O malandro e o delegado
Após assumir sua nova comarca, o magistrado foi convidado
pelas autoridades locais para almoçar em um hotel. De início pensou em declinar
do convite, pois, a seu juízo, não ficava bem aparecer em público acompanhado
de pessoas até então desconhecidas e comprometer, de certo modo, sua
autoridade. Eram, em sua maioria, políticos.
Foi dissuadido pelo Pároco local. E lá se foi a comitiva. Chegando ao hotel foi calorosamente recepcionado pelo Gerente e funcionários do estabelecimento. Entre uma conversa e outra, um drink e outro, percebeu a simplicidade daquelas pessoas, daquela gente humilde. Servidos foram frutos do mar e pratos exóticos. Ao se servir, observou do outro lado o Presidente da Câmara colocando em seu prato um pouco de tudo (moqueca de peixe, carne, camarão, feijão, arroz, salada) que se avolumava à medida que ia se servindo. A certa altura já se encontrava ele na parte da sobremesa. Quando ia colocar um pouco de farinha sobre o macarrão, o gerente dele se aproximou e disse-lhe discretamente: Presidente, é açúcar! Ao que ele respondeu disfarçando: lá em casa eu só como macarrão com açúcar! O juiz fingiu nada ter presenciado. Depois do almoço, a comitiva retornou. O tempo foi passando e novas pessoas foram conhecendo. Ficou familiarizado com os jurisdicionados, sem perder a sua autoridade. Era muito respeitado. Certa feita, o Delegado de Polícia o convidou para almoçar em um restaurante pitoresco da cidade. Lá foi apresentado a “Capado”, o proprietário do estabelecimento. Era uma figura engraçadíssima.
O Delegado, apesar de boa gente, era cismado. Para se ter uma ideia, cismava até da própria sombra. E “Capado” sabia disso. Num dia de sábado, o delegado comprou um cambiasse de cerca de 8 quilos e levou o bicho para “Capado” fazer uma moqueca que seria servida, no dia seguinte, aos seus convidados. Na manhã de domingo, o juiz antes de viajar para cidade vizinha onde iria almoçar com seus pais, resolveu passar no quiosque de “Capado”. Lá chegando, viu alguns tururins assando, ardendo na brasa e um cheiro gostoso se espalhava pelo ar. Pediu-lhe que lhe fosse servido um pouco para experimentar da iguaria. “Capado”, então, virou-se e disse: “Dotô, não compre a carne, porque eu fiz uma moqueca de peixe para o sinhô almoçar com seus pais”. O juiz aceitou o presente e seguiu viagem. Afinal, não podia fazer uma desfeita ao amigo diante de tamanha gentileza.
Foi dissuadido pelo Pároco local. E lá se foi a comitiva. Chegando ao hotel foi calorosamente recepcionado pelo Gerente e funcionários do estabelecimento. Entre uma conversa e outra, um drink e outro, percebeu a simplicidade daquelas pessoas, daquela gente humilde. Servidos foram frutos do mar e pratos exóticos. Ao se servir, observou do outro lado o Presidente da Câmara colocando em seu prato um pouco de tudo (moqueca de peixe, carne, camarão, feijão, arroz, salada) que se avolumava à medida que ia se servindo. A certa altura já se encontrava ele na parte da sobremesa. Quando ia colocar um pouco de farinha sobre o macarrão, o gerente dele se aproximou e disse-lhe discretamente: Presidente, é açúcar! Ao que ele respondeu disfarçando: lá em casa eu só como macarrão com açúcar! O juiz fingiu nada ter presenciado. Depois do almoço, a comitiva retornou. O tempo foi passando e novas pessoas foram conhecendo. Ficou familiarizado com os jurisdicionados, sem perder a sua autoridade. Era muito respeitado. Certa feita, o Delegado de Polícia o convidou para almoçar em um restaurante pitoresco da cidade. Lá foi apresentado a “Capado”, o proprietário do estabelecimento. Era uma figura engraçadíssima.
O Delegado, apesar de boa gente, era cismado. Para se ter uma ideia, cismava até da própria sombra. E “Capado” sabia disso. Num dia de sábado, o delegado comprou um cambiasse de cerca de 8 quilos e levou o bicho para “Capado” fazer uma moqueca que seria servida, no dia seguinte, aos seus convidados. Na manhã de domingo, o juiz antes de viajar para cidade vizinha onde iria almoçar com seus pais, resolveu passar no quiosque de “Capado”. Lá chegando, viu alguns tururins assando, ardendo na brasa e um cheiro gostoso se espalhava pelo ar. Pediu-lhe que lhe fosse servido um pouco para experimentar da iguaria. “Capado”, então, virou-se e disse: “Dotô, não compre a carne, porque eu fiz uma moqueca de peixe para o sinhô almoçar com seus pais”. O juiz aceitou o presente e seguiu viagem. Afinal, não podia fazer uma desfeita ao amigo diante de tamanha gentileza.
Mais tarde, chega o Delegado e seus convidados. Uns dez.
Todos sedentos e famintos. Passaram a comer churrasco, regado a cerveja e
outros aperitivos.
Lá para às tantas, felizes e alcoolizados, o Delegado pediu a “Capado” para servir a esperada moqueca, ao que “Capado”, malandramente, respondeu: “olha, o juiz esteve aqui e disse que cambriassú é peixe de autoridade e que ia levá-la, e assim o fez. Não podia fazer nada”... E rematou: “ele é quem manda, não é?”.
Lá para às tantas, felizes e alcoolizados, o Delegado pediu a “Capado” para servir a esperada moqueca, ao que “Capado”, malandramente, respondeu: “olha, o juiz esteve aqui e disse que cambriassú é peixe de autoridade e que ia levá-la, e assim o fez. Não podia fazer nada”... E rematou: “ele é quem manda, não é?”.
O delegado ficou embrabecido. O ocorrido se espalhou pela cidade. Houve
resenhas e deboches que irritavam o delegado cada vez mais. Queria prender
qualquer pessoa que comentasse o assunto, inclusive a “Capado”.
“Capado” para
se livrar das garras do Delegado procurou o juiz e lhe contou a verdade. O Juiz
sorriu e em seguida chamou o Delegado. Esclarecida a pegadinha, deram o assunto
por encerrado.
Antônio Carlos de Souza Hygino
Juiz de Direito titular da 5ª Vara Cível da Comarca de
Itabuna – Bahia.
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