Ele
veio me contar!
Noites com
temperaturas diferenciadas, sempre com caras de chuvas, trovões, ou nada
acontecer, desci do meu apartamento e fui me sentar em um banco embaixo de uma
frondosa árvore que, além de dar um sombreamento, acolhe com carinho os
pássaros para seus ninhos, dormidas e orquestração de cânticos ao amanhecer!
Comecei a
pensar na vida, recordações de amigos, parentes, etc. e, quando menos esperava,
olhei para o lado ali estava meu querido e saudoso avô, Albino Marcelino Alves
de Souza. Levantei-me sobressaltado, pois já faz mais de um ano que ele tinha
partido para o além!
- Calma
meu netinho querido, pelo afeto que lhe tenho e as suas curiosidades com
relação ao que acontece depois de nossa morte, consegui, as duras penas e
irregularmente, um “habeas corpus” para vir aqui conversar com você, tudo que
vi, vivi e comprovei do outro lado da vida, inclusive os diferenciais em função
das crenças e religiosidades dos empacotados e enviados pelo “Teletrevas”, ou
seja o correio dos mortos!
- Que
maravilha vovô! Você sempre fazendo as minhas vontades e, com grandes esforços,
veio me contar os segredos do além, desmitificando as opiniões de milhões de
sabichões e pregadores!
- Verdade
netinho querido, pois, embora tenha algumas coisas similares, na verdade as
regras são severas e os estatutos bastante rigorosos!
- Vou
começar meu relato pelo setor investigativo de procedência, crença que
professou na terra e a causa da morte. Preenchi o meu formulário, entreguei
para ser protocolado e recebi uma senha. Mandaram-me aguardar sentado em uma
imensa sala que, pelo visto, estava atolada de almas penadas. Algumas alegres,
outras tristes e, uma grande parte, indiferente apenas com olhares de
curiosidades. Assim como nos bancos, tinha um painel de televisão que aparecia
o número e o guichê que você deveria se dirigir. Serviço de primeira, rápido e
organizado com espera de alguns minutos. Apareceu meu número, segui para o
local de atendimento, chegando lá fui orientado que, devido a minha idade e
comportamento na terra, passaria de início uma temporada no céu, onde seria
testada a minha capacidade de adaptação celeste, que seria avaliado pelo MJD
(Ministério Judicial Divino), Mas, se o resultasse não fosse do meu agrado, eu
poderia recorrer ao STS (Supremo Tribunal Santificado), cujo o presidente é o
Espírito Santo, que é Deus o Pai de Jesus. Deram-me uma sacola com cinco batas
rendadas, chamaram um anjo da Transcéu Aérea, que me pegou pelo braço e saímos
voando para o céu, deixando-me cada vez mais curioso e, ao mesmo tempo, achando
tudo uma maravilha de nova experiência. Ao aterrissar no portão de entrada, me
deparei com uma cara bonachão, barbudo, com centenas de chaves na cintura,
sorriso largo e com pinta de boa praça. Rapaz, não é que era S. Pedro. Eu já ia
dizendo em meus pensamentos: “puta merda, que surpresa agradável”, mas, logo me
lembrei de que santo pode até ler pensamentos e dizer nomes feios deve ser
pecado aqui nesse lugar. Ele me abraçou, beijou minha testa e pegando uma chave,
me deu e disse: Você vai ficar sozinho e está com sorte. Acabou de vagar uma ap
numa nuvem com vista para a terra, com quarto e sala, varanda com um anjo
tocando harpa somente de MPB, segundo seu gosto pelo relatório de pesquisas. O
anjo me levou deu algumas orientações, falou que não tinha refeitório, pois não
se fazia refeições, apenas um lanche as 15 horas de hóstias fritas com pudim de
manjar e água benta! Para sustentação da alma isso era bastante, somente tendo
alguns comes e bebes no Natal que é aniversário do filho do Homem! Disse-me ele
que a minha modesta nuvem faz parte do programa especial “Minha nuvem, Minha
morte”, uma cópia do Minha casa, Minha vida! Jesus, depois que veio ao mundo,
criou a religião católica, fez centenas de milagres e morreu crucificado, não
faz mais nada! Vive em uma nuvem de quatro quartos, uma orquestra de anjos e os
melhores tenores que já morreram, quatro anjos da Aero Linhas Celestes para dar
passeios. Além de três donzelas para a limpeza da sua luxuosa nuvem! Uma aposentadoria
que jamais teremos na terra a não ser que sejamos políticos dos altos escalões!
- Impressionante
vovô! Continue, não pare não!
- Fiz logo
boas amizades com a vizinhança, meu trabalho era somente escrever crônicas de
auto estima e levantar a moral dos que ainda estavam inconformados, algumas
daquelas parábolas que sempre apresentaram para o povo, para lavarem seus
cérebros, principalmente, nas igrejas católicas e evangélicas. E isso para mim,
faço com o pé nas costas, colocando os caras para chorarem ou sorrirem,
levantando seus austrais! O resto do tempo era dormindo, ouvindo músicas, lendo
a Bíblia, ou vendo os programas religiosos na TV Universal, mas, não pertence
ao Bispo Macêdo não. Tudo aqui é e pertence ao Espírito Santo!
- Com as
amizades que fiz, conheci um velhinho que já está lá, há vários anos, e com
certo prestígio na área, conseguiu um passe terráqueo de 24 horas,
impreterivelmente, para que eu pudesse conversar com você. Imagine você meu
netinho, até aqui se consegue certas regalias por debaixo das nuvens! Onde o
homem pisa, parece que o lugar apodrece! Será que Deus, se procurasse, não
acharia um “barro” de melhor qualidade para esculpir esse perigoso ser? Parece
mais que foram feitos da mais podre lama!
- Então
meu netinho querido, essa é vida no céu para os que são católicos! Vou lhe
contar agora o que acontece com os espiritas, evangélicos e políticos. Mas, o
pior de todos são os castigos dados aos criminosos!
- Nisso eu
sinto uma sacudida no ombro chamando: seu Antonio, acorde que começou a chover
e é melhor o senhor ir para o apartamento. Tomei um susto retado, mais ainda
ouvi meu avô dizer: eu volto, fique tranquilo!
Juro que
fiquei puto da vida, pois, tenho certeza que tudo foi verdade, apenas nosso
contato estava sendo em terceiro ou quarto grau, dando a impressão que eu
estava dormindo. Tenham paciência que, amanhã ou depois, voltarei para debaixo
da minha árvore, me sentarei e aguardarei meu velhinho querido e revelador!
Claro que contarei para vocês, pois eu não sou baú para guardar segredos!
Antonio Nunes de
Souza, escritor
Membro da Academia Grapiúna de Letras – AGRAL
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