5 de agosto de 2020
Carta Aberta do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira ao
Conselho Permanente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
Excelências: Chegou a hora de virar a página da Teologia da Libertação!
Segundo notícias de imprensa, o Conselho Permanente da CNBB irá discutir, no dia 5 de agosto, a “Carta ao Povo de Deus”, vazada para uma colunista da Folha de S. Paulo e assinada presumidamente por 152 bispos.A carta é um forte ataque ao atual Governo, baseado muito mais em uma posição ideológica de esquerda do que na doutrina social da Igreja.
Enquanto estavam na ativa e à frente das suas dioceses,
esses prelados foram os mentores do Partido dos Trabalhadores, seus maiores
promotores, através das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), e seus principais
aliados quando o partido conseguiu chegar ao poder e tentou implantar no Brasil
o regime socialista com o qual sonhavam.
Descontentes com o “aburguesamento” dos quadros do PT e sua
demora em fazer as reformas estruturais que a passagem para o socialismo
necessitava, esses prelados aliaram-se ao MST e aos “movimentos populares”, que
representavam a ala ardida da esquerda.
Comissão Pastoral da Terra
Através da Pastoral da Terra, do Conselho Indigenista
Missionário (CIMI) e de outros organismos eclesiais, incentivaram e abençoaram
as invasões de terras e de prédios urbanos, a destruição de campos de pesquisa
científica, as greves e os distúrbios nas ruas, os arrastões e a impunidade
para os criminosos, como meio de pressão política sobre a opinião pública
nacional e sobre um Governo que, para eles, não estava sendo suficientemente
radical em suas reformas.
Mas esse desgosto não impediu esses prelados de manter seu
apoio ao sistema petista quando este compensou a relativa lentidão na aplicação
das reformas econômicas com uma radicalização apressada da agenda de corrupção
dos costumes, mediante a legalização de alguns casos de aborto, o reconhecimento
das uniões extraconjugais e de parceiros homossexuais, a paulatina introdução
da ideologia de gênero na educação das crianças, o financiamento de expressões
“artísticas” imorais e blasfemas etc.
Por fim, quando explodiu o descontentamento da população pelo
aparelhamento do Estado, promovido pelo PT, e pela instalação do maior sistema
de corrupção financeira da história do Brasil e talvez da história da
humanidade, esses prelados fizeram tudo que estava ao seu alcance para salvar
esse Governo que eles julgavam ser o mal menor. Mas, acima de tudo, para evitar
que a onda conservadora das ruas se traduzisse em um movimento de restauração
moral em nosso País, apressando-se a retirar qualquer apoio religioso aos que
se levantavam contra o processo de socialização do Brasil.
Entretanto, a atuação militante dessa ala mais à esquerda do
episcopado não impediu o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff
e a posterior eleição do Sr. Jair Bolsonaro à Presidência da República.
Amargurados pela derrota eleitoral, incluindo o estrondoso
fracasso do Sr. Boulos e das outras correntes da extrema esquerda com as quais
esses prelados melhor se identificavam, ainda viram ser eleito, escolhido pela
maioria dos brasileiros, um homem que representava o oposto ideológico do que defendiam.
Diante do gradual desmantelamento dos fracassados
assentamentos de Reforma Agrária, dos guetos indígenas, do combate à impunidade
etc, esses Bispos, minoritários e aposentados, vociferam agora sua frustração,
voltando-se raivosamente contra as autoridades federais com o pretexto da má
condução da crise sanitária.
Trata-se provavelmente de sua derradeira tentativa (que
seria incongruente qualificar de canto de cisne), de persuadir o povo
brasileiro da bondade de suas utopias, agora já nas vésperas de deixar o palco
e passar a engrossar a longa série dos “iluminados” que fracassaram nessa
missão de levar o Brasil para a esquerda.
