Olhar de Mãe
Há anos conheci um estudante, que de tal forma passava vida
ímpia e dissoluta, que um dia foi preso e levado para a cadeia de
Ehrenbreistein.
Seu pai, há tempos, morrera em Nancy, de sorte que somente a
mãe suportava todo o desgosto que lhe causava um filho de caráter tão perverso.
Não se pode exprimir a angústia de seu
materno coração, e quão dolorosas lágrimas derramava.
Mas isto não enternecia o filho criminoso. Nenhum vislumbre
de conversão e arrependimento aparecia naquela alma endurecida.
Nada admira que a impressão persistente de tão grande e
profunda aflição prostrasse no leito da morte a consternada mãe. Na última extremidade
dirigiu-se ao diretor da prisão,
pedindo-lhe para ver seu filho no transe
da morte, e o diretor não pode resistir à súplica.
No dia seguinte, o obstinado preso, levado pelos guardas,
chegou ao pé do leito de sua mãe
agonizante.
Ela, macilenta e desfigurada, prestes a exalar o último
suspiro, não proferiu palavra, nem fez gesto algum, mas fixou por longo tempo
no filho um olhar firme e penetrante; depois, virou-se para o outro lado do
leito, e fez sinal para que o levassem. Assim como veio, voltou taciturno e
frio, como se já não tivesse a faculdade de se enternecer.
Voltando à prisão, que mudança sobreveio nele! O olhar de
sua mãe moribunda, aquele olhar silencioso, em que se resumia a repreensão,
exaltação, indignação, temor e afeto, comoveu o filho desvairado mais
eficazmente do que poderia fazer a mais eloquente e vibrante linguagem materna,
que ela pudesse lhe ter dirigido dias e meses. Que tempestade de encontrados
sentimentos então brotou na alma agitada do infeliz mancebo!
Com íntima comoção, que jamais sentira, começou a gemer e
suspirar com tal veemência, que lhe parecia que o coração se lhe despedaçava. Pela
primeira vez investigando sua consciência, exclamou estremecendo: “Ó Deus, a
que grau de maldade cheguei!...” Propôs reparar o mal feito e converter-se
verdadeiramente.
Deus misericordioso o manteve nesta resolução. Recuperando a
liberdade, entrou para um convento, fez-se jesuíta missionário e agora o vedes
diante dos olhos, o mancebo libertino e ímpio de então, o vedes neste púlpito. Sim,
o vosso pregador é o próprio filho desapiedado.
Semelhante maravilha e mudança foi obra de Deus, por meio do
olhar de sua mãe moribunda.
P. Hasslacher
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Peter Hasslacher (14 de agosto de 1810 - 5 de julho de 1876)
foi um pregador católico romano alemão. Ele foi um dos muitos missionários
jesuítas que lutaram em toda a Alemanha, de Friburgo a Berlim e Danzig, para
despertar e fortalecer as forças católicas do país após o tempestuoso ano de
1846.
(Wikipédia)
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