A Queimada
Castro Alves
Meu nobre perdigueiro, vem comigo,
Vamos a sós, meu corajoso amigo,
Pelos ermos vagar.
Vamos lá dos gerais, que o vento açoita,
Dos verdes capinais n’agreste moita
A perdiz levantar!...
Mas não!... pousa a cabeça em meus joelhos,
Aqui, meu cão! Já de listrões vermelhos,
O céu se iluminou.
Eis súbito da barra do ocidente,
Doido, rubro, veloz, incandescente,
O incêndio que acordou!
A floresta rugindo as comas curva...
As asas foscas o gavião recurva,
Espantado a gritar.
O estampido estupendo das queimadas
Se enrola de quebradas em quebradas,
Galopando no ar.
E a chama lavra qual jiboia informe
Que no espaço vibrando a cauda enorme
Ferra os dentes no chão...
Nas rubras roscas estortega as matas
Que espadanam o sangue das cascatas
Do roto coração.
O incêndio – leão ruivo ensanguentado,
A juba, a crina, atira desgrenhado
Aos pampeiros dos céus!...
Travou-se o pugilato... E o cedro tomba,
Queimando... retorcendo, na hecatomba,
Os braços para Deus.
A queimada! A queimada é uma fornalha!
A irara pula: o cascavel chocalha...
Raiva, espuma o tapir!
E às vezes, sobre o cume de um rochedo,
A corça e o tigre – náufragos do medo,
Vão trêmulos se unir!
Castro Alves (Antônio Frederico), nasceu em Muritiba, BA, em
14 de março de 1847, e faleceu em Salvador, BA, em 6 de julho de 1871. É o
patrono da cadeira nª 7 da ABL, por escolha do fundador Valentim Magalhães.
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