Estou completando 71 anos de vida. Não sei se são muito ou
poucos anos? Só sei que estes anos os vivi intensamente e, muito eu aprendi com
a vida...
Neste tempo que chamo de travessia, outros dizem que é
pandemia e, há ainda quem diga que é o “fim do mundo”, que o Anti-Cristo vai
chegar e tudo consertar... outros dizem ser a Terceira Guerra Mundial, sem armas de
fogo, sem bombas terríveis... Esta guerra do “Corona Vírus”, não será vencida
com armas nucleares, mas com amor, cuidado com a vida, solidariedade,
investimento na ciência e na saúde, infra estrutura hospitalar, dedicação de nossas
agente de saúde e humanidade.
Eu acredito que é tempo de mudar. Mudar nosso jeito de pensar,
de se relacionar; de amar, de se doar, de acreditar e até de rezar ou se
olhar; sentar lado a lado no sofá, na mesa, na sala... tempo de compartilhar sentimentos,
medos, sonhos e esperanças... é tempo de resignificar a vida, o saber, o
isolamento e o sofrimento... Saber calar, silenciar e sem muito entender ou questionar
tempo de simplesmente contemplar a vida, as pessoas, as ruas vazias, as lojas
fechadas por causa da pandemia, da quarentena... tudo isso é para mim, e para
você, tempo de renascer e reaprender a VIVER. Redescobrir o belo da vida, o lado
lúdico de cada um... olhar pro céu e ver que ele está mais azul... O pôr-do-sol
encantador que vai se despedindo no horizonte num bailado de corres fascinante. E
isso não é fantasia. É o mais belo presente que o universo nos dá. Como se não
bastasse isto... e a chuva de meteoros que aconteceu nestes dias de quarentena?
Tantas reportagens nos mostraram que durante o isolamento a natureza é mais
feliz, as águas dos oceanos e dos rios estão mais límpidas e transparentes.
Estou sentindo que dentro de minha casa e o ar que respiro e o ambiente físico tem
menos poluição.
O mais interessante é que na “travessia/epidemia”, a
verdadeira sabedoria do isolamento social, nos ajudará a entender que os voos cancelados,
as viagens interrompidas, as escolas, universidades, academias e
parques fechado... nos aponte que a grande viagem que devemos fazer é pra dentro de
nós mesmos. Na interioridade de nosso coração há um lindo “jardim secreto”
onde podemos passear
com nossos amigos e amigas, conversar, descansar, sonhar. Em
nosso coração existe o mais lindo “santuário” onde posso estar com Deus
Trindade em qualquer hora, sem sair de casa, sem buscar um templo ou igreja, hoje
fechados.
Em todas as línguas a palavra mais falada é essa mesmo “CASA”...
Sim. “CASA” = moradia, “Casa Comum”, o Planeta. Casa sou eu,
é você. Somos todos nós casa habitada pela Trindade, pela vida, pelas
pessoas, por sentimentos de todos os tipos, pelo amor, egoísmo, ódio, gratuidade,
solidariedade, abertura, alegria. Pois é, não será este o tempo de nos “habitar” de
verdade? Estar conosco... visitar nosso "jardim secreto”, contemplar nosso
interior? Escutar nossos sentimentos... fazer uma grande faxina em nossa casa
interior, para ficar só com aquilo que realmente vale? Deixar o que não serve para nada,
a não ser para nos manter doentes, rancorosos, fechados, amargos... quem sabe
expulsar os vírus: egoísmo, orgulho, auto-suficiência, consumismo...?
Que tempo fecundo é esse que vivemos!... Estamos “abrigados”
em nossas casas. Tão raro esta oportunidade de estarmos juntos, gastar tempo,
olhar olho no olho... conversar. Façamos a travessia!
É tempo de “travessias” da “pandemia” para a vida de
verdade. De acolhida, cuidado, descobertas, convivência, despojamento. Quantas
vezes desejamos e, poucas vezes conseguimos deixar o trabalho, desacelerar o
ritmo, parar, curtir, descansar, sonhar o novo... Simplesmente viver em “nossa
casa”, estar conosco mesmos.
Vamos qualificar e significar este tempo precioso e
singular. Quem sabe único.
Ir. Helena T. Rech, STS
São Paulo, 25 de abril de 2020
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