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terça-feira, 15 de novembro de 2016

MOVIDO PELO AMOR, SÁBATO SABIA QUE PALCO E RUA SÃO INSEPARÁVEIS

Movido pelo amor, Sábato sabia que palco e rua são inseparáveis.
AIMAR LABAKI

Com a morte de Sábato Magaldi, como disse o crítico e curador Kil Abreu, "fecha-se ao menos em termos cronológicos (mas não de influência) o ciclo da crítica ao teatro moderno no Brasil".
Difícil fazer compreender a quem não viveu a época em que ambos publicavam o misto de respeito e afeto que cercava suas figuras.

Sábato e Décio eram críticos pedagogos, mestres autodidatas, que criticavam em diálogo direto com o processo dos artistas e grupos, e escreviam buscando contribuir para a formação intelectual de seus espectadores. Eram, pois, professores nas duas pontas da equação.

Reconhecidos pela classe teatral como companheiros de jornada, não deixavam de ser tratados com uma certa reverência. Relação que hoje se diria autoritária, mas que à época era apenas natural, dadas as circunstâncias.

AnteriorAmigo fraterno de Nelson Rodrigues, defendeu e explicou sua obra antes mesmo do autor ser aceito e, post-mortem, consagrado. Não se furtou a algumas duras polêmicas, como a que manteve por meio de cartas com José Celso Martinez Correa, quando da montagem de "Gracias, Señor" —episódio que de certa maneira marca a ruptura entre a primeira e a segunda gerações do teatro moderno brasileiro.

E contribuiu para a formação de inúmeros críticos e pensadores. Foram seus alunos, entre muitos outros, Ilka Maria Zanotto, Mariângela Alves de Lima, Silvana Garcia, Edélcio Mostaço, para não falar de seu sucessor no "Jornal da Tarde", Alberto Guzik.

O que o movia era o amor —amor ao teatro e amor às pessoas, não fosse o grande proseador que era. Conversar com Sábato, mais que um aprendizado, era um grande prazer.

Deixa uma grande obra publicada incontornável —e outra, submersa: um diário que manteve durante todos os anos de crítica. Obra que merece ser depositada em alguma biblioteca, nem que seja para só ser aberta daqui a alguns anos, como aparentemente era seu desejo. Sábato era um homem de teatro, e como tal sabia que palco e rua são inseparáveis.

Ainda que algumas de suas teses estejam sendo revistas à luz de novos trabalhos e pesquisas, seus livros permanecem e permanecerão como fonte primária insubstituível. Escritas com o rigor e sabor que caracterizavam também sua fala.

Mineiro, de charme insuspeitado por trás da timidez e formalidade aparentes, Sábato teve por grande parte da vida uma grande companheira, Edla van Steen, escritora talentosa, intelectual de brilho próprio —e uma das mulheres mais bonitas que este país já viu. Foi casado também com outra grande artista, Marilena Ansaldi, atriz e bailarina.

Com ele, ficamos todos um pouco órfãos. Mesmo aqueles que nem conhecem ainda seu nome, mas sabem que seu próprio caminho passa por duas tábuas e uma paixão —em língua portuguesa.

 AIMAR LABAKI é dramaturgo, roteirista e diretor.



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