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sexta-feira, 3 de julho de 2020

O VÍRUS DA REVOLUÇÃO MATA O CORPO E A ALMA

2 de julho de 2020
Carlos Vitor Santos Valiense

Uma notícia muito chocante viralizou na internet: um homem, durante uma discussão, foi morto pelo gerente de um supermercado por ter-se negado a usar máscara.*

Não narrarei o fato em seus mínimos detalhes, mas apenas o foco principal: “a briga por causa de uma máscara resultou em uma morte”.

Apesar de essa notícia ainda ser considerada chocante para muita gente, a coisa está ficando diferente. Aquele rapaz, aquela mocinha que luta pela “democracia” publicou foto com os dizeres: “sou estudante e antifascista”; “sou mulher e antifascista”; “sou isso, aquilo, aquilo outro e sou antifascista”. Esses mesmos, por sua vez, dizem: “esse aí, sem mascara, mereceu morrer, ele ia contaminar o supermercado inteiro, colocou em risco a coletividade; fascista, merece morrer!
Atira nele, pouuu!”. Isso é sinistro.

Acredito que a Revolução conseguiu em três meses colocar literalmente o mundo em uma maca de hospital, na maior crise sanitária dos últimos tempos, a qual, ainda pior, afetou as almas, como veremos adiante.

O Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, falando em uma reunião no dia 8 de novembro de 1971 sobre “Epidemias comunistas”, fez a seguinte suposição: “Se alguém conseguisse provar — o que, aliás, não é verdade, mas se houvesse uma prova disso — que o comunismo espalha epidemias, o partido comunista ficava reduzido a zero, porque toca num dos ídolos, que é a saúde.” Em tempos de coronavírus essa suposição é prenhe de verossimilhança.

A crise causada pelo Comunavírus não só colocou a população em uma prisão domiciliar, mas levou os sacramentos católicos de volta às catacumbas.

Presenciamos hoje, da pior forma possível, algo que nos seria dado conhecer somente através dos livros que narram a história dos mártires dos primeiros séculos. Os católicos que enfrentavam então as arenas, que eram mortos pelos leões, queimados vivos e esquartejados, ficariam hoje trancados em suas casas, porque o valor supremo passou a ser a vida.

O martírio, então, nem se diga. Segundo a esquerda dita católica, já existem muitos mártires: mártires sem-terra, mártires das favelas, mártires LGBT, mártires das calçadas etc. Esses seriam os verdadeiros mártires que importam nos tempos de fascismo.

Sacramentos? Para quê? “Somos uma igreja doméstica, o sonho do pontificado de João Paulo II está se realizando”, dirá uma freira comunista. Missa pela internet, catequese por live, comunhão na sacolinha, confissão por videoconferência ou no estilo protestante, “confesse-se diretamente com Deus”. Água benta? Nem pensar, álcool gel, já!

Quantos mortos sem os sacramentos? Já pararam para pensar? Quantos ficaram sem a assistência da Igreja no seu momento crucial, naquele momento para o qual rezamos na Ave Maria: “rogai por nós, pecadores, agora e na hora da nossa morte”.

Já pararam para pensar? A crise não é somente sanitária, é um reflexo de uma crise muito maior, é uma crise de fé. Os ministros de Deus são impedidos de realizar o seu oficio sagrado não somente pelas autoridades civis; impedem-nos — por exemplo, de reabrir as igrejas — as próprias autoridades eclesiásticas… em nome da vida.

O Prof. Plinio também dizia: “Quando a cúpula de São Pedro balança, o mundo também balança”, ou seja, a crise na sociedade é um reflexo da crise na Igreja.

Esta pandemia do vírus chinês está mostrando ao mundo não apenas o poder e a protuberância da Revolução, mas também sua notória influência sobre a estrutura eclesiástica. Está mostrando que a Revolução mata não apenas o corpo, mas também a alma.

