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domingo, 28 de janeiro de 2024
sábado, 20 de janeiro de 2024
A Mudança do Mau-Caráter
Cyro de Mattos
Inconformado com a morte do vizinho. Chorou, soluçou, gemeu, uivou. Em estado lamentável, indisposto nas refeições, o coração nas profundezas do desvão, só depressão. A mulher sem entender a reação brusca. Deveria estar feliz. Nunca suportou os ganhos do vizinho na vida. Sortudo, bafejado pela sorte, repetia-se, o rosto de cólera. Esbravejava, os punhos cerrados.
O vizinho presenteado com a felicidade por todos os
lados. Mulher esbelta, filhos saudáveis,
família invejável. Carro de luxo. Casa grande com piscina, jardim, quintal.
Patrimônio sólido. Nada lhe faltava.
Lamentava o seu tanto pelo canto, saía mês, entrava mês.
Casa pequena, tinta desbotada nas paredes.
Precocemente envelhecido como a mulher, sem filhos, no lar o vazio
avançava numa doença incurável. Mísero
salário, balconista na casa de materiais para construção.
Ruminava as pragas, jogadas no outro. À tona a fúria,
babava-se, tomado na vontade de querer quebrar tudo em casa. Ter que aturar aquele felizardo ao lado,
bafejado com as benesses da vida. Uma desgraça, não merecia a vizinhança
daquele homem felizardo, afrontas com o brilho nos olhos, a dentadura perfeita,
riso saudável, de bem-estar com a vida.
Até quando suportar aquela fronte tocada de orgulho?
Fraturas e feridas, riscava.
Daí para a incompreensão da mulher, houve repentina mudança
de atitude. Consternado com a morte do vizinho, o fato em si deveria funcionar
ao contrário, um alívio, em boa hora. Vitória finalmente festejada, anunciada
sem pejo pela indesejada, sua visita varria as desigualdades, nivelava as
diferenças com um só padrão coberto de pó e esquecimento.
Triste, muito triste,
o quadro hostil da indesejada, dona de um sinistro rosto, famoso, impenetrável.
Disse, vou ao velório, acompanho o enterro, levo uma coroa de flores, deposito
no túmulo dele.
As pessoas surpresas com o seu gesto súbito.
Mostrava-se arrasado. A última pá de terra jogada na cova.
Nunca mais ia vê-lo no passeio da casa ao lado, movimentando-se lá dentro,
cercado de conforto, cantarolando, beneficiado em tudo, entre os poucos
privilegiados.
Nos dias revoltos odiá-lo, nunca mais. Morreria breve,
frustrado. De inveja incomum ausente, traiçoeiro ciúme, raiva primorosa,
seguidas vezes o desconforto.
Cyro de Mattos - Baiano de Itabuna. Escritor e poeta, Doutor Honoris Causa pela Universidade Estadual de Santa Cruz (Sul da Bahia). Membro efetivo da Academia de Letras da Bahia, Pen Clube do Brasil, Academia de Letras de Ilhéus e Academia de Letras de Itabuna.
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quinta-feira, 11 de janeiro de 2024
Revista italiana publica textos de
Cyro de Mattos e Ildásio
Tavares
Editada pela escritora
Antonella Rita Roscilli, doutora em letras, a revista intercultural SARAPGEBE,
bilíngue, português e italiano, acaba de publicar o seu número 28, no qual você
poderá ler em italiano ou português artigos de escritores brasileiros e italianos.
O número atual começa com uma cuidadosa e justa homenagem a Domenico De Masi,
professor estudioso, sociólogo, pesquisador e sempre amigo do Brasil, escrita
pelo renomado escritor Noronha Goyos Jr, ex-presidente da UBE-União Brasileira
dos Escritores.
A seguir, informa o editorial que um belo ensaio do escritor, poeta e crítico literário brasileiro Cyro de Mattos (foto) fará refletir o leitor sobre a escrita de Jorge Amado. Além disso, dois artigos pretendem relembrar a memória do prof. Giovanni Ricciardi, um dos mais ilustres brasilianistas italianos: um denso artigo de Maria Fontes, e primeira parte de artigo do próprio Giovanni Ricciardi sobre o poeta Ildásio Tavares.
Conforme comunicação na revista
anterior, a editora Antonella decidiu dedicar a Giovanni Ricciardi, que era um
assíduo colaborador, a republicação de alguns dos artigos dele. E, ainda, um
artigo sobre a vida e a ação do presidente humanista de Angola: o poeta
Agostinho Neto.
Para finalizar o número 28, no
Angolo della Poesia, SARAPGEBE reproduz a Ária de Lorenzo, retirada de Lídia di
Oxum, de Lindembergue Cardoso, com libreto de Ildásio Tavares. Trata-se da
primeira Ópera Negra Baiana e a primeira Ópera brasileira escrita em português
e youruba.
EM ITALIANO E PORTUGUÊS.
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