5 de Abril de 2018
Sergio Bertoli
“Foi a experiência mais tenebrosa, desesperadora e solitária
da minha vida. Eu me sentia no fundo de um abismo. Tudo ao meu redor era
silêncio: silêncio dos amigos, da família e, aparentemente, até de Deus. Vivia
completamente sem esperança de que alguém me estenderia a mão para me
resgatar.”
Assim se inicia o artigo intitulado “Aprisionados pela
pornografia”, publicado no jornal “Correio Braziliense” (18-3-18), de autoria
de Gabriela Vinhal e Hellen Leite. As palavras são de “Sônia” (nome fictício),
uma viciada em sites de pornografia.
A matéria em nenhum momento aborda o aspecto religioso e
moral, sem dúvida o mais importante, mas abunda em referências cientificas,
opiniões de estudiosos e psicólogos. Esse lapso mostra o quanto ela é
“insuspeita”, pois alguém poderia dizer: “Aí vai mais uma opinião religiosa
sobre pornografia”…
Segundo Fábio Augusto Caló, especializado em terapia sexual
no Instituto de Psicologia Aplicada (Inpa), “esta trajetória se assemelha
à de pessoas que se tornam dependentes de substâncias químicas. Uma atividade
inicialmente prazerosa passa a ser buscada cada vez mais, até um ponto em que
prejudica a escola ou o trabalho e afeta os relacionamentos pessoais”.
Especialistas dizem o caminho tomado por Sônia não é raro e
pode levar a quadros de desespero quando a pessoa acha que perdeu o controle
sobre a própria vontade. “Não é incomum que o dependente enfrente sérios
riscos de suicídio e também se coloque em situações que podem afetar sua saúde
física”.
O tema está diretamente ligado à era digital. Impressiona a
afirmação de Caló: “Com a internet, a pessoa abre 15 vídeos de uma vez.
Ela pode adiantar cenas, ver diferentes tipos de sexo. A quantidade de
estímulos a que fica exposta em uma hora é muito maior do que a de um
indivíduo, há 40 anos, teria ao longo da vida inteira.”
Dados da revista americana “The Week” indicam que 12% dos
sites — cerca de 76 milhões de endereços — são dedicados a “conteúdo
explícito”. Um só site pornográfico recebeu por dia, em 2017, a visita de 81
milhões de pessoas (sic!) de todo o mundo. O Brasil é o 10º lugar no ranking dos
países que mais buscam esse mesmo portal.
A facilidade de acessar conteúdos assim na internet é tal,
que até crianças estão sujeitas ao consumo dessas imagens e vídeos.
Assim como acontece com todos os outros vícios, quanto mais
se afunda no consumo da pornografia, menos satisfação se recebe e mais difícil
se torna abandoná-lo. O que parecia um mundo de felicidades, um “paraíso”,
torna-se um inferno.
Nossa conclusão não é a mesma do “Correio Braziliense”, cujo
artigo aconselha a busca de ajudas meramente científicas e naturalistas.
Todo este assunto é novidade para quem não tem formação
religiosa verdadeira, mas não surpreende os que acompanham o desvario dos
acontecimentos anunciados por Nossa Senhora em Fátima.
Por sua vez, aqueles a quem incumbiria condenar, invectivar
e repreender, se calam, omitem-se, para dizer pouco.
Uma pergunta que inevitavelmente vem ao espírito é: até onde
nos conduzirá essa marcha de depravação em depravação? Segundo os autores de
vida espiritual, se o homem não colocar um basta nas suas tendências más, não
há limites aonde ele não possa chegar. Já se divisam no horizonte aberrações
que me poupo de citar aqui por respeito aos leitores.
O alerta em relação aos vícios, especialmente aos de
impureza, vem sendo abordado há dois mil anos. Aliás, até muito antes. O Antigo
Testamento está repleto de elogios à virtude da castidade. Nosso Senhor Jesus
Cristo e os Apóstolos a louvaram magnificamente; os primeiros Padres da Igreja,
os Santos, os Doutores, exaltaram-na de maneira toda especial.
Nada disto é novidade para um bom católico. Antes de tudo, a
Doutrina da Igreja nos ensina que sem a graça de Deus — que nunca falta a quem
pede — jamais conseguiríamos praticar a virtude da pureza, que nos faz
semelhantes aos Anjos do Céu.
Enquanto este mundo não se converter à totalidade da moral
ensinada pela única Igreja verdadeira do único Deus verdadeiro, não há abismo
em que não se precipite.
Peçamos Àquela que foi concebida sem pecado, a Imaculada Mãe
de Deus, que nos ajude a preservar essa santa virtude, ou a recuperá-la, para
que se realizem assim em nós as palavras do Divino Mestre “Bem aventurados
os puros de coração, porque eles verão a Deus”(Mt 5,8).
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