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quinta-feira, 2 de julho de 2020

O PATRIARCA – Helena Borborema

          Como Abraão, ele foi também pai de um numeroso povo. Qual predestinado, teve na vida uma grande missão que soube cumprir com retidão de caráter e grande bondade, sendo a sua passagem pelo mundo uma trajetória de trabalho, idealismo e desprendimento. A história desse Patriarca teve início em março de 1863 quando, ainda adolescente, chegou à região Sul da Bahia em companhia dos pais, irmãs e do avô. Nas matas do Sul ele cresceu e aprendeu a desvendar seus segredos. Ambientou-se ao novo clima, sobreviveu a febres mortais e enfrentou toda a labuta e sacrifícios que o novo meio oferecia no dia-a-dia. José Firmino Alves, foi o seu nome. Filho de desbravador, seu pai, o sergipano José Alves, foi dos primeiros a se lançar na grande aventura do Sul. Quando chegou a essas terras do Município de Ilhéus, acompanhado da família, havia por esses lados apenas a aldeia de índios mansos em Ferradas, dirigida por frades missionários. Tudo o mais era mata com todas as suas características selváticas, onde apenas as clareiras abertas por Félix Severino e Manoel Constantino indicavam o trabalho de pioneirismo.

            O pequeno grupo começou vida dura de desbravadores na mata cerrada, entre índios, com carência de tudo o que fosse necessário à saúde ou ao conforto. Enfrentando chuvas rigorosas e invernos úmidos, falta de qualquer meio de transporte, só mesmo os fortes de espírito podiam suportar as adversidades daquele meio. Mas José Alves se estabeleceu com a família nesse ermo, limpou a terra e plantou cacau. Da luta do homem e mata resultou a vitória do primeiro, quando as verdes plantações de cacaueiros dominaram a terra subjugada pelo trabalho daquele punhado de destemidos sergipanos. A Burundanga foi o reduto dessa família corajosa onde o velho José Alves viria mais tarde a sucumbir.

            Com a morte do pai, o moço José Firmino assumiu a responsabilidade de cuidar da família e continuar o trabalho do velho pioneiro.

            Nas margens do Rio Cachoeira, principal vias dessa terra brabas, outros desbravadores aos poucos se instalaram; com eles, rústicas vendolas surgiram, as “tabocas”, destinadas a atender com o pequeno comércio de fumo, açúcar, querosene, os sertanejos que transitavam de Conquista para Ilhéus com seus carregamentos de requeijão, charque, e por aqui faziam pernoite certo. José Firmino passou também a negociar. Abriu pequena casa de comércio, misto de loja e armazém. As suas atividades se dividiram então entre a roça de cacau e o comércio. Em torno das vendolas ou “tabocas”, da beira do rio, acabou se formando um aglomerado de pequenas casas cobertas de palhas umas, outras de telhas – o arraial das Tabocas (1873).

            A casa comercial de José Firmino tinha mercadoria variada que ia, desde tecidos de algodão a gêneros alimentícios, sabão, querosene, chumbo para caça, o que atendia às necessidades das famílias do nascente arraial e das roças. Já não era mais preciso a longa caminhada para a vila de Cachoeira, pois Tabocas começava a fornecer à pequena população, os gêneros de necessidade. Assim, o pequeno armazém foi prosperando. O amor à terra onde crescera e onde se sentia arraigado, aumentou no moço comerciante o seu sonho de vê-la progredir. Queria ver o arraial das Tabocas crescer, prosperar e que muita gente viesse colaborar para aquele progresso. De sob aquelas árvores, de dentro daquele mato, haveria de sair a Terra da Promissão onde correria, não leite e mel, mas dinheiro, muito dinheiro. Não se limitou o moço sergipano a cuidar somente do seu patrimônio, a simplesmente plantar cacau, multiplicar suas roças e descansar na própria riqueza. Ele queria a prosperidade da terra.

            Famílias foram chegando para o arraial. Na mata, as clareiras aqui e acolá indicavam a penetração de outros bravos pioneiros. O tempo foi passando. Já dono de um sólido patrimônio, conhecido na capital do Estado, onde ia fazer compras para abastecer sua casa de comércio já próspera e forte, o então coronel José Firmino Alves, com crédito firmado, abriu em uma conceituada casa comercial de Salvador uma conta corrente para financiar às suas custas o transporte de patrícios seus, os mais pobres, a fim de que pudessem vir para Tabocas sem dificuldades monetárias, e aqui trabalhar. Distribuía ainda por sua conta, instrumentos de lavoura com os chegantes, que rumavam mata a dentro, abrindo suas próprias roças.

