Por Shirley M. Cavalcante (SMC)
Reginaldo Daniel da Silveira (R. D. Silveira) escreve para
revistas científicas, veículos de comunicação e também é autor do livro técnico
“Videoconferência: a educação sem distância”. Além de escrever, Silveira atua
como psicólogo, ocasião em que avalia pessoas e trata pacientes. A formação
cultural (graduação, especialização, mestrado e doutorado) é base de apoio na
educação.
Silveira é professor de graduação/pós-graduação e
pesquisador numa universidade federal. Já dirigiu instituições de ensino e
desenvolveu projetos de EAD (um deles em execução em todo o Paraná). Seu
histórico inclui ainda a atuação durante anos como jornalista, tendo dirigido
emissoras de rádio e recebido prêmios na área de comunicação. O “Inferno é
Verde”, seu livro atual e primeiro romance policial, vem sendo aclamado pela
crítica como uma das obras mais interessantes do ano sem deixar nada a desejar
aos grandes best-sellers.
“Conhecer o autor é tão importante como apaixonar-se ou
irritar-se por este ou aquele personagem. O autor escreve por algo que quer
dizer a quem puder lê-lo. O texto é o meio de união que leva à investigação,
guia a interpretação; e o que sabemos fora dele ajuda a ampliar este
entendimento.”
Boa leitura!
Escritor R. D. Silveira, é um prazer contarmos com a sua
participação na revista Divulga Escritor. Conte-nos, em que momento surgiu
inspiração para o romance “O Inferno é Verde”?
R. D. Silveira - Ler, observar pessoas, ouvir músicas
ou assistir a filmes foram momentos inspiradores, mas eu creio que a impulsão
foi a ideia de produzir um texto como contraponto às notícias de espionagem
americana de pessoas e países com o objetivo de dominação. Ao tentar juntar o
que me vinha à mente a uma história de tráfico de drogas, não gostei do meu
texto, parecia sintático e formal demais. Resolvi parar e fui ver televisão. No
jogo de futebol, uma torcida verde gritava sem parar: Green hell! Green hell!
Por instantes fiquei absorto nas imagens e então retornei ao computador, com um
desejo intenso de escrever o que me viesse à mente, algo que me arrepiasse, que
parecesse mágico. Foi então que criei a Agência Internacional de Inteligência
3-i, a “Operação Green Hell” e o tráfico de drogas na Amazônia. Acrescentei a
isso tudo o olhar sobre o que acontecia no Brasil.
Como foi a escolha do título? Quem veio primeiro, o título
ou o enredo
R. D. Silveira - A escolha do título foi marcante neste
trabalho. O nome “O Inferno é Verde” veio da Operação Green Hell e depois eu
criei o enredo. O texto ganhou impulso quando a Lava Jato já estava em
desenvolvimento. Sobre a ficção que na trama envolvia tráfico de drogas,
guerrilhas, índios, animais, agentes especiais e tecnologias de apoio à
inteligência internacional, ousei sobrepor um novo texto. Digamos que eu
coloquei dentro do primeiro texto, o da ficção, recortes de um texto distinto,
o da realidade brasileira de uma Lava Jato, que para uns era a redenção e para
outros era o desastre. Uma parte a queria e a outra a temia. Na metáfora da
dicotomia, o inferno pode se transformar no paraíso e o paraíso pode se
transformar no inferno. O verde do encanto e da sedução pode ser também o
inferno das drogas e da corrupção.
Apresente-nos a obra.
R. D. Silveira - Um carro é lançado ao precipício numa
rodovia da Mata Atlântica. A Agência Internacional de Inteligência 3-i, apoiada
por metade do planeta, dá início na Amazônia à mega operação Green Hell para
investigar o tráfico de drogas. Refém de uma guerrilha dissidente das Forças
Armadas Revolucionárias (FARC), o agente especial Nolan enfrenta guerrilheiros,
traficantes, anacondas, onças e jacarés. O inusitado vai além quando ele toma
como parceiro um animal selvagem; e como paixão, uma índia. Num cenário que
inclui robôs virtuais e drones, o combate ao sistema de produção e distribuição
de drogas vai da Amazônia à República de Curitiba, energizada pela Operação
Lava Jato. Quando os fios da trama se unem ao homicídio na rodovia da Mata Atlântica,
Moore, delegado executivo da 3-i precisa ajudar seus agentes a encontrar a
central de distribuição de drogas. Do contrário a operação fracassará. Green
Hell! Não dá para esquecer!
Quais os principais objetivos a serem alcançados com a
publicação e divulgação da obra?
R. D. Silveira - O objetivo do projeto literário é, em
primeiro plano, entreter. Ao acrescentar ao entretenimento informações e
olhares sobre a realidade, provoca-se a reflexão. Quando a ficção se mistura
com a realidade é possível criar recortes de pensamento crítico, por exemplo,
sobre um futuro menos corrupto e mais universalista do que imperialista. Dentro
dos seus limites, o trabalho tem o efeito de produzir uma espécie de teaser de
um enredo a ganhar corpo em outras obras. A ousadia é esperar o entretenimento
reflexivo, a harmonia entre o passatempo genuíno e as cognições que nos fazem
pensar sobre nós mesmos e o mundo.
