Plinio Maria Solimeo
É corrente que aqueles que se dedicam especialmente às
ciências e às coisas técnicas, são pouco propensos para seguirem à risca seus
deveres religiosos. Pois, em grande número de casos, tratando somente com
coisas práticas e concretas, acabam amortecendo o senso religioso e se tornando
materialistas ou agnósticos. Isso, que infelizmente é muito frequente, não foi
o que ocorreu com quatro astronautas americanos dedicados ao que há de mais
moderno na ciência e na técnica, que é a carreira espacial. Pois, não só
conservaram e afervoraram sua fé em suas aventuras pelo espaço, mas tiveram a
grande graça de nele receber a Nosso Senhor Jesus Cristo na Eucaristia.

A folha de serviço do mais antigo deles, Thomas Jones [foto],
nascido em janeiro de 1955 em Baltimore, por exemplo, é considerável. Ele
participou de quatro missões espaciais, e quando deixou a NASA em 2001,
trabalhou depois como cientista planetário e consultor em operações espaciais,
cientista pesquisador sênior no Instituto de Cognição Humana e de Máquina da
Flórida, envolvido no planejamento de expedições de robôs e astronautas ao
espaço profundo e asteróides próximos à Terra, palestrante e escritor de quatro
obras. De 2006 a 2009, ele serviu no Conselho Consultivo da NASA, e foi membro
do conselho da Astronauts Memorial Foundation. Por tudo isso,
mereceu ser colocado no Astronaut Hall of Fame dos Estados
Unidos em 21 de abril de 2018. Portanto, é um cientista de muito renome.
Jones, detentor de quatro prêmios concedidos pela NASA e
pela Força Aérea dos Estados Unidos, seu livro autobiográfico Sky
Walking: An Astronaut’s Memoir (Caminhando pelo céu: Memória de um
astronauta), de 2006, foi escolhido pelo Wall Street Journal como
um dos cinco principais relatos dedicados ao assunto do espaço. Católico
convicto, Jones narra sua experiência espiritual, no livro acima citado, de
receber a Sagrada Comunhão no espaço.
Isso se deu em sua primeira participação em uma missão
espacial como membro da tripulação da nau espacial Endeavour no
programa STS-59, entre 9 e 20 de abril de 1994. O objetivo da missão era o
de colocar em funcionamento, no espaço, um radar para estudo do ecossistema
terrestre, além de coletar dados sobre a quantidade e distribuição de monóxido
de carbono nos níveis mais altos da atmosfera terrestre e fazer, por radar,
observações oceanográficas, geológicas, hidrológicas e estudo e observação de
placas tectônicas ao redor do planeta.
O astronauta considerou o participar dessa grande aventura
um privilégio pois, além de adquirir experiência e de o familiarizar com a vida
no espaço, sobretudo ia lhe proporcionar a possibilidade de ver a Deus em suas
obras no imenso firmamento.
Suas expectativas, entretanto, ultrapassaram toda
expectativa. Pois ocorreu que, como três dos seis tripulantes da nave espacial
eram católicos — ele, o comandante, Gutiérrez, e o piloto Kevin Chilton, que
era ministro extraordinário da Eucaristia —, eles puderam receber a Sagrada
Comunhão em pleno vôo da nave espacial. Pois Kevin tinha recebido do seu
vigário licença para levar consigo em sua missão algumas hóstias consagradas.

Isso ocorreu da seguinte maneira: no domingo, duas semanas
depois da Páscoa, quando estavam já no espaço, os três astronautas se reuniram
na cabine de vôo para comungar. Nesse momento, diz Jones, “os três
agradecemos a Deus pelas vistas de Seu universo, pela boa companhia, e pelo
êxito que tínhamos tido até então. Kevin então repartiu o Corpo de Cristo com
Sidney e comigo, e permanecemos na cabine de vôo refletindo no silêncio, esse
momento de paz e de verdadeira comunhão com Cristo”. Quando acabaram de
comungar, conforme narra Jones, ocorreu que, “enquanto meditávamos
tranquilamente na escura cabine, uma deslumbrante luz branca irrompeu pelo
espaço, e nela penetrou. A luz radiante do sol que se avistou através das
janelas dianteiras da nau espacial e nos deu calor, que outro sinal [da
presença de Deus] podíamos pedir senão esse? Foi a afirmação gentil de Deus de
nossa união com Ele”. Comovido até às lágrimas, o astronauta se afastou de
seus companheiros, e contemplou então através das janelas da nave o amanhecer
e, debaixo, o Oceano Pacífico, cuja superfície azul resplandecia com a luz do
sol. Acrescenta ele que “com esta formosa luz entrando na nave, e o
formoso oceano azul em baixo, estive a ponto de chorar”. E então se lembrou
das palavras do evangelho de São Mateus (18, 20): “Onde dois ou três
estão congregados em meu nome, ali estou Eu no meio deles”.
O astronauta comenta que, “cada vez que tens algum
tempo livre [na nave espacial], e olhas pela janela, há um tremendo sentimento
de gratidão [para com Deus] por olhar abaixo com esta perspectiva única de teu
mundo. Tu te sentes muito especial e muito humilde ao mesmo tempo. É muito
comovedor e inspirador”.

