Noite de Insônia
Emílio de Menezes
Este leito que é o meu, que é o teu, que é o nosso leito,
Onde este grande amor floriu, sincero e justo,
E unimos, ambos nós, o peito contra o peito,
Ambos cheios de anelo e ambos cheios de susto;
Este leito que aí está revolto assim, desfeito,
Onde humilde beijei
teus pés, as mãos, o busto,
Na ausência do teu corpo a que ele estava afeito,
Mudou-se, para mim, num leito de Procusto!...
Louco e só! Desvairado! – A noite vai sem termo
E, estendendo, lá fora, as sombras augurais
Envolve a Natureza e penetra o meu ermo.
E mal julgas talvez, quando, acaso, te vais,
Quanto me punge e corta o coração enfermo,
Este horrível temor de que não voltes mais!...
EMÍLIO DE MENEZES, o mais famoso poeta satírico brasileiro
depois de Gregório de Mattos. Foi também lírico primoroso. Nasceu em Curitiba
em 04/07/1867 e faleceu no Rio de Janeiro em 05/06/1918, sem haver tomado posse
na Academia Brasileira de Letras, para a qual fora eleito na vaga de Salvador
de Mendonça (cadeira nº20, depois ocupada por Humberto de Campos). As peripécias
da vida boêmia de Emílio, as suas piadas chistosas, as suas tiradas repentistas,
o grupo de amigo com os quais convivia, foram recordados no livro de Raimundo
de Menezes – Emílio de Menezes, o último boêmio (1945), já em 3ª edição. Publicou
o poeta os seguintes livros de versos: Símbolos, Poemas da Morte, Versos Antigos,
e Dies Irae (1909), Últimas Rimas (1917) e Mortalinas ou Os Deuses em Ceroulas
(1924). Este último volumes encerra os seus famosos sonetos satíricos.
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