A cidade perdida
Minha cidade estendeu-se
Alargou suas redondezas
Multiplicada em distância
Insatisfeita
Subiu
Buscando mais horizontes
e perdeu-se dentro dela.
Volto hoje a procurá-la.
Transfiguraram-se os jardins
E os encantos do seu rio
Tomaram novas feições.
Até o céu era outro,
ou eram outros os meus olhos?
Sob a ação de tanto tempo
Anoiteceu em si mesma
E confundiu seus vestígios
Entre as formas
De mais gritos.
Agora
É só pensamento
- minha cidade de outrora.
(“UM ÂNGULO ENTRE MONTANHAS”)
Walker Luna
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WALKER LUNA – Baiano de Itabuna, Walker Luna nasceu no dia 6 de agosto de 1925. Publicou “Estes Seres em Mim”, “Companheiro” e “Estações dos Pés”, dentre outros livros. Lírico, dotado de uma linguagem fluente, move seu discurso num ritmo agudo dentro dos limites do existir. Expõe essa paisagem estranha e solitária que comporta o ser humano na dor do viver. Poesia vazada numa experiência humana vivida com intensidade, ora triste ora amarga, de insônia e sofrimento cúmplices ante o transitório e o inevitável. Poesia que possui homogeneidade temática e formal, seus poemas interligam-se como por um fio narrativo, um complementando o outro, atingindo níveis vertiginosos, compartilhando perplexidade, angústias, emoção que vibra o ontem e o hoje em sua dicção, solitária, ao mesmo tempo que mistifica imagens.
Homem de temperamento arredio nos dá com sua poesia um testemunho de resistência luminosa, testemunho corajoso de sofrimento suportado com dignidade e altivez. Mas em seus versos, de plena lucidez nas estações que comovem, trafegam acenos que nos descobrem livres: “Exaltam-se nos tons verdes/ insinuam-se como flores/ e em sumo vital convertem-se proliferando frutos”.
(Cyro de Mattos)
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