Minha mamãezinha linda
Era assim
que Renatinha, chorando, expressava toda a saudade que tinha de sua mamãe.
Marília e
Marialva, mãe e avó de Renata, estão numa excursão pela Europa. Antes de
viajar, estavam preocupadas com a Renatinha.
Mas se tranquilizaram quando viram que a menina demonstrava muita alegria. Ia ficar
na casa da tia Ju, tendo como companheiros os primos Lucas e Mônica. Tia Dedé e
o Tio Kaká prometeram leva-la à praia nos fins de semana. E o que mais empolgava
a Renatinha: ia pela primeira vez tomar o ônibus do colégio. A cada instante
anunciava: “Vou no ônibus do meu colégio”.
Mas a
Renatinha ainda não tinha experimentado tão fortemente a dor da saudade. Fazia pena
vê-la chorando. Escorriam dos seus olhos azuis grossas lágrimas. E sem muita
cerimônia gritava: “Eu estou com saudades! Quero minha mãezinha linda! Minha vozinha,
estou com saudades de você!” Eu, muito aflita,
sem saber o que fazer, disse-lhe: “Telefone para o seu pai”. Paulinho, o
pai de Renata, não acompanhou Marília. Estava, portanto, à disposição da
filhinha. “Meu papai, vou ligar para ele”. Depois de conversar com o seu papai
, melhorou. Ele prometeu um passeio de carro e um gostoso lanche.
O problema de Renata, pelo menos
durante algum tempo, estava resolvido. E, no final do mês, estavam chegando as
suas queridas trazendo-lhe muitos presentes, acabando aquele pesadelo da
Renatinha.
Vendo a
dor de Renata, lembrei-me do sofrimento de uma criança da idade dela. Aquela menina
chorava não de saudade, mas de ansiedade, de tristeza. Estava na iminência de
perder o convívio de seus pais.
Ainda me
lembro, era bem menina. Estava à porta da casa de minha avó, em Itabuna. De repente,
fomos surpreendidos por um grupo muito grande de pessoas, todos maltrapilhos. Cada
qual carregava sua mochila ou trouxa. Paramos a brincadeira. Aquela gente era
nordestina, uma família fugindo da seca. Lembro-me que naquela época eram
chamados de flagelados. “Lá vêm os flagelados”. E todos chegavam à porta para
vê-los passar. Pediam esmola. Muita gente dava. Naquele grupo havia um casal e
muitos filhos. Pararam para descansar e comer. Não sei o que comiam. Estavam tristes.
Fui lá dentro e pedi um prato de comida para completar aquela refeição. Eles aceitaram
e pediram água. Fui buscar. Quando voltei assisti a um diálogo muito triste:
- Me dê
uma menina destas. Esta aqui está num tamanho bom.
- Esta
não; ela me ajuda com os menores.
- Então
esta.
- Não,
mamãe. Não quero.
- Menina, não
seja boba, você vai ter o que vestir e o que comer.
- Não,
mamãe, não me deixe!
Ainda me
recordo do horror daquela criança.
- Menina,
você prefere morrer de fome?
- Nós “passa”
fome “junta”. Deus vai “ajudá”.
- Gente
ordinária! Encontra quem ajuda e não aceita.
Grande ajuda!
Roubando-lhe a filha e, o que é pior, para servir como empregada.
Este fato
aconteceu muitos anos atrás. Não sei o
ano. Não dei importância. O importante é perguntarmos: “As coisas melhoraram?”
Aquela menininha também achava sua mamãezinha
linda apesar de tão maltratada. Todo filho acha sua mãe linda. E toda
mãe acha que o seu filho é pequeno e precisa de sua ajuda.
Quando Jesus
viu sua mãe e, perto dela, o discípulo amado, disse: “Mulher, eis o teu filho! Depois
disse ao discípulo: Eis a tua mãe! E a partir dessa hora, o discípulo a recebeu
em sua casa.” (Jo 19, 26-27).
É maravilhoso
ter MARIA por Mãe e saber que ela está atenta a todas as nossas necessidades.
(ARCO-ÍRIS)
Marília Benício dos Santos
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