O maior estímulo à candidatura à Presidência da República de
Bolsonaro é a tentativa de Lula de se manter na disputa. A estratégia do
ex-presidente é clara, embora seja uma missão quase impossível colocar sua
fotografia na urna eletrônica para que seja real o slogan já escolhido: Fulano
é Lula, Lula é Fulano.
Se sua foto aparecesse na urna, seu eleitorado teria a
sensação de que estaria votando nele, e pouco importaria o nome que estivesse
por trás daquela fotografia. Seria a indicação de que Lula é que governaria e,
mais que isso, a possibilidade de o futuro presidente petista conseguir alguma
maneira de tirá-lo da cadeia.
Para Bolsonaro, a pior coisa seria Lula ter um acesso de bom
senso e organizar a campanha presidencial do PT, ou das esquerdas unidas, em
torno de um dos nomes que estão na disputa, possivelmente o candidato do PDT,
Ciro Gomes, bem cotado nas pesquisas eleitorais, embora seja suplantado
sistematicamente pela candidata da Rede, Marina Silva.
Outra decisão do ex-presidente que só faz acirrar os ânimos
e dar mais gás ao antilula que Bolsonaro encarna é a radicalização da disputa
política, que ontem teve mais um episódio esdrúxulo: seis pobres coitados
selecionados por João Pedro Stédile para fazer greve de fome em favor de Lula
criaram uma balbúrdia em frente ao Supremo Tribunal Federal.
Ao assumirem, pela boca de Stédile, que não se fechará para
a comida, que fazem a greve de fome para pressionar o STF a permitir que Lula —
que também não adere à greve de fome — seja candidato à Presidência da
República, levam a disputa para o campo em que Bolsonaro se dá melhor.
Assim como Lula espera ganhar politicamente ficando em
evidência até o dia 20 de setembro, quando as urnas eletrônicas são
“inseminadas”, processo de instalação dos programas nas urnas, com os nomes,
números, fotos de candidatos, dados dos partidos e coligações, e a ordem de
votação, também Bolsonaro ganha com a ampliação do prazo para se vender como o
antilula.
O PT terá que tomar uma decisão durante esse processo, se o
Tribunal Superior Eleitoral (TSE) não agir com firmeza e rapidez. Manter a
candidatura de Lula até o final, mesmo correndo o risco de impugnação dos votos
dados a ele, significa uma jogada de confrontação máxima da Justiça, criando
uma instabilidade política perigosa.
Caso, por hipótese, Lula venha a ser um dos dois mais
votados no primeiro turno, e o recurso contra sua inelegibilidade continuar em
processo no STJ ou no STF, iria para o segundo turno ainda sub judice.
Se a inelegibilidade for confirmada antes da votação em 7 de
outubro, os votos dados a ele serão considerados nulos, e seriam classificados
os dois candidatos que terminassem o primeiro turno mais votados, além de Lula:
ou o primeiro e o terceiro colocados, caso Lula termine em segundo, ou o
segundo e terceiro, caso Lula chegue em primeiro.
Também os partidos coligados ao PT teriam que ir para uma
candidatura “a todo risco”, sabendo que seus votos poderão ser anulados caso se
confirme a inelegibilidade de Lula. Pela Lei da Ficha Limpa, o candidato pode
perder o mandato até mesmo depois de eleito. Por isso, os partidos de esquerda
têm cada um seu candidato próprio, e ninguém quer abrir mão dele para se
coligar com um candidato que pode provocar a anulação de todos os votos dados à
coligação.
Se o PT decidir não forçar uma crise institucional e trocar
de candidato, pode fazê-lo até o dia 17 de setembro, 20 dias antes da eleição.
Nesse caso, a foto e o nome do substituto estarão na urna eletrônica,
obedecendo à legislação. A hipótese de Lula poder participar da campanha
eleitoral é próxima de zero.
Em 15 de agosto termina o prazo para os partidos políticos e
coligações registrarem seus candidatos. A propaganda eleitoral começa no dia
seguinte, e 15 dias depois, a 31 de agosto, começa a propaganda eleitoral
gratuita através do rádio e da televisão.
Tudo indica que Lula vai tentar manter a candidatura até a
data limite, dando a seu substituto apenas 20 dias para fazer campanha. Para
sorte do substituto, porém, esse timing imaginado pela cúpula petista vai ser
atropelado pela Justiça Eleitoral, que deve não aceitar o registro de um
candidato previamente inelegível devido à Lei da Ficha Limpa, incorporada à lei
eleitoral.
Radicalização da disputa política é decisão do ex-presidente
que só faz acirrar os ânimos e dar gás ao antilula.
O Globo, 01/08/2018
......
Merval Pereira - Oitavo ocupante da cadeira nº 31 da ABL,
eleito em 2 de junho de 2011, na sucessão de Moacyr Scliar, falecido em 27 de
fevereiro de 2011, foi recebido em 23 de setembro de 2011, pelo Acadêmico
Eduardo Portella.
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