5º Domingo da Páscoa – 29/04/2018
Anúncio do Evangelho (Jo 15,1-8)
— O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós.
— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus Cristo + segundo
João.
— Glória a vós, Senhor.
Naquele tempo, Jesus disse a seus discípulos: “Eu sou
a videira verdadeira e meu Pai é o agricultor. Todo ramo que em mim não
dá fruto ele o corta; e todo ramo que dá fruto, ele o limpa, para que dê mais
fruto ainda. Vós já estais limpos por causa da palavra que eu vos falei.
Permanecei em mim e eu permanecerei em vós. Como o ramo não
pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira, assim também vós não
podereis dar fruto, se não permanecerdes em mim.
Eu sou a videira e vós os ramos. Aquele que permanece em
mim, e eu nele, esse produz muito fruto; porque sem mim nada podeis
fazer. Quem não permanecer em mim, será lançado fora como um ramo e
secará. Tais ramos são recolhidos, lançados no fogo e queimados. Se
permanecerdes em mim e minhas palavras permanecerem em vós, pedi o que
quiserdes e vos será dado. Nisto meu Pai é glorificado: que deis muito
fruto e vos torneis meus discípulos.
— Palavra da Salvação.
— Glória a vós, Senhor.
...
Ligue o vídeo abaixo, e acompanhe a reflexão do Padre Roger
Araújo:
...
Conectados à vida
“Como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não
permanecer na videira...” (Jo. 15,4)
Se há algo que caracteriza nosso tempo é a nova consciência
de ser rede-comunhão-interconexão-unidade. Todos já sabemos que tudo está
interconectado: a globalidade é interação. Lentamente vai-se tomando
consciência de que formamos parte de um todo. Há em nós uma necessidade básica
de viver conectados com os outros, de entrar em relação com o mundo.
Este tempo pede de nós “uma espiritualidade da conexão”, da
busca da experiência da Unidade, de estender pontes entre culturas, raças,
sexos, crenças religiosas, ideologias, de romper fronteiras, de estreitar
laços, de criar espaços acolhedores... Precisamos sair de nossos pequenos
círculos para criar vínculos com tantas pessoas, grupos, organizações sociais e
movimentos que buscam outra globalização, a globalização da solidariedade, da
interconexão responsável, da comunhão universal.
O desafio que se apresenta diante de nossos olhos é o de
sermos fiéis à realidade para poder descobrir nela a novidade de Deus, uma
experiência “mística” que nos faça tocar o mais profundo de tudo, e como consequência,
denunciar o que obstrui e mata este dom novo de Deus.
A imagem da videira e dos ramos, no Evangelho de hoje, nos
revela a teia das relações, das interdependências e da comunhão de todos com a
Fonte originária de tudo. Pertencemos a uma comunidade cósmica de vida tal como
foi criada e sustentada por Deus. Somos quem somos somente na relação e
por nossa relação com todas as criaturas e com o próprio Criador; somos
alimentados pela mesma seiva divina, que tudo sustenta com sua mão providente.
Isto significa que há uma unidade fundamental que perpassa
todas as partes do universo, na forma de uma “rede”. Nós, seres humanos, também
fazemos parte desta vasta rede de inter-relações, conectados a todos os
elementos da natureza, desde a menor célula até a ecologia global.
Sentimo-nos impulsionados pela seiva do Espírito que alimenta as energias
do universo e a nossa própria energia vital e espiritual. Conectar-nos com a
Videira possibilita alcançar a seiva, o pulsar da vida e o equilíbrio nas
relações; viver em profunda fusão com a videira desperta as energias criativas,
todas as grandes motivações adormecidas, toda bondade aí presente. Sem a
seiva divina que nos atravessa nunca poderemos dar o verdadeiro fruto.
No entanto, percebemos, no contexto atual, que o ser humano
tem perdido o contato e a comunhão com o cosmos e com os seus semelhantes,
recusando receber a seiva que a todos alimenta; ele está conectado com tudo e
com todos e, no entanto, tal conexão não lhe nutre, nem lhe oferece sentido à
sua existência. A compulsão dos meios eletrônicos o ameaça de superficialidade,
de individualismo e de isolamento. Isto tem provocado nele toda espécie de
mal-estar, de doenças, de conflito e divisão, de insegurança, de ansiedade, de
solidão, de aridez existencial... É aguda a consciência de uma fragmentação do
eu interior.
A verdadeira nobreza do ser humano consiste nisto: há nele
“algo” de interior, decorrente de sua profunda conexão com a Videira, de onde
recebe a seiva que o nutre e o faz entrar em relação com tudo e com todos; há
nele uma força latente, como uma energia fundamental, que o impulsiona a viver,
que o ajuda a crescer e a melhorar continuamente, aumenta a sua capacidade de
resistência, estimula-o a alcançar aquilo que é o sentido de sua própria
existência: a verdade, a liberdade, o bem, o amor...
