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sexta-feira, 4 de setembro de 2020

ITABUNA CENTENÁRIA UM POEMA: A Queimada – Castro Alves

 


A Queimada

Castro Alves


Meu nobre perdigueiro, vem comigo,

Vamos a sós, meu corajoso amigo,

Pelos ermos vagar.

Vamos lá dos gerais, que o vento açoita,

Dos verdes capinais n’agreste moita

A perdiz levantar!...

 

Mas não!... pousa a cabeça em meus joelhos,

Aqui, meu cão! Já de listrões vermelhos,

O céu se iluminou.

Eis súbito da barra do ocidente,

Doido, rubro, veloz, incandescente,

O incêndio que acordou!

 

A floresta rugindo as comas curva...

As asas foscas o gavião recurva,

Espantado a gritar.

O estampido estupendo das queimadas

Se enrola de quebradas em quebradas,

Galopando no ar.

 

E a chama lavra qual jiboia informe

Que no espaço vibrando a cauda enorme

Ferra os dentes no chão...

Nas rubras roscas estortega as matas

Que espadanam o sangue das cascatas

Do roto coração.

 

O incêndio – leão ruivo ensanguentado,

A juba, a crina, atira desgrenhado

Aos pampeiros dos céus!...

Travou-se o pugilato... E o cedro tomba,

Queimando... retorcendo, na hecatomba,

Os braços para Deus.

 

A queimada! A queimada é uma fornalha!

A irara pula: o cascavel chocalha...

Raiva, espuma o tapir!

E às vezes, sobre o cume de um rochedo,

A corça e o tigre – náufragos do medo,

Vão trêmulos se unir!

 

 

Castro Alves (Antônio Frederico), nasceu em Muritiba, BA, em 14 de março de 1847, e faleceu em Salvador, BA, em 6 de julho de 1871. É o patrono da cadeira nª 7 da ABL, por escolha do fundador Valentim Magalhães.


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