            José Firmino enxergava muito além do seu tempo. Já estabelecido no arraial, anteviu a cidade que devia nascer e crescer para um futuro de grandeza. Sentiu a necessidade de incentivar a fixação na terra de elementos úteis e de valor que a procurassem. Na falta de um hotel, cedeu uma casa de sua propriedade para acomodar as pessoas de bem que chegassem. Era a “República dos Hóspedes”. Estes aí ficavam acomodados até que se estabelecessem no trabalho e em casa, por conta própria.

            São muitos os que procuram Tabocas, aquela pequena colmeia de sergipanos e sertanejos. Vêm do interior do Estado, do Recôncavo (Santo Amaro é um grande celeiro de migrantes), da capital, de outros Estados e até de terras longínquas do Oriente, das regiões da Síria e do Líbano.

            O incipiente arraial haveria de progredir sob a inspiração mágica daquele coronel que manda construir um sobrado de bonita arquitetura para sua residência, o primeiro e único daquela povoação, pouco importando o aspecto simplório do arraial de chão coberto de lama e capinzal. Aquela construção de aspecto senhorial, com suas janelas de gradis de ferro trabalhado e emolduradas por lindos florões esculpidos em cimento nas suas três fachadas, era um atestado de amor à terra e confiança no seu futuro. Acolhedor, tornou-se aquele sobrado o centro da vida política e social do arraial de Tabocas. Nos seus salões, importantes decisões da política e da vida regional foram tomadas, sem falar nas alegres comemorações nele realizadas e nos animados saraus dançantes feitos sob a claridade de bonitos lustres de bico de gás e ao som de um piano que o Coronel mandara buscar em Salvador. Entre jarrões de louça alemã e o tinir de cristais, poesias eram declamadas pelos moços da terra e, pelas jovens mais dotadas de voz, belas canções quebravam o silêncio das noites do arraial. Eram os encontros de congraçamento que o “sobrado do coronel” proporcionava, consolidando, fortalecendo uma sociedade em formação. O bonito sobrado era o cérebro e a alma do arraial e depois vila de Itabuna.

            Já tendo constituído família, casado com dona Lucrécia Selmann, de tradicional família ilheense, coronel, Firmino Alves envia suas filhas a estudarem em Salvador, a despeito de todas as dificuldades de transporte da época e embora vivendo num meio onde poucas mulheres tinham acesso à instrução.

            Esse coronel de maneiras simples e afáveis, crescido e vivido na mata e depois no arraial, tinha alma de esteta. Além da bonita construção de sua residência, presenteia uma de suas filhas casadas com um outro belo sobrado de inusitado estilo para aquele meio, aqueles primeiros tempos de Itabuna, uma imitação de um castelo medieval. Essa construção foi entregue à direção do mestre de obras, o português “seo Américo”, responsável por muitas das melhores obras de Itabuna. Internamente, as suas paredes foram decoradas com lindas pinturas de flores e guirlandas em suave colorido, num trabalho primoroso de um pintor vindo especialmente de Salvador para executá-lo. O lindo teto de madeira trabalhada e o piso de madeira de lei, além da bela porta de madeira entalhada e vidro bisotado, acabavam de enriquecer todo o conjunto. Esse sobrado, o “castelo” como era chamado, ficou como um marco na paisagem urbanística de Itabuna pela sua beleza e arquitetura fora do comum.

            O progresso material em Tabocas era sensível, corria dinheiro, casas eram construídas, as sacas de cacau se empilhavam nos depósitos das fazendas e nos armazéns, as tropas cresciam, o comércio se movimentava, mas a população crente e fervorosa se ressentia da falta de vida espiritual. Atendendo aos apelos das almas piedosas, José Firmino dá uma área de suas próprias terras para que fosse nela erigida uma igreja sob o patrocínio de São José – à qual seria mais tarde a igreja matriz de Itabuna (1893).

            O povoado de casinhas modestas e ruas enladeiradas crescia cada vez mais. Gente boa e gente ruim nela fincava pouso; era a aventura do dinheiro, o desejo da fortuna através dos frutos amarelos dos cacaueiros.

