficarão retas e os caminhos acidentados serão aplainados. E todas as pessoas
verão a salvação de Deus’”.
Ligue o vídeo abaixo e acompanhe a reflexão do Evangelho:
---
Uma voz que protesta e subverte
“Esta é a voz daquele que grita no deserto” (Lc 3,4)
Em um mundo no qual há tanto ruído não é fácil prestar
atenção às vozes carregadas de vida e que movem à vida. Talvez porque entre
tanto palavreado crônico a melhor solução é desconectar-nos, ou por preguiça,
ou por impotência, ou pela tentação de querer falar, sem parar. Quem sabe, o
excesso de problemas, inquietações, projetos e ideias confusas que se movem por
dentro, petrificam nossa própria interioridade. Ou ainda, porque no mundo há
tantos discursos vazios, violentos e preconceituosos que, ao nos causarem asco,
alimentam em nós uma inércia ou uma atitude cética.
Diante dessa realidade, o tempo do Advento nos apresenta
como referência e estímulo a voz de João Batista. Ele não quis renunciar sua
voz, apesar das incompreensões e das resistências; sua voz se converteu no
apelo a modificar a ordem das prioridades, na voz das minorias, na voz que
movia a assumir um outro estilo de vida, na voz que ajudava a descobrir que a
pessoa está acima de tudo, na voz que sempre deve estar a favor da vida.
Essa foi a missão de João: ele aparece no deserto não como
um sacerdote que convida ao culto, mas como um profeta que proclama a mudança,
a conversão, a abertura à novidade d’Aquele que está chegando. É uma voz que
clama, mas João é muito mais que uma palavra; João é toda uma vida que se faz
palavra. Ou melhor, é a palavra feita vida, revestida de vida. Nos profetas
fala a voz mas, sobretudo, fala a vida.
No Advento, a voz de João, que grita no deserto, ressoa em
nosso próprio interior, destravando nossa voz, tantas vezes silenciada por uma
cultura que impõe sua voz interesseira. Cada um de nós tem, todo dia, a
oportunidade de fazer escutar a própria voz. É necessário levantar nossa voz
para despertar e ver as coisas a partir de outro ponto de vista, para
transgredir esses discursos de morte e preconceito que o contexto, no qual
vivemos, quer nos transmitir e que tanto nos desumaniza.
É necessário tomar consciência que, se renunciamos nossa
voz, renunciamos defender nossa maneira original de nos fazer presentes numa
realidade de exclusão e de propor outra maneira de viver, mais livre, aberta e
expansiva. Por tudo isso, como João Batista, expressemos nossa voz sem
complexos, mas com o máximo respeito, cheia de ternura e não entrar no barco
das vozes furiosas, carregadas de linchamento, de revanches e incompreensões
para com quem pensa diferente, crê diferente, ama diferente. Por tudo isso, não
renunciemos nossa voz, não renunciemos enriquecer nosso entorno com nossa voz
original, porque vozes inspiradoras, em momentos especiais, farão a diferença.
Em segundo lugar, “ouvir a voz de João” nos sensibiliza a
escutar outras vozes, carregadas de vida e mobilizadoras de vida. Os
personagens do Advento nos tornam sensíveis às verdadeiras vozes que tem a
magia de nos tocar a fundo e despertar o impulso para entrar em sintonia com
elas.
O fato é que, às vezes, nos acomodamos a viver em bolhas,
onde, raras vezes, entram vozes que nos comovem de verdade. E, no entanto,
debaixo da parafernália de gritos, ruídos, anúncios, apelos publicitários e
frases feitas de mau gosto, continua brotando vozes cheias de verdade, vozes
que vale a pena serem escutadas.
