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domingo, 25 de junho de 2017

FESTA LITERÁRIA INTERNACIONAL DE PARATY FLIP 2017: Lima Barreto

FLIP 2017: Lima Barreto

A obra do escritor carioca Lima Barreto estará em discussão na 15ª Flip, que acontece de 26 a 30 de julho de 2017.

 A edição resgatará a trajetória de um homem que estabeleceu-se como escritor no Rio de Janeiro, capital da Primeira República e da cultura literária do país. Em um meio marcado pela divisão de classes e pela influência das belas letras europeias, era difícil para um autor brasileiro com as suas origens afirmar seu valor. Foram necessárias várias gerações para que se consolidasse o nome do criador de uma das obras mais plurais e inovadoras da literatura brasileira, que permite tanto o apreço do leitor quanto reflexões nos campos da literatura, da história e das ciências sociais.

Sobre o autor

Afonso Henriques de Lima Barreto nasce no Rio de Janeiro em 13 de maio de 1881. Perde a mãe, Amália Augusta, escrava liberta e professora, quando tinha seis anos, ficando sob os cuidados do pai, o tipógrafo João Henrique, que, poucos anos depois, é diagnosticado como neurastênico, o que o levaria a ficar recolhido pelo resto da vida. A doença do pai o obriga a deixar a Politécnica para sustentar a família como Amanuense do Ministério da Guerra.

Inicia sua colaboração regular para a imprensa em 1905, no Correio da Manhã. O jornal, extinto em 1974, serviu de inspiração para a criação de Recordações do Escrivão Isaías Caminha, publicado em 1909. Pelas críticas à imprensa no livro, Lima Barreto é retirado do quadro de colaboradores do Correio da Manhã e tem proibida qualquer citação ao seu nome nas páginas do diário, mesmo trinta anos depois de sua morte. Passa a colaborar, sob pseudônimo, para revistas como a Fon-Fon e Revista da Época, fazendo uma crítica social e política do Rio de Janeiro e o Brasil.

Em 1911, escreve e publica Triste fim de Policarpo Quaresma em folhetim do Jornal do Comércio. O livro seria editado em livro quatro anos depois.

Lima, devido ao alcoolismo, é internado pela primeira vez no hospício em agosto de 1914, repetindo a tragédia pessoal de seu pai. A primeira internação serve, contudo, de inspiração para sua obra a posteriori.

Vida e morte de M. J. Gonzaga de Sá, livro que dialoga com o gênero biográfico, é publicado em 1919. No dia 25 de dezembro deste ano, o autor é internado pela segunda vez.

Lima Barreto morre, aos 41 anos, em 1º de novembro de 1922, Dia de Todos os Santos. No dia 3 de novembro, morre seu pai.

Clara dos Anjos, livro que foi escrito e reescrito durante quase toda a vida de Lima, é publicado em livro no mesmo ano de sua morte.

A obra de Lima Barreto passa por um resgate e uma refundação a partir da biografia publicada por Francisco de Assis Barbosa, A vida de Lima Barreto, e da recuperação de seus escritos, feita a partir do acervo pessoal catalogado pelo próprio autor.

O autor torna-se objeto de estudo de intelectuais de referência em diversas áreas da inteligência brasileira, como Antonio Candido, Nicolau Sevcenko, Osman Lins, Alfredo Bosi, Antonio Arnoni Prado, Beatriz Resende e Lilia Schwarcz.

“Por muito tempo Lima Barreto ficou na ‘aba’ de literatura social, e sua obra e trajetória possibilitaram muitos debates sobre a sociedade brasileira. O que eu gostaria, mesmo, é que a Flip contribuísse para revelar o grande autor que ele é. Para além das questões importantíssimas sobre o país que ajuda a levantar, tem uma expressão literária inventiva e interessante, à frente de sua época em termos formais, capaz de inspirar toda uma linhagem da literatura em língua portuguesa”, afirma Joselia Aguiar, curadora da Flip 2017.