            Chega o ano de 1906. O distrito de Tabocas, desmembrado do município de Ilhéus, passa a município, vila e termo com o nome de Itabuna. Uma representação fora enviada à Câmara dos Deputados Estaduais, pedindo a criação do Município de Itabuna. Um dos signatários era o coronel José Firmino Alves, que se comprometia a doar os prédios necessários para a Intendência, o Quartel da Polícia e a casa do Juiz Preparador. Vai à capital do Estado e solicita, pessoalmente, do Arcebispo Dom Jerônimo Tomé da Silva, a criação da Paróquia. Diante das dificuldades apresentadas pela falta de padres disponíveis, José Firmino faz uma discreta advertência: “Bem, Eminência, se não há um sacerdote católico que possa ir para a vila de Itabuna, então convidarei um Pastor protestante”. O impasse é logo resolvido e fica garantida a vinda de um vigário para a futura paróquia, comprometendo-se mais uma vez Firmino Alves a doar como patrimônio da mesma uma casa para residência do vigário, que seria o Monsenhor Moisés Gonçalves do Couto, o primeiro a ocupar o importante cargo. Assim foi criada a Paróquia de São José (1908).

            Em recompensa pelos seus serviços no campo espiritual, foi Firmino Alves agraciado pelo Santo Padre Pio X, com a comenda Pró Eclesia et Pontifice e a bênção papal (1913).

            Esse homem de espírito batalhador e coração generoso ficou rico, conservando uma modéstia singular. Chefe político de grande prestígio, jamais pleiteou para si uma eleição, como também jamais deu guarida a jagunços em suas fazendas ou praticou um ato que desabonasse a sua conduta.

            A vila de Itabuna prosperava rápido. Muita gente para ela convergia. Vieram os morigerados e trabalhadores, vieram assassinos e desordeiros. Dias alegres e dias de terror marcavam seu calendário. Firmino Alves participa de memoráveis acontecimentos políticos como líder respeitado. Num período de muitas violências, quando o banditismo atingiu uma de suas fases mais agudas, ele foi a Salvador e, pessoalmente, expôs ao Governador, o dr. Araújo Pinho, a caótica situação. Inteirado das terríveis ocorrências, o dr. Araújo Pinho, que tinha conhecimento do valor moral de Firmino Alves e do seu espírito ordeiro, ofereceu-lhe as posições políticas do Município e cargos para seus amigos, o que lhe dava com isso, amplos poderes para mandar e desmandar. Mas, delicadamente, ele recusa o poder e diz ao governador que nada deseja para si próprio, queria apenas uma coisa: a manutenção da ordem, e ficava satisfeito. O governador promete atender o seu pedido e nesse sentido nomeia um Delegado Regional que vem com uma força policial manter a ordem e pacificar o Município.

            Os anos passaram e o Patriarca de olhar calmo e semblante plácido viu o seu povo crescer. Viu crescer a cidade que ele criou com amor e com honradez a legou à posteridade.

            A sua vida de trabalho e lutas políticas não passou incólume de sofrimentos e ingratidões. Amargou os dissabores da política e do banditismo. De certa feita teve de refugiar-se em Salvador por mais de seis meses para escapar à fúria assassina de seus adversários políticos, mas sem nunca deixar de lutar pelos interesses de sua terra.

            Com elevado espírito público viveu com desprendimento, amando a cidade que nasceu de seu sonho, dando a ela tudo o que pôde dar de bom e de si mesmo.

             Por motivos particulares, nos últimos anos de sua vida passou a residir em Salvador. Era o pássaro ferido, engaiolado, saudoso da amplidão das matas verdejantes onde vivera.

            Sentindo o peso da idade, sentia também saudades da terra querida, daquele chão que pisara desde a adolescência, daquele céu que tantas vezes mirara, daquelas estrelas que tantas vezes tentara contar nas noites escuras da mata. E volta em busca de sua Itabuna querida, para nela dormir o sono derradeiro e entregar à terra amada os despojos do velho guerreiro, já cansado e combalido de tantas lutas. Não quis dormir em terras alheias, buscou o seu povo, o Patriarca que previu o futuro e grandeza de uma cidade.

