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segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

DE SANTOS DUMONT A EIKE BATISTA – Por Kleber Galvêas

De Santos Dumont a Eike Batista

          Poucos anos após inventar uma maneira de dirigir balões, fazendo-os retornar ao ponto de partida, Santos Dumont decolou com o seu Demoiselle (“senhorita”), o primeiro avião a sair do chão sem um empurrão. O dos Irmãos Wright foi empurrado do chão para cima: através de uma catapulta; pelo interesse do exército americano; financiado por empresários e incentivado pela propaganda nacionalista cabotina.

          Santos Dumont atuava com recursos próprios. Romântico, voltou para o Brasil. Os Irmãos Wright, com espirito weberiano, apoio da mídia, do governo e de empresários, criaram uma empresa. Seus descendentes fabricam peças para aeronaves nos EUA.

          Transcorrido um século, brasileiros continuam desacreditados por parte expressiva da mídia, pelo espírito provinciano, comum entre nós (“Fazer sucesso no Brasil é ofensa pessoal” — Tom Jobin) e principalmente pelo governo que nos descapitaliza tomando o nosso dinheiro, com taxas e impostos abusivos. Não adianta nossa criatividade e espirito empreendedor se não há capital, e os juros sufocam.

          O empresário nacional, mesmo o pequeno, tem que ter manha de camelô: “um olho na esquina, outro no freguês”, ou melhor, um olho no governo e o outro na empresa. Tamanha a burocracia, diversidade e instabilidade legal vigentes.  Em alguns casos, agentes do governo induzem o incauto a saltar obstáculos legais (propinas), como a única maneira de continuar trabalhando.

          A cultura antecede a política que prevalece sobre ela, porque promulga as leis. Culturas diferentes propiciam diferentes políticas e leis próprias.

          Dizem os historiadores que a instituição da propina no Brasil remonta ao tempo das Capitanias Hereditárias. A coisa aqui se fez tão antiga, universal, volumosa e descarada, que acabou se tornando um monstro perigoso para todo mundo, visto por outros países como expressão da deslealdade comercial.

          Uma empresa, ao se expandir, se torna responsável por mais bocas dependentes do salário. O empresário que conhece a cultura local encara a ação paralela (propina) como vital, e, assim, contrata consultores e cria um departamento específico para agir com competência, consoante o ambiente.

          Embora tenha uma boa formação, ele se torna condescendente com o crime quando avalia o interesse pessoal, o da sua empresa e a responsabilidade para com terceiros. Então filosofa: se a Cultura concebe a Política, e os políticos fazem as Leis que nos convidam a transgredir, não há risco. Não será abandonado, com tantas informações, em barco furado, no meio de um oceano de denúncias.
Aconteceu!

          Daí o interesse pelas oportunas palavras do empresário Eike Batista ao embarcar para ser preso no Brasil: havendo culpa, pagar pelos erros cometidos, apoiar a Operação Lava Jato e apostar que, daqui para frente, a relação empresa-governo será diferente, transparente. Subliminarmente ele justificou as delações e indicou que, como a Operação Lava Jato alcança os políticos, a participação das empresas na nefasta rede de corrupção será esclarecida.

          Empresas criam riquezas. Mesmo a elite chinesa, que ontem “xingava” a Rússia de “revisionista”, percebeu que, sem formar uma classe empresarial, não conseguiria sustentar o seu povo e se manter no poder. O gigante chinês, deitado em berço esplêndido, compreendeu e cresceu.

          Acorda Brasil! Punição aos criminosos, vida longa e saudável para nossas empresas! 


Kleber Galvêas, pintor. Tel. (27) 3244 7115 www.galveas.com fevereiro, 2017.

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