“O Lima é o autor de um território. O universo literário dele é determinado pela criação da Avenida Central, do Rio de Janeiro, que estabelece os diferentes graus de distância dos subúrbios com a Zona Sul e o Centro da Cidade”, afirma Mauro Munhoz, diretor-geral da Flip. “O olhar do Lima sobre a variedade de personagens brasileiros – seja nos subúrbios, seja nas regiões centrais – é determinado pela experiência do território onde viveu por quase toda a vida. Desse modo, sendo um grande autor, ele fez valer a máxima ‘Se queres ser universal, começa por pintar a tua aldeia’, do Tolstói.”



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Flip 2017 terá mais vozes femininas e negras participando dos debates, conta curadora

Será a primeira vez que haverá mais mulheres compondo as mesas da festa que, este ano, homenageia Lima Barreto

Norna Odara
Brasil de Fato | São Paulo (SP)

23 de Junho de 2017

Festa Literária de Paraty de 2009 / Monica/ Flickr

Com um autor negro como homenageado, Lima Barreto, e tendo, pela primeira vez na história, mais vozes femininas do que masculinas participando dos debates — serão 24 mulheres e 22 homens na composição das mesas — a já tradicional Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) chega a sua 15ª edição com mais representatividade de gênero e raça.

O evento, que ocorrerá do dia 26 a 30 de julho, na cidade de Paraty, no Rio de Janeiro, reunirá autoras e autores nacionais e internacionais, como a nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie, a mineira Conceição Evaristo, a gaúcha Eliane Brum e o pernambucano Marcelino Freire, entre muitos outros.


"O que a gente está propondo com essa Flip é um recorte que não é, de maneira nenhuma, o espelho do que existe no mercado editorial. Trata-se de um novo recorte, uma nova proposta de representação", comenta a curadora da Flip e pesquisadora Josélia Aguiar.

A inspiração para a edição deste ano, segundo Josélia, veio de campanhas como "Leia Mulheres" (read women), fomentada pela britânica Joanna Walsh, em 2014, no Reino Unido, que buscava incentivar a leitura de obras de mulheres, em contraposição ao mercado editorial, que não lhes proporcionava visibilidade. Outra iniciativa inspiradora para a edição da feira foi o "Vidas Negras Importam" [Black Lives Metter], que surgiu nos Estados Unidos com o intuito de se contrapor à violência policial e hostilidade sofrida contra negros e negras e para ressaltar fato de que as vidas negras têm valor.

Homenageado do ano e grandes autores

"Não há muito tempo, em dias de carnaval, um rapaz atirou sobre a ex-noiva, lá pelas bandas do Estácio, matando-se em seguida. A moça com a bala na espinha, veio morrer, dias após, entre sofrimentos atrozes". Esse trecho é de uma crônica de 1915 escrita por Lima Barreto, o homenageado na Festa Literária de Paraty (FLIP) deste ano, abordando o tema do feminicídio no início do século 19.  A crônica intitulada "Não as matem" é parte da publicação "Vida Urbana", uma coletânea de crônicas e artigos do autor publicada em 1953.

A curadora da Flip, Josélia Aguiar, explica sobre a escolha deste autor, que "escreveu sobre diversos gêneros" e mantinha uma "visão da sociedade brasileira que é muito atual".

"Lima Barreto me interessa há uns cinco anos por causa do projeto de um livro, que já está praticamente pra ser lançado, que é a biografia do Jorge Amado. Ele muito jovem adorava o Lima Barreto. Então, eu tive que ler Lima Barreto e as conexões entre eles", conta Josélia.

Josélia reforça que a expectativa para o evento é grande e ressalta a importância de trazer cada vez mais autores e autoras de diversos países, gêneros e abordagens para um evento da magnitude da Festa: "A história da Flip é muito bonita, de uma festa literária que ajuda a pautar a literatura, que trouxe grandes autores e autoras, inclusive grandes autores negros e negras, como a escritora [estadunidense] Toni Morrison e, no ano passado, Svetlana Aleksiévitch, prêmio Nobel".

Edição: Vanessa Martina Silva




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