(TERRAS DO SUL)
Helena Borborema

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quarta-feira, 1 de julho de 2020

2 + 2 = X? - Paulo Roberto Campos

1 de julho de 2020

Paulo Roberto Campos

Está em voga certa pedagogia moderna, segundo a qual não se deve mais, como antigamente, corrigir — e muito menos reprimir — os erros cometidos pelos alunos, pois “poderia provocar traumas”.

Resultado dessa enganosa pedagogia: alunos de diferentes etapas do ensino fundamental são considerados “analfabetos funcionais”. Eles não entendem o texto que lêem, não sabem sequer interpretar uma única frase — entendem palavras soltas, mas não a expressão completa. Não sabem sequer as operações fundamentais de matemática.

Comento isso porque ontem recebi de um amigo carioca um vídeo que, de modo bem didático e cômico, ironiza a situação em que fica o aluno “protegido” por pessoas (às vezes até pelos pais…) que defendem a tese de que não há uma só verdade, mas verdades diferentes (sic!), “verdades alternativas”…, como a de que 2 + 2 são 22 (ou qualquer outro resultado).

E o professor que não aceita o resultado relativista e corrige os erros dos alunos poderá ser acusado de “politicamente incorreto”, extremista, fascista, por querer lhes impor “sua particular visão de mundo”. E sob acusação de “doutrinar e radicalizar os alunos”, o professor “nazista” poderá ser demitido do colégio.

Esse caso entre professor/aluno é apenas um exemplo. Tal relativismo se estende a todos os campos, como o da moral. Hoje, assim como se ensina que a verdade não é única, leciona-se que não há uma única moral, que se pode ir mudando a moral ao longo dos tempos. Entretanto, não acreditar que a moral é imutável é aceitar que a verdade é mutável, ou seja, mentira. E não passa de um ignorante troglodita aquele que nela crê. Daí a consequência: a perseguição aos “intolerantes” que ensinam logicamente que o resultado de 2 + 2 só pode ser 4.

Será que o tal do tão badalado “novo normal” dentro de uma “Nova Ordem Mundial” — da qual tanto se fala a propósito da atual pandemia — é aceitar como normal a ilogicidade, o absurdo e até aberrações?

A continuar assim, aonde vamos parar? Certamente, se não reagirmos, no tribalismo indígena, por meio de uma verdadeira Revolução Cultural, infelizmente já em curso.
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Postscriptum: Vale muito a pena assistir ao criativo vídeo que segue — a resposta final da professora é, além de divertida, brilhante!





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terça-feira, 30 de junho de 2020

ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS ESTREIA NOVO CICLO DE PODCASTS INTITULADO "PENSANDO O NOVO NORMAL"


Academia Brasileira de Letras inaugura o ciclo de podcasts "Pensando o novo normal", gravado por seus acadêmicos e que abordará as relações entre a pandemia e as diferentes áreas do conhecimento humano. O primeiro episódio foi gravado pela Acadêmica Nélida Piñon e estará disponível para os ouvintes a partir das 16h da próxima quarta-feira, dia 1º de julho. O tema escolhido foi "Pandemia e Literatura". A apresentação será feita pelo presidente da ABL, Marco Lucchesi, e a coordenação-geral do ciclo cabe ao Acadêmico Antônio Torres.

 

Durante a emissão, a Acadêmica faz uma reflexão sobre como será a literatura no mundo pós-pandemia: “O que vai acontecer com a arte? Que tipo de arte nós vamos fazer? Eu diria que vamos fazer a arte que sempre fizemos. A arte brota das instâncias humanas, dos domínios da língua, dos domínios da sensibilidade, daquilo que nós somos hoje e fomos no passado, pois de verdade tudo aquilo que a gente diz ou cria hoje corresponde a um acúmulo de informações e de sensibilidade que vieram do passado. Nós somos um produto do grande caos humano.”

 

Estão previstos, até o final de setembro, mais 14 episódios, sempre apresentados às quartas-feiras. Todos os podcasts gravados ficarão disponíveis no site da Academia, assim como nas plataformas de streaming Spotify, Apple Podcasts, Deezer e Castbox.

 

 30/06/2020

 

http://www.academia.org.br/noticias/academia-brasileira-de-letras-estreia-novo-ciclo-de-podcasts-intitulado-pensando-o-novo

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ITABUNA CENTENÁRIA UM POEMA: A MOSCA AZUL – Machado de Assis


 A Mosca Azul 
Machado de Assis


Era uma mosca azul, asas de ouro e granada,
Filha da China ou do Industão,
Que entre as folhas brotou de uma rosa encarnada,
Em certa noite de verão.


