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segunda-feira, 26 de junho de 2017

ATIRE A PEDRA – Agenilda Palmeira


Atire a Pedra


As redes sociais e a imprensa veicularam o linchamento de uma senhora no Guarujá(SP), informações desencontradas levaram uma turba a cometer uma atrocidade em plena metade da segunda década do século XXI. Não vamos aqui, caro leitor, especular a novidade do fato, pois não o há. Na Palestina, há mais de dois mil anos, uma mulher foi pega em flagrante adultério – para tanto, imagina-se que foi posta para fora, completamente despida. E todos sem exceção aguardavam a ordem para o apedrejamento. Na realidade o que se ouviu não foi uma ordem sumária de execução, mas o estabelecimento de critérios, “quem for isento de pecado, que atire a primeira pedra” e a execução foi cancelada.

Entretanto, Fabiane Maria de Jesus, não teve a mesma sorte. A justiça foi feita, mesmo que com as próprias mãos. Mas por que faltou bom senso em uma tragédia desta? Ela foi injustamente acusada de bruxaria, sequestro, infanticídio e os boatos garantiram a “legítima defesa coletiva”, pois os agressores usaram o argumento de que fizeram tal barbárie para proteger as crianças. Agora fala-se em arrependimento. Voltamos aqui ao texto Pedrinhas, rolezinhos e Revolução Francesa. No Guarujá foi feito um rolezinho e o divertimento era trucidar uma senhora, mãe de dois filhos. É o fenômeno das multidões, já não vimos tal situação no futebol? O fato é que o linchamento é covarde pois garante o anonimato.

Se juridicamente, o Estado não agir de forma rápida, estas cenas tendem a se repetir, é preciso que medidas sejam tomadas para que o monopólio da justiça volte às mãos do Estado É fato que o Estado ainda apresenta uma conta deficitária saúde, moradia, cultura, justiça e principalmente educação de qualidade que aliada a cultura promove uma vida pensante. A educação pode até estar massificada mas sua qualidade ainda é muito baixa. O resultado é que os equipamentos culturais da grande maioria populacional, não promovem uma reflexão sobre a notícia e para tanto; informação pura e simples, fica refém do achismo e o “eu acho que é ela” ganha força. .

Um linchamento nos leva a refletir sobre a ausência do Estado. Gradativamente, o poder político afastou-se das comunidades carentes, fazendo surgir zonas de exclusão e essas lacunas sociais se agravaram nas décadas de oitenta e noventa promovendo o surgimento de Estados embrionários como o narcotráfico e as milícias, que promovem justiciamento à margem do Estado Democrático de Direito. Assim, qualquer um pode cair nas mãos dos justiceiros, mas na prática a teoria é outra e as pessoas mais pobres são e estão mais vulneráveis por conta da lacuna da legalidade, pelo fato do braço estatal que as comunidades carentes conhecem é a polícia. Como se vê a violência não é só um caso de polícia. É sobretudo de política social. Não há uma fórmula capaz de, por si, assegurar a convivência pacífica entre as pessoas. Mas é certo que sem justiça social, sem ações contra o fosso social e sem investimentos em áreas básicas como educação e saúde, persistirá o quadro de desigualdades, insegurança e medo que marca o cotidiano e a realidade de todos nós.

Os políticos prometem proteger os princípios constitucionais. Atribuir culpa as esferas Estadual. Federal, Municipal é pura generalização. O fato de o tecido social está gangrenado pela corrupção, a educação que promove uma ética estimuladora de cidadania e que o caldeirão da ignorância não entorne na forma de violência como vimos. Os justiceiros surgem por conta da anomia e da impunidade, que os tornam pessoas acima das leis e das autoridades. Temo tal cenário, pois esta sociedade doente pode legitimar um regime autoritário que se julgue capaz de por ordem na bagunça.

O que não seria necessário pois o império das leis (Estado Democrático de Direito) tem remédios constitucionais como o habeas corpus que protegem o indivíduo dos abusos estatais. Não nos falta justiça. Falta juízo e isto quem pode nos dar é a educação. Ela deve ser prioridade porque é um fator que contribui para o desenvolvimento do país. Essa é em geral a ideia dos que defendem a revolução pela educação. Mas a instrução universal, por si, não produz toda a mudança social no sentido de
mocrático. Antes, é a mudança social profunda que permite chegar a uma verdadeira instrução para todos. Se a sociedade é a morada do homem, a educação é alicerce e teto dessa construção.

Agenilda Palmeira, professora

Membro da Academia Grapiúna de Letras (AGRAL) Itabuna – Bahia.

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