Encontro das CEBs
De tal maneira esses prelados derrotados estão cientes do
abismo que os separa das aspirações da maioria da população brasileira que, na
sua carta-vitupério, nem sequer tiveram a coragem de afirmar em alto e bom som
os princípios comunistas que os animam. Servindo-se de circunlóquios e de
outras ginásticas verbais, procuraram exprimir seu pensamento: o Brasil seria
uma “sociedade estruturalmente desigual, injusta e violenta”, o sistema do
atual Governo colocaria no centro “a defesa intransigente dos interesses de uma
‘economia que mata’, centrada no mercado e no lucro a qualquer preço”, seu
desprezo pela educação e a cultura ficaria visível “no desconhecimento e
depreciação de processos pedagógicos e de importantes pensadores do Brasil”
(não teria sido mais simples e transparente dizer “a ‘pedagogia dos oprimidos’
de Paulo Freire”?) etc.
O fanatismo ideológico desses prelados os leva a ver o cisco
no olho alheio e a não perceber a trave no próprio. “Até a religião é utilizada”,
afirmam eles incautamente, “para manipular sentimentos e crenças, provocar
divisões, difundir o ódio, criar tensões”, como se não fosse precisamente isso
que fizeram durante décadas por meios das CEBs e das pastorais de apoio às
atividades incendiárias dos movimentos ditos “populares”.
Por terem sido esses prelados os responsáveis em promover,
durante décadas, a luta de classes e o comunismo, são eles que se fazem
merecedores da apóstrofe que dirigem ao presidente Bolsonaro e ao seu Governo:
“Como não ficarmos indignados diante do uso do nome de Deus e de sua Santa
Palavra, misturados a falas e posturas preconceituosas, que incitam ao ódio, ao
invés de pregar o amor, para legitimar práticas que não condizem com o Reino de
Deus e sua justiça?”
Presidente Jair Bolsonaro recebendo a visita da imagem de Nossa Senhora de Fátima em Brasília
Na realidade, o que os bispos signatários da «Carta ao Povo
de Deus» rejeitam é, sobretudo, o apoio que o Presidente Bolsonaro recebe de
católicos conservadores, assim como de lideranças pentecostais que contam com
um eleitorado também conservador nos costumes.
Paradoxalmente, os principais responsáveis pela perda de
fiéis católicos e pelo crescimento dessas igrejas pentecostais, tão atuantes na
política, foram esses mesmos bispos da “esquerda católica”, que hoje se queixam
do resultado de seus próprios desatinos.
Os próprios protestantes não hesitam em reconhecer que seu
crescimento exponencial se deu no período em que a corrente desses prelados,
adeptos da Teologia da Libertação, dirigia a CNBB.
Ao apoiarem o PT, o MST e outros movimentos de esquerda,
conferindo um viés político às suas pastorais, esses bispos católicos
desagradaram milhões de fiéis que, sentindo-se órfãos de uma verdadeira
assistência religiosa, migraram para as seitas protestantes.
Em 2001, o então líder da Convenção Batista do Brasil, o pastor Nilson Fanini, resumiu para a revista americana Time1, em um comentário, ao qual não falta uma nota de sarcasmo, como e por qual motivo isso se deu: “A Igreja Católica optou pelos pobres, mas os pobres optaram pelos evangélicos”. Por quê? Simplesmente porque “essas pessoas estavam famintas de algo mais do que simplesmente comida; os evangélicos supriram melhor as necessidades emocionais e espirituais do povo”, afirmou para a mesma revista o Sr. Henrique Mafra Caldeira de Andrada, diretor do programa protestante no Instituto de Estudos Religiosos de Rio de Janeiro.
Bispo e padres celebram missa em assentamento do MST
Em nome da interpretação marxista da “opção preferencial
pelos pobres”, feita pela Teologia da Libertação, as conferências episcopais da
América Latina deram apoio à agenda revolucionária de esquerda. O resultado foi
o abandono de milhões de almas, sobretudo das pessoas mais simples, nas mãos
dos pastores protestantes.