E zumbia, e voava, e voava, e zumbia,
Refulgindo ao clarão do sol
E da lua, - melhor do que refulgiria
Um brilhante do Grão-Mogol.


Um poleá que a viu, espantado e tristonho,
Um poleá lhe perguntou:
“Mosca, esse refulgir, que mais parece um sonho,
 Dize, quem foi que to ensinou?”


Então ela, voando, e revoando, disse:
- “Eu sou a vida, eu sou a flor
Das graças, o padrão da eterna meninice,
E mais a glória, e mais o amor.”


E ele deixou-se estar a contemplá-la, mudo,
E tranquilo, como um faquir,
Como alguém que ficou deslembrado de tudo,
Sem comparar, nem refletir.


Entre as asas do inseto, a voltear no espaço,
Uma cousa lhe pareceu
Que surdia, com todo o resplendor de um paço

 E viu um rosto, que era o seu.

Era ele, era um rei, o rei de Cachemira,
Que tinha sobre o colo nu,
Um imenso colar de opala, e uma safira
Tirada ao corpo de Vichnu.


Cem mulheres em flor, cem nairas superfinas,
Aos pés dele, no liso chão,
Espreguiçam sorrindo, as suas graças finas,
E todo o amor que têm lhe dão.


Mudos, graves, de pé, cem etíopes feios,
Com grandes leques de avestruz,
Refrescam-lhes de manso os aromados seios,
Voluptuosamente nus.


Vinha a glória depois; - quatorze reis vencidos,
E enfim as páreas triunfais
De trezentas nações, e o parabéns unidos
Das coroas ocidentais.


Mas o melhor de tudo é que no rosto aberto
Das mulheres e dos varões,
Como em água que deixa o fundo descoberto,
Via limpos os corações.


Então ele, estendendo a mão calosa e tosca,
Afeita a só carpintejar,
Como um gesto pegou na fulgurante mosca,
Curioso de a examinar.


Quis vê-la, quis saber a causa do mistério.
E, fechando-a na mão, sorriu
De contente, ao pensar que ali tinha um império,
E para casa se partiu.


Alvoroçado chega, examina, e parece
Que se houve nessa ocupação
Miudamente, como um homem que quisesse
Dissecar a sua ilusão.


Dissecou-a, a tal ponto, e com tal arte, que ela,
Rota, baça, nojenta, vil,
Sucumbiu; e com isto esvaiu-se-lhe aquela
Visão fantástica e sutil.


Hoje, quando ele aí vai, de aloé e cardamomo
Na cabeça, com ar taful,
Dizem que ensandeceu, e que não sabe como
Perdeu a sua mosca azul.


  (Ocidentais, in Poesias completas, 1901.)

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Machado de Assis (Joaquim Maria Machado de Assis), jornalista, contista, cronista, romancista, poeta e teatrólogo, nasceu no Rio de Janeiro, RJ, em 21 de junho de 1839, e faleceu também no Rio de Janeiro, em 29 de setembro de 1908. É o fundador da cadeira nº. 23 da Academia Brasileira de Letras. Velho amigo e admirador de José de Alencar, que morrera cerca de vinte anos antes da fundação da ABL, era natural que Machado escolhesse o nome do autor de O Guarani para seu patrono. Ocupou por mais de dez anos a presidência da Academia, que passou a ser chamada também de Casa de Machado de Assis.

Fonte: ABL

MAIS VALE MORRER DO QUE VIVER NUMA TERRA DEVASTADA E SEM HONRA - Pe. David Francisquini

30 de junho de 2020
Pe. David Francisquini

Um brasileiro pouco afeito à grande mídia esclerosada é capaz de relacionar a suspensão da prisão em 2ª instância com certos crimes e, sobretudo, com certos criminosos… Ele procura em via de regra pensar bem, luta por uma sociedade sadia, ancorada em valores e instituições de índole cristã que pautaram a vida social e política do Brasil desde o seu nascedouro.

