Pesares de Sônia Maron
Cyro de Mattos
Quem entende esse gesto?
O passado não tem volta.
Não se esvaem as dores
Prisioneiras do presente.
O vento que se aloja
nessas asas fabrica
vozes em rito de pesares,
que não se decifram.
Ó tempo rigoroso
no musgo desse muro,
sinto frieza no meu peito,
como fere nesse inverno.
Até no encanto assustas,
a flor que aparece
é a mesma que breve
no pó desaparece.
Imutável nesse estar
que ceifa a inocência,
a solidão de anoitecer
teu enigma que ofertas.
Hora que não tem cura,
Vez que não tem volta
Enquanto a noite chega
Para soterrar o dia.
Ó tempo quão amargo
É teu rigor nesse gesto
Que só a ti pertence,
Sufoca no meu peito.
De ti em dó e lágrima,
o que dói não é o calor
que aqueceu o coração,
mas as coisas que não virão.
Cyro de Mattos é escritor de contos, crônicas, romance, poemas, literatura infantojuvenil, ensaio e memorialista. Membro efetivo da Academia de Letras da Bahia. Doutor Honoris Causa da Universidade Estadual de Santa Cruz. Possui prêmios literários importantes. Também é editado no exterior.
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