Caminho
O caminho
da minha cidade está impedido. Lá, não só as manhãs como as tardes, livres de
desígnios, eram venturosamente abertas sob os meus pés descalços. Sobre relvas
ou areias as direções me tomavam para todos os meus sentidos.
A fé
medrava na fonte –
Ligava
tudo em meu sonho: a sala grande, onde todo amor se reunia; o corredor, um
lance entre a rua e o quintal.
E as
noites eram o declinar das luzes para a tranquilidade do sono.
O caminho
da minha cidade está impedido. Lá, não só as manhãs como as tardes eram
venturosamente abertas sob os meus pés descalços.
Vejo que
só o céu escapou. O mesmo céu onde criei meus rebanhos. Mas hoje, até os
rebanhos se perderam.
(ESTAÇÃO DOS PÉS)
Walker Luna
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WALKER LUNA - Filho de Itabuna, Walker Luna nasceu no dia 6
de agosto de 1925.
Publicou “Estes Seres em Mim”, “Companheiro” e “Estações
dos Pés”, dentre outros livros. Lírico, seus poemas interligam-se como por um
fio narrativo, um complementando o outro, atingindo níveis vertiginosos,
compartilhando perplexidade, angústias, emoção que vibra o ontem e o hoje em
sua dicção, solitária, ao mesmo tempo que mistifica imagens.
Dá-nos com sua poesia um testemunho de resistência luminosa,
testemunho corajoso de sofrimento suportado com dignidade e altivez. Mas em
seus versos, de plena lucidez nas estações que comovem, trafegam acenos que nos
descobrem livres: “Exaltam-se nos tons verdes/ insinuam-se como flores/ e
em sumo vital convertem-se proliferando frutos”.
(Cyro de Mattos)
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