“O Inferno é Verde” está sendo visto como uma das principais
obras paranaenses. O que, em seu ponto de vista, levou o livro a ter tamanho
destaque no mercado literário contemporâneo?
R. D. Silveira - Como diria Foucault, o que escrevi
nesta obra é para mim hoje, o anterior e o exterior. Pergunto-me se como
produtor do texto, cabe apenas a este autor definir o que fez. Para Roque
Aloisio Weschenfelder em “O Inferno é Verde” há um nexo presente entre os
episódios e a realidade contemporânea brasileira. O crítico literário destaca
ainda a linguagem em capítulos iniciados sempre por uma palavra ou expressão,
geralmente objeto direto da última frase do capítulo anterior. Nas palavras de
Weschenfelder este modo “sui generis” de escrever é um meio de comprometer o
leitor a não interromper a leitura. Eu não arriscaria explicar tudo por um
único viés, mas acredito que há um pouco desta análise crítica na receptividade
da obra.
Qual o momento, enquanto escrevia a obra, que mais o marcou?
Comente.
R. D. Silveira - Um momento singular foi conceber a
tentativa de fuga de Nolan, prisioneiro da guerrilha, em meio a guerrilheiros
armados, índios selvagens, onças, cobras, insetos e plantas venenosas.
Sobreposto a isto, o agente precisava decidir se deixava a 3-i e ficava com a
índia Amaru, ou continuava na 3-i e deixava seu coração na selva. Em outros
momentos, me assustei quando um prisioneiro foi jogado a duas gigantescas
sucuris; me sensibilizei pelo amor incondicional de um pequeno quati a Nolan,
me impressionei com a bravura da índia Amaru. Por fim, é bom lembrar que dei
muitas risadas quando Nolan com diarreia procurou um chonto(buraco para
necessidades fisiológicas). Preocupado com o asseio, ele recebeu de um
guerrilheiro um pedaço de jornal colombiano. A foto estampada trazia uma
manchete: Moro, o juiz que limpa as sujeiras do Brasil.
Onde podemos comprar o seu livro?
R. D. Silveira - O livro está à venda nas Livrarias
Curitiba, Livrarias Cultura, Clube de Autores e outras importantes livrarias do
Brasil. Nas livrarias Curitiba, a compra pode ser feita diretamente; nas
demais, de modo virtual. Links para aquisição são:
Soube que você irá receber, em Minas Gerais, o prêmio Castro
Alves. Comente a premiação.
R. D. Silveira - O Troféu Castro Alves 2018 faz parte
do evento Excelência Literária de Minas Gerais, criado em 2016 pelo jornalista
Eustáquio Felix. Como autor de “O Inferno é Verde”, o recebimento desta
premiação é um reconhecimento à obra e à contribuição para a literatura
brasileira. Importa registrar que para alguém que nunca participou de um
concurso do gênero ou ambicionou um prêmio literário, é com surpresa e
satisfação que tomei ciência do convite para receber o Troféu Castro Alves. O
valor institucional desta experiência aumenta a responsabilidade e me incentiva
a dar continuidade ao ato de escrever. Em 5 de maio às 23 horas no salão nobre
do Real Campestre Clube de Itabira, também serão entregues os troféus Cecilia
Meireles, Pedro Aleixo, Carlos Chagas, Guimarães Rosa e Mário Quintana.
Quais os seus principais objetivos como escritor?
R. D. Silveira - Comecei “O Inferno é Verde” instigado
pelo desejo de contar uma história. Já nas primeiras linhas, o mítico da
linguagem conotativa me entusiasmou. Ele me fazia fugir da lógica científica a
que estava acostumado e me aproximava de uma verdade intuitiva. É como se eu me
autorizasse a desejar eventos em que os sonhos fugissem do papel,
transfigurassem a realidade e gerassem encantos. Este arrebatamento, contudo,
não eliminou a minha vontade de estar atento ao ambiente à minha volta. Entendo
que “O Inferno é Verde” ao propor a ficção num texto que acolhe um outro texto
de realidade, expõe ambiguidade e dicotomia, criando na credulidade e na
introspecção uma oscilação mental no autor e no leitor. Espero dar continuidade
ao que já fiz, contando histórias sobre amores, medos, aventuras e experiências
da existência humana.
Pois bem, estamos chegando ao fim da entrevista. Muito bom
conhecer melhor o escritor R. D. Silveira. Agradecemos sua participação na
Revista Divulga Escritor. Que mensagem você deixa para nossos leitores?
R.D. Silveira - Quero agradecer por esta participação,
ao dizer que ela, como o livro, permite a criação de um processo interativo que
une autores e possíveis leitores. Conhecer o autor é tão importante como
apaixonar-se ou irritar-se por este ou aquele personagem. O autor escreve por
algo que quer dizer a quem puder lê-lo. O texto é o meio de união que leva à
investigação, guia a interpretação; e o que sabemos fora dele ajuda a ampliar
este entendimento. No final de tudo, nos construímos como autores e leitores, e
se virarmos a página estamos no suspense, pois não temos ideia de quem serão os
personagens e como tudo vai acontecer. É como diz o texto de “O Inferno é
Verde”:
Para criar personagens no tempo e no espaço Deus tem caixas
de ferramentas. Cada vez que uma delas é aberta, inicia-se a montagem de um
novo espetáculo. Deus não joga dados, como dizia Einstein, mas adora brincar
com eles.
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