Um estudo do Conselho Episcopal Latino-Americano—CELAM
revelou, no fim dos anos 1990, que, já naqueles anos, 8.000 latino-americanos
abandonavam a Igreja Católica por dia e passavam para os evangélicos!2
Em apenas quatro décadas — levando-se em conta o crescimento
populacional do Brasil —, essa mal interpretada “opção preferencial pelos
pobres” de viés esquerdista fez com que os protestantes ganhassem 30 milhões de
adeptos e a Igreja Católica perdesse mais de 50 milhões de fiéis, para eles ou
para as diversas seitas, ou até para a irreligião.
Essa é a triste evidencia dos fatos. Ela é uma prova
flagrante de que foi por ter apoiado correntes revolucionárias e demagógicas
que a Igreja Católica se desacreditou junto aos pobres e aos excluídos. Os
mesmos “excluídos” que esses bispos ‘foice e martelo’ dizem querer
libertar!
Vossas Excelências não são da mesma geração desses
frustrados e fracassados bispos que assinaram a famigerada Carta ao Povo
de Deus. Como os jovens israelitas nascidos no cativeiro da Babilônia, os
Senhores podem justificadamente murmurar: “Os pais comeram uvas verdes, e
prejudicados ficaram os dentes dos filhos” (Jer 31, 29). Em outras palavras, a
atual direção da CNBB herdou uma situação catastrófica que foi criada pelos
seus antecessores imediatos. Incumbe agora aos Senhores reparar o dano.
Para isso foram sagrados Bispos da Santa Igreja, chamados
por Deus à altíssima missão de restaurar o Catolicismo no Brasil, para cujo
cumprimento podem contar com o apoio dos fiéis católicos que frequentam os
sacramentos, muito mais numerosos do que as minguadas tropas dos militantes das
CEBs.
Se Vossas Excelências não abandonarem resolutamente a via
errada pela qual se embrenharam seus predecessores e entrarem em clara
consonância com as aspirações religiosas profundas do povo brasileiro e, em
particular, de seu próprio rebanho católico, o abismo psicológico que hoje
separa as ovelhas dos pastores não fará senão crescer, com a perda suplementar
de milhões de almas!
Quando os Srs. estudaram no seminário, o latim já tinha sido
abandonado no currículo acadêmico. Mas ser-lhes-á fácil compreender a frase,
outrora famosa, de Santo Agostinho: “Humanum fuit errare, diabolicum est per
animositatem in errore manere”.[3]
Na atual emergência nacional, que requer a união de todos os
brasileiros num projeto que atraia a imensa maioria da população, seria
realmente diabólico obstinar-se no erro humano que levou à trágica perda de
incontáveis fiéis e grave prejuízo para todo o País.
Apelamos, portanto, para o bom senso do Conselho Permanente
da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, pedindo a Vossas Excelências que
repudiem, com a máxima energia, o documento escandaloso assinado por 152 dos
seus irmãos no episcopado e o façam saber do alto dos púlpitos. É preciso ficar
claro, à maioria conservadora do público brasileiro, que essa posição
minoritária não corresponde à dos bispos do Brasil.
A mais importante reforma que o Brasil tanto necessita — e
que espera ver encampada por seus bispos — é a moral: “Buscai em primeiro lugar
o Reino de Deus e a sua justiça e todas estas coisas vos serão dadas em
acréscimo.”
É com essas esperanças que nos dirigimos respeitosamente a
Vossas Excelências, pedindo sua bênção,
In Jesu et Maria,
Eduardo de Barros Brotero
Diretor
São Paulo, 4 de agosto de 2020
Festa litúrgica de S. João Maria Vianney, o Cura d’Ars
___________________
[1]http://content.time.com/time/magazine/article/0,9171,156277,00.html
[2] https://www.ncronline.org/blogs/all-things-catholic/dramatic-growth-evangelicals-latin-america
[3] Sermões
164.14.
http://www.abim.inf.br/virem-a-pagina-da-teologia-da-libertacao/
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