Com efeito, esse brasileiro nunca se afirmará de esquerda ou progressista, pois ele é naturalmente bondoso, cordato, além de criativo e empreendedor, sentindo-se bem ao cultivar nossos valores religiosos e familiares. Ele se encontra nas antípodas de uma minoria que tendo haurido um espírito alienígena de revolta, de ódio e de ressentimento, se define esquerdista, socialista, comunista, e até mesmo anarquista.

A nossa velha e esclerosada mídia parece ter desempenhado papel importante nesse longo processo de envenenamento dessa parcela da população, ora desacreditando pessoas de bem e verdadeiros patriotas que anelavam e lutavam por um País melhor rumo ao seu autêntico progresso, ora imputando-lhes inverdades ou suspeições — hoje diríamos fake news — a fim de criar um caldo de cultura falso como arma de propaganda de guerra psicológica revolucionária.

Vem-se falando muito de agendas — agenda ecológica, agenda homossexual, agenda política… Qual a fonte dessas agendas? Quem as faz? Há uma central da esquerda internacional formada por estudiosos de um falso ideal encarregados de compô-las? Com efeito, tais agendas não podem ser um fruto espontâneo da natureza. Quem as manipula apresenta uma ‘bula’ esclarecendo onde, quando e como elas devem ser aplicadas? Diante do conservadorismo brasileiro, como proceder? Quais setores devem ser atacados em primeiro lugar? Existe um cronograma? As perguntas poderiam se multiplicar…

Convido o leitor a analisar um ponto apenas da nossa — chamemo-la assim — agenda judiciária. Em 7 de novembro de 2019, dia em que o STF oficializou a suspensão da prisão em 2ª instância para favorecer a soltura de Lula, a esquerda comemorou o fato. Mas não parece mera “coincidência” o fato de esse dia ser também comemorado pelos bolchevistas que se serviram de criminosos soltos expressamente para atacar e dizimar populações inteiras. Isso já havia acontecido na Revolução Francesa.

O Livro Negro do Comunismo narra com cores sinistras toda a criminalidade perpetrada por essa ideologia. Foram 61 milhões de pessoas assassinadas na Rússia, além de mais 78 milhões na China, para implantar o regime comunista despótico, cruel e antinatural. Ainda hoje vemos a perseguição à Igreja na China, membros do clero e fiéis sendo presos e igrejas destruídas, enquanto no Ocidente grassa a propaganda para tentar quebrar a harmonia entre os poderes constituídos e assim fomentar o descrédito e a divisão da ala conservadora e anticomunista.

Há mais. O Partido Comunista Chinês vem se intrometendo na vida interna das nações, desrespeitando suas soberanias. Às vezes eu me pergunto se esse coronavírus não faria parte da ‘agenda chinesa’ para impor a sua dominação.  O mais triste e perplexitante é ver até mesmo altas autoridades eclesiásticas colaborarem com o regime chinês nesse non sense jamais imaginado.

O que nos vem deixando igualmente perplexos no curso da presente epidemia é o favorecimento que uma parte do Judiciário a alguns governadores e prefeitos no sentido de atender a agenda da esquerda, em detrimento do governo federal e dos mais lídimos interesses do Brasil, no que foram coadjuvados pelo Legislativo, que abriu as comportas do erário sem pensar no futuro que nos aguarda.

Por outro lado, enquanto todos se dizem empenhados em defender vidas, no Congresso Nacional tentam aprovar a matança de inocentes com a prática abortiva; enquanto as pessoas de bem são confinadas para poupar vidas, bandidos e assassinos são soltos para atentar contra as vidas. Morros que são esconderijos de armas pesadas não poderão ser revistados durante a pandemia, enquanto jornalistas, blogueiros e manifestantes conservadores são arbitrariamente revistados e presos.

Estará a esquerda preocupada com a saúde, ou antes, está empenhada em conduzir o Brasil para o caos? Soltar criminosos em razão do vírus chinês não constitui um eventual perigo de uma guerra fratricida? Por que teria o Judiciário proibido o Exército e a Polícia de investigar os morros?  Que relação há entre drogas, crime organizado, tráfico de armas pesadas e toda a incessante movimentação da esquerda de cerceamento do governo federal?  Por que ainda se dificulta a posse de armas aos homens de bem?