Estamos rodeados de diferentes vozes; quem sabe, por detrás
de muitos gestos, palavras, gritos... não estarão vozes que pedem ajuda, ou que
simplesmente expressam dor, insegurança, medo, clamando por uma presença
acolhedora. É claro que não vamos estar o dia todo falando com o coração na mão
e os olhos úmidos de lágrimas, desnudando nossa intimidade. É possível que na
vida cotidiana continuaremos falando com nossa gente das coisas mais
cotidianas. O verdadeiro desafio é aprender a escutar, por debaixo de
diferentes vozes, a palavra profunda, o canto tranquilo ou o pranto escondido.
Há outros lamentos, não tão escondidos, que deixamos de
escutar, talvez porque se chegássemos a ouvi-las, nos deixariam profundamente
impactados, pois, poderiam provocar-nos uma sensação de impotência e de
fracasso enorme. São vozes que não tem nada que decifrar, claras, rotundas,
honestas. São as vozes dos excluídos de todo o tipo: pobres, famintos, vítimas
de preconceito, aqueles homens e mulheres que sofrem a intolerância e a
indiferença.
Às vezes, essas vozes nos conduzem a um dilema: para quê
escutá-las, se não podemos fazer nada? Para tornar a vida mais amarga? Para
sentir uma culpa que não é nossa? Aqui não se trata de fazer discursos
voluntaristas ou demagógicos acerca do mal no mundo. O verdadeiro desafio é
ampliar dentro de nós um espaço no qual outras vozes possam ressoar,
recordando-nos que ainda há muito por fazer para continuar construindo o
Reino de Deus, onde todo ser humano possa viver com sua dignidade assegurada;
para fazer-nos conscientes do quanto nossa vida tem de benção, e, ao mesmo
tempo, o quanto somos responsáveis por todo bem recebido...
Na vida cristã entende-se o viver como uma arte que é
preciso praticar. A vida não é um azar, nem um destino, nem um enigma a
resolver. A fraternidade evangélica é uma escola da vida e interação, onde cada
pessoa inter-atua com os demais e encontra liberdade para expressar sua voz e
acolher a voz do outro. Frente ao diferente, o tempo do Advento contém muitas
possibilidades: pode gerar variadas combinações e sinergias. Advento é como um
calidoscópio que combina uma infinidade de vozes e cores. As vozes dos
diferentes encontram seu espaço, se identificam e potenciam a relação mútua.
Todos, tendo um só coração e uma só voz, alimentam a unidade na
diversidade.
A condição para descobri-las é “levantar os olhos”, ir mais
além do imediato que nos cega e nos prende em redes de desejos insatisfeitos,
em obsessões por conservar modos de vida que consideramos definitivos, em
temores que embotam nosso coração impedindo o fluir da vida.
“Preparai o caminho do Senhor”. Como abrir caminhos para que
os homens e mulheres de nosso tempo possam encontrar-se com Aquele que vem?
Deus chegará por outros caminhos, totalmente diferentes dos caminhos que
estamos construindo habitualmente. Deus não pode vir ao nosso mundo de hoje
enquanto não construirmos caminhos mais planos de acolhida, solidariedade e
partilha. Deus não pode vir nem entrar pelos caminhos diante dos quais foram
construídos muros e valas, impedindo o acesso dos excluídos e perseguidos. Deus
não pode entrar na história através de caminhos que desembocam nos corações
carregados de ódio, de indiferença, de fanatismo e de preconceito para com
tantas vítimas de poderes que desumanizam. Os personagens políticos e
religiosos nomeados (Pilatos, Herodes, Anás, Caifás...), apesar de seus poderes
e intrigas, não conseguiram extinguir a esperança que a voz profética de João
convocava, a partir da periferia. Advento, é tempo de resistência.
Texto bíblico: Lc 3,1-6
Na oração: Pense em tantas vozes rompidas que às vezes ficam
silenciadas pelo contexto social onde você vive. Peça a Deus que lhe ajude a
ouvir e não perder nunca a capacidade de comover-se diante das:
- vozes daqueles que estão privados do mais necessário;
- vozes que são caladas por todo tipo de discriminação;
- vozes daqueles que são vítimas de intolerância e
preconceito;