Algumas figuras populares são adeptas à política. O nosso Sócrates era um dos que sonhava ser eleito para qualquer coisa. Outro, na década de 1950, aqui no Maranhão, era o Paletó.
Ele dizia sempre: 'Sou o número um das Oposições Coligadas.'
Eu ainda o conheci: ele não faltava a nenhuma das reuniões dos nossos partidos
políticos.
O Deputado Clodomir Millet foi, durante algum tempo, o chefe
da oposição. Uma hora resolveu dar uma missão ao Paletó: ir todo dia ao TRE
assistir às sessões e trazer de volta o relatório do que tinha sido votado e de
como havia votado cada um dos juízes.
Um dia, Paletó entrou, meio cansado e revoltado, na redação
do jornal O Povo - que pertencia a Neiva Moreira, um dos nossos líderes -, onde
nos reuníamos todas as tardes, e foi logo dizendo:
- Dr. Millet, não volto mais ao Tribunal. Está tudo perdido:
um juiz da Oposição - como é o Desembargador Eugênio Piva - votou com o juiz do
Governo!
Naquela época a política muitas vezes se tornava violenta.
Quando organizamos uma passeata para protestar contra o Governo, que tinha sido
acusado de estar queimando as casas dos pobres, das palafitas, cobertas de
palhas, o Paletó também quis participar dela.
Neiva lhe deu uma bandeira, dizendo:
- Paletó, leve esta bandeira.
Então, o Paletó, 'membro número um da Oposição', enrolou a
bandeira no pescoço, deixando uma parte caída nas costas, e foi, exaltado, à
passeata, gritando palavras de protesto. Até que, chegando perto do Palácio,
onde havia uma fila de soldados com metralhadoras apontando para a passeata,
ele parou e disse:
- Seu Neiva Moreira, está aqui a sua bandeira. Arrume um
mais doido do que eu que, daqui, não passo!
No Recife havia outro popular meio doido. Ele andava com um
capote pesado, absolutamente inadequado para o clima da região. Com a barba
grande, entre profeta e andarilho, acompanhava todos os movimentos da Esquerda
pernambucana e gostava, para gozação da cidade, de dar conselhos ao Governador.
Deram-lhe o apelido de Malenkov, o efêmero sucessor de Stalin.
Certa vez, encontrou Miguel Arraes num comício, aproximou-se
dele e denunciou:
- Dr. Arraes, isso não é possível, o Delegado de Polícia de
Caruaru não sabe nada de marxismo. É preciso zelar pela doutrina.
Em 1964 ele foi detido. Na prisão o inquisidor, um capitão
revolucionário, ao olhá-lo, foi direto:
- Seu comunista miserável, enfim o pegamos!
olhou de lado, sacudiu a cabeça e retrucou:
- Capitão, não venha me furar. Eu sou kardecista, da linha 2
- porque existiram dois
. Comunista, jamais! Sou espiritualista.
Malenkov e Paletó não eram tão doidos quanto todos pensavam.
Os Divergentes, 19/12/2021
https://www.academia.org.br/artigos/doidos-mas-nem-tanto
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