Se tudo isso acontece no Brasil, por que permite Deus tão tremenda provação? Por que o episcopado nacional, em vez de manifestar seu zelo pelas almas atraindo-as para Deus, fecham as portas dos templos, parecendo mais preocupados com a saúde do corpo do que com a da alma? Por que não elevam suas preces aos céus a fim de pedir a Deus que perdoe os nossos pecados?  Para se entender um tanto o que está acontecendo, citaremos II Crônicas, VII -12, que aconselha:

“O Senhor apareceu-lhe [a Salomão], de noite e disse: Ouvi a tua oração e escolhi para mim este lugar para casa de sacrifício. Se Eu porventura fechar o céu e não cair chuva, mandar e ordenar aos gafanhotos que devorem a terra, mandar a peste ao meu povo; e o meu povo sobre o que foi invocado o meu Nome, convertendo-se, me rogar, buscar a minha face, fizer penitência dos seus maus caminhos, eu também o ouvirei do Céu, perdoarei os seus pecados e purificarei a sua terra. Os meus olhos também se abrirão e os meus ouvidos atenderão a oração daquele que orar neste lugar; porque eu escolhi e santifiquei esse lugar a fim de estar o meu nome para sempre, os meus olhos e o meu coração estarem fixos para sempre.”

Como podemos constatar, duas décadas de regime de esquerda produziram uma nefasta transformação no Brasil. Aparelharam-se instituições, e, sobretudo, por meio da infiltração comunista, os próprios meios católicos foram contaminados. É hora de conclamar o povo brasileiro a lutar, a exemplo do que sempre fez o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em sua incansável cruzada, a qual marcou indelevelmente a história do século XX e reverberará pelos séculos futuros.

Se hoje o conservadorismo viceja no Brasil, deixando estonteadas as forças do mal, é porque tivemos um homem de pensamento e ação contra-revolucionária que, por meio das caravanas de propagandistas da TFP, fez ecoar em todos os rincões deste país-continente o brado de inconformidade dado outrora por Judas Macabeu, mais vale morrer do que viver numa terra devastada e sem honra!

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* Sacerdote da Igreja do Imaculado Coração de Maria – Cardoso Moreira (RJ).


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segunda-feira, 29 de junho de 2020

O DIA EM QUE SHAKESPEARE ESTEVE EM PERNAMBUCO - Evaldo Cabral de Mello

Nos anos 50, o professor de Teoria Geral do Estado na Faculdade de Direito do Recife era Samuel MacDowell, que estudara em Oxford, onde, devido à sua compleição morena, representou Otelo no espetáculo montado pelos colegas. Isolado na casa-grande do engenho, ele dedicou-se a traduzir os sonetos de Shakespeare. Como costumava narrar nas mesas boêmias dos bares do Recife, eis que, em certa noite em que trabalhava em seu gabinete, apareceu-lhe o próprio Shakespeare, envolto numa auréola. Deu-se, então, o seguinte diálogo:

Shakespeare: — Samuah, Samuah, que estás tu a fazer a estas horas mortas?

MacDowell: —Will, estou a te traduzir.

Shakespeare apanhou, então, uma das folhas que se achavam sobre a escrivaninha, leu-a demoradamente, para finalmente sentenciar: “Samuah, Samuah, se um dia eu tivesse de me exprimir em tão rude idioma, o faria precisamente assim”. Dito o quê, Shakespeare desapareceu na auréola que o trouxera até Pernambuco.

Nunca me intrigou o aparecimento de Shakespeare, porque é conhecida a sua predileção pelos fantasmas e nada impedia que se transformasse em um deles e cruzasse o Atlântico. Intrigavam-me, contudo, primeiro, a intimidade com que os interlocutores se tratavam, e também o fato de Shakespeare conhecer a língua portuguesa. Tanto que se manifestara enfaticamente sobre a qualidade do trabalho de MacDowell.

O Globo, 27/06/2020


Evaldo Cabral de Mello - Oitavo ocupante da Cadeira n.º 34 da ABL, foi eleito no dia 23 de outubro de 2014, na sucessão do Acadêmico João Ubaldo Ribeiro, e recebido no dia 27 de março de 2015, pelo Acadêmico Eduardo Portella.

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