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domingo, 13 de maio de 2018

MINHA MAMÃEZINHA LINDA – Marília Benício dos Santos


Minha mamãezinha linda


            Era assim que Renatinha, chorando, expressava toda a saudade que tinha de sua mamãe.

           Marília e Marialva, mãe e avó de Renata, estão numa excursão pela Europa. Antes de viajar, estavam preocupadas com a  Renatinha. Mas se tranquilizaram quando viram que a menina demonstrava muita alegria. Ia ficar na casa da tia Ju, tendo como companheiros os primos Lucas e Mônica. Tia Dedé e o Tio Kaká prometeram leva-la à praia nos fins de semana. E o que mais empolgava a Renatinha: ia pela primeira vez tomar o ônibus do colégio. A cada instante anunciava: “Vou no ônibus do meu colégio”.

            Mas a Renatinha ainda não tinha experimentado tão fortemente a dor da saudade. Fazia pena vê-la chorando. Escorriam dos seus olhos azuis grossas lágrimas. E sem muita cerimônia gritava: “Eu estou com saudades! Quero minha mãezinha linda! Minha vozinha, estou com saudades de você!” Eu, muito aflita,  sem saber o que fazer, disse-lhe: “Telefone para o seu pai”. Paulinho, o pai de Renata, não acompanhou Marília. Estava, portanto, à disposição da filhinha. “Meu papai, vou ligar para ele”. Depois de conversar com o seu papai , melhorou. Ele prometeu um passeio de carro e um gostoso lanche.

            O problema de Renata, pelo menos durante algum tempo, estava resolvido. E, no final do mês, estavam chegando as suas queridas trazendo-lhe muitos presentes, acabando aquele pesadelo da Renatinha.

            Vendo a dor de Renata, lembrei-me do sofrimento de uma criança da idade dela. Aquela menina chorava não de saudade, mas de ansiedade, de tristeza. Estava na iminência de perder o convívio de seus pais.

            Ainda me lembro, era bem menina. Estava à porta da casa de minha avó, em Itabuna. De repente, fomos surpreendidos por um grupo muito grande de pessoas, todos maltrapilhos. Cada qual carregava sua mochila ou trouxa. Paramos a brincadeira. Aquela gente era nordestina, uma família fugindo da seca. Lembro-me que naquela época eram chamados de flagelados. “Lá vêm os flagelados”. E todos chegavam à porta para vê-los passar. Pediam esmola. Muita gente dava. Naquele grupo havia um casal e muitos filhos. Pararam para descansar e comer. Não sei o que comiam. Estavam tristes. Fui lá dentro e pedi um prato de comida para completar aquela refeição. Eles aceitaram e pediram água. Fui buscar. Quando voltei assisti a um diálogo muito triste:

            - Me dê uma menina destas. Esta aqui está num tamanho bom.

            - Esta não; ela me ajuda com os menores.

            - Então esta.

            - Não, mamãe. Não quero.

            - Menina, não seja boba, você vai ter o que vestir e o que comer.

            - Não, mamãe, não me deixe!

            Ainda me recordo do horror daquela criança.

            - Menina, você prefere morrer de fome?

            - Nós “passa” fome “junta”. Deus vai “ajudá”.

            - Gente ordinária! Encontra quem ajuda e não aceita.

            Grande ajuda! Roubando-lhe a filha e, o que é pior, para servir como empregada.

            Este fato aconteceu  muitos anos atrás. Não sei o ano. Não dei importância. O importante é perguntarmos: “As coisas melhoraram?” Aquela menininha também achava sua mamãezinha  linda apesar de tão maltratada. Todo filho acha sua mãe linda. E toda mãe acha que o seu filho é pequeno e precisa de sua ajuda.

            Quando Jesus viu sua mãe e, perto dela, o discípulo amado, disse: “Mulher, eis o teu filho! Depois disse ao discípulo: Eis a tua mãe! E a partir dessa hora, o discípulo a recebeu em sua casa.” (Jo 19, 26-27).

            É maravilhoso ter MARIA por Mãe e saber que ela está atenta a todas as nossas necessidades.

(ARCO-ÍRIS)
Marília Benício dos Santos


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