Comentando 10 anos depois essa aventura, afirma Jones: “Estamos
destinados a nos assombrar no espaço. Se nossa espécie imperfeita encontrou
tais cintilações de deleite em nosso primeiro encontro com o cosmos, então
verdadeiramente encontramos a um Deus muito carinhoso e generoso”. Ele diz
que “era consciente de que cada dia no espaço era um regalo especial
[de Deus], e sabia que me havia sido concedido esse regalo único. Cada noite,
antes de dormir, agradecia a Deus por essas maravilhosas vistas da Terra, e
pelo êxito de nossa missão. Continuamente pedia pela segurança de nossa
tripulação, e para que tivéssemos um feliz encontro com nossas famílias”. Ele
era casado com Liz Jones, e tinha duas filhas.
Tom Jones confessa que, ao contrário do que se poderia
pensar, no espaço sempre lhe foi mais fácil rezar. Ele levava consigo textos
das leituras das Missas dos domingos e outras passagens da Sagrada Escritura,
anotados em um caderno que tinha para utilizar em suas missões. Sobretudo,
afirma ele, o Rosário sempre fez parte de sua equipagem pessoal.
Depois dessa inesquecível viagem espacial, Thomas Jones
participou de mais três missões, e realizou três passeios espaciais durante a
construção da Estação Espacial Internacional. No total, ele passou 53 dias no
espaço o que, segundo afirma, o ajudou a acrescentar ainda mais a fé católica
que já professava quando voou ao espaço pela última vez em 2001.
Atualmente Jones é paroquiano na igreja de São João Newmann,
em Reston, na Virginia, onde exerce a função de leitor.
Outro astronauta que teve a graça de comungar no espaço foi
Michael Hopkins [foto]. Nascido em dezembro de 1968, ele é coronel da
Força Espacial dos Estados Unidos e astronauta da Nasa.
Casado com Júlia Stutz e pai de dois filhos, antigo membro
da Igreja Metodista, ele se converteu e foi recebido na Igreja Católica em
2013, unindo-se assim na mesma fé à sua esposa e aos filhos.
Hopkins participou de várias missões da NASA, sendo o
primeiro membro de sua aula a voar no espaço, e o primeiro astronauta a se
transferir para a Força Espacial dos Estados Unidos, participando de uma
cerimônia de transferência na Estação Espacial Internacional.
Em setembro do ano de 2013, o astronauta americano foi
designado para participar, com seus congêneres soviéticos, da missão Soyuz
TMA-10M. Essa nave espacial permaneceu seis meses no espaço, acoplada à
Estação Espacial Internacional para servir como veículo de escape em caso de
emergência.
Para se ter uma ideia da profundidade da conversão à
verdadeira Igreja deste ex-metodista, que ocorrera nesse mesmo ano de 2013,
considere-se que, para não ficar durante esse longo período sem receber a
Sagrada Comunhão, Hopkins obteve do arcebispo de Galveston-Houston, por
intermédio de seu pároco, o Pe. James H. Kuczynsky, que fosse nomeado ministro
extraordinário da Eucaristia, e licença para levar consigo ao espaço uma teca
com seis hóstias consagradas, número suficiente para que ele pudesse comungar
aos domingos, durante as 24 semanas que ficaria no espaço. Afirma ele que
isso “foi extremamente importante para mim”.
Desse modo, chegando o domingo, ele se recolhia na Estação
Espacial, e preparava-se para a Comunhão com algumas leituras e orações. Depois
comungava. Nos dias da semana em que não comungava, Hopkins sempre fazia alguns
momentos de adoração do Santíssimo Sacramento.
Esse astronauta genuinamente católico, também procurava ver
a Deus no espaço. Para ele, “quando você vê a Terra desde esse ponto de
vista [de uma obra de Deus], e a beleza natural que existe, é difícil não
sentar-se aí, e dar-se conta de que tem que haver uma força superior
que fez tudo isso”. Isto é, um Deus criador do Céu e da Terra, e
de tudo quanto existe[i].
[i] Fontes
– https://www.religionenlibertad.com/ciencia_y_fe/734263843/tom-jones-astronauta-catolico-comulgar-espaci-nasa.html?utm_source=boletin&utm_medium=mail&utm_campaign=boletin&origin=newsletter&id=31&tipo=3&identificador=734263843&id_boletin=218880017&cod_suscriptor=452495753
– https://en.wikipedia.org/wiki/Michael_S._Hopkins
– https://www.catholicherald.com/News/Local_News/For_veteran_astronaut_and_Catholic_Tom_Jones,_space_was_a_spiritual_experience/
– https://www.religionenlibertad.com/personajes/55296/astronauta-revela-tremenda-experiencia-comulgar-espacio.html
https://www.abim.inf.br/recebendo-a-sagrada-comunhao-no-espaco/
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