Movido
pelo amor, Sábato sabia que palco e rua são inseparáveis.
AIMAR LABAKI
Com a morte
de Sábato Magaldi, como disse o crítico e curador Kil Abreu, "fecha-se
ao menos em termos cronológicos (mas não de influência) o ciclo da crítica ao
teatro moderno no Brasil".
Difícil fazer compreender a quem não viveu a época em que
ambos publicavam o misto de respeito e afeto que cercava suas figuras.
Sábato e Décio eram críticos pedagogos, mestres autodidatas,
que criticavam em diálogo direto com o processo dos artistas e grupos, e
escreviam buscando contribuir para a formação intelectual de seus espectadores.
Eram, pois, professores nas duas pontas da equação.
Reconhecidos pela classe teatral como companheiros de
jornada, não deixavam de ser tratados com uma certa reverência. Relação que
hoje se diria autoritária, mas que à época era apenas natural, dadas as
circunstâncias.
AnteriorAmigo fraterno de
Nelson Rodrigues, defendeu e explicou sua obra antes mesmo do autor ser aceito
e, post-mortem, consagrado. Não se furtou a algumas duras polêmicas, como a que
manteve por meio de cartas com José Celso Martinez Correa, quando da montagem
de "Gracias, Señor" —episódio que de certa maneira marca a ruptura
entre a primeira e a segunda gerações do teatro moderno brasileiro.
E contribuiu para a formação de inúmeros críticos e
pensadores. Foram seus alunos, entre muitos outros, Ilka Maria Zanotto,
Mariângela Alves de Lima, Silvana Garcia, Edélcio Mostaço, para não falar de
seu sucessor no "Jornal da Tarde", Alberto Guzik.
O que o movia era o amor —amor ao teatro e amor às pessoas,
não fosse o grande proseador que era. Conversar com Sábato, mais que um
aprendizado, era um grande prazer.
Deixa uma grande obra publicada incontornável —e outra,
submersa: um diário que manteve durante todos os anos de crítica. Obra que
merece ser depositada em alguma biblioteca, nem que seja para só ser aberta
daqui a alguns anos, como aparentemente era seu desejo. Sábato era um homem de
teatro, e como tal sabia que palco e rua são inseparáveis.
Ainda que algumas de suas teses estejam sendo revistas à luz
de novos trabalhos e pesquisas, seus livros permanecem e permanecerão como
fonte primária insubstituível. Escritas com o rigor e sabor que caracterizavam
também sua fala.
Mineiro, de charme insuspeitado por trás da timidez e
formalidade aparentes, Sábato teve por grande parte da vida uma grande
companheira, Edla van Steen, escritora talentosa, intelectual de brilho próprio
—e uma das mulheres mais bonitas que este país já viu. Foi casado também com
outra grande artista, Marilena Ansaldi, atriz e bailarina.
Com ele, ficamos todos um pouco órfãos. Mesmo aqueles que
nem conhecem ainda seu nome, mas sabem que seu próprio caminho passa por duas
tábuas e uma paixão —em língua portuguesa.
AIMAR LABAKI é
dramaturgo, roteirista e diretor.
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