22 de julho de 2019
Padre David Francisquini*
A quebra dos valores morais e religiosos ao longo das
últimas décadas vem causando não poucos estragos em todos os setores da
sociedade, levando-nos a exprobrar em diversas ocasiões o comportamento
inescrupuloso de muitos de nossos representantes que ocupam cargos públicos.
Como já expliquei em outras ocasiões e volto a insistir, a
raiz da questão encontra-se na crise de fé que atinge todos os homens deste
início de século, na base da qual estão o orgulho e a sensualidade, como
apontou o pensador católico Plinio Corrêa de Oliveira.
Como essa crise tem como campo de ação o próprio homem com
os seus defeitos e vícios decorrentes do pecado original, os quais vêm sendo
alimentados artificialmente há mais de meio milênio por meios revolucionários,
hoje ela atingiu um clímax. A essa situação podem ser aplicadas as palavras de
Nosso Senhor Jesus Cristo quando se referiu ao profeta Isaías:
“Este povo honra-me com os seus lábios, mas o seu coração
está longe de mim. Em vão me presta culto; a doutrina que ensina são preceitos
humanos” (Mt 5, 5-7). E o divino Mestre chama esse povo de hipócrita
exatamente por aparentar em seu coração uma coisa e fazer o contrário. Finge
prestar culto a Deus, mas na verdade se ocupa das pequenas vantagens terrenas.
Ao se jactar de cultuar a Deus, essas pessoas na verdade se
encontram bem longe d’Ele, pois seus corações não são retos e não praticam o
que é justo diante de Deus. Honram pela boca, exigem de Nosso Senhor sinais e
milagres, mas não querem reconhecer a sua divindade, nem recebê-Lo. Ademais,
procuram armar traições e ciladas para poder apanhá-Lo em contradição.
Mas Nosso Senhor desmascarou os fariseus mostrando-lhes o
que se passava em seus corações. O que mancha o homem são os homicídios, as
glutonarias, os adultérios, a fornicação, as rixas e as contendas, isso é o que
mancha o homem; não o que entra bela boca, mas o que sai da boca.
Não é bem a isso que assistimos nos parlamentos modernos de
muitas nações, mais particularmente o nosso parlamento, do qual podemos falar
como testemunhas? O Brasil, afundado tanto moral quanto economicamente por
malversação do dinheiro público, viveu — talvez anestesiado — uma crise sem
precedentes até há pouco.
É difícil imaginar o nível de degradação moral e religiosa
que chegou o nosso Brasil. Creio ter sido obra de uma graça enorme o fato de
ele ter acordado dessa letargia e encher-se de indignação diante do
comportamento indecoroso, desleal, mentiroso e túmido de malefícios, ódio e
rancor de nossos governantes e ir para as ruas exigindo justiça.
Ainda hoje subsistem alguns remanescentes que nos deixam pasmos em alguns
debates ou inquirições no nosso parlamento, como as sabatinas que muitos
deputados e senadores fizeram recentemente ao Ministro Sergio Moro, nas quais
faltou gravidade e decoro por parte dos inquiridores que se prevaleceram da
chamada imunidade parlamentar para provocar, humilhar e ofender alguém que luta
por valores morais.
As ideias revolucionárias e contestatárias proliferaram como
pragas e a elas se aplica o que o profeta Isaías vaticinou: “A vinha do
Senhor dos exércitos é a casa de Israel, e os homens de Judá a planta, na qual
ele tinha as suas delícias; esperei que praticassem a retidão, e eis que há só
iniquidade, e que praticasse a justiça, e eis que somente se ouvem clamores” (Is
5, 7).
E mais adiante Ele afirma, no versículo 29: “Ai de vós
que ao mal chamais bem e ao bem mal, que tomais as trevas por luz e a luz por
trevas, que tendo o amargo por doce, e o doce por amargo. Ai de vós que sois
sábios aos vossos olhos e segundo vós mesmos, prudentes… Vós que justificais o
ímpio pelas dádivas, e aos justos tirais o seu direito”.
Quem é prudente procura edificar sua casa sobre a rocha
firme, que vai enfrentar as tempestades, o transbordamento dos rios e a
impetuosidade dos ventos, como alerta Nosso Senhor. O insensato edifica sua
casa na areia, “cai a chuva, transbordam os rios, sopram os ventos e
investem contra aquela casa, e ela cai e sendo grande a sua ruína” (Mt 10,
27).
É o que o Brasil viveu nesse longo período de governos da
esquerda, que aparelharam a máquina do Estado a serviço de sua ideologia.
É elucidativo quando Santo Tomás de Aquino diz ter sido o
diabo quem edificou sua casa por meio de homens ímpios, na areia. Isto é, na
inconstância e na infidelidade de homens carnais, chamados de areia devido à
sua esterilidade e por não estarem unidos entre si, mas divididos por uma
multidão de opiniões.
A chuva, diz ele, é o ensinamento que rega o homem e as
nuvens são de onde sai a chuva. Alguns são despertados pelo Espírito Santo, são
os profetas e os apóstolos; os outros pelo espírito do diabo, são os hereges.
Os bons ventos são os espíritos de diversas
virtudes que operam de maneira invisível no sentido dos homens e os inclinam a
operar o bem. Já os maus ventos são os espíritos imundos que levam os
homens a operar o mal; os bons rios são os evangelistas e mestres do
povo; os rios maus são os homens cheios de espírito imundo e
instruídos de verbosidade, das profundezas de cujos corações nascem os erros e
as mentiras.
O que se passa no Brasil ocorre mais ou menos em todas as
nações, que se encontram na mesma encruzilhada. Por outro lado, também há uma
minoria grande que reage para colocar o Brasil nos trilhos. No fundo dos
corações nasce uma esperança, uma certeza da vitória dos bons, porque existe a
promessa de Nosso Senhor de que as portas do inferno não prevalecerão contra a
Igreja.
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* Sacerdote da Igreja do Imaculado Coração de Maria –
Cardoso Moreira (RJ).
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