Ladrão Consciencioso!
Embora pareça de imediato ser um tremendo paradoxo, temos
que reconhecer, que assim como existem pessoas conscientes que são ladrões,
existem também ladrões que são conscientes! Claro que não é uma comum, mas,
trata-se de uma situação anômala, que aparece quando menos esperamos!
Vejam vocês que saí num fim de tarde para ver o pôr do sol
no Porto da Barra (que é privilegiada essa visão) e, depois de desfrutar
tamanha obra da natureza, feliz da vida, me dirigi a uma pizzaria famosa para
comer essa delícia da cozinha italiana. Cheguei, embora o lugar estivesse
cheio, consegui uma mesa bem situada com uma visão ampla para todo ambiente e
também ver a movimentação da rua. Tudo estava como Deus quer e manda, nas ocasiões
que Ele deseja agradar!
Pedi minha favorita metade de quatro queijos e a outra parte
de Margarita. Isso já babando de felicidade, aproveitando o maitre e pedindo
uma jarra do vinho da casa, para ir saboreando enquanto esperava o pedido!
Tudo estava tão perfeito, até que surgiram, não sei de onde,
uns dez bandidos (menores e maiores), com armas em punho, fazendo a maior
varredura de carteiras, bolsas, joias e celulares. Um ataque numa rapidez
incrível, deixando todos boquiabertos e entregando os seus pertences com dor no
coração. Como a minha mesa era uma das últimas, já na saída do terrível
arrastão, cheguei para o ladrão que Deus destinou para mim e disse: “Por favor,
eu tenho 60 anos, sofro do coração, meu celular é para avisar aos meus parentes
em caso de desmaios nas ruas ou em casa, sou aposentado por ser diabético e,
para completar, tenho a pressão alta!”
Falei baixinho fazendo aquela cara de cachorro sem dono e pedindo
pelo amor de Deus!
Foi aí que aconteceu o inesperado. Ele me olhou comovido,
devolveu minha carteira intacta, celular e relógio e, mais ainda, tirou de uma
bolsa cem reais e disse ao garçom; Esse dinheiro é para pagar a despesa de meu
tio aqui (tio o tratamento dado aos mais velhos).
Todos ficaram estarrecidos com essa atitude e, logo que
acabou o assalto, todos me perguntaram: O que foi que o senhor disse para ele?
- Eu disse o seguinte: Livre a minha cara, pois eu sou
político!
- E ele me respondeu: “Então você é colega tão ladrão quanto
eu, e um bandido graduado!”
- Aí uma senhora esbaforida me perguntou: “O senhor é
vereador ou deputado?”
- Não sou nem um nem outro, apenas falei o que me veio a
cabeça na hora!
Comi minha pizza, tomei meu vinho, vendo a chegada dos
policiais e, na saída, quis pagar e o maitre, falou: Sua conta já foi paga,
espere o troco!
- Não meu amigo, fica como gorjeta!
- Voltei para o carro sorrindo de ver que, sem esperar ou
querer, me diverti com a pegadinha, comi de graça e fiquei conhecendo um
bandido consciencioso!
Antonio Nunes de Souza, escritor
Membro da Academia Grapiúna de Letras – AGRAL
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