De Santos Dumont a Eike Batista
Poucos anos após inventar uma maneira de dirigir balões,
fazendo-os retornar ao ponto de partida, Santos Dumont decolou com o seu Demoiselle (“senhorita”),
o primeiro avião a sair do chão sem um empurrão. O dos Irmãos Wright foi
empurrado do chão para cima: através de uma catapulta; pelo interesse do
exército americano; financiado por empresários e incentivado pela propaganda
nacionalista cabotina.
Santos Dumont atuava com recursos próprios. Romântico,
voltou para o Brasil. Os Irmãos Wright, com espirito weberiano, apoio da mídia,
do governo e de empresários, criaram uma empresa. Seus descendentes fabricam
peças para aeronaves nos EUA.
Transcorrido um século, brasileiros continuam desacreditados
por parte expressiva da mídia, pelo espírito provinciano, comum entre nós
(“Fazer sucesso no Brasil é ofensa pessoal” — Tom Jobin) e principalmente pelo
governo que nos descapitaliza tomando o nosso dinheiro, com taxas e impostos
abusivos. Não adianta nossa criatividade e espirito empreendedor se não há
capital, e os juros sufocam.
O empresário nacional, mesmo o pequeno, tem que ter manha de
camelô: “um olho na esquina, outro no freguês”, ou melhor, um olho no governo e
o outro na empresa. Tamanha a burocracia, diversidade e instabilidade legal
vigentes. Em alguns casos, agentes do governo induzem o incauto a saltar
obstáculos legais (propinas), como a única maneira de continuar trabalhando.
A cultura antecede a política que prevalece sobre ela,
porque promulga as leis. Culturas diferentes propiciam diferentes políticas e
leis próprias.
Dizem os historiadores que a instituição da propina no
Brasil remonta ao tempo das Capitanias Hereditárias. A coisa aqui se fez tão
antiga, universal, volumosa e descarada, que acabou se tornando um monstro
perigoso para todo mundo, visto por outros países como expressão da deslealdade
comercial.
Uma empresa, ao se expandir, se torna responsável por mais
bocas dependentes do salário. O empresário que conhece a cultura local encara a
ação paralela (propina) como vital, e, assim, contrata consultores e cria um
departamento específico para agir com competência, consoante o ambiente.
Embora tenha uma boa formação, ele se torna condescendente
com o crime quando avalia o interesse pessoal, o da sua empresa e a
responsabilidade para com terceiros. Então filosofa: se a Cultura concebe a
Política, e os políticos fazem as Leis que nos convidam a transgredir, não há
risco. Não será abandonado, com tantas informações, em barco furado, no meio de
um oceano de denúncias.
Aconteceu!
Daí o interesse pelas oportunas palavras do empresário Eike
Batista ao embarcar para ser preso no Brasil: havendo culpa, pagar pelos erros
cometidos, apoiar a Operação Lava Jato e apostar que, daqui para frente, a relação
empresa-governo será diferente, transparente. Subliminarmente ele justificou as
delações e indicou que, como a Operação Lava Jato alcança os políticos, a
participação das empresas na nefasta rede de corrupção será esclarecida.
Empresas criam riquezas. Mesmo a elite chinesa, que ontem
“xingava” a Rússia de “revisionista”, percebeu que, sem formar uma classe
empresarial, não conseguiria sustentar o seu povo e se manter no poder. O
gigante chinês, deitado em berço esplêndido, compreendeu e cresceu.
Acorda Brasil! Punição aos criminosos, vida longa e saudável
para nossas empresas!
Kleber Galvêas, pintor. Tel. (27) 3244 7115 www.galveas.com fevereiro,
2017.
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