Hebreia
Flos campi et
lilium convallium
(Cântico
dos Cânticos)
Pomba de esperança sobre um mar de
escolhos,
Lírio do vale oriental, brilhante,
Estrela Vésper do pastor errante,
Ramo de murta a rescender
cheirosa!
Tu és, ó filha de Israel
formosa...
Tu és, ó linda, sedutora hebreia.
Pálida rosa da infeliz Judéia
Sem ter o orvalho, que do céu
deriva!
Por que descoras, quando a tarde
esquisa
Mira-se triste sobre o azul das
vagas?
Serão saudades das infindas plagas
Onde a oliveira no Jordão se
inclina?
Sonhas acaso, quando o sol
declina,
A terra santa do Oriente imenso?
E as caravanas no deserto extenso?
E os pegureiros da palmeira à
sombra?!...
Sim, fora belo na relvosa alfombra,
Junto da fonte, onde Raquel
gemera,
Viver contigo qual Jacó vivera
Guiando escravo teu feliz
rebanho...
Depois nas águas de cheiroso banho
- Como Suzana a estremecer de frio
–
Fitar-te, ó flor do babilônio rio,
Fitar-te a medo no salgueiro oculto.
Vem pois!... Contigo no deserto
inculto,
Fugindo às iras de Saul embora,
Davi eu fora se Micol tu foras,
Vibrando na harpa do profeta o
canto.
Não vês?... Do seio me goteja o
pranto
Qual da torrente do Cédron
deserto!
Como lutara o patriarca incerto
Lutei, meu anjo, mas caí vencido.
Eu sou o lótus para o chão
pendido,
Vem ser o orvalho oriental,
brilhante!
Ai! Guia o passo ao viajor
perdido,
Estrela Vésper do pastor
errante!...
Bahia, 1866
(ESPUMAS FLUTUANTES)
Castro Alves
......................
CASTRO ALVES
Antônio de Castro Alves nasceu na
comarca de Cachoeira, Estado da Bahia, a 14 de abril de 1847, sendo filho do
médico Antônio Alves e de sua mulher, D. Clélia Brasília da Silva Castro.
Faleceu na cidade do Salvador a 6 de julho de 1871. Na expressão de Afrânio
Peixoto Castro Alves “Pôs suas ideias à frente do seu sentimento e, num tempo
em que a miséria da escravidão não comovia ninguém, despertou com os seus poemas arrebatadores,
piedosos ou indignados, a sensibilidade humana e patriótica da geração que,
vinte anos mais tarde, viria a conseguir a liberdade. Por isso lhe deram o nome
invejável de Poeta dos Escravos. Das alturas do seu gênio compreendera que não
há grande homem sem uma grande causa social a que tenha servido, e não aspirava
a outra glorificação que a dessa obra realizada. A morte, depois, não
importaria...
De tumba da infâmia erguer um povo
Fazer de um verme – um rei.
Depois morrer... que a vida está
completa
- Rei ou tribuno. César ou poeta,
Que mais quereis, depois?
Basta escutar do fundo lá da cova
Dançar em vossa lousa a raça nova
Libertada por vós...”
* * *
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