O CRISTÃO, ABORTO E SOFRIMENTO
Padre David Francisquini
Em recente artigo publicado neste site, mostramos o papel do
sofrimento na vida do cristão e sua conexão com a própria Paixão de Nosso
Senhor Jesus Cristo. Com efeito, comentamos um rumoroso escândalo protagonizado
por autoridades públicas, ao promoverem um abortamento criminoso, utilizando
falsas narrativas, com a cumplicidade de amplos setores da mídia brasileira.
Pretendo ainda, desenvolver um pouco mais a avaliação do
assunto. Acontece que o aborto faz parte da agenda revolucionária
internacional, difundida por inúmeros organismos de extrema-esquerda, como a
ONU. Ela inclui banalizar e expor ao ridículo a religiosidade da população, em
toda parte do mundo, ferindo a lei natural e divina, em especial no caso, o
quinto mandamento da Lei de Deus.
Verifica-se a ausência de unanimidade entre teólogos
ilustres, que discordam quanto ao momento exato em que Deus cria uma alma
específica — se no momento da concepção ou adiante, como pretendem os
abortistas —, mas na verdade isto é irrelevante. Para os que creem no Criador
de todas as coisas, o ponto saliente desta discussão é indubitável: Deus na sua
onisciência tem, desde a eternidade, o plano de criar todos e cada um dos seres
humanos, até o último habitante da Terra.
De tal modo que a interrupção do processo gestacional
implica, necessariamente, em interferência indevida nos planos divinos. Para os
que possuem a fé, é de pouca importância saber qual o exato momento em que se
dá a concepção. O que importa é a conformidade com a vontade de Deus, Senhor
também dos variados episódios da vida humana, mesmo daqueles mais indesejáveis
e trágicos.
Ele pode, soberanamente, tirar de todas as coisas o melhor
proveito, no sentido da sua maior glória e salvação dos homens. Esse episódio
causou espécie nas famílias Brasil afora, quando foi noticiada a decisão de
permitir a realização de aborto em uma menina de 11 anos. O caso foi tratado
como se fosse estupro, quando na realidade o que aconteceu foi fruto de
conjunção carnal entre dois menores, com idade inferior a 14 anos, resultando
daí uma gravidez.
Ora, esta não é a situação contemplada sequer pela frouxa e
concessiva legislação brasileira em vigor, que regulamenta a questão. Nem se
poderia legitimamente assim regulamentar, pois se trata de violação da lei
natural, e o pecado contra a natureza clama a Deus por vingança. Omitiu-se,
ademais, o fato de estar a mãe-criança carregando uma gestação ao longo de 26
semanas; a vítima era, portanto, um bebê já formado no ventre da mãe, o que
configura caso de homicídio.
A respeito de tal situação, pôde-se ver em importante site de
notícias toda uma manipulação verbal, com sentido de distorcer a realidade dos
fatos, ocultando aqueles dados tão importantes. Assim se buscava atrair a
simpatia do público leitor, por um mal-compreendido humanitarismo, tudo para
dar ares de legitimidade ao feito abominável.
Este foi, sem dúvida, mais um capítulo entre tantos casos
deploráveis, em que a proteção ao direito fundamental à vida foi violentamente
olvidada, sob pretexto de preservação da saúde e bem-estar da portadora de uma
gravidez indesejada. Abortos acarretam, invariavelmente, o agravamento da
situação, nunca solução, pois ao longo de uma vida resultarão em graves
consequências, físicas e psíquicas para a mãe. Mais sofrimentos, portanto.
Estudos sérios e objetivos já o provaram ad nauseam.
Pecados graves têm efeitos ou consequências maiores e mais
drásticas do que se possa perceber em avaliações rasas. Um princípio moral vem
a propósito. São João da Cruz afirma que, ao consentir num vício ou cometer
determinado pecado, outros maus pendores do indivíduo são impulsionados, ganham
mais força!
Para compreender a razoabilidade desse conceito, uma
analogia com o mundo físico pode ajudar: no século XVII, o afamado matemático e
filósofo Blaise Pascal enunciou um importante princípio, a lei dos vasos
comunicantes. Por ele, a pressão exercida num ponto de um líquido se transmite
a todos os outros pontos desse líquido e às paredes do seu recipiente.
Percebemos assim o enorme alcance moral que tais situações
têm sobre os personagens da trama cruel e sanguinária, assim como o mal social
que farão, alcançando uma multidão incontável de outras almas. É todo um
sistema de ideias e princípios morais que ficarão abalados, com consequências
inimagináveis na estrutura psíquica individual, no tecido social e mental da
consciência da sociedade. Pior ainda, partidos de esquerda que estão engajados
nesse programa da transformação paulatina da nação, por meio de leis, como por
exemplo, o PT e outros partidos de esquerda.
A solução para pulverizar a uma conspiração tão maligna não
resta outra alternativa a não ser oração e penitência, sobretudo o santo terço,
como nos pediu a Virgem na Cova da Iria. Rezemos todos nós, assim, pelas
vítimas mais frágeis envolvidas nesse gravíssimo acontecimento da vida moral
brasileira. E, sobretudo pelo pronto fim desses tempos sombrios e tão cruéis.
Desfecho que virá, como confiamos, pela vitória do Coração Imaculado de Maria
Santíssima, que esmagará a cabeça da serpente revolucionária, como prometido
por Ela mesma em Fátima.
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*Sacerdote da Igreja do Imaculado Coração de Maria –
Cardoso Moreira (RJ).
https://www.abim.inf.br/o-cristao-aborto-e-sofrimento/
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