Com a presença desta força interior, a pessoa se sente
guiada pelo seu dinamismo, que lhe proporciona saúde física, lucidez mental e
limpidez afetiva. É esta força que comanda os melhores momentos da vida humana
como um princípio ativo, dinâmico, criativo... Tais forças primordiais, vitais,
presentes nas diferentes etapas do crescimento, são essenciais ao ser humano,
graças às quais ele se orienta diante das solicitações da vida pessoal e das
múltiplas escolhas, constrói a sua vida pessoal, reforça as relações
comunitárias e sustenta o seu compromisso solidário no caminho em direção à
plenitude do seu ser.
Quando esta “força vital” permanece bloqueada, o ser humano
perde a direção, seca a criatividade e o gosto por viver, não faz progredir a
sua potencialidade e demite-se da própria vida. Diante dessa situação
existencial, faz-se urgente uma poda. A poda é constitutiva de nossa vida,
sempre será necessária; temos a perma-nente tendência à acomodação, à rigidez
em nosso modo de ser e proceder, ao fechamento em nossas idéias, aos afetos
desordenados; constantemente experimentamos perdas, amputações, despedidas,
limites...
Vivemos as perdas como autênticas mutilações do eu e da
vida. Algo ligado à nossa identidade, à nossa imagem pública, com as quais nos
identificamos, deve ser jogado ao fogo, pois já não serve mais para nada. Mas
as podas abrem espaço à vida nova. À luz da Páscoa, toda poda revela-se nova
possibilidade de vida. É certo que ela pode nos paralisar na queixa contínua,
na saudade melancólica do passado ou em posturas defensivas; mas também nos
possibilitam experimentar a chegada de uma vida inspirada que ativa nossa
criatividade e nos enche de alegria. O decisivo não é fixar-nos no “por quê?”
das perdas e podas, mas, à luz da Ressurreição, mudar o sentido da pergunta:
“para quê” a poda aconteceu? No “para quê” descobrimos um novo sentido e uma
nova força vital que brota das feridas e perdas existenciais. Na experiência da
ressurreição nada é “descartado”, tudo é iluminado e a seiva de vida surge de
onde menos se espera.
O Podador sabe que está preparando uma vida nova e de mais
plenitude. Mas é doloroso, produz-se uma perda, é necessário fazer o luto e despedir-nos
daquilo que inevitavelmente nós perdemos. Precisamos fazer descer da cruz o que
em nós está caduco e morto, olhá-lo de frente, sepultá-lo e despedir-nos dele
para que a vida nova possa expandir-se com liberdade.
Só quando morremos e ressuscitamos podemos nos renovar e
gerar muitos frutos, pois experimentamos em nossa própria carne a fragilidade
humana, o que é efêmero e secundário, mas ao mesmo tempo ressuscitamos a partir
de uma força que nos vem do mais profundo de nós mesmos, que transforma o que
está morto em nós numa nova possibilidade ainda por ativar. Ninguém ressuscita
no sentido de recuperação do antigo, mas como a acolhida de um dom inédito de
Deus.
É decisivo religar-nos à Fonte e aproveitar, para o
desenvolvimento integral da nossa personalidade, os abundantes nutrientes e
recursos presentes nas profundezas do nosso coração. São forças construtivas e
autônomas, livres de influências externas, que devem ser colocadas a serviço da
construção de uma personalidade sadia, equilibrada e mais rica. Com isso, todo
nosso interior se alarga e se dilata.
A seiva de nosso ser essencial constitui nossa autêntica
vida. Descobri-la, abrir-nos a ela, fazer-nos trans-parentes a ela e vivê-la
cada dia constituem a plenitude de nossa realização. É seiva divina, presente
no “eu” mais profundo, que nos arranca de nosso fechamento e nos faz ir para
além de nós mesmos; ela nos abre a uma Realidade maior que nos transcende; é
ela que nos faz perceber que temos no coração um espaço que está feito à medida
de Deus.
Precisamos viver mais nas raízes de nosso ser; precisamos
aprender a viver de uma maneira mais profunda e autêntica, a partir do núcleo
mais íntimo de nosso ser, a partir de nosso ser essencial. Trata-se de
descer em profundidade, de achar o nosso centro, aquele ponto de gravidade por
onde passa o eixo do nosso equilíbrio pessoal. A oração nos ajuda a
encontrá-lo e a ampliá-lo.
Texto bíblico: Jo 15,1-8
Na oração: A compulsão dos meios eletrônicos nos ameaça de
individualismo e de solidão, mas a oração cristã é um grande corretivo, pois
ela nos ajuda a descobrir nossa interioridade, nos dá “olhos interiores” para
captar o mais profundo nas pessoas, a dimensão mais verdadeira de nossas vidas,
a beleza escondida na realidade.
A oração é, também, um convite a sentir-nos com os outros, a
conectar-nos com todos e a viver em comunidade; o “blog” da oração cristã é também com outros, junto aos
outros, para outros.
- Qual é a seiva que alimenta e sustenta sua vida? Onde você
a busca?
Pe. Adroaldo Palaoro sj
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